A Casa Voadora

A Casa Voadora
Tondera House no Daiboken
Grandes Aventuras da Casa Incrível

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Produção: Tatsunoko, 1982
Episódios: 52 p/tv
Criação: Tatsunoko Productions
Exibição no Japão: TV Tokyo (05/04/1982 – 28/03/1983)
Exibição no Brasil: Rede Gênesis – TV Novo Tempo
Disponível em: VHS

Última Atualização: 09/09/2009

Dinheiro. Essa é sempre a primeira coisa que o patrocinador de um anime tem em mente antes do início de um projeto. Cerca de 99% das animações japonesas são feitas com esse claro objetivo, mas não é de hoje que essa ideia martela na cabeça dos empresários da terrinha do sol nascente, apesar de ser representada de uma forma mais tímida nos primórdios da animação japonesa. A partir dos anos 60 as empresas começaram a perceber o quão lucrativo pode ser uma série de desenho animado e o amadurecimento do mercado fez com que o esquemão ficasse mais descarado a partir dos anos 80.

Se muitos animes apresentam grande êxito tanto no Japão quanto no resto do mundo, outros tantos fizeram sucesso considerável em um lado apenas. Foi o caso de Speed Racer nos anos 60 e do bíblico Super Book no início dos anos 80. Esse último, embora praticamente desconhecido dos japoneses hoje em dia, tornou-se um fenômeno comercial nos EUA, onde os pais compravam as fitinhas VHS com o desenho, a fim de ensinar boas lições a seus pimpolhos. Sem ligar para os consumidores de seu próprio país, visando apenas o exterior, a Tatsunoko (produtora de Superbook) resolveu continuar investindo na fórmula. E isso resultou no anime A Casa Voadora.

A Produção
Tondera House no Daiboken foi dirigido pelos desconhecidos Mineo Fuji (Samurai Pizza Cats) e Masakaku Higuchi (que já havia trabalhado anteriormente em Super Book). Sendo mais uma típica animação “família” da Tatsunoko, teve o próprio Kenji Yoshida (um dos irmãos fundadores da empresa) atuando na produção, estreando na TV Tokyo (que ainda se chamava Tokyo 12 na época) em abril de 1982, gerando o dobro de episódios do seu “pai”, Super Book. Pelo visto, a Tatsunoko ficou animada com o lucro comercial dos desenhos bíblicos no ocidente (tendo ainda o aval de um canal cristão americano, o CBN), em vista que ” A Casa…” chegou a mais de 70 países, sendo traduzido em 15 línguas diferentes (o que não desfaz a falta de imagens na internet, nos obrigando a desenhá-las por contra própria @_@). Interessante notar na abertura japonesa (irritante pra cacete) uma sequência de bandeiras de diversos países, incluindo o Brasil!

Historinha
O roteiro da “Casa…” segue o mesmo intuito da série antecessora com um pequeno porém, convenhamos que até criativo: ao invés do “Superlivro” em que as crianças entravam nas histórias para voltar ao passado, a própria casa dos personagens é a máquina do tempo… E não uma simples máquina, mas sim uma fantástica casa voadora! Uaaaaau… Ok, isso não impressiona em nada e nos faz pensar que alguém da produção estava chapado ao criar isso.

A casa é uma invenção do doutor Bumble (esses nomes gringos são lindos né? No original é Tokio Taimu…), um atrapalhado cientista criador também do robozinho movido à energia solar, SIR (sigla de Solar Ion Robot). Tudo começa quando três irmãos – Justin (Gen), Angey (Kanna) e o pequeno Corky (Tsukubo) – brincando na floresta, enfrentam uma tempestade. Fugindo desorientadas da chuva, as crianças descobrem a tal casa e entram para se abrigarem. O cientista os recepciona e logo depois, acidentalmente, o robozinho se descontrola e esbarra nos controles fazendo acontecer a magia (uaaaaaau… ¬¬’).

A casa e seus habitantes são transportados ao passado que rege o Novo Testamento e todos acabam tendo um pepino em mãos: o professor não sabe como voltar pra época atual por um erro da máquina! Agora as crianças irão vagar pelas histórias bíblicas interagindo com os lendários personagens ou então contando por conta própria as passagens que servirão pra moral do episódio do dia =P

E fica nisso mesmo, não tem nenhuma saga mirabolante ou um objetivo final a ser alcançado, exceto o fato de voltarem de onde vieram. O que acaba acontecendo no último episódio, da mesma forma que no início: SIR fica doidão, bate na máquina e eles viajam no tempo… Todo santo capítulo (trocadilho besta) uma história bíblica é revivida e contada de forma inocente feita claramente pras crianças assistirem e os japas lucrarem com a exportação.

Bom, às vezes nem tudo é inocente pros gringos. A televisão americana acabou banindo o episódio que tratava do julgamento final, pra não assustar as criancinhas. Tal capítulo mostrava entre outras coisinhas os pecadores sofrendo no calor do inferno enquanto Deus acolhia os inocentes no céu. Chocante, não acham?

No Brasil
Devido aos personagens parecidíssimos visual
(garotinhos, robozinho amigo…) e tematicamente, no Brasil a série é constantemente confundida com Super Book, onde os dois foram lançados no mercado de vídeo nacional. Aliás, aparentemente a série foi lançada originalmente aqui com o título de Super Book, como se fizesse parte da produção que a antecedera. Que pecado! Mas somente Super Book (o de verdade =P) teve uma maior projeçãozinha com a exibição na TV. Jogado num cantinho de lojas de artigos religiosos, o lançamento da “Casa…” não teve um pífio reconhecimento e somente metade dos episódios foi lançada.

Só temos dados recentes da exibição do anime na tv brasileira. A primeira exibição ocorreu no canal evangélico Rede Gênesis. A emissora gerada em Brasília reservou em 2005 um espaço de 1 hora para sua programação infantil. Com um programa mais bizarro que os da CNT, apresentado por um grupo teatral mais bizarro ainda, o anime passou escondido ao lado de Super Book, numa exibição aleatória que envolvia filmes bíblicos de quando sua avó era virgem. Pergunto-me qual criança assistiria um programa daqueles… Se bem que aquela turminha cabeçuda do RR Soares faz até algum sucesso @_@… Credo!

Em 2009, uma leva de episódios passou a ir ao ar com vozes que lembam aquelas dublagens sem expressão feitas em Miami (como já aconteceu com Soul Hunter e mais recentemente Blue Dragon) levando a crer que se tratava dos episódios não lançados oficialmente em VHS. Fora isso, o anime volta e meia aparece escondido na programação infantil de outros canais cristãos num esquema parecido com o que “permite” séries como Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z sejam exibidos em certos canais locais – mesmo que os direitos legais sobre elas não tenham sido adquiridos… Nem anime bíblico escapa de um “esqueminha” malandro.

A Casa Voadora não é nenhum anime estupendo que fará você direcionar 20 minutos de sua atenção, mas temos que admitir que foi uma sacada genial da Tatsunoko para faturar em cima do maior best-seller de todos os tempos – a Bíblia, caso não saibas e ache que é o Harry Potter ¬¬’. Enquanto Superbook desperta uma certa nostalgia quando assistido hoje em dia, A Casa Voadora causa uma estranha sensação de… nada. O anime é apático e nem o tema americano (que tem cara de jingle de companhia aérea dos anos 80 @_@) te prende ao conteúdo das aventuras. A receita é a mesma, mas A Casa saiu com um gosto meio solado…

Ainda falando de animes inspirados na Bíblia, em algum momento vamos falar da série realizada por Osamu Tezuka e que você encontra em qualquer loja que venda DVD do Oiapoque ao Chuí desse país. Admita: só aqui mesmo você lê coisas desse tipo. =D