Desta vez irei fazer uma “resenha” diferente sobre “Code Geass – A Rebelião de Lelouch“, mangá lançado mês passado pela editora JBC.

Primeiro, sobre a história, particularidades desta, diferenças entre essa versão e suas “amiguinhas”, por favor, leiam o texto sobre Code Geass que eu fiz neste link. Tá bem completinho e perfeito!

Segundo, quero explicar as bases dos meus argumentos e comparações. Sou fã forçada de Code Geass, mas apenas das versões em papel, não do anime. Tenho em mãos todos os volumes de “Code Geass Hangyaku no Lelouch” em japonês, os três primeiros em inglês (da editora americana Bandai) e alguns capítulos em chinês em arquivo digital. Todas as comparações serão feitas diretamente com a versão em japonês, usando a inglês e chinês apenas para ter certeza e não falar merda. Também quero deixar claro que, embora saiba o básico de japonês e chinês, sou limitada, por isso tive o cuidado de confirmar com outros seres mais fluentes (aka professores e tradutores profissionais).

Então lá vamos nós:

A capa, de cara devo dizer que as capas de Code Geass são muito esquisitas, mas o original é assim mesmo. Não curti a fonte da JBC, a americana ficou tão mais bonita! E achei muito ruim o sub-título ter ficado tão pequeno, a forma mais fácil de identificar as diferentes versões é o sub-título. Pequeno desse jeito quando a JBC decidir lançar as demais versões pode gerar confusão. Mas pulando a minha chatice crônica…

O nome traduzido é um pequeno detalhe que eu queria falar sobre. O nome literal é “Lelouch da Rebelião”, o Lelouch que faz parte da massa rebelde, não é dele a rebelião, como o título “A Rebelião de Lelouch” faz parecer. O nome faz oposição ao “Suzaku do Contra-Ataque”. Os títulos indicam as escolhas de lutas que os personagens fizeram em busca de um mesmo objetivo. Imagino que a versão da JBC de Suzaku seria “O Contra-ataque de Suzaku”, fazendo parecer que o Suzaku se movimenta para contra-atacar algo, quando na verdade ele é tragado para essa realidade, ele odeia violência. Ou seja, a JBC descaracterizou o título. Perdeu a magia de serem títulos que se completam, metáforas do velho conflito entre “O objetivo justifica os meios” e “O objetivo não tem valor se não for pelos meios corretos”. Uma pena.

Os dois versos da capa são quase iguais, a mesma imagem, mas o fundo tem aquela faixa preta com preço, idade e logos. A lombada foi mal calculada, dá para ver um bom pedaço dela no fundo. O original tinha orelhas com palavras do autor e frases de impacto. Nada disso apareceu na versão da JBC. A segunda capa japonesa também não existe, mas dá para ver um pedaço na primeira página do mangá (a cara do Suzaku no preto).

Abrindo o mangá me deparo com a ausência de páginas coloridas (novidade), que Code Geass tem bastante (tenho todas se alguém quiser XD). Nota-se também que tá meio escuro, mas nada problemático, por enquanto…

Agora chegamos à primeira página da história, páginas maravilhosas de papel jornal (cof cof), com um corte lateral de quase 1cm de um lado e 0,5cm do outro, além de um pouco mais de meio centímetro na parte superior. Com toda essa tecnologia e as gráficas continuam incapazes de imprimir algo sem cortar para todo lado. Pior que Panini é a mesma coisa…

Começo a ler e já me deparo com uma atrocidade. Tem escrito “O sagrado império da Britannia declarou guerra ao Japão…”. Sagrado Império? Alguém tem que ir lá explicar para a JBC que em português e na história “Holy Empire” é “Sacro Império”. É o nome dos impérios, união de estados, da Europa durante final da Idade Média. E Code Geass faz muita referência à história europeia. Nota zero em história, JBC.

Continuemos a ler, no índice a “escuridão” das páginas ficou mais evidente, mal se vê o efeito em volta do texto, ficou super escuro. Além disso, tem o primeiro erro de digitação da JBC, ao colocar um espaço a mais: “Zero ” (entre o O e a aspa).

Próxima página, mas uma atrocidade: “Britanniana”. E aqui quero fazer um parêntese. O que é Britannia? Britannia em português é Britânia, é o antigo nome da Grã-Bretanha (e de uma Deusa). Até hoje se chama aquelas ilhas de Ilhas Britânicas. A JBC decidiu usar o nome em inglês, mas isso é o de menos, o que mata é o aportuguesamento de algo que já existe. Em vez de britânico ficou britanniano. Quer usar Britannia, usa Britannian em inglês também, oras. Mais na frente aparece o termo “eleven”, ok, então porque esse não virou elevenos ou elevenianos? Quer usar em inglês, beleza, em português, beleza também, mas não me faça uma salada de fruta.

Deixando minha revolta, conforme vou lendo e comparando percebo que a JBC não respeitou as fontes japonesas. Sabe, Code Geass é um Shoujo, como todo Shoujo tem um bilhão de fontes, existe é claro um quilo de secundárias que é até complicado de se diferenciar, mas as básicas que o cara mais usa é legal se respeitar, não? Todas as fontes em negrito com aspecto forte, ignoradas, as fontes todas meigas de fala empolgada e alegre, ignoradas, as falas da diretora que são tão típicas dela, ignoradas.

Mas vai passando as páginas e encontro várias frases “os eleven”. Por uns segundos me perguntei se em inglês existe a adição do S. Pesquisa feita, os americanos usam “elevens”, já que a palavra nesse caso não é exatamente o número 11, mas os que vivem no 11 (inclusive no japonês tem escrito pessoas que vivem no Japão). Igual Britannia/Britannian, America/American, Eleven/Eleven (já tem o N então fica na mesma). Então pelas regras ortográficas inglesas tem um S ali, JBC. Inclusive em português faz muito mais sentido também. Não escreve nem em português, mas nem em inglês também. Tá difícil…

Mas simbora que tô longe do fim, aí leio “… O meu coração está dividido em dois!” “Sinto tristeza e raiva ao mesmo tempo!”. Achei meio esquisito, não sei quanto a vocês, mas raiva e tristeza não são exatamente palavras opostas para se dividir um coração. Fui checar as outras versões… Ah sim, eles dizem algo como “Meu coração está se rasgando com os sentimentos de raiva e tristeza”. Ou seja, coração está se partindo, quebrando. Alguém vai lá explicar para a JBC que coração se dividir em dois, em português, indica um dilema. Por exemplo: “coração dividido entre dois amores” ou “coração dividido entre fazer o correto ou o errado”. Coração que se divide ao meio com sentimentos análogos é a primeira vez que vejo. Vivem e aprendendo com a JBC!

Mais a frente entra a Kallen. Em vez do sobrenome Stadtfeld, foi colocado Stadfeld. Bem na realidade existem os dois. Mas o nome que existe e é típico na Inglaterra e Alemanha é com T. Pelo que pesquisei a versão sem o T é americana, sabe homem do cartório que escreve coisa errada? Como o mangá todo faz referência à Inglaterra, era para ter o T, inclusive em tudo quanto é site/wikipédia/blog tem escrito com T. A JBC quer ser diferente!

Mas vamos em frente que ainda nem cheguei à página 20. Ok, página 19, tem uma porção de plaquinhas nela, a JBC decidiu traduzir 3, deixar uma em japonês e apagar uma. Das editadas, uma está super desalinhada com a placa. Vai entender a lógica da editora…

Na página 20 o corte superior ficou muito evidente, dê uma olhada na onomatopeia, o kya (キャ) ficou cortado. Ao mesmo tempo na lateral direita do mesmo quadro dá para perceber o corte lateral, tá vendo aqueles riscos e curvas do lado da Shirley (a garota de cabelos longos com cara de OMG), aquilo era uma parte da diretora, que aqui tá totalmente cortado.

E vamos em frente! O Lelouch acha a C.C., todo aquele momento de surpresa, uma mina vestida com uma espécie de camisa-de-força surge de uma cápsula estranha e o Lelouch diz embasbacado “O que… acontece aqui?”. Hein? Eu que pergunto o que acontece aqui, senhora JBC? Quem falaria uma coisa dessa? Olhando o original: “O quê…? Isso é…”. Não conheço uma alma viva que numa situação de surpresa pergunte “o que acontece aqui?”, eu o imagino dizendo “O que é isso?” ou “Mas o que está acontecendo?”.

Vai passando e começo a ver as reconstruções mal-feitas, marca registrada da JBC. Existem alguns balões com uma retícula de vários traços de espessuras diferentes. A reconstrução é tão perfeita que os traços desaparecem e reaparecem, se desencontram em mais de 10 pontos claramente visíveis.

Mas vamos que vamos, página 55, onomatopeia não traduzida, embaixo do balão “Bem…”. É sons de passos, caso queiram saber. Nessa página também tem um “PA…”. Depois de um tempo (e espiar o japonês) descobri que é parem. Não ficou muito bom só o “pa”, meio difícil de adivinhar…

Mais adiante na página dupla 58-59, além de um quilo de más reconstruções e aquele aspecto pixelado que JBC adora, o texto originalmente tinha palavras BEM destacadas. No da JBC ficou bem complicadinho de ver esses destaques, algo como texto em fonte 11 e destaque em 12. Um negritinho ia bem, JBC, ou um tamanho maior…

Pulando para a 69, o início do capítulo 2, o tom escuro da JBC volta a atacar. A imagem está tão escura que os detalhes da roupa de Lelouch quase desaparecem e o da Kallen vira uma massa negra (tem erros de reconstrução aqui também). A 70 então é quase impossível de se identificar alguma coisa. Quem tiver em mãos dê uma olhada com cuidado, você vai ver um leve resíduo cinza escrito “Geass-2”.

Mais na frente, tiraram todos os coraçõeszinhos da fala do Lloyd. O Lloyd tem um jeitinho meio gay de falar, todo gentil e amável, os corações e florzinhas na fala dele é sua marca registrada. Apagado, que pena.

Mais na frente ainda, vemos adolescentes-militares dizendo aos adolescentes-terroristas “Vamos aprisioná-los e entregá-los para o exército”. Nunca ouvi um policial/militar dizer “Vou te aprisionar!”. De onde esse povo tira essas frases?

Na 121 tem uma reconstrução fenomenal, a orelha e pescoço do Suzaku tem uma série de borrões brancos que lembram os caracteres japoneses. JBC nunca decepciona…

O início do capítulo 3, a página 126-127, o tom escuro ataca mais uma vez. Concluo que todas as páginas originalmente coloridas tiveram esse problema na versão da JBC. Mas essa página ficou tão escura, mais que as outras, que os cabelos e roupas ficaram todos em tom preto, uma massa preta para todo lado. Visualmente horroroso. O original as roupas tem vários detalhes, os cabelos também. A 128 também tinha algo escrito, mas nesta página eu juro que não consigo enxergar o “Geass-3”.

Na 159, curiosamente a JBC apagou uma onomatopeia e deixou a tradução apenas. Era o som, literalmente, “Gu…”. Que indica mais um movimento de agarrar/pegar algo. Não entendi por que apagaram…

Conforme leio o capítulo 3, os mesmos erros se repetem um atrás do outro. As reconstruções continuam deixando a desejar, algumas ficam com aquele aspecto de repetição, como se algo tivesse sido copiado ali várias vezes seguidas. Em algumas cenas no meio da história dá para ver os cortes e o tom escuro demais que destrói o original.

Numa visão geral também é possível ver que tem muita fala mal centralizada. E tem muita fala solta no fundo que a JBC hifenizou bastante, somente para ficar sobre a reconstrução (escondendo a nojeira ou simplesmente para poupar trabalho). Em muitos casos chega a ser cansativo ler a palavra picotada. Nesse aspecto a Panini enquadra muito melhor.

Conclusão: É a pior versão que adquiri, com muito erro de tudo quanto é tipo. Quero meu dinheiro de volta.

P.s.: Quero mandar um beijo para todo mundo que diz que só sou minuciosa com a Savana. <3

–Edit 04/02/11
Caro leitor, como fã perfeccionista dediquei esse texto a criticar os erros da editora ou aquilo que julguei não muito claro, um desabafo. Procure em meus textos as informações que te interessam e desconsiderem aquelas que acha trivial. Sinta-se livre para pensar diferente e, através da leitura do mesmo, confirme o que foi dito e tenha sua própria opinião. Caso tenha alguma dúvida ou quera discutir e argumentar, sinta-se a vontade, mas peço que não perca nosso tempo me criticando por ter sido detalhista ou parcial. Este é um texto pessoal e opinativo, é parcial por natureza. Isso não significa que sou a senhora da verdade ou que você tenha que concorda e valorizar o que disse. Por favor, tire o melhor dos textos que escrevo, se não há nada que lhe interesse, só sinto muito. Obrigada.

Título: Code Geass: A Rebelião de Lelouch Volume
Autores: Majiko!, Ichirou Ohkouchi e Goro Taniguchi
Demográfico: Shoujo
Tamanho: 13,5 x 20,5cm, cerca de 200 páginas
Duração: 8 Tankoubons
Preço: R$10,90
Periodicidade: Mensal