Já que o Leo Kitsune decidiu fazer uma resenha de Summer Wars mais voltada ao roteiro, irei me dar ao luxo de centrar-me nas características da versão brasileira entre outros dados que considero relevantes. Acho muito importante julgar não só a qualidade japonesa, mas como a brasileira (afinal é a que consumimos diretamente). Diga-se de passagem isso é um complemento à resenha anterior, não uma substituição, afinal, cada um tem sua visão acerca de determinados assuntos e é importante que todas sejam expostas.

Summer Wars foi publicado na revista Young Ace, da Kadokawa Shoten, de 7/2009 até 6/2010, rendendo 3 volumes com 13 capítulos. É um mangá sem muito destaque no mundo, tendo sindo licenciado só em Taiwan (chinês) e, agora, no Brasil. Mas esse título não foi tão mal no Japão, o volume 2 chegou a ser o 12º colocado no mês de fevereiro de 2010, com aproximadamente 53 mil cópias vendidas.

Além desse, existe outra versão em mangá chamada “Summer Wars: King Kazma vs Queen Ozu” (às vezes escrito como Kazuma, uma tradução incorreta) de Ueda Yumehito (por algum motivo desconhecido, alguns sites dizem que a autoria é de Tanigawa Nagaru, mas essa informação não procede). Este é de 9/2009, possui dois volumes e ainda está  incompleto, tendo sido lançado mensalmente na Comp Ace. Desde meados de 2010 a história está parada, não sei informar se é cancelamento ou se é devido a alguma doença ou algo do gênero. Aparentemente esta versão é mais em cima das batalhas entre os avatares, em especial (e como indica o título) a rixa entre o King Kazma e a Queen Ozu. Pelo que li vários personagens inéditos aparecem nesse mangá e é uma história alternativa baseado no mundo e no Kazuma do filme.

Além do filme (lançado em 8/2009) e dos dois mangás, existem 3 light novels escritas por 3 autores diferentes em datas diferentes, com um volume cada. Há também um guidebook “Summer Day Memory” (em 7/2009) e uma antologia de pequenas histórias de vários autores, chamada simplesmente de “Summer Wars Koushiki Comic Antology” (em 7/2010), ambos de volume único. É claro que existe o OST (Original Sound Track) do filme também.

Mas falemos da versão que está sendo publicada por aqui pela JBC. Iqura Sugimoto é uma moça, caso não tenha ficado muito claro, o que deu uma carinha meio shoujo nos traços. Ela foi a responsável pelo desenho/arte e adaptação do roteiro original de Mamoru Hosoda e o character design (desenho dos personagens) é de Yoshiyuki Sadamoto.

A Iqura Sugimoto (ou Ikura) nasceu em 17 de agosto em Hokkaido, Japão. Possui um pseudônimo chamado Kuon Mao, que usa para desenhar especialmente Boy’s Love (yaoi). Já produziu obras Shounen, Seinen e Josei. Esta autora não tem nenhuma obra de destaque ou conhecida, embora seus trabalhos vendam relativamente bem. Tem um pouco mais de 10 anos de experiência no mercado de mangás.

Embora o mangá seja chamado de “Seinen” é um seinen muito superficial, para jovens adultos. Inclusive é lançado na Young Ace que possui tanto obras Shounen quanto Seinen. Eu chamaria de um Seinen com um pé no shounen. Em todo caso, a obra mistura a ação, com a comédia e uma pitada de romance e mistério, mas sem ecchi/fanservice nenhum. O mangá mostra de uma maneira futurista a interação das pessoas com os meios de comunicação e sites de relacionamento. Se quiser ler mais sobre roteiro e etc dá um pulo na resenha do Leo.

Os traços, como dito, lembram um pouco os shoujos, mas é bem mais simples e simpático. É muito clara a diferença de idade entre os personagens, sendo muito bem feitas as feições. Há o cuidado com o cenário e os detalhes de fundo, algumas das cenas são realmente bonitas e caprichadas. Cheguei a pensar que devido a esse capricho ela reutilizasse os mesmos cenários (mangaká adora fazer isso para poupar tempo), mas me surpreendi ao constatar que todos os cenários tem diferenças entre si e ângulos diferentes, é realmente admirável. Nas cenas que envolvem o computador foram usadas fotos misturadas com o desenho da autora. E às vezes tem umas imagens que parecem terem sido feitas em 3D, provavelmente tiradas do filme, embora sejam super escassas neste primeiro volume.

Na versão da JBC, existe algumas placas, letreiros e sinais no plano de fundo não traduzidos, alguns difíceis de ver/ler, outros bem escancarados na cena; alguns em japonês, outros em inglês e francês. Diria, também, que para entender 100% das partes envolvendo o computador e tal, você tem que ser no mínimo familiarizado com algum jogo online, sistema computacional em inglês ou algo assim porque ficou tudo em inglês; como Incoming, Log Out, Caution, Danger, Sub, Pass, ID, K.O., Error, Avatar etc.

Existe o corte das páginas também, que come as bordas, cerca de 2 a 3 milímetros por margem. A capa é a mesma da versão japonesa, a diferença é que a de fundo tem aquela tarja preta com dados, não há resuminho do conteúdo. A fonte do título é a mesma presente no original, com o nome em katakana embaixo. Existe uma sobra da lombada de 1mm ou menos em ambas as capas. As 4 páginas coloridas não existem na versão da JBC, nem as orelhas ou conteúdo destas. Diga-se de passagem as orelhas de Summer Wars são lindas, super coloridas e com palavras da autora, que não foram incluídas no mangá (como dito).

O tipo de papel é o mesmo de sempre, pelo mesmo preço de sempre (10,90). A versão da JBC está um pouco mais escura que a japonesa, mas não vi nenhuma página que tenha ficado tão escuro ao ponto de “apagar” detalhes. São em média 200 páginas por volumes e tem um tamanho maiorzinho de 13,5cm por 20,5cm (maior em relação aos da Panini, que cada vez vêm menores). Algumas das páginas do meu volume estavam com manchas de tinta, aparentemente o volume está bem coladinho (dei uma forçada e o troço aguentou), não existe glossários ou extras da editora, tirando propagandas (4 páginas). No meu volume a lombada estava com restos de cola em ambas as pontas, mas uma raspadinha com a unha deu um jeito, embora tenha ficado umas manchinhas.

Por incrível que pareça algumas recontruções estão até boas, mas outras estão muito ruins, como a página dupla do capítulo 3 (que tá nojentíssimo) e as manchas e buracos brancos na página dupla do capítulo 1. Além de várias outras que têm problemas de “tom” e degradês que destacam as reconstruções; algumas óbvias, outras requerem um olhar atento. Na página 28, inclusive, há um pedaço (uma perninha) de um dos kanjis no cartaz em que há o final da sigla OWN, além de uma reconstrução muito mal-feita onde foi apagado a fala, mas o pedaço do desenho nem foi refeito, apenas tacaram de qualquer jeito o padrão de fundo.

Os balões com risadas, latido, onomatopeias e tal não foram editados e, sim, legendados. As onomatopeias também foram legendadas, apesar de alguns risos e coisas assim terem sido editados. Achei apenas um grupo de onomatopeias não traduzidas no final do volume. As fontes originais foram parcialmente respeitadas, algumas só ignoradas (nem negritinho ou algo assim a coitada recebeu).

A versão da JBC está 100% no “novo” português [não é como outras editoras que propagandeam que estão, mas seguem as regras parcialmente… Né, Panini?]. Foi traduzido do japonês. Aparentemente sem nenhuma gíria dos anos 90 ou erros de tradução, tirando erros de hifenização, um mesmo erro que a JBC continua repetindo incessantemente. Para quem não lembra, me refiro a sílaba japonesa “tsu” que a JBC insiste em cortar pela metade (t-su), quando essa sílaba é um som apenas; a hifenização de tsu é semelhante a hifenizar lha, nya, ran, the, cho, sha. Em geral não foi usado honoríficos, tirando uma exceção no finalzinho que ele usa “sugimoto-sensei”. Existe uma inconstante também, às vezes a JBC usa King outras traduz para Rei.

Existem falas muito mal centralizadas, outras mais suaves. Há quadrinhos na página 60 que não foram traduzidos, apenas apagados, eram pedaços dos nomes dos familiares. Embora esses quadrinhos estivessem apenas parcialmente legíveis, os nomes e essa árvore genealógica podem ser facilmente encontrados na internet e no filme, assim não é desculpa simplesmente apagar e fingir que não existe. Na página 77 havia texto nas 4 abas, alguns foram realocados e outros foram só apagados.

Na página 80 e em quase todas as conversas dos celulares, as falas se sobrepõem (fica umas sobre as outras), o que é um descuido. Na 137 os e-mails também ficaram confusos e mal colocados na tela. As datas nos aparelhos não foram editadas, tendo ficado no padrão japonês (ano-mês-dia).

Nas conversas entre celular também foi mantido uns smiles/emoticons japoneses e manias japonesas que desconheço (um quilo de w), acho que não custava nada a JBC adaptar e traduzir para meros mortais o que diabos é aqueles Ws, também não sei se todo mundo aí consegue entender o emoticons japoneses. Depois de uma pesquisa (e leitura de muita porcaria), descobri que como em japonês o verbo gargalhar é warau, logo eles repetem o W para demonstrar risada. Ou seja um W seria algo como “haha” e vários seriam os “hauahuauhahua” [Custa adaptar para um hahaha ou kkkkk? Nãããão, vamos deixar ininteligível e de forma que o leitor tenha que se virar para descobrir algo tão específico de uma cultura numa língua que ele não conhece, não é como se ele pagasse para JBC traduzir coisas…].

Antes de alguém falar de “parcialidade”, fui super imparcial aqui (tirando meus comentariozinhos nos colchetes), apenas listei os erros e características que podem ser encontrados na versão da JBC, só apresentando-as para o público leitor. Se é uma coisa boa ou ruim, cabe a você leitor decidir.

Por último gostaria de comentar algumas coisas que EU ACHEI muito engraçadas ou esquisitas. É curioso como diversos sons viram “bzz bzz” para a JBC. Som de cigarra (min min) vira “bzz bzz”, eu vejo mais um cri cri; som de estalar com a boca (tsc tsc) ou de vaia/irritado (boh boh) vira bzz bzz; som de conversa e o de sussurro (que no Japão são distintos) viram bzz bzz. Me parece que bzz bzz virou um som genérico para a JBC.

Achei algumas coisas mal adaptados também, por exemplo: o “piscar” que foi posto como “path”, não consigo assimilar essa “tradução”. Ou então o som de passarinho (chi chi chi) virou tih tih tih; não sei se dava para sacar naquela página 86 que são passarinhos com a tradução da JBC. Acho que é consenso nacional que passarinho faz piu piu, não tih tih.

Também, a JBC não decide se vai usar “Tac tac” ou “Gath” para som de teclar, também traduziu como “tac” o som do click do mouse e do teclado (que convenhamos é muito diferente um do outro). Vi também que a risada do tiozinho que é “shi shi shi” uma hora sem motivo nenhum foi traduzido como “hi hi hi”, sendo que no resto todo é “shi shi shi” na própria versão da JBC. Isso acontece muito nesse volume, a JBC não adota um padrão, coisas idênticas têm traduções diferentes em diferentes partes do mangá.

Outra coisa que notei nesse volume (que me alegrou) foi as reticências. Não existe exatamente leis de pontuação na internet, apenas o velho “pontuação deve ser após a palavra, sem espaçamento, nunca antes”, com a exceção das aspas, parênteses e semelhantes que “devem ser unidos ao primeiro e último caractere do alvo da pontuação”. Por isso sempre acho estranho quem escreve com a reticência em início de frase unida a palavra (…Blablabla). A JBC tem espaçado (… Blablabla), o que muito me agrada (XD)!  Não sei dizer se está errado ou não escrever unido, mas o mais correto é separadinho. Parabéns, JBC!

Em geral os erros da JBC não interferem no entendimento do mangá, mas dificulta o entendimento de alguns pedaços (como todos que envolvem termos em inglês, coisas não traduzidas ou aqueles Ws). Fora isso visualmente a versão da JBC é feia e desagradável (más reconstruções, papel ruim etc.). Em termos de qualidade da obra (feitas pelos autores) eu diria que é bom e interessante de se ler; em termos da qualidade do serviço da JBC está muita a desejar, embora os erros em geral não impeçam o leitor de entender a história.

Mas, enfim, é isso aí, não deixe de ler a resenha do Leo Kitsune.

Já prevejo alguns tipos de comentários:

1.”Isso é tudo frescura.” – Não, meu caro, são características e erros, se são relevantes ou não, na SUA opinião, é outra história. Diga-se de passagem você é livre para nos contar a sua opinião.

2.”Todo mangá tem erro.” – E você gosta disso? Acha isso legal? Sabe o IDEAL é que não tenha erros, afinal, se PAGA por isso. As japonesas não tem erro, quando tem as editoras fazem novas edições corrigidas; isso se chama respeito pelo consumidor. Por que na nossa é permitido errar?

3.”Você deveria ser imparcial.” – Não, não deveria, isso aqui é um texto descritivo e crítico. Acho que para qualquer brasileiro escolarizado é possível perceber onde são “fatos” e onde é minha “opinião”. Caso não fique claro ou tenha dúvida, pergunte.

4.”Você exagera.” ou “Você é perfeccionista demais.” – Tenho alergia a gastar meu dinheiro com porcaria. Pedir o perfeito de uma editora é nada mais que direito. Pelo código do consumidor, como consumidora, tenho o direito de adquirir um produto sem vícios, defeitos ou que é inferior ao que foi divulgado. O código do consumidor também assegura que é dever da empresa oferecer um serviço ou produto de qualidade. Isso significa que a JBC é obrigada a fornecer um serviço (a tradução de mangás) e um produto final de qualidade. O fato de haver erros me dá, por lei, o direito de reaver meu dinheiro e exigir mudanças e correções. Erro não é normal, erro não é aceitável e é desrespeito com o cliente. Erro é erro, seja ele complexo, simples, por ignorância ou deslize. Tenha mais respeito por si mesmo e pelo seu dinheiro e exija das empresas o melhor do melhor, você merece!

5.”Você só fala isso porque odeia a JBC.” – Para falar a verdade, odeio todas. Acho todas abaixo da média em quesito de qualidade. A diferença é que a JBC é revoltantemente pior que a maioria que já é ruim. E, sinceramente, todo leitor devia ser inimigo das editoras, porque te garanto ela não é sua amiga, ela não faz nada “com amor e carinho” (como uma trabalhadora da JBC alegou), ela só quer sugar todo o seu dinheirinho, centavo por centavo.

6.”Se quer algo perfeito se mude pro Japão.” – Isso quer dizer que brasileiro é incapaz de fazer as coisas bem-feitas? É uma deficiência genética-social?

Aos que irão comprar, boa leitura, espero que os defeitos da JBC não estraguem seu entretenimento.

Título: Summer Wars
Autores: Mamoru Hosoda, Iqura Sugimoto (mangá)
Formato: 13,5 × 20,5, cerca de 200 páginas
Duração: 3 volumes
Periodicidade: Mensal
Preço: R$10,90
Demográfico: Seinen
Gênero: Romance, Ficção Científica