Diferentemente do que muitos pensam ou querem acreditar, Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco), não é um anime considerado clássico pelos japoneses.  Teve sua época sim, mas não marcou uma geração como conseguiu fazer no Brasil. Mesmo assim, a animação possui fama no Ocidente, a ponto da Toei Animation acreditar que o lançamento de uma nova série animada representaria um bom investimento internacional.

E foi assim que, muito provavelmente, nasceu a motivação para a produção de Saint Seiya Ômega. Não, não vamos acreditar que o anime foi feito como evento comemorativo aos 25 anos da série clássica. A Toei muito provavelmente aproveitou a oportunidade e produziu a série – que conseguiu chamar atenção de todo mundo, como planejado. De fato, a repercussão do lançamento fora do Japão foi muito maior.

A proposta inicial da série até que soou interessante: apresentar uma nova geração de cavaleiros, que possuiriam algum “elo” com personagens da geração vista na série clássica. Quando estreou, todo mundo pensava que Kouga fosse filho de Saori com Seiya e que Yuna possuísse alguma conexão com a Marin. Mas no final das contas, só o Ryuhou era filho de um personagem original.

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A primeira vista Ômega provocou estranhamento: o traço de Yoshihiko Umakoshi no design dos personagens era bem diferente do traço eternizado pelo falecido Shingo Araki. A proposta das armaduras mais simples (com um aspecto mais “elástico” @_@)  também foi difícil de acostumar – afinal, grande parte da graça de Saint Seiya estava nas armaduras! E com a intenção de capturar a atenção da audiência, a produção ainda inventou transformações cheias de brilho e cor que remetiam muito a séries de magical girls (Sailor Moon, Pretty Cure…).

Em contornos gerais, Saint Seiya Ômega pode ser visto como uma série que por acaso tem “Atena e os Cavaleiros do Zodíaco”. Sofrendo a margem dos personagens “lendários”, o anime não conseguiu conquistar uma personalidade ao longo da primeira temporada e o anúncio de uma nova versão da batalha das 12 casas foi ao “cúmulo da inspiração” da produção.

No decorrer dessa temporada, muita gente acompanhou o anime ao redor do mundo pra saber o que os roteiristas bolaram para justificar a ausência dos personagens conhecidos. Se por um lado, essa curiosidade mantinha o Ômega brilhando no ocidente, no Japão esse interesse não era tão intenso.

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Diferente do Brasil, onde as pessoas possuem uma memória afetiva muito forte, no Japão o anime era apenas mais um. E como tal, aparentemente os roteiristas passaram a se dar uma certa liberdade criativa que gerava náuseas em quem comprou a ideia de “Ômega ser a continuação da série clássica”.

Claro que a série tem seus aspectos legais. Personagens como Yuna de Águia, Kiki de Áries (quem não vibrou?), Genbu de Libra e Micenas de Leão caíram no gosto do público. Por outro lado, outros como Haruto (um cavaleiro ninja metido a roqueiro ¬¬) ou Tokisada (cavaleiro de prata promovido para Cavaleiro de Ouro de Aquário, que ganhou uma macumba pra lá de mal explicada) eram amplamente descartáveis. E entre erros e acertos, Ômega atingiu a marca de 51 episódios.

A sensação de que muita coisa ainda podia (e devia) ser explorada gritava e, para preencher essa demanda (e empurrar mais episódios pro pacote a ser vendido em feiras de TV), a Toei anunciou a segunda fase.

O primeiro episódio dessa fase foi ao ar em 07 de abril do ano passado e logo de cara, resolveram corrigir algo que muita gente criticava (mas que de certa forma já tinha dado pra se acostumar…): o design dos personagens. Chegando mais próximo do que era visto na série clássica, o traço de Keiichi Ichikawa não é ruim, porém a irritante mania da Toei Animation de baratear a produção de suas produções fez com que a série fosse sofrendo da estranha “doença deformatória” – que ironicamente também se manifestou intensamente na saga de Asgard…

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Com uma história arrastada, a saga da deusa do amor Pallas, era desde o começo uma fachada para algo maior, envolvendo um misterioso personagem – que aparecia no final da abertura e que era facilmente previsível saber de quem se tratava logo no primeiro episódio. Mesmo assim, estamos falando de Cavaleiros do Zodíaco, né? O mais legal é esperar “como” e “quando” vai acontecer determinada situação que já sabemos qual é.

Costurando algumas ideias boas com outras muitas ruins (pra quê resgatar o conceito dos Cavaleiros de Aço?), a série perdeu muito da dinâmica vista na temporada anterior. Os vilões eram demasiadamente genéricos (com poucas exceções) e a postura eternamente chata da Saori de esperar a coisa ficar feia pra começar a agir vitimou alguns personagens queridos.

Na segunda temporada, personagens continuavam a ser ignorados (cadê a Marin? Você viu?), outros perderam sua força (o que foi esse Éden bonzinho e amigo de todos de uma hora para outra?), mas há quem acredite que essa fase conseguiu se aproximar mais da essência (?) da série clássica.

Pelo menos explicaram (de forma muito forçada e furada) o motivo pelo qual os cavaleiros de aço originais sumiram na série clássica \o/. Mas a Toei prontamente estava ali pra estragar tudo: em um dos episódios mais aguardados (com a reunião de todos os personagens importantes da série) a qualidade da animação ficou perto do lixo absoluto.

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O excesso de personagens e a necessidade de valorizar os novatos foi sem dúvidas o principal problema dessa temporada. O que fazer? Já que estamos falando de um anime onde “por acaso” tem Saori, Seiya e outros personagens, vamos terminar de estragar com as “lendas” de uma vez por todas! Só consigo pensar que foi isso que passou na cabeça da equipe de roteiristas.

Quando tudo parecia ter degringolado e você só assistia por assistir, ainda conseguiram forçar a barra mais ainda e só nos últimos episódios (com a aparição do verdadeiro vilão) a série voltou a ter um clima interessante. Mas os dois últimos capítulos chutaram pra além da órbita de Saturno a boa vontade em creditar Ômega como um anime legal. No máximo, um anime pra ver sem qualquer compromisso!

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Quem viu, sabe do que estou falando… Aquele “sono de beleza” de personagens que todos pensavam que tinham idiotamente batido as botas, foi o cúmulo do absurdo! Sem contar que nem todos os personagens tiveram um final convincente (Shina? Hyoga? Shun? Shiryu?).

Convencer de que Saint Seiya Ômega é  parte do universo d’Os Cavaleiros do Zodíaco é por si só algo muito difícil de fazer. Em The Lost Canvas você consegue assimilar muito bem e aceitar que está vendo a uma série com cavaleiros do passado.

Os anos passarão e Ômega infelizmente estará fadado a ser lembrado não por sua qualidade, mas sim por seu oportunismo. E se daqui a duas décadas a Toei resolver animar Next Dimension (a continuação oficial da série clássica, produzida a passos lentos por Kurumada) ou continuar o a história do filme Prólogo do Céu (que tinha um ótimo potencial),  que o faça de forma digna como os fãs de Saint Seiya merecem.

Se bem que ligar pros fãs é o que a Toei meno$ deve levar em consideração na hora de mexer no seu baú e requentar seus animes…

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