Pensem no anime mais insano que conseguirem. Agora imaginem algo cinco vezes pior. Isso poderá dar uma noção do que é Dead Leaves, mais um trabalho do homem por trás de FLCL e Tengen Toppa Gurren Lagann e nosso assunto de hoje.

Dead Leaves é uma animação original do estúdio Production I.G. (Blood C, Tales of Vesperia: The First Strike) que conta a história de Panda, uma mulher com uma mancha no olho que a faz parecer, bem, um panda, e Retrô, um homem com cabeça de televisão retrô, que após despertarem sem memória e roubarem um banco, são presos e mandados para Dead Leaves, uma terrível prisão na Lua onde os detentos são mortos ao menor deslize. Panda e Retrô então começam uma fuga que irá revelar os segredos por trás de suas memórias perdidas e da Dead Leaves.

Lendo a sinopse até parece uma história séria, não parece? Mas não é. Ah, mas não é mesmo. Dead Leaves só pode ser descrito como uma viagem de ácido para fora da Via Láctea nas costas de um unicórnio arco-íris de três cabeças bêbado guiado por Douglas Adams e Benny Hill.

Para se ter uma noção, o filme que começa com Panda e Retrô sem memória se encontrando num deserto e termina com um Panda tendo um bebê que nasce com armas de fogo nas mãos e se torna adulto em minutos para enfrentar uma lagarta gigante que está destruindo a Lua.

Isso sem considerar que no meio temos os típicos personagens bizarros de Hiroyuki Imaishi, como um prisioneiro que tem uma bunda na testa, 666 e 777, guardas da prisão que acreditam firmemente na filosofia de que quanto mais balas melhor, Pênis de Broca, um prisioneiro que tem um… pênis-broca (toma essa, Simon!), e os próprios Panda e Retrô, dois psicopatas da melhor categoria cujo plano de fuga se resume a destruir tudo da maneira mais exagerada e insana possível.

As lutas também são completamente absurdas e destrutivas, com milhares de tiros disparados e mortes de uma violência tão criativa que impressionaria até Quentin Tarantino. De personagens picotados até virarem uma pasta de sangue a outros que são explodidos, esmagados, triturados ou destruídos pela furiosa broca peniana de Pênis de Broca. É tudo tão ridículo que não ficaria surpreso se vocês não acreditassem em mim.

A animação e o visual são extremamente estilizados e únicos tornando Dead Leaves em uma das experiências visuais mais loucas que já tive em toda minha vida. São tantas balas, explosões e objetos na tela que fica fácil se perder e simplesmente parar de entender o que está acontecendo. E tudo fica ainda mais maluco devido à velocidade abissal em que os eventos acontecem.

Dead Leaves é apenas um OVA de cinquenta e poucos minutos, mas isso não impede que aconteçam mais coisas em sua trama do que em alguns animes de doze episódios. É como se um filme de três horas fosse comprimido ao mínimo possível para que pudesse ser ligeiramente inteligível e, ainda assim, é normal que seja necessário assistir ao OVA mais de uma vez para se compreender tudo. Se isso é algo bom ou ruim depende do espectador.

Mas mesmo com toda essa absurda pressa, há detalhes muito interessantes. A animação pode ser facilmente entendida como um dedo do meio para a sociedade. As pessoas normais, policiais e os guardas da prisão são aqui representados todos com o mesmo rosto sem expressão, andando de olhos fechados como máquinas e simplesmente fazendo o que têm de fazer.

Os clones considerados não-humanos e usados como bucha de canhão na prisão possuem muito mais personalidade e humanidade que qualquer uma das pessoas da Terra ou que os guardas que deveriam ser as pessoas. Panda e Retrô são sociopatas completos, sem o mínimo de respeito por regras sociais ou instituições, e, incrivelmente, os únicos que tentam fazer alguma coisa para parar os crimes que acontecem em Dead Leaves.

Essa mesma visão de que apenas as pessoas que fazem as coisas sem se importar com as convenções podem mudar o mundo vai reaparecer no conflito entre Simon e Rossiu, em Tengen Toppa, e já se esboçava em FLCL. É interessante notar como esse é um tema forte não só para o diretor como também para o estúdio. Lembrem-se: o Production I.G. regularmente trabalha com o Gainax e se há um estúdio que adora questionar o lugar-comum, esse é o Gainax.

Eu poderia me prolongar mais falando de todas as bizarrices e cenas criadas pelo simples motivo de que são impressionantes, mas não vou. Vocês não acreditariam em mim. Eu não acreditaria em mim também, não é culpa de vocês. Só digo que assistam Dead Leaves e tenham os cinquenta e dois minutos mais insanos que uma animação pode dar.

A série saiu nos Estados Unidos na mesma época em que saiu Cowboy Bebop e mais algumas obras cult. O OVA ganhou bastante popularidade, principalmente por sua dublagem completamente exagerada.

Título: Dead Leaves
Estúdio: Production I. G.
Direção: Hiroyuki Imaishi
Duração: 52 minutos
Contagem de Corpos: Mais de nove mil
Quantidade de balas disparadas: Incontável