boo2

O Boomerang surgiu de uma ideia da Turner que queria aproveitar seu acervo antigo que estava parado, uma vez que a produção de cartoons originais ocupava cada vez mais a grade do Cartoon Network.

Entrou no ar nos Estados Unidos em 2000, e no ano seguinte, no dia 2 de julho, no Brasil.

O canal exibia basicamente 24 horas de produções dos estúdios Hanna-Barbera. Durante a semana, os desenhos eram exibidos em blocos de uma hora, com exceção dos desenhos de ação, exibidos dentro do “Boomeraction“, onde cada um era exibido durante 30 minutos.

Aos finais de semana, animações que não eram exibidas em dias úteis ganhavam mini-maratonas de duas horas, que reprisavam no final do dia.

O canal era o reduto perfeito para os pais das crianças que assistiam Cartoon Network, enquanto era também uma nova porta para essas mesmas crianças descobrirem a magia dos desenhos dos seus pais. A ideia deu certo, e durante alguns anos, o Boomerang executava sua proposta com maestria, mas os problemas começaram a surgir.

1°problema: se estamos lidando com um canal que só exibe clássicos, partimos da proposta que temos uma programação limitada, um acervo que não irá se expandir e, por mais amplo que seja, tem hora para ficar repetitivo.

2°problema: boa parte das animações dos estúdios Hanna-Barbera não tinham mais que 30 ou 50 episódios de 10 minutos. O Boomerang lançou um conceito de programação onde cada série era exibida por uma hora inteira diariamente, o que rapidamente desgastaria muitas produções.

3°problema: não estamos falando de um canal muito atrativo para o mercado publicitário. O Boomerang era um novo canal sim, mas um novo canal de coisas velhas, o que o fez, durante um bom tempo, se vangloriar de ser um dos poucos na TV por assinatura a não ter intervalos comerciais para a alegria da audiência, e para a tristeza da Turner.

A emissora se manteve como era desde seu início até 2005, quando a Turner adquiriu para o canal produções dos estúdios MGM e Filmation, como Flash Gordon, Os Caça-Fantasmas e Tom & Jerry. Isso de certa forma deu sobrevida ao Boo, que viria a ser completamente repaginado no ano seguinte.

2006 foi o ano que matou o Boomerang como conhecíamos. A Turner surgiu com uma nova proposta para o canal na América Latina, focando seu conteúdo no público adolescente entre 12 e 17 anos, criando uma programação diversificada com live-actions, desenhos infantis, e programação clássica apenas nas madrugadas e início das tardes.

Foi nessa repaginação, inclusive, que alguns animes adentraram na grade, como Sakura Card Captors e Nadja.

Com o avançar de 2006, o que a audiência pôde perceber é que o novo Boomerang não era exatamente um canal para adolescentes, mas sim para meninas adolescentes. Rapidamente essa fórmula tomou conta do canal, que inclusive tinha como voz dos intervalos uma mulher, algo raro e talvez inédito se compararmos com os outros canais infantis.

Em 2008, a Turner resolveu eliminar definitivamente os clássicos da grade e também começou a remover qualquer animação. Realities, novelas, e cada vez mais seriados teen preenchiam a grade, deixando o Boomerang totalmente afastado da sua proposta inicial, como se mantém até hoje.

Com esse panorama traçado, talvez muitos fiquem revoltados com os rumos do canal por aqui, mas a verdade é que a culpa pela Turner ter tomado essas decisões é da própria Turner. Como citado nos problemas, o canal possuía ciclo de vida limitado e baixa adesão comercial, dois tiros muito grandes nos pés.

O canal foi alterado em todo o mundo onde, ao menos, uma coisa foi mantida: o foco em animações. Na França, Europa, Inglaterra e outros, o sinal do Boo foi reformulado e mesclou clássicos com novas animações desses clássicos, como O Show dos Looney Tunes e Scooby-Doo Mistério S.A, além de novos desenhos infantis.

Já no Brasil e restante da América Latina, nossa nova programação foi um verdadeiro samba de crioulo-doido, que passou de desenhos e live-actions atuais, por programação feminina para adolescentes, e terminou em um reduto de enlatados americanos e canadenses, característico dos canais que focam em geração millennials, como Sony Spin e MTV.

Talvez nunca seja revelado porque só por aqui a Turner assumiu essa posição arriscada, mas a verdade é que ela falhou. Falhou como todos os canais da geração millennials vêm falhando, e que por causa de suas falhas, correu risco de ser extinto. Um risco já descartado, uma vez que a situação do Boomerang a nível global não andava boa, e por isso a própria matriz americana anunciou o realinhamento de sua proposta em todos os treze feeds espalhados pelo mundo.

Sim, não era porque os outros canais continuavam exibindo animações que a situação deles permanecia boa. O Boomerang original mesmo sofreu em 2013 alguns golpes duros e saiu de algumas operadoras americanas, e só no ano passado conseguiu “se abrir” comercialmente para inserir propagandas nos intervalos.

O que ajudou o canal a conseguir isso por lá foi o fator ineditismo: o Boomerang passou a exibir antes do próprio Cartoon Network episódios inéditos de Johnny Test e Ben 10: Omniverse, o que garantiu anúncios comerciais, mas que possivelmente não foram tão expressivos, fazendo com que a Turner precisasse tomar medidas mais drásticas.

E, por conta da série de erros que acometeram o Boomerang do seu nascimento até hoje, a Turner decidiu nesse mês que o canal voltará a se dedicar aos clássicos sim, mas de um jeitinho diferente: mesclando eles com animações atuais, garantindo, assim, programação para a toda a família.

Basicamente o nosso Tooncast? Sim. E ela talvez deva ser parabenizada por isso. Ela entendeu que pode sim resgatar o Boomerang que criou, e transformando o ciclo de programação do canal em algo que sempre poderá receber novidades sem fugir da sua identidade, diminuindo e talvez até descartando o risco de saturação do acervo.

E, claro, isso traz benefícios para ela, uma vez que com conteúdo renovado, ela sempre estará sendo observada pelo mercado publicitário e, queira a audiência ou não, isso se tornou importante para a maioria dos canais pagos hoje em dia.

Talvez possam questionar o parágrafo acima usando o Tooncast como exemplo, que já possui esse tipo de programação e mesmo assim não possui intervalos, mas é bom lembrar que o Tooncast não está nas duas maiores operadoras de TV por assinatura do país, que juntas detém mais 70% dos assinantes: NET e Sky. É mais fácil  e mais efetivo para o mercado publicitário procurar os canais que estão nessas duas.

E o que acontecerá ao Tooncast com o retorno do Boomerang ao ramo de canais infantis? Não é possível afirmar, mas as opções são várias: ele pode ceder espaço para o Cartoonzinho, canal spin-off do Cartoon Network para concorrer com o Discovery Kids; ele também pode acabar. Certo é que ele não continuará da maneira que está, pois seria praticamente concorrente do canal irmão que está para voltar.

E que, com o Boomerang de volta à linha, reajustado e planejado para dar certo novamente durante muito tempo, que não o vejamos novamente descaracterizado. E que possa servir de exemplo para as outras programadoras, que cada vez menos investem no verdadeiro diferencial da programação paga: conteúdo segmentado.