Meu Amigo Totoro

[div coluna1]Meu Amigo Totoro
Tonari no Totoro (Meu Vizinho Totoro)
Produção: Studio Ghibli, 1988
Criação: Hayao Miyazaki
Exibição no Brasil: HBO
Distribuição: Flashstar
Disponível em: VHS

Última Atualização: 15/09/2010

Por Larc

Você já deve ter lido bilhões de vezes que Hayao Miyazaki é um dos maiores diretores da animação japonesa ainda vivo, e toda vez que um novo trabalho do tiozinho está em produção ou é lançado, toda mídia especializada em cinema ou animação se prontifica a divulgar e gerar uma grande expectativa em torno do trabalho. Esse “fenômeno” que as obras de Miyazaki desencadeiam é visto com desconfiança por alguns otakus, que não conseguem entender como animações “artesanais”, de traços simples, e alguns com histórias “bobas” podem ser tão ovacionadas, enquanto seus “hits” prediletos (coisas do nipe de Saint Seiya e Dragon Ball Z) sempre sofrem com críticas :P.

Por trás desses animes mais populares, há sempre um pano de fundo que tenta acrescentar algum conteúdo para uma trama rasa. Tirando o “blá blá” da mitologia grega na trama dos Cavaleiros do Zodíaco, o que sobra pra se ver? É justamente nisso que a maior parte (pra não dizer todos :P) dos trabalhos do Studio Ghibli consegue se diferenciar dos Narutos e Pokémons da vida. Não que esses animes não tenham qualidades que justifiquem o sucesso que eles conseguem conquistar. Porém, a maioria faz uso de uma listinha de ingredientes (também conhecidas como clichês :P) que poucas pessoas reparam que estão sendo aplicados. Nunca reparou nada em comum quando o Seiya veste a armadura de Sagitário ou o Goku vira Super Saiyajin?

Simplicidade: o segredo
Caso você considere Bleach, Yu Yu Hakusho ou Fullmetal Alchemist os melhores animes que já assistiu em sua vida, você corre o risco de achar Meu Amigo Totoro um dos animes mais entendiantes e parados de todos os tempos. A história de Miyazaki não possui qualquer vilão, desafio a superar ou acontecimento fantástico (exceto pela presença dos Totoros, é claro). A narrativa do anime segue de forma linear, bastante simples e sem tantos elementos exóticos fantásticos, como se vê em A Viagem de Chihiro – o que facilita a compreensão por parte dos mais pequenos e de alguns adultos (o que tinha de pai falando “não entendi nada” após as sessões de Chihiro, poderia render menção no Guiness XD).

A animação foi realizada sem qualquer uso de efeitos de computação gráfica, e consegue manter-se excepcional se assistida hoje em dia, mais de 20 anos depois! Uma animação delicada, com cores marcantes, construiu uma atmosfera linda que faz com que você tenha vontade de estar nos cenários vistos no anime. A história não possui uma época definida, mas se analisarmos a ambientação, pode-se concluir que ela se passa em torno da década de 50, do século 20. Dizem que Miyazaki teria se inspirado em sua própria infância para criar o roteiro do filme. A esta inspiração, alguns elementos dos contos de Lewis Caroll (Alice no País das Maravilhas) e Lyman Frank Baum (O Mágico de Oz) foram somados e o resultado disso foi um longa-metragem de 87 minutos que… Tinham medo de não se sair bem nas bilheterias!

O lançamento de Totoro nos cinemas japoneses deu-se juntamente com outro longa do Ghibli que, mesmo sendo inédito no Brasil, é bastante conhecido: O Túmulo dos Vaga-lumes (Hotaru no Haka). Quem já viu O Túmulo, sabe como o anime é denso e dramático e, segundo declarações do próprio Isao Takahata (que também dirigiu Panda Kopanda, lançado em DVD pela Focus Filmes), as sessões onde Totoro era exibido antes do seu filme, sempre se encerravam com menos gente que no começo – o povo ia embora antes do final do Túmulo dos Vaga-Lumes.

Mesmo não sendo um sucesso espetacular, Totoro ganhou alguns prêmios como o renomado Anime Grand Prix 88, uma espécie de Oscar dos animes, no mesmo ano em que o longa-metragem de Abel (dos Cavaleiros do Zodíaco) estava concorrendo, e o prêmio de melhor filme do ano pela academia de críticos de cinema do Japão, sendo que Totoro foi a primeira animação a ser premiada na história pela academia.

A fábula
Satsuki e Mei são duas garotinhas que se mudam para o interior do Japão, junto com seu pai, para ajudar na lenta recuperação de sua mãe, que sofre de uma doença não mencionada (aparentemente, trata-se da mesma doença que acometeu a mãe de Miyazaki, quando ele era criança: tuberculose). As meninas ficam encantadas com sua nova casa (uma antiga residência tipicamente rural) e com a possibilidade dela ser habitada por fantasmas. Explorando os cômodos, as meninas acabam por enxergar o que o pai delas chama de “duendes de fuligem” (makkuro kurosuke, pequenos espíritos que habitam casas antigas, até que elas são invadidas pela luz).

Um belo dia, a pequena Mei (que só tem 4 anos) estava brincando do lado de fora de sua casa, enquanto seu pai trabalhava em um artigo e sua irmã na escola. Catando pequenas avelãs que encontrava espalhada pelo chão, ela se dá conta de uma pequena criaturinha branca, com orelhas parecidas com a de um coelho. Curiosa como qualquer criança, a menina tenta ir atrás do bichinho que a despista entrando embaixo de sua casa. Mas ela não se dá por vencida e vai atrás dele e de uma outra criaturinha semelhante que apareceu do nada, se embrenhando em uma pequena trilha de arbustos que conduzem a uma grande árvore de cânfora (que se avista do quintal de onde a menina mora).

Ao cair em um buraco no tronco da árvore, a menina vê uma versão gigante do bichinho que perseguia, e após uns grunhidos da criatura fofa, ela o chama de Totoro. De acordo com o pai das garotas, Totoros são entidades/espíritos que são os reis da floresta. Apenas as crianças conseguem enxergá-los devido a pureza de seus corações, conforme explica a velha Nani, vizinha e avó de um muleque da idade de Satsuki.

A primeira vez que Satsuki enxerga um Totoro é quando a garota passa um bom tempo esperando seu pai chegar da universidade na qual leciona, em um ponto de ônibus no meio de uma estrada cercada pela floresta. Pondo a pequena Mei nas costas, Satsuki perde a noção do tempo, e eis que debaixo de uma forte chuva, aparece o Totorão (com sua clássica folhinha verde em cima da cabeça :P). Satsuki oferece o guarda-chuva que era pro seu pai ao bicho, que se encanta com o som que as gotas de água das folhas das árvores fazem ao bater no artefato. Eis que no auge de sua empolgação, surge o “Gatônibus” (chamado de Catbus na dublagem… Podiam ter adaptado né?). O tal “gatônibus” é um gato gigante, cheio de patas, em formato de ônibus que transporta Totoro sabe-se lá pra onde.

A história segue em seu ritmo lento e um dos poucos momentos de tensão que assistimos é o desaparecimento da Mei, após uma discussão com Satsuki (que fica apreensiva com um telegrama que recebeu do hospital, informando a saúde de sua mãe). Todos da região se dispõem a ajudar a encontrá-la, mas ninguém consegue fazê-lo. Quando estava prestes a perder sua esperança, Satsuki recorre à ajuda de Totoro. Embarcando no “Gatônibus” (adorei o nome que inventei XD), a garota faz uma viagem fantástica até encontrar com Mei e, juntas, as meninas vão ao encontro de sua mãe… Quando você menos se dá conta, o anime chega ao fim. E fica aquela sensação de “queria ver mais” que muito anime moderno não consegue promover…

Totoros no ocidente
Totoro permaneceu exclusivo para o público japonês até o começo dos anos 90, quando os direitos do filme foram adquiridos pela distribuidora New World Pictures. A distribuidora já tinha feito uma lambança desgraçada com o lançamento de Kaze no Tani Nausicä nos EUA (rebatizando de Warriors of Wind), cortando quase meia hora de animação e adulterando diálogos. Com Totoro, também foram feitas alterações no roteiro, além de cortes desnecessários (como em uma cena na qual o pai toma banho com suas filhas numa banheira), para limar as poucas referências aos costumes japoneses que Totoro apresenta. Nem um pouco contentes com o dedo porco dos americanos comedores de bacon com ovos, o Ghibli passou a obrigar as empresas que distribuíssem seus animes a não realizar qualquer corte ou alteração no conteúdo dos mesmos.

Posteriormente, o filme foi distribuído pela Fox Vídeo, e vendeu bastante, chamando atenção da toda poderosa Disney – que passou a ser a distribuidora oficial dos animes do Ghibli nos EUA. Assim ela podia boicotar algum anime que tivesse potencial para ameaçar o sucesso de seu “Filme Disney do Ano” ¬¬’.

No Brasil, o anime chegou como quem não quer nada em 1995, pelas mãos da Flashstar Home Vídeo (cujos donos são os mesmos da Focus Filmes!) que lançou o VHS com o título de Meu Amigo Totoro. A dublagem realizada nos estúdios da Dublavídeo ficou muito boa, só pecando pela escalação de Leda Figueiró como a Mei. Lembram do dragãozinho da Rakesh em Shurato? Pois a garotinha tem a mesma voz irritante XD.

O anime continuou sendo distribuído nesse formato até o começo dos anos 2000, quando podia ser encontrado por míseros 9,90 em alguns magazines. A atenção dada pelas revistas da época no lançamento foi quase nula! Apenas a “renegada” Japan Fury e a esquecível Heróis do Futuro se preocuparam em falar do que se tratava esse ótimo anime, numa época em que Os Cavaleiros do Zodíaco dominavam a tudo e a todos. Sorte de quem tem seu VHS ainda, pois para frustração de muitos, a Flashstar/Focus nem se preocupa em readquirir os direitos para um lançamento em DVD =/. O anime chegou a se exibido pelo canal HBO, no começo dos anos 2000, legendado.

Mais que um símbolo
Totoro virou o personagem símbolo do Studio Ghibli e o sucesso dos bichinhos de pelúcia do personagem dura até hoje. Até por aqui, onde o anime não é tão famoso, todos se encantam com os bichinhos XD. Todos amam Totoro e é comum muita gente sonhar em encontrar um no Japão. Aliás, de vez em quando pintam boatos de um japa afirmar ter encontrado um Totoro em regiões montanhosas no Japão @_@. Há referências ao bichão em diversos outros animes do Ghibli e também quadrinhos e desenhos ocidentais! No impagável South Park, os bichos aparecem com seu característico sorriso e são sumariamente espancados toda vez que dão as caras! Neil Gaiman deu até um jeitinho de homenagear Totoro nas páginas de Sandman! E quem assistiu Toy Story 3 deve ter visto a homenagem no quarto de uma garotinha.

Isso só prova que um desenho animado não precisa ter qualquer trama complexa que só o autor consegue entender (alguém falou Evangelion?) para se tornar um cult. Totoro consegue ser apreciado por toda e qualquer pessoa que tem oportunidade de assistir. Ter essa oportunidade é uma experiência que faz com que reparemos a magia que há por trás de pequenas coisas na vida. Um sorriso, o barulho da chuva, os raios do sol, uma pequena semente… Já repararam como as crianças pequenas se fascinam com qualquer coisa? Todos podemos fazer isso, qualquer que seja nossa idade. Basta que deixemos a criança que há dentro de cada um de nós se libertar de vez em quando.

Pra terminar, foi produzido um curta animado especialmente para ser exibido no Ghibli Museum (um museu dedicado aos trabalhos do estúdio!) chamado Mei to Konekobasu, onde vemos mais uma vez as graciosas personagens de Totoro aparecendo. Não se trata de uma sequência (Miyazaki declara abertamente que odeia fazer continuações de seus trabalhos) e para assistir ao anime, só indo ao museu, já que nada do que passa nos “plasmas” de lá, costuma sair em DVD.

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