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Em setembro desse ano, uma bomba caiu na cabeça dos fãs da versão brasileira da longínqua série Pokémon: Fábio Lucindo, voz do protagonista Ash desde a estreia do anime, seria trocado definitivamente. O motivo estava na logística complicada (Fábio se mudara para Portugal) e testes já teriam começado a rolar no estúdio Centauro (que assumiu a série da 7ª temporada até aqui).

Fãs de Pokémon se reuniram em uma petição online, reunindo mais de 10 mil assinaturas, e aparentemente conseguiram frear a situação. O burburinho chegou até o representante da sede americana da Centauro, que teria afirmado que impediria os testes e que qualquer troca do tipo só poderia ser feita por ordem da The Pokémon Company, que administra a marca no Ocidente.

Pois bem, o tempo passou e a situação mudou. Para pior! Informações dos bastidores vazaram e revelaram que a série estava saindo da Centauro após 11 anos. O 18º longa-metragem da franquia, Hoopa and the Clash of Ages, foi encaminhado para o Rio de Janeiro, especificamente para o MG Estúdio, empresa responsável pelas versões brasileiras de séries de sucesso como Game of Thrones e, mais recentemente, Demolidor. Além do filme, o MG assumiria de vez a série a partir da fase Pokémon XY&Z.

Uma das primeiras a se manifestar em redes sociais foi Isabel de Sá, voz da personagem Jessie desde o 1º ano: “Estou triste! Uma das mais difíceis lições da vida é lidar com as perdas. Perdi meus pais, avós, parentes, amigos e amizades, alguns pets… enfim, foram vários e diferentes sentimentos de dor, impotência e muita tristeza. Perder uma personagem que dublo há 18 anos, cujo teste foi aprovado pelo cliente no Japão, causa tristeza! Junto com esse sentimento vem uma sensação de que faltou um mínimo de consideração ao trabalho profissional que sempre procuro fazer da melhor forma que sei e que posso fazer. Mas… o produto não é meu! De qualquer forma, caso eu seja consultada, estou SIM disposta a ir dublar no Rio de Janeiro!”

Na última semana, Fábio Lucindo reforçou o momento de tristeza postando uma foto daquele que deve ser o seu último momento interpretando o Ash. A foto trazia uma de suas últimas falas no roteiro, que ironicamente eram “Sem substituições, hein?”. O dublador também lamentou em seu Twitter: “É como se eu estivesse indo encontrar minha namorada sabendo que ela marcou o encontro justamente pra terminar comigo. #últimasessãoPokémon”

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Foto: Último trabalho de Fábio Lucindo como Ash

Bruno Mello, a voz do personagem Clément, deixou palavras de despedida junto a uma foto da última escala na Centauro, ao lado de Márcia Regina (diretora e dubladora da Misty) e Andrezinho (técnico de som): “E essa foi provavelmente a última escala de Pokémon em que dei voz ao Clément. Agradeço imensamente a Márcia Regina que me aguentou nesse tempo todo e sempre buscou o melhor resultado dentro do estudio, além de sempre garantir altas risadas. Agradeço ao Andrezinho que ta nessa foto representando todo o time de técnicos que esteve com a gente durante as gravações.Obrigado a todos os amigos do elenco: Fábio, Jussara, Michele, Tira, Isabel, Márcio e toooooodos os outros (afinal o elenco é imenso e não conseguiria citar todo mundo nesse post). Enfim, foi maravilhoso enquanto durou! Obrigado a todos os fãs de Pokémon pelo carinho de sempre. TAMO JUNTO GALERA!!
PS: O sorriso é pra disfarçar nossa tristeza porque depois de 18 anos de série, Pokémon não será mais dublado aqui.”

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Foto: Reprodução Facebook de Bruno Mello

Por fim, Fábio foi nostálgico no Facebook: Penso em Fábio Moura e Afranio Corcelli. Recordo a jornada até aqui. O que sinto é imenso. Agradeço. Engraçado ir longe e ficar pelo caminho ao mesmo tempo. Avante!

A mensagem foi respondida pelo próprio Fábio Moura, que dirigiu a dublagem da 1ª temporada na Master Sound, escolheu vários atores do elenco na ocasião e foi o narrador durante o anime inteiro (com exceção do 2º ano, feito na BKS): “É, Fabinho. Me recordo de 18 anos atrás. Recebi os vídeos originais daquele desenho que pouco se sabia a respeito. O destaque era pra um episódio que havia provocado convulsões em algumas crianças no Japão. Pra mim já era o começo do marketing! Tive a honra e a felicidade de escolher quem iria fazer o teste, já sabendo quem ganharia. Presenteei alguns outros colegas com personagens que ficaram na história. Eu e Afranio Corcelli começamos essa saga. Apesar de ter dirigido apenas o primeiro ano, mas ter feito o narrador até o final, sinto-me um pouco órfão. E sinto que perdi vários e vários filhos!!!”

Apesar da troca para o Rio, ainda não podemos dar como certo que haverá definitivamente a troca total do elenco de dublagem de Pokémon. Como Isabel disse em seu depoimento, existe disposição por parte dela em dublar em outro estado, o que já vimos acontecer no passado nos 3 primeiros filmes da franquia, que receberam versão brasileira na Delart. A Dubrasil também é uma prova de que mesclar elencos dos dois estados é possível e bem-vindo, como vem acontecendo nas séries mais recentes d’Os Cavaleiros do Zodíaco, ou como já vinha acontecendo com o desenho animado do Chaves.

Resta apenas esperarmos o bom-senso e respeito das partes envolvidas no processo. Ou então vermos se os fãs ainda tem fôlego pra tentar reverter tudo, como já foi feito no sexto filme (dublado inteiramente no Rio com outro elenco e com os personagens consagrados redublados posteriormente em São Paulo). Ainda vale a pena essa luta?