Yu-Gi-Oh!

Yu-Gi-Oh!
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters (Rei dos Jogos – Monstros de Duelo)

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ra92UzSw0d8 480 320]

Produção: NAS, 2000
Episódios: 224 p/ TV
Criação: Kazuki Takahashi
Exibição no Japão: TV Tokyo (18/04/2000 – 29/09/2004)
Exibição no Brasil: Nickelodeon – Rede Globo
Distribuição: Televix (TV paga) – Swen (TV aberta)
Mangá: Shonen Jump (Japão) e JBC (Brasil)
Disponível em: VHS e DVD

Última atualização: 09/02/2014

Por Jiback

Não é nada fácil viver de mangá no Japão. Somado a essa afirmativa pessimista, todos aqueles que se aventuram nesse mundo têm um inimigo em comum: o editor. Em alguns casos, ele pode até ser bacana, mas em muitos outros será o maior pesadelo de um aspirante a mangaká.

O editor de uma revista é o grande responsável por decidir o que e como será publicado. Nada chega à versão impressa sem passar por ele e é aí que mora o perigo. Os mais carrascos vão te obrigar a mudar coisas na história, muitas a contragosto total e que podem prejudicar o enredo todo ou fazê-lo seguir por um rumo bem diferente.

Isso aconteceu com todos os “grandes”. Pode ter certeza que, se não fosse por um editor de pulso firme, Toriyama não teria feito a saga de Majin Boo em Dragon Ball. Togashi talvez nem teria bolado um Torneio das Trevas em Yu Yu Hakusho, que antes era focado nas peripécias de um detetive espiritual. Não bastasse isso, você ainda tem os leitores da revista pra te pentelhar. Não adianta, é muito raro você publicar uma coisa do jeitinho que você quer (até essa matéria tem editor pra meter o bedelho hehe).

Com Yu-Gi-Oh! a coisa não parece ter sido diferente. Publicado a partir de 1996 nas páginas da Shonen Jump (a antologia mais popular do gênero, por onde passaram os títulos já citados, além de Saint Seiya, Naruto, Bleach, One Piece…), a obra de Kazuki Takahashi sofreu uma mudança bastante brusca por conta de um apelo mais do que comum: grana.

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Origem: o Mangá e a Primeira Versão na TV

Nascido em 1961, Kazuki Takahashi começou sua carreira em 1982, embora só tenha conseguido publicar uma história própria no início da década de 1990. Apesar das tentativas, o autor atingiu sucesso mesmo foi com Yu-Gi-Oh!, série que contava a história de Yugi, um garotinho tímido e figura carimbada pra sofrer bullying na escola (com um cabelo daquele também… quem não sofreria? =P).

O destino de Yugi muda a partir do momento que ele recebe de seu avô (dono de uma loja de jogos e arqueólogo nas horas vagas x_x) um antigo quebra-cabeças encontrado em ruínas do Egito. As inscrições diziam que aquele que resolvesse o enigma poderia realizar o maior de seus desejos – e o do moleque era “ter amigos de verdade” (awn… =/).

Depois de resolvido, o enigma transfere um antigo espírito de rei dos jogos ao garoto, que passa a ser conhecido como Yami Yugi. A partir de então, toda a vez que Yugi ou seus amigos estiverem numa enrascada, o capeta (hihihi) baixa nele e tudo se resolve através de “jogos das trevas”, que podem fazer uso desde um cardgame a uma partida de golfe ninja dentro de um hospital – sério, rolou uma dessa.

O tal do cardgame (chamado inicialmente de Magic & Wizards, referência clara ao jogo Magic: The Gathering) chamou tanta atenção dos leitores da revista, que Kazuki recebeu uma chuvarada de cartas pedindo que ele aparecesse mais vezes na trama. Foi aí que alguém com olhos gordos na Konami (produtora de games do calibre de Castlevania, Metal Gear e Silent Hill) viu uma brecha para ganhar um troco e o povo da Jump, provavelmente, forçou o cara a tornar as cartinhas o grande foco do mangá – algo que se concretizou no volume 8, de um total de 38 encadernados.

Em 1997, a Toei exibiu os últimos episódios de suas franquias mais rentáveis no momento, encerrando Dragon Ball (GT) e Sailor Moon (Stars) nas TVs. Em busca de um título pra se manter no ano de 98, a produtora deu várias cartadas fora até resolver fazer uma versão animada de Yu-Gi-Oh!, que bem… Não foi das melhores.

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Os 7 volumes encadernados iniciais do mangá de Kazuki serviram de base para a adaptação, que sofreu algumas alterações notáveis. Dentre elas, a personagem Miho, que fazia apenas ponta nos quadrinhos, acabou sendo incluída no time principal de amigos do Yugi. Outra mudança, que fez muito fã quebrar a cabeça numa época onde a internet ainda não tinha muitas informações da série além de fotos aleatórias, foi o cabelo do personagem Kaiba, que ficou verde. Durante muito tempo, o anime obscuro ficou conhecido como o “Yugioh do Kaiba de cabelo verde”, até os vídeos surgirem e os fãs apelidarem de “Yu-Gi-Oh Zero”.

Muita coisa da história que tinha um tom mais “sombrio” acabou sendo amenizado na versão em acetato, que ainda assim tem suas passagens tensas. Já percebendo que o cardgame era um diferencial, o joguinho acabou sendo mais recorrente no anime do que era no mangá até então. A animação era bem fraca, até mesmo pro padrão Toei, e a repercussão também naufragou o projeto, que durou 27 episódios e um “filme” de meia hora (onde o Kaiba passou a ter cabelo castanho). Mas se você tá começando a ficar com pena da empresa, relaxa… No ano seguinte eles atacaram “só” com Digimon e One Piece. Pelo menos Yu-Gi-Oh! deve ter deixado as contas em dia =P

No limbo de um porão bem escuro da Toei até hoje, essa versão de Yu-Gi-Oh! foi lançada apenas em VHS na época e, até onde apuramos, nenhum país fora do Japão exibiu a série. O OVA teve um pouquinho mais de sorte e saiu também em DVD.

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Hora do duelo!
Em 2000, dois anos após a experiência trágica com a Toei, a produtora NAS (responsável pela bomba do filme de Samurai Shodown e o ícone cult Evangelion – versáteis, não? xD), juntamente com apoio da TV Tokyo, da Konami e do Studio Gallop (o mesmo que animou Samurai X), resolveu investir novamente no título, pelo sucesso que vinha tendo na Shonen Jump e, logicamente, por todo o fator comercial que envolvia.

Para isso, a empresa resolveu ignorar que um dia existiu uma versão do anime, escalando vozes totalmente diferentes da primeira série (Yugi, antes feito por Megumi Ogata – Shinji de Evangelion – agora seria feito por um homem, o novato Shunsuke Kazama). Toda a primeira parte do mangá, que serviu de base pro desenho anterior, foi parcialmente descartada pra coisa já engatar no cardgame (como dito, fabricado pela Konami). Sendo assim, Yugi já tem seu grupo de amigos formado e sua relíquia montada, e as relações passadas foram sendo moídas e apresentadas em flashbacks, ou incorporadas sutilmente à saga da TV.

A nova empreitada deu certo, rendendo por mais de quatro anos uma série de 224 comerciais do cardgame episódios. Essa história toda se divide em pelo menos seis partes:

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O Reino dos Duelistas
No arco mais famoso e marcante da série, somos apresentados de cara a Yugi Muto e seus melhores amigos: Joey, Téa e Tristan (Jounuchi, Anzu e Honda, respectivamente no original japa). O gurizinho é viciado em jogos, especialmente o cardgame “Monstros de Duelo”, que vira o passatempo nerd de todos em volta. Perto deles paira o olhar de Seto Kaiba, jovem inteligente e milionário, o dono de uma grande corporação que fabrica jogos e colecionador assíduo das cartinhas (rico curte gastar dinheiro com besteira mesmo… =P), além do melhor “duelista” (como são chamados os jogadores) da história.

Convidados a visitarem a loja de games do avô de Yugi, Salomon (Sogoruku), a trupe é apresentada ao raríssimo card do Dragão Branco de Olhos Azuis, presente de um grande amigo do velho. Como só existem quatro exemplares desse valioso pedaço de papel no mundo (ignorando aqueles disponíveis na 25 de Março), Kaiba, que já possuía três deles, faz sua obsessão ir além e sequestra Salomon. Para salvá-lo, Yugi precisará vencer Kaiba em uma partida de Monstros de Duelo, ao invés de sair numa boa porrada, como nos animes dos anos 90…

Durante o duelo (que ganha um upgrade com monstros “holográficos”) somos apresentados à outra personalidade de Yugi, que engrossa a voz e muda a postura (e que estranhamente demora muitos episódios até alguém se dar conta disso…). Esse espírito surge do Enigma do Milênio, uma das 7 relíquias místicas do antigo Egito que escondem um grande poder. Invocando o titã Exodia (uma façanha tida como quase impossível no jogo), o fedelho faraônico consegue vencer e salvar o seu avô… que logo é pego outra vez! Complexo de Saori, sabem como é, né?

Agora é Maximilliam Pegasus, grande vilão da saga, que entra em ação. Criador dos Monstros de Duelo (e americano na versão original – na adaptação da odiada 4kids, a nacionalidade dos personagens foi meio que eliminada…), o cara é dono de outra relíquia, o Olho do Milênio, capaz de ler a mente do jogador. Impressionado com a derrota de Kaiba, o magnata aprisiona a alma do avô de Yugi a fim de instiga-lo a um duelo. Para recuperá-la, o garoto deve participar e se sagrar campeão do torneio no Reino dos Duelistas, uma ilha cheia de moleques convidados aparentemente sem respaldo dos pais (mais um detalhe pra crucificar o anime :P).

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Pra completar o dramalhão, Joey fica sabendo que sua irmãzinha Serenity (Shizuka) ficará cega em pouco tempo, a não ser que passe por uma caríssima operação. Como um dos prêmios do torneio é a quantia de 3 milhões de dinheiros, o loirinho resolve embarcar clandestinamente na jornada junto com Yugi, mesmo sendo péssimo no jogo.

Durante a jornada, somos apresentados a várias figuras bizarras, como aquele moleque dos insetos e os capangas zumbis de Bandit Keith, um cara que parece ter saído de um filme americano de gangue dos anos 80. Mas quem se destaca e acaba virando amiguinha da trupe, é Mai Valentine, uma loirona que na vida real você nunca imaginaria que passaria o tempo em um joguinho de cartas (perdoe o preconceito, mas não passaria mesmo… hahaha).

No meio de tudo ainda tem a inserção de Mokuba, o irmão  inútil do Kaiba, que só atrapalha e acaba também tendo sua alma capturada. Tudo é mais uma conspiração de Pegasus, que também quer tomar a corporação do Kaiba (só faltou uma irmã gêmea má nessa história…). Também temos o misterioso Bakura, que ninguém sabe como diabos foi inserido na história, mas ele está lá. Reservado, o moleque também possui uma relíquia – o Anel do Milênio (hihihi) – que guarda um espírito assim como o de Yugi, só que maléfico.

Lá pro finzinho conhecemos Shadi e aí a trama começa a fazer um pouco de sentido. O cara é um dos sucessores responsáveis por guardar por milênios as 7 relíquias e designar alguns guardiões a elas. Daí descobrimos que, no passado, os egípcios curtiam um joguinho do mal, envolvendo magia e monstros reais. Esses “jogos das trevas” eclodiram numa guerra que quase levou o mundo à ruína, não fosse a intervenção de um Faraó, que aprisionou todo o poder em placas de pedra com uso das relíquias. Os monstros desses jogos acabaram surgindo na época moderna através do Monstros de Duelo, pelas mãos de Pegasus.

A história mostra nesse ponto ter uma mitologia rica que podia render algo bem legal. Infelizmente, a necessidade de enfiar os cards guela abaixo nas crianças fez tudo perder um pouco a força, em meio a batalhas que muitas vezes fazem o espectador leigo boiar.

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A Batalha da Cidade
Aqui é onde a coisa fica séria. A trama começa com a visita de Ishizu Ishtar, uma das descendentes da família egípcia que guarda a tumba do Faraó. Ela também possui uma relíquia, o Colar do Milênio, capaz de prever o futuro.

Ishizu resolve, através de uma exposição de antiguidades da época das pirâmides, mostrar a Kaiba a sua ligação ancestral. O riquinho metido é na verdade a reencarnação de um poderoso mago que lutou contra o “Yugi Badass” no passado, usando seu Pikachu – o Dragão Branco de Olhos Azuis =P. Junto a escrituras em um pedregulho que representam essa batalha, também há uma amostra de três deuses egípcios: Slifer – o Dragão do Céu, Obelisco – o Atormentador e o Dragão Alado de Rá (os “pokémons lendários” da parada).

Esses titãs representam uma força descomunal que chegou a ser recriada em cards pelo Pegasus, mas foram devidamente detidas após perceberem que os espíritos não gostaram nadinha da brincadeira (cenas do anime original mostram até suicídio de envolvidos no processo de fabricação das cartas… chocante, não? =P).

A moça entrega a carta do Obelisco a Kaiba, desde que ele se prontifique a organizar um torneio para recuperar as outras duas, em posse do irmão afetado dela, Marik, e evitar o caos. Claro que o cara não acredita em nenhuma das baboseiras milenares e resolve fazer o torneio – Batalha da Cidade – pra pegar as cartinhas e voltar a ser o maior duelista. E por que se chama “Batalha da Cidade”? Porque Kaiba resolve simplesmente fechar uma cidade inteira pra jogatina acontecer… É, pois é, dinheiro faz tudo.

Ishizu também encontra com Yugi pra contar toda a história e aí que as coisas começam a fazer mais sentido pro espírito que habita o moleque. Ele terá que participar da batalha pra deter Marik, que quer juntar as cartas pra se vingar do Faraó. Acontece que, por ser descendente homem primogênito dos guardiões da tumba, ainda criança Marik teve que se submeter a um ritual que tatuava todo o segredo do Faraó em suas costas, impedido de conhecer o mundo lá fora.

Junto com o sofrimento da faca nas costas (ou você acha que a tatuagem era feita com uma maquininha com um cara de máscara e luva higienizada? =P) e o sentimento de ódio pelo destino, um espírito maligno tomou posse do garoto aliado à manifestação da Varinha do Milênio (“vara” é muito chulo ¬¬’), outro dos artefatos mágicos.

Em um primeiro momento, a versão que vimos aqui distorce um pouco essa história, dizendo que Marik quer as cartas para ter o poder de governar o mundo – algo deveras “original”. Mas aos poucos as coisas entram no eixo e o motivo real vem à tona – deve ter dado trabalho pra 4Kids maquiar tantas cenas.

Ainda tem também um tal de Odion (Rishid no original – pra quê mudar os nomes egípcios também, meu Deus?) que é um irmão bastardo e protetor de Marik. A presença dele garante que o espírito do mal não se manifeste por completo. Ah, e antes do vilão surgir na batalha (ele passa boa parte disso chegando num navio x_x) ele controla a mente de uma galera chamada de Rare Hunters (Ghouls) pra sair batalhando e garantindo a vaga na final do torneio.

Completando, na esteira de tudo isso está o Bakura (que mais uma vez ninguém sabe como está lá, mas como dissemos antes, ele está =P) tentando fazer seu papel de ladrão de relíquias. As batalhas seguem praticamente num revival do Reino dos Duelistas (quase toda a galera estranha volta a aparecer aqui) até atingir o clímax de uma final em cima de um dirigível. Mas tudo é interrompido para… FILLERS!!! ARGH!!!

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O Mundo Virtual de Noah
O dirigível de Kaiba segue para uma ilha onde a luta final da Batalha da Cidade vai acontecer, mas os roteiristas precisam inventar alguma coisa até o criador terminar o mangá. Sim, tiveram a “bela” ideia de enfiar o arco filler no meio do fim do arco anterior…

Sendo assim, a máquina começa a sofrer uma panezinha até que toda a galera (exceto, propositalmente, Marik, Bakura e Ishizu) é capturada e tem sua mente transferida para uma realidade virtual. A gente não tinha notícias de algo tão forçado desde os Cavaleiros de Aço =P

Essa realidade é controlada por 5 executivos da corporação Kaiba, que por sua vez estão subordinados a Noah, um moleque que é praticamente uma reencarnação do Kaiba de cabelo verde da série da Toei. Os 5 senhores estão presos no mundo virtual e buscam derrotar a turma de Yugi pra reaver seus corpos no mundo real. Já o caso de Noah é um pouco mais complicado.

O pirralho chato é filho legítimo de Gozaburo, o padrasto dos irmãos Kaiba que todos conhecemos. Ainda criança, ele era tido como herdeiro direto da corporação, mas sofreu um acidente que inutilizou seu corpo. Sendo assim, o velho usou uma tecnologia divina louca e transferiu a mente do seu filho para um computador pra que ele pudesse continuar vivendo (hein?).

Com o tempo, tanto Noah quanto Gozaburo (ô nomezim horroroso!) perceberam que a experiência tinha sua falhas. Gozaburo então procurou por outros sucessores enquanto Noah ia aperfeiçoando por si só a programação do mundo virtual dele, alimentando raiva por Seto e Mokuba.

Agora, Noah busca também um corpo para habitar e assim assumir controle da corporação. Evidentemente que todo mundo vai ter que batalhar contra isso (sobrando até pra irmã do Joey, Serenity) em batalhas chatíssimas e arrastadas.

Parte do passado de Kaiba contado no mangá foi aproveitada aqui, mas consequentemente distorcida pro Noah entrar. E nem vamos comentar que o Gozaburo (morto no original e “desaparecido” na versão ocidental =P) também surge no meio da bagunça toda, com a mente transferida também. Ops, falei…

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O Fim da Batalha da Cidade e o Lacre de Orichalcos
Com o fim de toda essa pasmaceira, as coisas voltam ao eixo e temos enfim a final da Batalha da Cidade. As batalhas seguem com direito a uma disputa animalesca de 5 episódios entre Yugi e Kaiba, até o derradeiro combate contra Marik, que começa a ter influência de sua parte bondosa.

Com um final aparentemente feliz, poderíamos seguir pro arco final da série. Mas… Temos que te enrolar mais um pouco.

Em mais uma história inventada para o anime e que nada acrescenta à trama, temos uma organização maligna (chamada de Doma no Japão e sem nome por aqui) que começa a roubar almas de duelistas mundo afora. Eles são comumente reconhecidos como motoqueiros fantasmas, que abordam a vítima através de uma carta exclusiva de seus baralhos, o “Lacre de Orichalcos”.

Com a cartinha maldita em jogo, aquele que perde o duelo tem automaticamente a sua alma roubada. O objetivo de sair colhendo almas por aí é alimentar e reviver um dragão ancestral chamado de Leviatã, que destruiu Atlântida há 10 mil anos (sim, enfiaram ATLÂNTIDA em Yu-Gi-Oh!, numa história anterior até à egípcia da série). Como a alma do Faraó seria poderosa suficiente pra completar o “combustível”, logicamente ele é a vítima central.

A trupe principal de inimigos atende pelas alcunhas de Rafael, Alister e Valon, que tiveram seu passado manipulado para o ódio graças ao líder de todo o plano, Dartz. Pegasus entra na história também, com sua imagem controlada pelo tal Dartz para atiçar os demais.

Kaiba, Yugi e Joey acabam sendo os “escolhidos” a receberem cartas especiais (com direito à ceninha de cada um retirando uma espada presa pra liberar o poder…), os dragões Timaeus, Critias e Hermos, inimigos diretos do Orichalcos.

No meio da história, até Mai e os esquecidos Weevil e Rex Raptor se unem ao lado do mal e tudo se resume ao trio de escolhidos batalhando até chegar ao líder. Um pouco mais interessante que a saga do Noah, mas com aquele mesmo sentimento de “quero que isso acabe logo”.

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O Grande Campeonato da Kaiba Corp
Mais um arco filler, mas felizmente bem curto. Aproveitando um pouquinho do conceito da Kaibalândia, que aparece ainda nos volumes da parte descartada do mangá, Yugi e seus amigos são convidados a um torneio da empresa de Kaiba. Eles acabam aceitando, já que estão presos na América graças ao desenrolar dos acontecimentos anteriores e precisam de uma carona de volta…

O torneio é uma forma de divulgar o parque de diversões da Kaiba Corp que está pra ser inaugurado. Para isso, uma porção de jogadores excêntricos são convidados (tem homem-macaco, uma Chun-Li, o vô do Yugi mascarado…), numa disputa da qual o vencedor terá que enfrentar Yugi.

No meio dos convidados está um antigo desafeto de Seto, o afeminado e esnobe Siegfried (que visualmente parece ter saído de algum canto de Saint Seiya), que viu sua empresa ir à ruína com a ascensão da Kaiba Corp. Ele corrompe o sistema da Kaibalândia e faz de tudo para tentar sobressair sua imagem. Mas você já deve esperar o final, né?

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A Última Saga
Finalmente voltamos ao roteiro base do mangá para fechar a história de Yu-Gi-Oh!. Bakura, que sempre vinha comendo pelas beiradas, finalmente ganha papel de destaque como grande vilão.

Yugi, ainda na busca de recuperar as memórias do Faraó, vai com toda a trupe até o Egito, a origem de tudo. Com o uso das três cartas de deuses egípcios, a alma milenar é transportada para dentro de um pedregulho de escrituras antigas, fazendo com que chegue a uma época onde estava para ser proclamado como rei.

Embora continue sem lembrar de nada, todos ao seu redor sabem exatamente quem ele é. E aí vemos as versões antigas de vários personagens da série em ação, desde o Seto (braço direito do Faraó!) até o avô do Yugi, explicando por fim a origem das 7 relíquias e a briga de egos familiares envolvida nisso.

Com ajuda de Shadi (lembra dele?) a turma do tempo presente resolve ir atrás do Faraó, adentrando o Enigma do Milênio. Mais pra frente, tudo se mostra na verdade um grande jogo arquitetado por Bakura, que se revela como reencarnação de Zorc, o “mal em pessoa”.

A saga desenrola com todos unidos pra descobrir os segredos que faltam, sendo o principal deles o nome do Faraó, a grande chave que o fará recuperar a memória e despertar a luz que deterá Zorc. Depois de mais de 15 episódios onde você vibra por ninguém ter disputado uma partida de cardgame, chega o momento do adeus em uma batalha emocionante entre Yugi e seu alter ego empoeirado. O fim disso eu deixo pra você procurar =]

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É hora do cutelo!
Em setembro de 2001, Yu-Gi-Oh! chegou oficialmente à TV americana, levado não só pelo sucesso do desenho no Japão como por toda a carga comercial que os personagens e seu cardgame proporcionavam. A fórmula de colecionáveis e jogos já havia se mostrado bastante lucrativa com Pokémon e foi então a 4Kids, a mesma responsável por “adaptar” Pikachu e cia para o ocidente, quem garantiu o trabalho com as cartinhas na TV, devidamente apoiada pela Kids’ WB, o bloco infantil da Warner nos EUA.

Pra quem já via com maus olhos o que a empresa havia feito com Pokémon (descartando episódios, excluindo menções mais claras e típicas da cultura nipônica e apagando letreiros com kanjis), deve ter ficado de cabelos mais em pé que o Yugi ao ver o que ela aprontou com a série. A equipe da 4kids resolveu fazer hora extra pra editar tudo que considerava politicamente incorreto, já que, diferente dos monstrinhos de bolso, Yu-Gi-Oh! possuía uma trama mais amarrada na sequência dos episódios, impossibilitando o descarte de capítulos mais “tensos”. Mas como as edições são muitissississímas, vamos tentar dar um apanhado geral pra vocês.

Bom, tratando-se da parte mais “light” da coisa, a cartilha de “sabanização” (como chamam o processo de adaptação de um programa japonês para o público ocidental, feito com maestria e bizarrice pela Saban Entertainment, no começo dos anos 90, transformando a série super sentai Zyu Ranger em Power Rangers) foi seguida na hora de levar em conta trilha sonora e nome dos personagens. A primeira foi a mais sofrida, já que quase todas (se não foram todas!) as músicas ambiente do anime foram trocadas para algo que remetesse mais ao clima egípcio. Aliás, a abertura é um bom exemplo disso. Deixando de lado o j-rock viciante do tema original, o compositor gringo Wayne Sharpe misturou a sonoridade de instrumentos árabes clássicos com uma batida pop e falas remixadas, criando um verdadeiro Batidão do Faraó pra rivalizar diretamente com o tema das Múmias Vivas (lembra dessa coisa? Tinha um plot muito parecido com o do Yugi – um moleque que descobre que foi um faraó no Egito antigo x_x). Pior que deu certo, pois aposto que você ficou cantarolando a melodia seguido de um “é hora… DO-DU-E-LO – dudududududu”.

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Indo pro campo das edições de cena, a mais notável de cara, pra quem já teve a chance de assistir ao original, é a aparência das cartinhas. Enquanto no japonês os cards são mostrados do jeitinho que são na loja, na versão americana aparece apenas uma imagem grande do monstro + números de ataque e defesa (sem especificação clara). Acontece que existe uma lei nos Estados Unidos que impede que um show de TV infantil exiba um produto em seu conteúdo, deixando esse trabalho para os intervalos comerciais. Imagina se avisam pra alguém que o Megazord se transformando era feito com os brinquedos XD. Abafa…

A versão 4Kids de Yu-Gi-Oh! eliminou também qualquer safadeza envolvendo os meninos com a Téa. Se você conhece bem a animação japonesa, sabe muito bem que piadinhas sobre ver a calcinha de uma menina, espiar ela tomando banho, falar sobre seus atributos e etc, são recorrentes inclusive em produções que visam o público infantil na faixa de seus 10 anos. Como pro padrão de programação infantil americana da época isso não era nada aceitável, diálogos foram alterados e outros trechos simplesmente cortados. Por exemplo, no episódio 12, enquanto Téa toma banho e Mai vigia, a garota escuta um barulho e se assusta. Logo em seguida se descobre que Joey e Tristan estão tentando espiar a mocinha pelada e Mai dá umas porradas nos moleques. Essa cena foi totalmente descartada, e o barulho que Téa escuta fica por isso: apenas um barulho.

No mesmo episódio citado, a 4kids excluiu um curto trecho que conta um pouco do passado de Mai, como crupiê (a responsável por distribuir as cartas em um jogo) no cassino de um navio de cruzeiro. Mostrar o passado de um personagem aliado à jogatina aparentemente foi visto como impróprio para o público alvo do desenho – mas ora bolas… A série inteira não se trata de uma jogatina com crianças? Hehe =P

E armas? Esqueça isso, cara… Diferente de Pokémon, onde um episódio inteiro foi pro espaço por causa delas, aqui em Yu-Gi-Oh! as armas de fogo serão simplesmente apagadas digitalmente. O exemplo mais emblemático (e ridículo) é a cena em que os capangas de Pegasus encontram Kaiba prontinhos para acabar com sua vida. Enquanto no original temos armas apontadas para o duelista, na versão 4Kids temos ameaçadores, tenebrosos e asquerosos… DEDOS. E é claramente visível que tinha alguma coisa ali nas mãos vazias dos caras. Que vergonha, meu Deus, que vergonha…

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Yugioooooooooooh… O grito que ficou imortalizado aqui na voz de Marcelo Campos é uma criação mirabolante da 4kids – provavelmente pra inventar também um sentido pro nome do anime (que na verdade significa algo como “Rei dos Jogos”). A cena que acontece toda vez que o Yugizin é tomado pelo Yugizão, é bem curtinha na versão original e não tem o grito de guerra. A versão americana converteu a coisa adicionando mais cenas (algumas chupadas da abertura) para fazer com que tudo parecesse uma transformação a la Sailor Moon.

Não podemos deixar de falar também na presença de símbolos relacionados a ocultismo ou religiões. Pentagramas luminosos foram substituídos uma vez ou outra por estrelas com mais pontas ou fumacinhas coloridas, enquanto crucifixos (quando não estavam em cemitérios) viraram tábuas retas. Também teve edição nos monstros das cartas, como as Harpias, que se antes tinham um fiapo de roupa que cobria os mamilos agora ganhavam um maiô completo pra esconder os peitchenhos. Sangue também foi tirado, como na cena que mostra Pegasus recebendo o Olho do Milênio – pra tirar o olho original não é brilhinho de estrela que sai não, tá crianças?

Eu não posso terminar sem falar do “coração das cartas”. A fé no baralho existe sim no original japonês, mas daí a dizer que existe um sentimento nas cartas é apelação demais pra tentar tornar o jogo bonito…

Apesar de tanta, mas taaanta edição, ousamos dizer que o enredo geral de Yu-Gi-Oh! não foi afetado tão danosamente assim. É só irmos alguns anos depois pra lembrarmos o que a mesma empresa safada fez com One Piece… Fãs de Yugi, vocês até sofreram pouco. Mas deixamos aqui nossos sentimentos, pois censura nunca é legal. Fato é que, diferente dos piratas, as alterações em Yu-Gi-Oh! não prejudicaram o estrondoso sucesso que foi nos EUA. Resquícios de uma era pré-fansubber? Talvez…

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Capsule Monsters
Acha que acabou? Pouco antes do fim de Yu-Gi-Oh!, a 4kids ainda quis ganhar mais trocados e financiou por conta própria a produção de “episódios extas”. Assim nasceu o Yu-Gi-Oh! Capsule Monsters, um spin-off chatinho que durou apenas 12 capítulos.

Na história, Yugi estranha que seu avô não retornara de uma expedição secreta e Joey, convenientemente, ganha 4 passagens pra que todo mundo possa pegar um avião pra ir atrás do velho. O veículo sofre uma panezinha e aterrissa forçadamente no meio de um lago, obrigando todos a andarem aleatoriamente por uma floresta.

No meio do caminho perdido, a trupe dá de cara com o professor Alex Brisbane, colega de expedição de Salomon que prontamente resolve mostrar onde o viu pela última vez. Aí que a coisa despiroca de vez com a existência de uma pirâmide no meio da floresta, que pertenceria à figura histórica de Alexandre, o Grande – sim, andaram usando substâncias psicotrópicas na 4kids…

Todo mundo fica sabendo que ali foi o último lugar que o vovô foi visto e logo vemos o porquê. Pisando em cima de um mapa, Joey desaparece, o que acaba sendo repetido por todos, com exceção do professor.

Quando se dão conta, todos estão no que parece ser uma reprodução do jogo Cápsula de Monstros, um tabuleiro derivado do Monstros de Duelo. Nele, todo mundo passa a ter um instrumento no braço que joga as tais cápsulas com bichinhos que são despertados em pedregulhos. O objetivo agora é sobreviver e resolver uma porção de enigmas pra seguir adiante, num estilo meio RPG de ser. E sobra até pro Alexandre, que aparece preso no jogo, misturando de uma forma absurda a história dele com a das relíquias milenares…

Curiosamente, no início do mangá existe um jogo com monstros em cápsulas, mas que nada tem a ver com o dessa série. Em 2004, um game baseado nesse jogo chegou ao Playstation 2, mas nem ele tem relação com o anime. Se os episódios saíram em 2006, a 4kids pretendia promover o quê, afinal?

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Yu-Gi-Oh! – O Filme: Pirâmide de Luz
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters: Hikari no Pyramid

Produção: NAS, 2004
Criação: Junki Takegami e Masahiro Hikokubo
Exibição no Japão: TV Tokyo (02/01/2004)
Exibição no Brasil: Cinemas – HBO – SBT
Distribuição: Warner
Disponível em: VHS e DVD

Em 2004, ainda empolgada com o sucesso da franquia no ocidente, a 4kids resolveu levar Yu-Gi-Oh! aos cinemas. A empreitada teve parceria com as empresas japonesas originais, entretanto o foco se voltou totalmente ao público do lado de cá.

A estreia aconteceu nos Estados Unidos em agosto daquele ano e o filme só foi ao ar no Japão em 2005, diretamente para a TV. Até porque, vamos combinar… A produção não passa de um episódio esticado da série com um pouquinho mais de brilho pra passar nas telonas.

A história criada por Junki Takegami e Masahiro Hikokubo se passa logo após o fim da Batalha da Cidade, onde Yugi ostenta o título de maior duelista do mundo, devidamente munido de suas cartas de deuses. O baixinho agora é amedrontado por multidões de malucos que desejam enfrenta-lo e possuir os cards preciosos.

Mas com certeza, quem mais deseja uma batalha é o eterno rival Seto Kaiba, que ainda não conseguiu engolir a derrota. Sedento por achar um meio de derrotar Yugi, o cara vai de encontro à fonte, o velho vilão Pegasus, para tentar subtrair alguma carta capaz de derrotar os três deuses egípcios. Ele descobre então a existência do card Pirâmide da Luz, o único poder capaz do feito.

O papelão na verdade é uma reprodução de outro artefato antigo (o oitavo agora…), propriedade do deus da morte Anúbis. A relíquia verdadeira encontra-se em exposição num museu, juntamente ao sarcófago da entidade maligna que foi derrotada pelo Faraó (o Yugi legal =P) há milênios atrás. Não por acaso, Yugi, seu avô e Téa estão no lugar pra dar uma conferida até que um clarão os envolve e a pirâmide acaba sumindo.

Na visão do clarão, o garoto de cabelo zoado acaba percebendo que deve se encontrar com Kaiba, que por sua vez o intima a um duelo. No meio da batalha, a coisa sai de controle com a invocação da Pirâmide de Luz, despertando o poder do verdadeiro Anúbis que surge pra puxar o pé de todo mundo. Enquanto Yami tem que lutar com suas cartinhas pra derrotar a reencarnação do deus, Yugi e seus amigos tentam resolver as coisas com suas almas sugadas pra dentro do Enigma do Milênio tradicional.

Arrastado, o longa é um daqueles que você fica batendo o pé bocejando só esperando pra ver quando vai acabar. A única parte legal é o começo, quando resolvem recontar a história do Yugi resolvendo o enigma. De resto… Você pode seguir a série em frente sem passar por essa.

Graças à distribuição da Warner, a trilha sonora contou com uma música inédita do grupo Black Eyed Peas, mas nem isso conseguiu chamar muita atenção.

yugiohhhhh

As cartinhas do demônio no Brasil
Yu-Gi-Oh! chegou ao Brasil de surpresa por conta do canal escolhido. A série estreou em maio de 2002 dentro da programação bagunçada da Nickelodeon, contrariando a lógica, já que a emissora era conhecida por trabalhar com suas próprias produções e nunca havia dado espaço a um desenho japonês – já familiarizado nos concorrentes da época, Cartoon Network e Fox Kids. Outro fator questionável é que uma das bandeiras levantadas pela Nick no começo daquela década era uma programação livre de violência – não que Yugi seja aqueeeela violência, mas tem gente chata pra enxergar isso em qualquer parte.

Mesmo assim, ao passo que a criançada foi descobrindo o desenho, o mesmo passou a ser um dos destaques do canal. Mas como a TV paga ainda não era tão presente nos lares como é hoje, a coisa passaria a vingar mesmo com a ida para a TV aberta, o que impulsionaria não só o sucesso do anime com o público infantil como também uma das maiores “caça às bruxas” já promovida por pais a um desenho.

Tudo começou em 2003, quando a Rede Globo garantiu a primeira temporada da série para exibir em sua TV Globinho, a partir do dia 6 de janeiro daquele ano. Dali em diante, o título se transformou em um grande sucesso comercial, impulsionando não só a venda do caríssimo cardgame (trazido pela Devir, que já trabalhava com Magic e Pokémon e teve que se virar pra enfrentar a pirataria desenfreada), mas também sendo estampado em diversas mídias e merchandising, como Tazos da Elma Chips, mochilas, material escolar, dentre outras. Então os pais resolveram entender o que era aquela coisa que enlouquecia os filhos. Eles não conseguiram e passaram a ouvir um bando de desocupados que partiram pro mais fácil: associar a mania ao satanismo e transformar a brincadeira em maldição.

yugiohmai

O ápice mais emblemático de todos foi em meados do fim de maio para início de junho daquele mesmo ano de 2003, quando a Band exibia diariamente nos fins de noite o programa Boa Noite Brasil, apresentado por Gilberto Barros (que atende pela alcunha de Leão, e hoje está na na Rede TV!). Eis que, num momento de ira e insanidade, o gordão começa a mostrar cards (piratas hihihi) ao vivo e classifica-os como “baralho do demônio”, rasgando-os e reforçando que os pais devem manter os filhos longe daquele jogo maldito.

O assunto rendeu e o programa começou a receber mensagens de incentivo à abominação do jogo, além de e-mails de crianças devidamente bravinhas xingando o senhor Leão. Poucos dias depois, no entanto, o caso foi parcialmente revertido em um debate coerente que trouxe psicólogo, juiz de vara de infância e até um especialista e organizador de torneios, Luciano Santos – que precisava defender seu peixe. Todos se mostraram a favor de Yu-Gi-Oh!, mostrando o que de fato era e exemplificando a importância do cardgame até mesmo no raciocínio das crianças. Com cara de tacho, Gilberto Barros, que começou o programa demonizando o jogo, terminou a favor, ao ponto de dizer que jogaria com seu filho. É mole?

Então tá, Yu-Gi-Oh! não é coisa do capeta, primeiro problema resolvido. Mas ainda tinha outro. Pais começaram a encher o saco dizendo que o desenho era violento – e olha que a 4kids já tinha tirado sangue e armas. Casos isolados tristes, como o que envolvia o suicídio de duas crianças e a suspensão do anime no Chile, reforçaram o bafafá, fazendo o Ministério da Justiça reclassifica-lo para maiores de 12 anos, por conter violência leve (no caso, a matança de demônios e espíritos, que por acaso, são hologramas na maior parte ¬¬’). Por conta disso, a Globo foi obrigada a retirar Yugi de sua grade no primeiro trimestre de 2004, prejudicando drasticamente a promoção de produtos, que foram sumindo.

Mesmo sem a importante janela de exibição na TV aberta, a Warner estreou o filme da série no dia 3 de setembro de 2004, usando a mesma estratégia já usada com Pokémon: a distribuição de cards promo na compra do ingresso. A dublagem, como de costume, foi levada à Delart no Rio, mas manteve todo o elenco paulista, incluindo os substitutos fixos.

Dublagem, aliás, é um capítulo à parte em Yu-Gi-Oh!. A série chegou pra Parisi Vídeo no auge do estúdio, que dublava tudo que era anime na época (Pokémon, Inu-Yasha, Shaman King…). Quem assumiu a tradução da 1ª temporada foi outro nome conhecido, Fernando Janson, que também adaptou e cantou músicas incidentais da série (a 4kids enfiou canções de um CD como fez com Pokémon, disco esse que graças a Deus não saiu aqui).

Essa primeira fase não apresentou grandes problemas e teve escolhas felizes para o elenco principal. As duas personalidades de Yugi ficaram por conta de Marcelo Campos (a voz do Shurato, do Mu de Áries em Cavaleiros do Zodíaco e do Edward Elric em Fullmetal Alchemist) que fez um trabalho excepcional para diferenciá-las. Afonso Amajones (Sanosuke de Samurai X) como Pegasus e Mauro Eduardo (InuYasha) como Seto Kaiba deixaram sua marca empregando personalidades únicas em seus personagens. Vale destacar também a atuação de Rodrigo Andreatto (o Gary de Pokémon) no papel de Joey Wheeler, tornando mais divertidas as piadas sem graça da adaptação americana.

A partir da segunda temporada, com a saída de Janson, as coisas começaram gradualmente a desandar. Vários termos, como nomes de cartas, trocavam a todo momento. Marik ganhou a voz grossa do dono do estúdio, José Parisi Jr, que nada combinava com a sua feição jovem. Aliás, a voz de Parisi começou a impregnar no anime de uma forma que ele passou a fazer também o Odion, discípulo de Marik, tornando intragável um diálogo entre os dois personagens.

Pouco antes do fim da Batalha da Cidade, a voz do Marik foi trocada, mas aí já não adiantava muita coisa. Esses episódios pegaram o momento de maior crise do estúdio, que acabou fechando as portas. A partir da saga do Orichalcos, Yu-Gi-Oh! começou a ser dublado na Centauro (que herdou todas as séries pendentes da Parisi), que foi até o fim e pegou até o Capsule Monsters. Num primeiro momento, as coisas andaram bem e até nomes usados para as cartas na 1ª temporada voltaram a ser utilizados. Só que na hora de começar o arco final, nenhum personagem secundário passou livre da troca de vozes e até Bakura mudou (antes feito por Alex Wendel, agora com Fábio Lucindo).

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A Nick exibiu a série completa, embora poucos tenham assistido ao final por lá. Por algum motivo estranho, a última temporada estreou praticamente junto de Yu-Gi-Oh! GX, série posterior da franquia que acabou se tornando prioridade em detrimento da original no canal. Capsule Monsters foi a exibição mais escondida de todas e, aparentemente, não teve reprise! Se bem que nem fez falta, vai… =P

Em 2006, a Globo enfim estreou a 2ª temporada de Yu-Gi-Oh!, devidamente cortada, mas não durou muito. Em julho de 2007, a 3ª temporada deu as caras no TV Xuxa, também por um curto tempo, o que deve ter brevemente animado a JBC.

Depois de longas negociações, a editora colocou nas bancas naquele ano a versão original em mangá (que teve tradução do Janson!), mesmo com a febre adormecida há anos. Embora não se fale em números, dizem que as vendas forem bem ruins, o que não impediu que todos os 38 volumes fossem lançados. Se fosse em 2003, com certeza a história teria sido outra….

No auge da série, a Imagem Filmes lançou dois packs com dois DVDs cada, cobrindo os 12 primeiros episódios. Apesar de ser um produto sem graça e só ter o áudio em português, é uma baita raridade para colecionadores de plantão, ainda mais por ter sido o primeiro DVD de anime com uma “luva” pras caixinhas.

O filme, também lançado em DVD e fora de catálogo, volta e meia aparece nos canais da rede HBO, além de ter passado algumas vezes na TV aberta na tela do SBT (graças ao contrato com a Warner na época).

Em 2010, a Rede TV! na busca de novidades para seu bloco TV Kids consultou nosso site para saber o que a audiência do programa poderia gostar de assistir. Entre um monte de animes legais, sugerimos Yu-Gi-Oh! para reciclar o “efeito nostalgia” que a estreia de Pokémon causou. Além disso o anime nunca teve uma exibição decente tanto na TV paga como aberta e a boa vontade na Rede TV! parecia que poderia funcionar e tornar a série um hit. Todavia, a emissora recebeu episódios de Yu-Gi-Oh! GX para exibir – mesmo montando chamadas comerciais com cenas da primeira fase da série!!! – e pra piorar, eram episódios referentes a 3ª temporada!!!

Quando questionamos a emissora sobre esse samba do crioulo doido, nenhuma explicação convincente nos foi passada (pareciam nem se dar conta da merda que estavam fazendo!) e gradativamente nosso diálogo com o canal foi se perdendo. Uma pena =/.

Ufa! Leu até aqui? Relaxa que tá acabando =P

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Legado
Pra terminar, vale uma menção honrosa às várias paródias que surgiram por aí. Se tratando do Brasil, você com certeza deve se lembrar do “Yu-Gi-Uai”, clássico do chargista Maurício Ricardo para o Charges.com.br. Também circulou tempo atrás um hilário “poop” (edições zoadas nonsense para YouTube) que gerou bordões net afora (confira aqui).

A mais famosa de todas as zoações foi a Abridged Series, uma versão compacta dos episódios, editada e redublada por um americano. Yu-Gi-Oh! foi o primeiro sucesso do formato de humor, que ganhou cópia para vários animes como Dragon Ball. Se você saca de inglês, vale a conferida – mas espere alguns episódios pra tomar gosto, hehe.

Não há como negar. Goste ou não do anime, Yu-Gi-Oh! foi um fenômeno da cultura pop japonesa que sempre será lembrado, pelo bem ou pelo mal. Numa década onde o normal era copiar Pokémon, o título conseguiu se sobressair e perdurar até os dias de hoje, com novas coleções de cards, jogos de videogame e novas séries – que falaremos em outra ocasião, depois do meu cérebro novinho em folha chegar. Assistir todos os episódios disso não foi mole não =(. E não tem checklist de episódios porque nem todos tiveram título!