Rumiko Takahashi é uma das mangakás mais ricas do Japão e uma das autoras que mais vendeu quadrinhos do mundo, com mais de 170 milhões de cópias.

Ela nasceu em Nigata, Japão, em 10 de outubro de 1957. Durante sua infância Takahashi não demonstrou muito interesse em quadrinhos, mas sempre fazia pequenos rabiscos nas bordas de seus livros e cadernos.

Desenvolveu seu interesse em mangás no colegial, tendo passado na faculdade “Gekigá Sonjuku”. Essa faculdade foi criada por Kazuo Koike, o famosíssimo autor de Lobo Solitário e Crying Freeman. E foi com a ajuda dele que Takahashi começou a produzir doujinshis (mangá que não é lançado por intermédio de uma editora ou revista, o que seria equivalente aos nossos fanzines).

De 1975 a 1978 ela fez vários trabalhos, alguns deles lançados na revista da faculdade.

Mas sua carreira profissional só começou em 1978, quando lançou seu primeiro trabalho “Katte na Yatsura“, que lhe rendeu o prêmio Shogakkan. Foi em 1978 também que ela começou sua primeira série regular,  Urusei Yatsura.

Continuou a produzir algumas histórias curtas até que em 1980 ela começou sua segunda obra, Maison Ikkoku, uma comédia envolvendo a vida de estudantes universitários e as dificuldades dessa época.

Ainda em 1980 ela ganha o grande prêmio Shogakukan por Urusei Yatsura. Em 1987 ela conclui ambas as séries. Nesse período várias de suas histórias começaram a serem reunidas em volumes, como Ningyo no Mori (que foi lançado sem periodicidade) e a antologia Takahashi Rumiko Gekijou de 3 volumes.

Além dos mangás, em 1981 sua obra Urusei Yatsura foi adaptado para anime. E em 1986 foi a  vez de Maison Ikkoku, que além do anime teve um live action. Algumas de suas histórias curtas também foram transformadas em OVAs.

Mas foi no final de 1987 que ela lançou seu primeiro “hit” mundial, Ranma ½, uma comédia recheada de fantasia e combates. Um pouco mais de um ano depois a obra é adaptada para anime. Takahashi continuou a produzir outras séries, além de lançar várias antologias. Até que em 1996 a autora finaliza Ranma e começa outra obra de sucesso estrondoso, InuYasha, que quebra o padrão e, embora possua comédia, é focada em ação, drama e aventura sobrenatural, cheio de situações sérias e lutas.

Com sua carreira no auge várias de suas obras foram relançadas e licenciadas pelo mundo, além dos animes.  Em 2001 ganha outro prêmio Shogakukan, mas dessa vez por InuYasha.

Em 2008 ela finaliza Inuyasha após 56 volumes e em 2009 começa Kyoukai no Rinne, ainda em publicação, que volta para um estilo mais Ranma. Takahashi ainda produz outras pequenas histórias, tendo acumulado no passar dos anos uma quantidade absurda de yomikiris (one-shots). Confira abaixo a Mangrafia completa da autora:

Séries:
1978/87 – Urusei Yatsura (34 volumes tankoubon, 15 volumes wideban e 18 volumes bunkoban)
1980/87 – Maison Ikkoku (15 volumes tankoubon e 10 volumes wideban)
1984/94 – Ningyo no Mori (3 volumes)
Incluso: Ningyo wa warawanai, Tougyo no sato, Ningyo no mori, Yume no owari, Yakusoku no ashita, Ningyo no kizu, Shari hime, Yasha no hitomi
1987/96 – Ranma ½ (38 volumes tankoubon e 38 volumes shinshouban)
1987/2007 – 1 Pound no Fukuin (4 volumes)
1996/2008 – InuYasha (56 volumes)
2009 – Kyoukai no Rinne (15 volumes, ainda em publicação)

Antologias:
1987 – Takahashi Rumiko Gekijou (3 volumes)
Incluso: Vol1: Honoo Tripper (1983), The Super Gal (1980), Kattena Yatsura (1978), Hara Hara Hooru (1978), Warau Hyouteki (1983). Vol2: Dust Spot!!*, Ougon no Bimbougami (1978), Shoukon (1980), Kai Neko Myou (1981). Vol3: Kaibyou Min (1981), Yami o Kakeru Manazashi (1982), Fuufu (1980), Wasurete Namure (1984), Warae! Helpman (1981), Sengoku Seitokai (1982), Warera Gammen Nakama (1984).
1994 – P no Higeki
Incluso: P no Higeki (1991), Naniwa no Shounin (1987), Poi no Ie (1992),  Hachi no Naka (1988), Hyaku-nen no Koi (1993), L size no Koufuku (1990).
1995 – 1 or W
Incluso: Slim Kannon (1991), 1 or W (1994), Inu de waruika!! (1985), Obaasan to Issho (1985), Ganbari Masse (1978), Grand Father (1991), Happy Talk (1984), Uchi ga Megami Ja!!(1989).
1995 – Honoo Tripper
Incluso: Warae! Helpman (1981), The Super Girl (1980), Kaibyou Min (1981), Sengoku Seito-kai (1982), Yami o kakeru Manazashi (1982), Warau Hyouteki (1983), Wasurete namure (1984), Warera Gammen Nakama (1984).
1999 – Senmu no Inu
Incluso: Senmu no Inu (1994), Meisou Kazoku F (1995), Kimi ga Iru Dake de (1999), Cha no Ma no Love Song (1996), Oyaji Low Teen (1997), Orei ni Kaete (1998).
2009 – Akai Hanataba
Incluso: Akai Hanataba (2002), Higaeri no Yume (2000), Oyaji Graffiti (2001), Giri no Vacance (2004), Help (2003), Permanent Love (2005).
2011 – Unmei no Tori
Incluso: Unmei no Tori (2009), Positive Cooking (2006), Jiken no Genba (2007), Shiawase List (2008), Toshigai mo Naku (2010), Rinka no Nayami (2011).

*1979 – Dust Spot!! (5 capítulos)
Incluso: Mister Puu no Maki, Gokiburi wa ikiru, Buta wa shine!! no Maki, Marin Boozu ’97 no Maki, Yukue Fumeiji no Maki, Dust Scene no Maki.

Outros não publicados em volume:
1975 – Kyoujin no Hoshi (doujinshi)
1976 – Fuujin Dai-2kai/Ninja no Bitoku wa sei ka shi ka!? no maki (doujinshi)
1976 – Soshite Hanbun Inakunatta (doujinshi)
1977 – Bye Bye Road (doujinshi)
1978 – Senaka no Sensou (doujinshi)
1978 – Eesu o Mezase! Dai 3 kai/Oomen no Maki (doujinshi)
1978 – Furyou Seinen dan  (doujinshi)
1978 – Kemo no 24 Jikan (numa coleção de Kazuo Koike)
1979 – Sunday Gag Post
1979 – Nehan no Houteishiki (doujinshi)
1980 – ? no Shippi (numa coleção de Kazuo Koike)
1980 – Zoushoku Nyoubou – Fairy Tale –
1980 – Boushoku no Forumu (doujinshi)
1981 – Elf Fairy/Youseijin
1982/84 – Kemi Kobiru no Nikki (11 capítulos)
1991 – Watashi no Scandal
1991 – Katte ni Utsurun desu
1992 – MOON dai Pet-ou
1993 – Takarazuka e no Shoutai
1997 – Furyou – Waru-
1999 – withCAT
2003 – Kawaii Hana
2003 – Kotoshi wa Yuushou!
2005 – 1980
2009 – My Sweet Sunday (em conjunto com Mitsuru Adachi)
2010 – Hoshi wa Sen no Kao

No Brasil a autora começou tropeçando, Ranma foi licenciado em 1998 pela Animangá e logo depois cancelado. Alguns anos se passaram até que o anime de InuYasha chegasse por aqui, o que estimulou o lançamento do mangá pela JBC em 2002. Ao final deste a JBC continuou investindo na autora, trazendo novamente Ranma, em 2009, atualmente sendo publicado.

Devido ao seu grande sucesso a autora possui muitas (mais muitas) entrevistas, uma delas até em conjunto com Akira Toriyama. Infelizmente fica impossível trazer todas para os leitores, muitas delas até são confusas, já que falam de obras e referências que não compartilhamos. Por causa disso selecionei apenas duas entrevistas que falam sobre InuYasha, Ranma e algumas curiosidades da autora. Enjoy.

Entrevista da Animerica em 2001:

P: Vamos começar com uma pergunta sobre Ranma ½. Artes marciais é usado bastante em Ranma. De onde você tirou a ideia de usar artes marciais?
Q: Ranma era para ser originalmente um mangá de artes marciais, uma mistura de cotidiano com artes marciais. Entretanto Ranma junta artes marciais com tudo, mesmo quando não tem a menor ligação. E é por isso que todas aquelas estranhas artes marciais aparecem no mangá.

P: Muitas vezes você liga artes marciais e comida…
R: É porque eu adoro comida.

P: Você adora comer… Isso quer dizer  que você gosta de cozinhar?
R: Só às vezes.

P: Qual sua comida favorita?
R: Só arroz normal com alguma coisa para acompanhar (okazu). Não sou muita fresca – como qualquer coisa.

P: Você faz okonomiyaki (pizza japonesa)?
R: Nunca fiz, mas gosto de comê-las.

P: Já praticou artes marciais?
R: Não.

P: Assiste muitos filmes de Kung Fu?
R: Costumava assistir muito filmes do Jackie Chan. Tem também, é claro, Bruce Lee e Operação Dragão.

P: Em entrevistas anteriores você mencionou que vivia para assistir lutas profissionais de Sumô e Wrestling. Você tem algum lutador favorito?
R: No sumô eu gosto do Akebono, porque ele sempre vence os torneios.

P: E no wrestling profissional?
R: Quanto ao wrestling, nunca assisti as lutas masculinas profissionais, nem nunca fui a uma luta ao vivo. Mas no wrestling feminino, eu realmente gosto da Manami Toyota.

P: Algum dos personagens de Ranma é baseado em pessoas que você conhece?
R: Não, nenhum.

P: Você cria todos os personagens a partir da sua imaginação?
R: Nunca pensei algo como “Oh, quero usar esta pessoas para fazer um personagem”. Acho que nunca fiz isso.

P: A personagem Akane diz que não gosta de rapaz. Por quê?
R: Bem, conforme você lê a história, você descobre que isso não é verdade. Ela tem sentimentos não-correspondidos por um homem, mas esse cara gosta da irmã dela. Então acho que os sentimentos não-correspondidos de Akane acabam sendo expressados como “não gosto de rapazes”. Acho que é mais fácil de entendê-la pensando dessa forma.

P: Quando você era mais nova, você era uma machona como a Akane?
R: Não, quando criança ficava sempre rabiscando. Nunca fui atlética.

P: Sempre mangá?
R: Sim.

P: Ramna é um pouco reservado e frio, os outros personagens também tem falhas estranhas. Poderia comentar sobre isso?
R: Que tipo de comentário eu deveria fazer?

P: Bem, todos os personagens tem falhas e…
R: Acho que pessoas perfeitas não tem graça. Principalmente no caso de uma comédia, cada pessoas tem uma falha e é isso que cria a risada, ou talvez crie uma simpatia no leitor. Não é por isso que faço assim, mas a maioria dos meus personagens tem um lado idiota.  Talvez seja apenas uma mania minha.

P: Vamos passar para InuYasha. Há muitos monstros grotescos que aparecem na obra. Esses monstros que você cria são baseados em velhos mitos e lendas?
R: Alguns, sim: os fantasmas, demônios, dragões e kappas são todos tirados de lendas japonesas. Mas mais da maioria é criação minha.

P: A história de InuYasha é sombria  e mais séria que Ranma. Essa mudança é algo pessoal ou você apenas queria tentar algo novo?
R: Eu quis fazer algo diferente de comédia. E fiz isso pois pretendo tomar um novo rumo.

P: Há alguma razão particular para você ter escolhido a era Sengoku para a sua história?
R: Talvez porque seja relativamente fácil pesquisar histórias de fantasma desse período. Mas não pensei tanto nisso. É só que na era Sengoku houve guerras e muitas pessoas morreram. Para um fantasma aparecer e matar várias pessoas nos dias atuais – apesar de que acho que existe uns mangás assim – mas para um dos meus mangás, achei que se colocasse na era Sengoku faria mais sentido e seria mais ameno. A crueldade ficaria mais amena, acho.

P: Para colocar a história na era Sengoku, você teve que juntar muito material e pesquisas?
R: Não fiz tanta pesquisa assim para criar InuYasha, apenas usei o conhecimento básico escolar, como a imagem de um samurai usando armadura e num cavalo – coisas assim.  Além disso, considere que castelos de um certo período tem certas características próprias, é claro que há muitas formas diferentes de castelos, mas depois de um tempo eles passaram a ser mais grandiosos, posso dizer que InuYasha se passa antes desse período.

P: Conforme a relação de Kagome e InuYasha se desenvolve, eles parecem retroceder, mesmo agora há vários aspectos ambíguos. Essa situação vai se resolver?
R: Hummmm, sim… Gostaria que sim. Eu só sei realmente o que vai acontecer quando estou escrevendo, mas escrevo com esperança de que isso vai se resolver.

P: Então você mesma não sabe o que está acontecendo?
R: Neste momento não tenho a menor ideia do que vai acontecer.

P: Kagome é a reincarnação de Kikyo, mas em termos de personalidade as duas são muito diferentes. A mesma pessoa com duas personalidades e InuYasha se sente atraido por ambas. Existe algum significado profundo nisso?
R: Não há nenhum. Em termos de reencarnação, a personalidade de Kagome não é realmente parte da de Kikyo. Kagome deveria expressar sua própria individualidade, já Kikyo é original e expressa sua individualidade muito bem. E acho que a história ficará mais interessante se essa situação continuar.

P: Mesmo que Kikyo já esteja morta?
R: Sim, mesmo que ela esteja morta.

P: O que é a Joia de Quatro Almas que é tão importante na história?
R: Provavelmente isso ficará mais claro conforme a história se aproxime do fim.

P: Foi baseada em algo histórico?
R: Não, não foi.

P: Então quando você está criando uma história, seja ela InuYasha ou Ranma, o fim nunca é planejado com antecedência, né?
R: Não, não são. Acho que é melhor não pensar muito nisso durante a história. Ou vou forçar meus personagens naquela direção pré-estabelecida,  acho que um mangá assim não seria muito interessante. O que você acha que é melhor naquela hora, logo depois de escolher e trilhar aquele caminho… Acho que é assim que se cria mangá. Esse é o que considero ser o melhor jeito.

P: Gostaria de voltar para perguntas mais gerais. Existe algum mangá que você está lendo atualmente?
R: Mangá que ando lendo…? Leio muitos, mas a maioria não são populares na América. Então acho que não vão conhecer.

P: Você lê comics americanos?
R: Há várias obras que coleciono. Uma delas é Homem-Aranha.

P: Usando o Homem-Aranha como referência, quais são as diferenças entre mangá e comics na sua opinião?
R: Hummmm… Em certo aspecto, a qualidade, a arte dos comics é muito alta. Acho que a história contada através das imagens é algo muito forte no comics. Mangás são mais… Mangás podem ser criados mesmo sem ação alguma. Mesmo algo cotidiano e entediante do dia-a-dia, como representar que está um dia abafado ou que alguém está muito faminto – só isso é o bastante para um mangá. Acho que essa é a diferença de como as pessoas veem o mundo, o que as pessoas consideram o bastante para formar uma história. Acho que é aí que está a diferença.

P: Você acha que essa diferença é um dos motivos pela qual seu trabalho faz tanto sucesso na América?
R: Não penso nisso quando crio um mangá. Para mim, o mangá está em tudo desde meu nascimento, e crio meus mangás disso.

P: Como é a sensação de ser um dos mangakás mais famosos do Japão?
R: Hummm… Sinto que devo trabalhar duro.

P: Para que sua popularidade não caia?
R: O que quero dizer é que se estar no topo significa que seus mangás vendem muito, então todas aquelas pessoas estão lendo seu mangá, gostando da sua obra e isso é maravilhoso. Por isso, para manter esses leitores satisfeitos, devo trabalhar duro.

P: Muitos mangakás tem usado recursos digitais para criar suas obras. Pretende usar isso no futuro?
R: Gostaria de usar coisas assim se puder. É só que se você não sabe usar bem, as pessoas percebem – em coisas como coloração. Se os Macs vierem a ser mais fácies de usar, mais baratos, talves eu os use.

P: Você tem um Mac?
R: Não, não tenho. E não pretendo comprar um até que fique mais fácil de usar.

P: Então você não tem computador?
R: Não, não tenho.

P: Só para fechar, gostaria de dizer algo para os seus fãs da América?
R: Sim. Todos da América, muito obrigado por lerem meu mangá. Atualmente estou trabalhando em InuYasha. Vai passar muitos anos até que essa série se termine, mas o anime estreia em breve. Se puder vê-lo, por favor, apoie. Estou sempre tentando fazer o melhor trabalho e dar o meu melhor, espero que todos vocês façam o mesmo. Se ficar cansado, por favor, relaxe e leia algum mangá.

Entrevista da revista S, 2009:

P: Parabéns pela finalização da serialização de InuYasha. Conte-nos como vocês está se sentido depois de terminar essa serialização tão longa.
R: Muito obrigada. Sem arrependimentos, fiquei muito aliviada quando terminei de desenhar. Também, todos que me apoiaram nesses anos: os leitores, os assistentes, os sucessivos editores, aqueles envolvidos no anime e todos os outros envolvidos desse projeto, tem a minha mais profunda gratidão.

P: Quanto ao final, o que a levou a fazer daquela forma?
R: Minha maior dúvida era se a heroína Kagome ficava no passado ou no presente ao final. E desde o final do anime em 2004, eu tenho constantemente me torturado sobre isso. E foi por isso que decidi montar um roteiro para o capítulo final. Em todo caso, qualquer que fosse o mundo que ela escolhesse a “separação” seria inevitável. Então no final decidi ir na direção que faria Kagome feliz, o que deixaria as pessoas felizes quando elas terminassem de ler.

P: InuYasha é sua série mais séria e de ação até agora, que tipo de motivação lhe levou a criá-la?
R: Eu fiz muitas comédias uma atrás da outra, como Ranma e Urusei. Queria tentar fazer algo mais sério.

P: Conte-nos como você teve a ideia de “coletar a Jóia de Quatro Almas”.
R: Imaginei que “coletar” itens com seus companheiros seria a base do roteiro.

P: Já que há muitas cenas sérias em InuYasha, há algo que você teve que alterar no modo como você escreve um mangá, ou a sensação que teve desenhando comparada com seus outros trabalhos?
R: A maior mudança foi que muitas onomatopéias foram desenhadas em Katakana. Boom em katakana ou hiragana é totalmente diferente e passa toda uma outra impressão. (NT: Para os japoneses, escrever em Katakana passa uma ideia mais bruta e crua, já em hiragana algo mais leve e suave. Logo em InuYasha ela usa o katakana e em Ranma hiragana. Leia mais no artigo do JBox: Mangá: O Grande Guia das Onomatopeias). A sensação quando escrevo é a mesma. Seja comédias, seja sério, ritmo é necessário. Quando comecei, acho que os leitores ficaram perplexos: “Por que isso não é engraçado?”. E quando passou a ter cenas mais intensas e os personagem não sorriam tanto, fiquei com medo que os leitores se decepcionassem.

P: Quando InuYasha está cheirando por aí com suas orelhas de cachorro ou quando Kagome está brava com eles a cena fica bem engraçadinha, mas quando é uma batalha ou situação séria, fica intenso e frio. Acho que os personagens principais masculinos que você faz são perfeitamente balanceados entre engraçadinho quando está encrencado e frieza em situações sérias. Você gosta de desenhar personagens assim?
R: Sim, gosto bastante. Desenhar os rostos dos personagens quando estão numa fria nunca perde a graça.

P: Há em InuYasha algum pedaço em particular importante para você?
R: No volume 18 (36 no Brasil) a cena quando Kagome está chorando pois ela acabou de se tocar de que ama InuYasha. A história no volume 11 quando o Buraco do Vento de Miroku se rasga. O arco inteiro do Exército dos Sete. Também as cenas onde Kagura e Kikyo morrem, embora haja um sentimento de perda, ainda sim é memorável. E amo o capítulo final.

P: Há em InuYasha algum personagem em particular importante ou que você se divertiu criando?
R: Adoro todos eles. Gosto das cenas onde há tensão quando Kikyo aparece. Miroku foi fácil de criar, seja quando está sendo bobo ou quando ele estava fazendo seus esquemas. Por outro lado, desenhar alguém super sério como Sesshoumaru era muito renovador. Foi minha primeira vez escrevendo personagens como Jakotsu do Exército dos Sete, foi muito divertido.

P: O Exército dos Sete era formado por 7 personagens muito diferentes. Mas mesmo sendo vilões, eles ainda tinha seu encanto. Que tipo de atmosfera você estava tentando criar com eles?
R: Quando estava fazendo os vilões do arco Hakureizan (o monte sagrado), imaginei que precisaria criar um grupo para conseguir a duração que queria. Originalmente não pretendia colocar sete, mas quando chegou a hora deles aparecerem, pensei nos sete dias da semana.

P: No começo, o coração de InuYasha está fechado e ele mal se entende com a Kagome, mas conforme a história progride, ele começa a confiar em todos e desenvolve uma relação muito boa e singular com Kagome. Enquanto está lendo, você tem a impressão de que InuYasha ganhou compaixão humana em certo ponto. Mas durante a produção existe algum ponto em que os personagens simplesmente passam a se comportarem sozinhos?
R: Conforme a história se acumula você simplesmente passa a conhecê-los e saber que tipo de pessoas eles são.

P: Você sempre escreve histórias com muitos personagens, mas qual sua intenção por trás disso?
R: Ao invés de dizer que quero escrever com muitos personagens, eu diria que, quando são serializações compridas, os personagens simplesmente se multiplicam. E ter muitos personagens me ajuda a escrever vários arcos sem tornar a história tediosa.

P: Desconsiderando de qual obra, todos os seus personagens são sempre bem trabalhados e parece que todos sempre alcançam um final feliz. Por quê?
R: Escrever personagens que alcançam um final feliz faz com que eu me sinta bem quando a história termina. Mesmo em histórias com muita tristeza e sofrimento, gosto de histórias em que eles são recompensados de alguma forma.

P: Mesmo entre os vilões, nenhum de seus personagens parece ser verdadeiramente maligno. Você percebe isso quando está criando o vilão principal também?
R: Mesmo os vilões, não sou capaz de escrever personagens que eu odeio de verdade. Quando estou criando personagens malignos, penso muito no motivo que os levou a ser maus e qual o plano de fundo e motivações que eles têm. Não poderia criá-los de outra forma.

P: Desde criança você teve íntimo contato com revistas shounens e desde sua estreia profissional isso não mudou e você participou ativamente de várias delas. Mas qual o encanto de se escrever uma história shounen?
R: Não consigo pensar em outra resposta que não seja: porque amo mangá shounen. Apenas me sinto bem lendo e escrevendo isso.

P: Nas suas publicações shounen há geralmente personagens que não são humanos. Por exemplo, meio-youkai como InuYasha, aliens como Lum-chan, homem que se transforma em mulher como Ranma, personagens com característica não-humanas, habilidades de se transformar, um ser que vive no limite entre mulher e homem… Esse tipo de personagem. Por que você cria tantos personagens assim?
R: Porque gosto deles. Acho que o “fora do comum” é algo mais como “um sonho” se tratando de mangás.

P: Se você tem um estoque de ideias para o seu próximo projeto, gostariamos de saber algumas possibilidades.
R: Não há nenhum estoque de ideias. Estou no processo de pensar no que será meu próximo projeto.

P: Você geralmente escreve serializações compridas e desde sua estreia você nunca tirou uma folga dos mangás. Por favor, conte-nos o que te motiva a escrever mangás e se houve alguma vez que algo te deixou muito contente em desenhar mangás.
R: “Eu adoro mangás” é a minha motivação. O momento em que estou mais feliz é quando estou escrevendo e desenhando. E como leio todas as cartas dos fãs, isso é um grande encorajamento.

P: InuYasha não foi exceção, todos seus trabalhos até agora se focaram no estilo de vida japonês. Qual suas motivações para escrever obras focadas no Japão?
R: Primeiro, parto da suposição de que meus leitores são japoneses, ter o Japão como ambiente me parece a conclusão mais natural. Pode parecer uma explicação simplificada, mas mesmo se outras partes do mundo estiverem envolvidas, como meu objetivo é escrever sobre o cotidiano, ao invés do resto do mundo exercer um papel na história, prefiro algo que me possibilite conectar com os leitores.

P: Nas suas obras, há personagens muito fofinhos, misteriosos, engraçadinhos e que aparecem nas mais variadas poses. Pode nos dizer de onde tira inspiração para tanta pose?
R: Só desenho o que minhas mãos ordenam.

P: Qual seu personagem favorito de todos os trabalhos que você já fez?
R: Gosto dos personagens idiotas, como Ryunosuke de Urusei e Ryoga de Ranma.

P: InuYasha é uma história de amor, mas há alguma lenda ou folclore que você gosta?
R: É um romance, mas eu amo muito “Kibitsu no Kama” da coleção “Ugetsu Monogatari” (de Ueda Akinari). O drama russo “Dvenadtsat Mesyatsev” também é como um sonho para mim.

P: Há algum trabalho recente ou pessoas em particular que você curte?
R: Gosto da companhia de Matsuyama Kenichi. Quanto aos mangás, eu curto ler “Himawari!” de Higashimura Akiko todas as semanas.

P: Que tipo de recurso você usa para fazer pinturas coloridas e em preto-e-branco?
R: Minha caneta é a Zebra G pen. Minha tinta é geralmente da Retora ou IC. Uso nanquim com a Pilot. Para destaques uso da Biguma. Cores, uso a aquarela Sakura Mat, Holbein, tinta Dr. Martens e Nicker.

P: Antes de começar seu rascunho, você usa algum livro como referência? E quando não está fazendo o rascunho, você simplesmente tem ideias durante seu dia-a-dia? Se sim, pode nos dizer quando isso geralmente ocorre?
R: Não uso livros de referência. Quando estou rascunhando só esboço as ideias que me vem a mente. Geralmente tenho ideias fermentando na minha cabeça, mas me concentro de verdade quando estou na minha mesa de trabalho.

P: Você desenha  alguma coisa que não esteja relacionada com seu trabalho?
R: Não muito ultimamente.