Hoshi no Koe ou The voices of a Distant Star surgiu como uma animação e ficou famoso como “o animê de um homem só”, pois foi feito por Makoto Shinkai totalmente sozinho. A animação foi lançada em fevereiro de 2002 e dois anos depois foi serializada em versão mangá na revista seinen Afternoon da Kodansha, concluida com 10 capítulos em dezembro do mesmo ano.

O mangá ficou a cargo da Mizu Sahara, também conhecida como Yumeka Sumomo (aqui fica uma dica pra Panini: tragam tudo que vocês puderem dessa autora!!), é meio difícil afirmar quem fez o que, na capa da versão americana lançada pela Tokyopop está escrito que o mangá foi desenhado e adaptado pela Mizu Sahara, já a capa da versão brasileira da Panini ela consta apenas como responsável pela arte. Pode-se falar o que quiser, a versão mangá é muito superior à versão animada, é incrível como adicionando novos (e ótimos) personagens o relacionamento entre Noboru e Mikako ganhou uma dimensão ainda mais profunda, isso sem contar as reflexões que há no mangá e não havia na versão anime.

Yumeka Sumomo é uma daquelas autoras com meia dúzia de pseudônimos. Ela geralmente assina seus seinens como Mizu Sahara, os shoujos como Keita Sahara, doujinshis como Chikyuya ou Sasshi e os joseis (em especial Boys Love) como Yumeka Sumomo. Nasceu em maio de 1977, mas só começou a trabalhar com mangás depois dos 25 anos de idade (o que não é normal). É uma autora que produz muitos trabalhos por ano, em sua maioria yomikiris. Seu mais recente destaque é My Girl (seinen). Várias de suas coletâneas de yomikiris são muito famosas e licenciadas pela Europa e EUA. Uma curiosidade da autora é que todos os seus seinens tem capas e pedaços feitos em aquarela. Suas obras também geralmente tendem para o drama, romance e tragédia, é uma autora que costuma surpreender no final e gosta de mexer com a cabeça do leitor, lançando reflexões e desafios morais.

No ano de 2039 uma tripulação humana em Marte encontrou as ruínas de uma civilização posteriormente chamada de Tharsian (devido ao nome do local onde foi encontrado), entretanto as pessoas que estavam nessa expedição foram todas mortas pelos Tharsians, só que mesmo assim a tecnologia encontrada nas ruínas foi tomada pela humanidade e ajudou no desenvolvimento tecnológico. Com ela os seres humanos foram capazes de se defender dos próprios Tharsians com o uso de mechas chamados Tracers e podem viajar pelo espaço em naves, só que isso traz um dilema: quem vai pilotar tais robôs gigantes?

Crianças têm suas capacidades testadas e aquelas que podem vir a se tornar bons pilotos de Tracers são convocadas mais tarde pelas Nações Unidas. Uma dessas crianças é Mikako Nagamine que, ao invés de partir imediatamente para o seu treinamento, ela prefere usar todo o tempo de que dispõe para viver uma vida normal enquanto puder. Quando ela passaria para o “colegial” ela é então convocada para começar seu treinamento.

A única ligação de Mikako com o mundo que deixa para trás é a relação platônica com o seu antigo colega de escola, Noburo Terao. Eles se relacionam por mensagens pelo celular, mas a cada novo estágio do treinamento de Mikako as mensagens demoram mais tempo para chegar através de sua viagem pelo espaço. Primeiro as mensagens demoram dias para chegar, depois são anos.

É um romance lindo, comovente mesmo e é impossível a gente não se pegar torcendo pela felicidade dos dois no final do mangá. Como já disse a história tomou uma dimensão mais profunda na versão mangá, é um título reflexivo, faz a gente pensar em várias coisas, mas não é um mangá chato.

A arte é muito bonita, o traço é simples, a maioria das cores foi feita em aquarela o que dá um visual delicado e romântico para a capa. Não há muitos cenários, só quando eles são necessários, o que é raro já que a maioria das ações se passa dentro da cabeça dos personagens, são suas reflexões e expressão dos seus sentimentos. A adaptação/tradução está muito boa, fluida, sem ruídos e com honoríficos. O assunto viagem espacial é um pouquinho complicado, mas tudo que é necessário saber está no glossário no final do mangá.

A edição está muito boa, sem marcas das reconstruções no Photoshop. Pelo que pude conferir a versão americana tem oito página coloridas que não foram mantidas na brasileira, o que é uma pena. A Panini usou a mesma capa da japonesa e a parte de dentro é colorida. Também foram respeitadas as fontes do original.

O que mais me incomodou foram três placas sem tradução (era a mesma placa de um ponto de ônibus), a primeira estava na página 24 no quarto quadro, na página 35 no primeiro quadro e na página 107 no primeiro quadro.  Na página 230, segundo quadro em uma memória de Mikako, aparece um quadro negro onde algo está escrito, bem, eles não o traduziram, tampouco colocaram uma nota de rodapé explicando, mas segundo a versão da Tokyopop que eu consegui ver estava escrito Love Noboru (Amo Noboru). É chato porque depois nos extras há uma piadinha com essa cena, novamente um problema de falta de atenção

Apesar desses erros eu recomendo a qualquer um que compre esse mangá, é raro ver um one-shot que realmente valha a pena comprar, mas The Voices of a Distant Star é uma obra linda, poética, profunda. Todo mundo que gosta de um romance bem escrito e bem realizado deveria ler.

Aliás, é uma pena que esse lançamento fique restrito ao círculo otaku, eu recomendaria esse material para qualquer pessoa que estiver interessada em ler uma bela história de amor. O preço é um real mais caro do que os lançamentos normais da Panini, mas o mangá tem quase 240 páginas de história. Agora é torcer para a editora trazer mais coisas do Makoto Shinkai e da Mizu Sahara/Yumeka Sumomo.

Título: The voices of a distant star/Hoshi no Koe
Autora: Makoto Shinkai (história original), Mizu Sahara/Yumeka Sumomo (adaptação e arte)
Formato: 13,7 x 20
Duração: volume único
Preço: R$10,90
Demográfico: Seinen
Gênero: Romance, Ficção Científica