Muito se fala do sucesso e “revolução” que a série de TV, e principalmente o longa-metragem de “Shoujo Kakumei Utena” (Garota Revolucionária Utena) trouxe à animação japonesa, por tratar abertamente de temas considerados tabús – como o lesbianismo. Apontada como a “sucessora de Sailor Moon”, a única coisa do universo de Utena que se tinha disponível no Brasil era um DVD (até meio raro de se achar) com o longa. Mas agora os brasileiros poderão conhecer a história da polêmica heroína, em sua versão mangá, que chegou esse mês às bancas pela editora JBC.

Utena conta a história de uma adolescente, a protagonista que dá nome à obra, que está, literalmente, em busca de seu príncipe encantado. Após um breve contato na sua infância, novos fatos a aproximam do seu sonho de encontrar o rapaz. Pistas as quais, determinadamente, a jovem resolve seguir.

Para os fãs da animação, esse primeiro número da história em quadrinhos talvez cause estranhezas. A obra apresenta os traços não muito bonitos da autora Chiho Saito, com roteiro idealizado por Be-Papas. Logo no início, o leitor é apresentado a um prólogo inédito na versão em animê, onde já surgem personagens e situações desconhecidas. Não totalmente inéditas, visto que chegam a aparecer na série de TV, apesar de não conter detalhes e não serem camufladas como metáforas e outros jogos de linguagem. Ou seja, para os afoitos e curiosos de plantão, não se encontrará nada de lesbianismo nas páginas – pelo menos neste número um.

Isso acontece porque a versão animada não é totalmente baseada no mangá. A série de TV foi exibida simultaneamente à publicação da HQ e, apesar de partirem de uma mesma premissa, seguem caminhos diferentes. Torcemos para que não seja um desenrolar tão transloucado como o anime (que até torna-se o grande charme da versão, mas deixa os telespectadores se perguntando o que de fato está acontecendo e, provavelmente, isso não daria certo em uma versão em quadrinhos).

Quanto ao trabalho da JBC, está muito bom, muito bem impresso e encadernado, com ótima tradução do novato Edward Kondo e em formato 13,5 cm x 20,5 cm, o mesmo adotado em Death Note. O uso de cerca de 90 páginas por edição (o chamado “meio-tankoubon”), dividindo os volumes originais em dois, pode não agradar alguns fãs. Até seria melhor se chegasse aqui como no original, porém é algo que dá para aceitar, visto que se trata de um mangá bem interessante. O preço também é justo, R$ 5,90.

Acredito que a maior crítica esteja em não utilizar a bela capa original, em uma grande jogada de marketing, já que nos primeiros volumes Utena não tem o cabelo rosa, e sim laranja! Esse detalhe poderia afastar potenciais compradores. Ao menos, foi utilizada uma belíssima imagem, mas que, junto com um design simples demais (principalmente na contracapa) tornou tudo excessivamente rosa e desorganizado (nada contra a cor, o efeito seria o mesmo com qualquer outra). Torcemos que ao menos os próximos volumes ímpares tragam as capas originais.

O mangá original possui um total de cinco volumes e foi publicado em 1996 e 1997, na revista japonesa Ciao (a mesma de Corrector Yui e Super Pig!).

Título: Utena #1
Editora: JBC
Autores: Chiho Saito (desenho) e Be-Papas (roteiro)
Formato: 13,5 cm x 20,5 cm
Avaliação: 4 / 5
Personagem favorito: Utena!