Atenção: em junho, após a estreia do filme no Japão, o JBox publicou uma resenha escrita por Rafael Schuabb, um dos fundadores do site e que hoje mora na terra do Seiya. Você pode conferir clicando aqui

As duas resenhas a seguir, escritas por Leandro Oliveira (Larc) e Rafael Brito (Jiback), levam em conta a versão dublada e a reação de espectadores nos cinemas brasileiros.

Por Larc

Resolvi encarar um desafio: assistir ao novo filme dos Cavaleiros do Zodíaco deixando em casa todo repertório que acompanhou minha infância e parte da adolescência através das infindáveis reprises na Rede Manchete… Afinal, o julgamento da maior parte de fãs que foram aos cinemas esperando uma releitura fiel da Saga das 12 Casas foi unânime: o filme é ruim e estragaram tudo! Uma impressão um tanto negativa já havia sido passada por um dos nossos colaboradores internacionais (que chique, não?); mas tem coisa que só vendo mesmo pra crer… Fora que prefiro ter minhas opiniões através de experiências próprias e não do que as pessoas dizem ou apontam =).

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Aprendi em história da arte que em uma releitura é permitido interpretação de uma obra por meio de um ponto de vista pessoal. O mais importante no processo é respeitar a essência do original e com o aval do “Mestre” Kurumada, o que os produtores do longa-metragem apresentam em seus parcos 93 minutos de duração não deturpa a essência que fez Os Cavaleiros do Zodíaco serem tão amados pelos brasileiros: o valor da amizade, da determinação e da persistência.

Estão lá Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun, Ikki e Saori. Estão lá as armaduras, os Cavaleiros de Ouro, o vilão com sede de poder, o cosmo, os diálogos inverossímeis… Mas a sensação de que falto “algo” é assombrosa para os fãs da série clássica.

De maneira geral, o roteiro consegue a simpatia e atenção de todos até metade da produção. Os alívios cômicos que estranhamente funcionam (coisa pouco vista na série original) e a qualidade da animação engabelam os fãs que torceram o nariz para o redesign das armaduras e personagens quando estes começaram a vir a tona, antes da estreia…

Mas depois de determinado evento (a chegada à Casa de Câncer) é muito difícil o coração não bater forte e seu cérebro comparar o que se apresenta com os eventos da série clássica ou do mangá. O que decorre a partir desse ponto leva as pessoas a reagirem das mais diversas formas. Testemunhei pessoas se levantando e indo embora do cinema. Outras continuavam assistindo aquilo com um ar de “pra que isso?”. E crianças… Bem… Esses gostavam! Aliás, o comportamento dos pequenos foi algo que me chamou atenção: Eles saíam do cinema querendo “mais”!

E vamos admitir: os fãs “velhos” também esperava mais do filme graças a toda pompa que o longa despertou.

O filme não passou de uma grande aventura com efeitos de encher os olhos (OK… às vezes a animação ficava com um aspecto meio “jogo de PS4”… Por que será tão complicado fazer os personagens correrem sem um aspecto tão tosquinho?!) e personagens carismáticos (uns muito mal utilizados, mesmo pra quem não conhece a série, como o coitado do Afrodite de Peixes…) que cumpre o papel de entreter uma audiência menos exigente – que não tenha muita intimidade com a mitologia da série talvez.

Talvez o algo que os fãs tenham sentido falto seja épica trilha sonora de Seiji Yokoyama. O que se escuta é algo um tanto genérico que não amplia o poder de certos momentos cruciais.

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Mas os tempos são outros… E temos que respeitar que releituras são bem vindas para dar um novo fôlego comercial para a obra de Masami Kurumada. Teve muita coisa que “funcionou” e outras que deixam você incrédulo – a própria Saori grita em determinado momento do filme: “Que absurdo!”, uma sensação que grande parte dos espectadores sentia diante do turbilhão de eventos nunca imaginados de se ver em um episódio da série clássica…

Como disse no começo dessa crítica, tentei deixar o lado fanboy de lado e assimilar esta proposta de releitura da Saga das 12 como algo “livre” – um fandom bem feito da Toei? – e não considero o filme uma total perda de tempo ou algo tão ultrajante que me fizesse levantar e ir embora do cinema. Existiram problemas sim (o tempo de duração foi o principal vilão do filme), mas também há coisas positivas que se MUITO bem trabalhadas em um segundo filme até que podem apagar a má impressão que muitos tiveram.

Mas será que teremos um novo filme?

O êxito internacional pode determinar isso, pois no Japão o longa não atingiu um sucesso extraordinário. No Brasil, temos que bater palmas de pé para o empenho da Diamond Films. As ações de marketing arrastaram multidões de “velhos” na casa dos 30 anos para os cinemas e é uma pena que os produtores tenham optado por desvirtuar algumas coisas que são a “mitologia” da série – por mais que releituras tecnicamente permitam isso – e isso possa ter chateado muitos.

Outro fator que temos que elogiar com bastante ênfase é o trabalho de dublagem da DuBrasil. Todos estavam afinadíssimos e o novo dublador do Camus de Aquário (Mauro Castro) conseguiu manter a essência do personagem que o falecido Valter Santos consagrou, realizando uma interpretação muito forte e segura. Dá medo pensar que se demoraram pra fazer uma continuação, parte do elenco corra o risco de não estar mais na ativa…

Agora uma pequena grande gafe: traduziram Casa de Sagitário para Casa de Capricórnio, deixando sem muito sentido uma sequência importante do filme.

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Não… Não dá pra assistir ao filme, ouvir as vozes do Élcio Sodré, Hermes e Gilberto Baroli, Marcelo Campos, Luiz Antônio Lobue sem lembrar “daqueles” Cavaleiros do Zodíaco que corríamos ansiosos, de onde estivéssemos, para assistirmos em nossas tevês no começo das noites da metade dos anos 1990. Isso é difícil demais…

Fiquei com a sensação que esse é um filme SOBRE Os Cavaleiros do Zodíaco e não DOS Cavaleiros que aprendemos a amar e respeitar ao longo desses anos. O Seiya não é engraçadinho, o Shun é bem mais… errr… ahn…. e o Ikki é muito mais legal.

Se vale a pena? Chame os amigos, compre pipoca e refrigerante e vá logo antes que saia de cartaz. É infinitamente bom olhar pro lado e ver o brilho nos olhos deles. O brilho que remete a uma época que só o “cosmo” pode despertar. E o jeito como os brasileiros encaram tudo na vida rende um humor extra involuntário com um monte de comentários infames que você vai ouvindo das pessoas no cinema…

Por Jiback

Enfim, a espera acabou. Foram anos desde que o primeiro teaser relacionado a um filme de Saint Seiya em computação gráfica agitou os comentários de fãs internet adentro. A promessa no fim foi de uma produção que, não só aproveitaria o hype da comemoração aos 40 anos de carreira de Masami Kurumada, como também serviria para apresentar os personagens a uma nova geração. Afinal, Os Cavaleiros do Zodíaco fizeram sucesso no Japão há quase 30 anos e são poucos os pequenos de olhos puxados que sabem quem são “Seiya e os outros”.

Recontar a história das 12 casas sob uma nova visão, que trouxesse aos cinemas os fãs mais velhos nostálgicos ao mesmo tempo despertasse o interesse dos mais novos, acostumados com a animação moderna encabeçada por Disney e Pixar nos cinemas de todo o mundo. Era esse o principal objetivo de Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário e, infelizmente, o projeto apresentado não parece ser muito bem sucedido nessa proposta…

Parte Técnica

Falando da animação em si, não há muita discussão. O filme é realmente belíssimo, com cenários muito bem trabalhados. Destaque também para as texturas, como o elmo do Mestre do Santuário, que parece mesmo ser feito de ouro. A repaginada dada às armaduras é outro show à parte, deixando figuras como a de Aldebaran mais imponentes que nunca. Há valorização nas expressões do corpo, o que era muito limitado na animação de 1986 (e que, vamos combinar, ainda é em boa parte das produções da Toei…) e você nunca verá um Seiya gesticulando tanto como nesse filme.

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Em contrapartida, a trilha sonora, que era um dos maiores destaques da série clássica, é bem sem sal aqui. Apesar de estar presente pontualmente onde é necessária, a música não ajuda a dar sentimento à cena e cai num repeteco sem fim. Não vou nem comentar a tentativa de musical no meio das batalhas, que tá longe de ser algo que se queira lembrar. Mais a frente falamos disso… A música tema dos créditos (Hero) talvez seja a única que valha o reconhecimento, mas ao mesmo tempo tem um ar de seriedade e bravura que não combina com o que foi apresentado.

A dublagem brasileira com certeza é o maior trunfo que temos para assistir ao filme aqui. E que ótima dublagem! Não só por se tratar daquele elenco que já estamos acostumados a ouvir por 20 anos, mas por haver um notável esforço de toda a direção a favor da interpretação dos atores. Provavelmente é um nível que não víamos desde Prólogo do Céu (trabalho feito na extinta Álamo), tornando A Lenda do Santuário provavelmente o melhor trabalho da Dubrasil com Saint Seiya até agora. Hermes Baroli se sai muito bem no Seiya brincalhão, que teve seu humor muito mais explorado nessa releitura. As novas vozes, Mauro Castro (Camus) e Silvia Goiabeira (Miro) fazem jus às escolhas, assim como as crianças que interpretam Saori e Seiya pequenos.

O enredo

O parágrafo a seguir possui revelações da trama (spoilers). Se você ainda não viu o filme e quer esperar para ter uma experiência inédita nos cinemas, pule para o próximo tópico.

Resumir a saga inteira que vai da Guerra Galáctica ao fim da Batalha das 12 Casas em um filme de 1h30 definitivamente não é uma tarefa fácil. Por mais que seja uma nova visão da história, você espera assistir a algo bem amarrado, que não menospreze a qualidade dos personagens e a história que há por trás deles.

A primeira cena do filme apresenta rapidamente a fuga de Aioros com a pequena bebê Atena, que desce dos céus atacado por Shura e Saga em uma sequência de ação de encher os olhos. Daí pra frente temos uma compreensível enxugada que parte de Mitsumasa Kido achando a pequena para 16 anos no futuro, quando já crescida, a garota ouve de Tatsumi toda aquela história de que ela é reencarnação de Atena e tem seus cavaleiros para proteger.

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Seiya, Shiryu, Hyoga e Shun fazem sua entrada triunfal individualmente, um atrás do outro, em uma ponte atacada por enviados do santuário (que embora, por sermos fãs das antigas, tenhamos ideia de que sejam cavaleiros de prata, em MOMENTO ALGUM há qualquer apresentação, o que se repete no decorrer do arco). Rapidamente eles se apresentam à Saori como seus cavaleiros protetores e já partem pra mansão Kido onde mais ataques acontecem.

Lá, temos a visitinha de Aioria de Leão, que assim como no anime, é enviado do Santuário para dar cabo da “impostora” e seus seguidores. No fim ele é convencido pelo cosmo emanado pela menina, ainda cheia de dúvidas sobre o que está acontecendo, mas logo surge outro enviado pra atirar a flecha em Saori, que dessa vez é uma “energia” que a infecta e tira sua vitalidade aos poucos.

Dali partimos pra outro cenário com a entrada de Ikki, que dá cabo do “cavaleiro da flecha”. Essa é provavelmente a única grande ação do personagem, infelizmente, e aí mora o grande pecado dessa primeira parte resumão. Não dá tempo pra se aprofundar em personagem nenhum, não dá pra entender a razão daqueles caras por quererem proteger Atena, ou mesmo porque Fênix é daquele jeito. Nós sabemos porque conhecemos, mas e o tal público novo? As crianças na poltrona de trás perguntando o motivo de várias coisas não me deixam contrariado… haha…

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E então chegamos ao que interessa de fato, que é a batalha do Santuário, que agora é um ambiente escondido nos céus, com as casas em arcos flutuantes. Não há do que reclamar aqui, o conceito ficou bonito. Só que todo aquele humor que vinha sendo lançado até nós de forma até agradável perde sentido nessa parte. Estamos falando de uma batalha pra proteger uma vida e um planeta inteiro, então… convém tanta piada em algo que deveria passar emoção?

É tudo muito rápido. De uma passagem até interessante por Áries e Touro, partimos para várias batalhas ligeiras, sendo apenas duas conclusivas (Câncer e Aquário), onde além de não transmitir sentimento algum, somos obrigados a ver uma evolução quase instantânea dos cavaleiros de bronze ao nível de um de ouro. O que dizer de Libra então que se limitou a uma citação de Shiryu como se todo mundo devesse saber o passado do personagem (lembrando mais uma vez: queriam atingir um público novo), caindo na mesma falha da primeira parte?

Máscara da Morte. Era quase unânime observar que todo mundo que aceitava o filme numa boa até aqui passou a xingá-lo alto. Não é problema recriar o personagem com um sarcasmo “a la Johnny Depp” e até forçar um musical, desde que FUNCIONE. A cena inteira é vergonhosa, porque a própria música não se desenvolve e tudo parece de grande mau gosto. Desculpa a quem superou isso, mas não deu pra engolir não…

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Camus X Hyoga é tão fugaz que não dá pra sentir nada daquela relação entre pupilo e mestre que faria a cena ser a mais emocionante. E dali o negócio acelera tão desesperadamente que temos Shura, Miro (cuja “transformação” em mulher não incomoda) e outros cavaleiros, todos espremidos na casa de Sagitário.

Então vamos pra batalha final, não antes de destacar a palhaçada que fizeram com Afrodite de Peixes. O coitado mal fala 3 frases e é descartado do filme pelo próprio Mestre, sem lutar com ninguém. Difícil de aceitar…

Vemos a ira do Mestre, revelado como Saga de Gêmeos, com direito a monumentos de pedra vivos ao ataque e uma fusão monstruosa que Seiya, com a armadura de Sagitário, terá que encarar junto à Atena. Flecha atirada, Saga derrotado, um discurso de Saori em frente a um santuário lotado e fim.

Veredito

A Lenda do Santuário é um filme cheio de falhas e que se perde tentando recontar uma história resumida, deixando mais dúvidas soltas do que entendimento. Há coisas boas, como trazer mais ação à Saori (longe de lembrar aquela “inútil” das primeiras histórias) ou a humanização dos personagens com acréscimo de humor. Mas outras bem ruins, como o desprezo pelo passado dos personagens e a falta de aproveitamento dos cavaleiros de ouro (pobre Shaka, pobre Afrodite…). Pelo menos algo não dá pra negar no geral: é divertido.

A sensação de ver um filme como esse nos cinemas, acompanhado de gerações que cresceram com a série é uma ótima experiência. As sessões quase sempre lotadas de pessoas que gritam a cada entrada de personagem, a cada golpe desferido, passam uma vibe única que você não enxergará em outras produções da temporada. Foram aplausos no começo e aplausos no fim, mesmo com a maioria esmagadora torcendo o nariz. Aliás, sequer deu pra ouvir a música “Hero” nos créditos, já que o povo partiu pra discutir tudo ali mesmo, com euforia.

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E o mais legal de notar em tudo isso é que as crianças, que ainda não são chatos rabugentos como a gente, se permitem envolver pela magia daquelas figuras e acabam gostando.

Portanto, vá ao cinema. Se for pra ter mente aberta, que ela seja com o único propósito de se divertir. Garanto que nesse quesito, o filme valerá a pena e valerá todo o belo esforço de marketing da Diamond Films.