Bones é um nome que qualquer pessoa que gosta de anime – especialmente no Brasil – conhece. Por esse estúdio saíram os populares Escaflowne Movie, Soul Eater, a versão de 2003 de Full Metal Alchemist e, mais recentemente, o controverso Gosick. Em 2007, ele lançou um filme que ficou conhecido por sua excelente animação e direção: Sword of the Stranger.

A história se passa no período Sengoku e narra a jornada de transformação do ronin Nanashi (que significa nada menos que “sem nome”), um homem que se recusa a usar sua espada devido a traumas passados. Um dia ele salva Kotaro, um garoto que estava sendo perseguido por um grupo chinês, e acaba contratado por ele para trabalhar com seu guarda-costas.

Entre os homens que perseguem Kotaro, está Rarou (falado assim, porém que em alguns lugares aparece romanizado como Luo Lang, provavelmente sendo as duas versões apenas leituras diferentes do nome original), um guerreiro loiro de olhos azuis. Extremamente habilidoso, Rarou busca um inimigo que possa ser digno de enfrentá-lo. Quando ele se cruza com Nanashi o destino dos dois se entrelaça numa trama de interesses onde estão em jogo poder e imortalidade.

Como se pode notar por esse resumo, a história de Sword of the Stranger lembra muito a de animes como Rurouni Kenshin. Em ambos o protagonista era um guerreiro poderoso que escolheu o caminho de não lutar. Na verdade, muitas pessoas verão diversas outras similaridades entre esses dois animes, porém uma pequena pesquisa revelará que as raízes desse tipo de narrativa estão cravadas bem mais fundo na cultura japonesa: é o chamado chanbara, o cinema de samurai, com um grande representante sendo a série de filmes Zatoichi.

Os personagens que aparecem são simpáticos e funcionam dentro da temática e isso dá a uma trama simples todo um sabor novo. O filme em si é um entretenimento interessante que levanta algumas perguntas morais sem se perder na pieguice nem esquecer sua identidade, não é profundo, mas não chega a ser trivial.

Talvez alguns minutos a mais tivessem permitido uma melhor exploração do preconceito sofrido por Nanashi ou de seu trauma, porém isso poderia ter custado à execução visual. Quando as cortinas se fecharem, muitos poderão se perguntar se não ficou faltando algo.

Mas, como eu disse antes, o grande trunfo de Sword of the Stranger está na sua qualidade técnica. Com o incrível trabalho do pessoal do Bones e a ótima direção de Andou Masahiro (CANAAN, Hana-Saku Iroha), o estúdio conseguiu criar uma animação estonteante. Os combates que permeiam o anime são muito bem coreografados e rápidos, usando de cortes bem executados e ângulos funcionais para criar uma fluidez incrível. Em algumas sequências, em especial no climático segundo confronto entre Rarou e Nanashi (foi mal Ryougi, mas esse é o melhor combate de espadas que eu já vi), o uso do elemento natural se soma ao impacto de cada golpe gerando uma tensão absurda. A preocupação em tornar os duelos interessantes pode ser notada mesmo por aqueles que nunca viram um filme chanbara.

Assistir Sword of the Stranger é como, guardadas as devidas proporções, ver uma versão animada de Os Sete Samurais. Toda a ambientação e estilística da era Sengoku está lá: os duelos, as batalhas em ambientes limitados, os grandes confrontos de exércitos e, naturalmente, o embate final entre dois oponentes igualmente habilidosos. Esse filme é, acima de tudo, uma homenagem aos clássicos de samurai. Até mesmo um combate em cima de uma ponte acontece.

A trilha sonora de Satou Aoki (Heroic Age, Blood-C) é extremamente competente. Vale destaque o tema principal do filme, uma magistral peça com influências da música clássica japonesa que carrega todo o sentimento de que se está assistindo a uma obra épica, uma narrativa de honra, bravura, sangue e glória.

O filme teve uma recepção em sua maioria positiva, concorrendo a diversos prêmios ao redor do mundo, dentre eles ao 24º Amsterdan Fantastic Film Festival, além de uma nomeação para o Asia Pacific Screen Awards e, impressionantemente, chegou a ganhar o 4º FANTASPOA na categoria Melhor Animação. Houve também uma tentativa de que a animação concorresse ao Oscar em 2008, mas, como era de se esperar de uma obra não americana que não seja do Studio Ghibli, não aconteceu.

A recepção pública também foi, no geral muito boa, embora as opiniões dos que gostaram da obra se dividam entre os que consideram esse um filme infantil com muito sangue e aqueles que o consideram um filme adulto pouco explorado. Mas de um lado ou do outro uma coisa é unânime: esse é um ótimo filme de ação.

Seja pela história bem feita, pela direção bem executada, pelas qualidades técnicas, pela homenagem aos filmes clássicos de samurai ou mesmo por puro entretenimento, Sword of the Stranger é algo que todo fã de animes deve assistir. Mais um trabalho competente do estúdio Bones, que, salvo exceções (cofcofHeromancofcof), tem demonstrado potencial para se tornar um dos maiores da atualidade.

Título: Stranger Mukō Hadan/Sword of the Stranger
Estúdio: Bones
Gênero: Ação, Aventura, Chanbara
Direção: Andou Masahiro
Duração: 102m