11eyes

Férias não são algo maravilhoso? Você pode relaxar, assistir o que quiser, enquanto come deitado no sofá. Não existe momento melhor para assistir animes ruins do que naquele dia de chuva em que você está sem dinheiro e sem vontade de se mexer. Enfim… após um período de ausência, estou trazendo a coluna de volta ao ritmo normal.

E esse vai ser um ótimo começo…

Existem algumas coisas que podem salvar ou destruir a adaptação de um anime. Cenas de ação, trilha sonora, tom e, naturalmente, fanservice. Se bem dosados, esses ingredientes adicionam mais gás a uma obra e podem até mesmo fazer o que seria um fracasso em um sucesso ressonante. Se mal utilizados, acabam transformando mesmo algo extremamente esperado em uma piada. Foi o que aconteceu a 11eyes.

11eyes é adaptação da Visual Novel homônima, lançada em 2008 para PCs. Considerada por muitos a melhor VN daquele ano, 11eyes acompanha um grupo de jovens que descobrem ter poderes sobrenaturais ao entrarem na Noite Vermelha. Dentro da Noite Vermelha eles são perseguidos pelos Cavaleiros Negros, poderosos guerreiros que querem a todo custo impedi-los de chegar à torre no centro da Noite.

Deixando de lado as similaridades com SMT: Persona 3 (e com diversas outras obras…), 11eyes traz uma trama interessante e personagens surpreendentemente bem construídas. Não só isso, mas conforme a história avança, mais e mais mistérios vão surgindo, como o que houve à irmã do nosso protagonista, Kakeru, ou por que só um grupo de jovens pode se mover dentro da Noite Vermelha, a complicada relação entre Kakeru, sua colega yandere, Yuka, e Misuzu e, obviamente, o próprio mistério do que é a Noite Vermelha.

Tudo envolvido num agradável clima de suspense. Sem dúvidas um anime incrível, não é?

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Bem, não.

Deixando de lado o fato de que, tecnicamente, o anime é abaixo da média (digamos que o estúdio Dokagobo, responsável pela série, não é exatamente um Studio MadHouse), o maior problema foi na maneira como o roteiro foi adaptado. Imaginem uma viagem por um lugar extremamente bonito e cheio de coisas interessantes. Agora imaginem que essa viagem é feita em pleno verão, num carro sem ar condicionado, junto àquele seu primo pestinha que não para de incomodar. Isso é 11eyes. Embora a proposta e mesmo a base seja boa, a execução é sofrível.

Uma das principais falhas está no excesso de fanservice absolutamente mal posicionado. A cada cinco segundos há uma calcinha na tela, não importa em que situação seja — até mesmo no meio de uma batalha que deveria ser extremamente dramática. Com o tempo começa a cansar e toda a tensão que se tenta criar vai pelo ralo quando a câmera se esforça para conseguir chegar a um ângulo em que possa mostrar o que está por baixo da saia de uma colegial genérica de anime.

“Espera, espera. Colegial genérica? Mas você disse que as personagens eram bem construídas!”. Pois é. E são. Temos um conjunto de personagens com passados, personalidades e dramas pessoais interessantes e cheios de potencial. E então tudo isso é jogado de lado para que possamos deixar a Yuka o mais moe possível. Todos os dramas prometidos então desaparecem, engolidos por escolhas pouco criativas. Pouco a pouco todo um universo relativamente original despenca sob o peso devastador o Martelo Moe.

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E com o que ficamos? Uma série apelativa e sem personalidade, do tipo que sai às pencas a cada nova leva de animes. E nem nisso ela se destaca, já que diferentemente de um To Love Ru Darkness nem os momentos de ecchi mais grosso conseguem ser mais do que você veria normalmente em, digamos, Bleach.

E talvez o cúmulo disso tudo seja o OVA. Nele, vemos nossos queridíssimos heróis presos numa Noite Rosa, que transforma seus poderes em versões sexualizadas. Misuzu, nossa querida espadachim, ganha o poder de invocar dildos e o olho mágico de Kakeru vira uma visão mágica que… vê as pessoas em suas roupas de baixo. Por mais que a intenção seja fazer uma grande piada com a própria série, no momento em que se parte para um humor desse nível, todo o respeito que se pode dar a algo desmorona.

Porém, apesar de todas as suas falhas de execução, 11eyes ainda consegue ao menos ser divertido. Por trás das lutas estúpidas, dos inimigos tão ameaçadores quanto um Cactuar, dos momentos que beiram a estupidez, do ritmo arrastado, dos visuais pouco impressionantes, das lutas que fariam os Power Rangers terem vergonha, está um anime que… Ah, a quem estou tentando enganar? Honestamente, 11eyes é ruim.

Extremamente ruim. E não ruim como Plano 9 do Espaço Sideral é ruim, mas ruim como A Ameaça Fantasma é ruim.

11eyes é como aquela ótima piada contada pelo seu amigo mais chato. É engraçada? É. Mas você simplesmente não consegue rir. Ao menos não sem estar bêbado.