No último dia 3 de abril, chegou à maior parte das bancas do Brasil, o primeiro volume de um dos mangás mais aguardados de todos os tempos por aqui: Sailor Moon.

Um dos últimos títulos da “geração Manchete” inéditos nas bancas brasileiras (agora só falta Fly, Shurato, Super Campeões e… ahn… Samurai Warriors >_<), as aventuras da guerreira que luta vestida com roupas de marinheiro conquistaram uma geração de fãs em dois momentos distintos no Brasil: na metade da década de 1990, via Rede Manchete – que transmitiu a primeira temporada do anime,  e no começo dos anos 2000 – quando o Cartoon Network apresentou as outras 4 fases da série, inéditas na TV aberta (exceto pela fase R, com uma rápida passagem pela Record).

Sailor Moon chegou ao mundo em 1992, no sétimo ano de carreira de sua autora, Naoko Takeuchi. Formada em química e atuante como farmacêutica (!), Naoko desenvolveu uma série de histórias de pouca relevância em publicações da Kodansha a partir de 1985. Embora tenha conseguido juntar alguns prêmios nesses primeiros anos, a coisa deslanchou de vez com a criação de Sailor V, em 1991.

Empresas, como a poderosa Toei, enxergaram o potencial daquela guerreira em trajes de marinheiro, ao ponto que a mangaká se viu motivada ($) a criar um grupo de meninas para atuarem juntas a favor da justiça. Daí nem precisava dizer que a coisa toda deu muito certo, principalmente no ponto de vista financeiro, revitalizando o gênero das magical girls (popularizadas em meados dos anos 1980) e desencadeando uma febre de produtos e séries “inspiradas”. Foi como se a Toei conseguisse o seu super sentai de garotas – mas sem os robôs gigantes =P

A responsável pelo lançamento é a editora JBC, que se destaca com uma das editoras que há mais tempo trabalha com mangás no país. Mesmo com anos de experiência, alguns lançamentos eventualmente pecavam em algum ponto, o que gerou uma grande expectativa no público. Por conta disso, resolvemos apresentar uma resenha pra vocês de uma forma um pouco diferente.

Dois membros da nossa equipe resolveram falar sobre sua experiência com o título, apontando a partir do repertório pessoal de cada um qual impressão tiveram com o mangá. Como nenhum dos dois é expert em aspectos mais técnicos (Allena foi seduzida pelo “lado pop” da força :P), não haverá uma discussão profunda ao redor desses detalhes. Então, sem mais delongas: pelo poder do pris… Err… Vamos ao trabalho!

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Autor: Rafael “Jiback” Brito

Nunca fui fã de Sailor Moon. Na verdade, nunca tive muito interesse também. Quando a série original era exibida pela Manchete eu era muito criança, mas mesmo assim tenho lembranças de Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Yu Yu Hakusho, Supercampeões… De “Serena”, no máximo uma propaganda dos “Anime Comics” da Abril em uma revistinha do Pato Donald no fim dos anos 90. Não sabia que teve isso? Pois é, saiu de Dragon Ball também…

Meu contato maior com Sailor Moon aconteceu na época que o anime (da fase R em diante) era exibido nas tardes do Cartoon Network. Vez ou outra eu assistia um pedacinho ou a abertura. Talvez por esse motivo, nunca foi estranho pra mim ouvir a Daniela Piquet como voz da protagonista, ou mesmo as traduções esdrúxulas da BKS, que incomodaram os fãs das antigas. De toda forma, não lembro de ter assistido a um episódio completo alguma vez…

A falta de interesse podia ser explicada justamente no fato de que eu não era o público alvo da série. Mas como então eu poderia adorar assistir a uma Sakura Card Captor da vida e ignorar as guerreiras coxudas? Decidi ir atrás do mangá, após todo o alarde que o lançamento causou, para ao menos perceber porque Sailor Moon é um sucesso.

Então vamos falar do mangá em si. A história narra o momento que Usagi (R.I.P Serena, acostume-se), uma garota bobinha, desligada e atrapalhada, é a escolhida para receber poderes mágicos e lutar contra forças malignas que estão presentes na Terra (o Japão, claro). Esse grupo de vilões misterioso está roubando energia vital dos humanos (chamado de Énergie) para da-la à sua rainha, enquanto correm atrás de um tal Cristal de Prata, um artefato com poder suficiente para explodir estrelas.

Depois que a menina “desperta” como Sailor Moon, logo ela vai descobrindo novas aliadas no caminho, outras garotas que herdam poderes espaciais – no caso, de planetas – cada uma com sua personalidade e especialidade: Ami (Sailor Mercury), Rei (Sailor Mars) e Makoto (Sailor Jupter). Como chefe de todo esse grupo está Luna, uma gatinha (no sentido “bichano” da palavra) falante, que diz ter sido enviada da lua para conduzir as guerreiras. Também temos a presença do Tuxedo Mask, um homem de máscara e smoking que salva a marinheira da lua diversas vezes, mas ninguém sabe se é vilão ou aliado, já que segue sozinho atrás do Cristal de Prata.

O grande mistério que já surge nesse primeiro volume não é nem o Cristal de Prata, mas os sonhos que Usagi tem com uma figura masculina (que não precisa de esforço nenhum pra notarmos que é Tuxedo Mask =P) e que parecem remeter a algo já vivido por ela. De toda forma, durante a leitura não me senti tentado a querer descobrir algum segredo, ou mesmo passar o capítulo seguinte para seguir o ritmo da história. Talvez seja cruel julgar assim uma história escrita há mais de 20 anos, mas Sailor Moon me parece um amontoado de clichês mornos de ação inseridos num romance raso para o público feminino. As coisas acontecem muito rápido e de forma muito fácil. De uma hora pra outra, as meninas já estão transformadas e vencem os inimigos em poucas páginas, como se bastasse um botão para despertarem os novos poderes.

Apesar disso, existe um fator que pode explicar, ao menos para mim, o sucesso da série: os personagens cativantes. Cada menina da série tem sua própria personalidade marcante e é fácil que o leitor se identifique com pelo menos alguma delas. O fato de termos uma personagem principal cheia de defeitos também ajuda a aproximar um pouquinho mais da realidade. Ah! E a arte é bem bonita – principalmente as coloridas – apesar de esteticamente ser um pouco antiquada pros padrões atuais.

Sobre a edição da JBC, já vale o mérito pela editora ter conseguido publicar a obra. Naoko Takeuchi sempre foi muito exigente quanto à reprodução de Sailor Moon fora do Japão (depois daquele projeto de animação/live-action da DIC, qualquer um ficaria traumatizado mesmo…), fazendo com que levassem 13 anos para conseguir a liberação. Isso mesmo, a JBC tentava a liberação para lançar a história desde quando começou a publicar mangás!

Mas como dizem por aí, há males que vem para bem. Sailor Moon acabou saindo num bom momento da editora e teve o maior cuidado que um mangá já teve por aqui – até mesmo pra agradar a japa rabugenta, claro. A edição escolhida para ser trabalhada aqui foi a “shinsoban”, uma revisão de 2003 da obra original, que de 18 volumes passou a ter 12 (mais páginas por volume).

A JBC optou pelo papel offset para a maior parte do conteúdo do mangá, papel já usado nas ditas “edições especiais” de títulos relançados, como Rurouni Kenshin e Love Hina. Embora não seja o mais adequado para folhear, é uma boa opção de durabilidade quando se avalia o custo-benefício (pelo menos o meu “Cavaleiros do Zodíaco” Volume 1 da Conrad, de 14 anos atrás, tá inteirinho hehe =P). É bom lembrar que o papel que é usado em edições de luxo no Japão não existe aqui no Brasil, o que acarretaria uma importação de custo desnecessário.

A edição abre com 6 páginas coloridas, sendo duas ilustrações de apresentação, uma página de história, página dupla de abertura de capítulo e índice. Não há texto introdutório ou sinopse da JBC no início, apenas o conteúdo original. Essas páginas estão em um papel diferenciado (aparentemente um couché de boa gramatura – desculpe, não sou muito conhecedor dessa área…), que curiosamente também se estende nas duas primeiras páginas em preto e branco.

A tradução está bem localizada para o leitor brasileiro, com tradução de golpes e a sempre polêmica ausência de honoríficos (chan, san, senpai, etc). Particularmente, acho desnecessária a presença desses termos japoneses, embora entenda que há um público que se incomoda. Só que eu fico pensando se um japonês, ao traduzir obras brasileiras, não iria trocar também os nossos pronomes de tratamento pelo padrão deles, ou mesmo acrescentar “chans” onde nem cabia. Sou a favor da política da JBC em deixar o quadrinho oriental como leitura atraente a todos os públicos – o que é essencial quando se trata de um título famoso como Sailor Moon.

Quanto à revisão, pude notar dois pequenos deslizes. Na página 106 há um quadro escrito “meu pés”, quando deveria ser “meus pés”. Já na 205, Usagi exclama “Não é nada isso!!!”, quando provavelmente deveria ser “Não é nada disso!!!”. Detalhes que podem passar despercebidos, mas se tornam incômodos quando lembramos que o mangá passou por várias revisões até ir para as bancas.

Para quem está acostumado com os nomes da versão dublada do anime, herdados da versão mexicana, a JBC tratou de dar notas de rodapé para cada um dos nomes dos personagens, lembrando qual era o seu correspondente. À primeira vista pode parecer confuso, mas logo você se acostuma. Os golpes e frases de transformação também recebem notas com os títulos originais.

Deixo também uma menção honrosa à parte de divulgação do lançamento de Sailor Moon, algo raro no mercado de quadrinhos. Cheguei a ver de perto a propaganda dentro do trem do metrô da linha azul de São Paulo, além de ser do conhecimento de todos o evento organizado na Saraiva. O investimento  no diálogo com o público através de redes sociais é um ponto de destaque da editora nos últimos tempos também – embora nos cause uma saudável vergonha alheia de vez em quando hihi.

Resumindo, ao menos pela visão geral deste primeiro volume, Sailor Moon pode não ser a obra prima dos shoujos, mas tem capacidade para divertir e cativar o público com seus personagens. Vale a conferida, e diria que é uma boa introdução ao mangá para você indicar a um irmãozinho/priminho menor. A versão brasileira está ótima e vale os R$ 16,50 (40 centavos mais barato que a reedição de Rayearth hahaha) – a não ser que você preze muito pelo destino do seu dinheirinho.

Nota de avaliação:
História: 6,5
Arte: 8,0
Edição Nacional: 9,0

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Autor: Leandro “Larc” Oliveira

Meu primeiro contato com Sailor Moon ocorreu quando comprei a primeira edição da revista Herói. Em uma das páginas da clássica revistinha, eles citavam o anime como “os novos heróis do Japão”. A sinopse que descrevia a série e a imagem mostrada (Sailor Moon, Mars e Júpiter) me agradou logo de cara. Com o tempo, fiquei sabendo mais sobre a série e quando se confirmou o lançamento do anime para 1996 no Brasil, fiquei com uma grande expectativa.

Diferente dos outros títulos que estrearam naquele ano mítico, Sailor Moon tinha um carisma ímpar e, em alguns episódios importantes da trama, conseguia prender realmente minha atenção – especialmente pela ótima interpretação de Marli Bortoletto, que cedeu sua ótima voz para a personagem.

Em 1997, não teve mais Sailor Moon (mesmo com a Herói divulgando que sim @_@), mas Yu Yu Hakusho chegou arrebentando com tudo…

A memória afetiva fez com que a repulsa para a versão brasileira feita na BKS (a partir da fase R) fosse imensa, mas a vontade e a curiosidade em torno da história falou mais alto e assim continuei assistindo até o último episódio – com aquela fixa certeza de que, se o anime tivesse sido exibido até o fim, na finada Manchete, seria muito melhor! Resmungos de fã velho a parte, a curiosidade quanto à “verdadeira história” da série, mostrada exclusivamente no mangá, me motivou a retomar o hábito de comprar essas caras histórias em quadrinhos. O anúncio de que a versão lançada por aqui seria o tal “shinsoban” me animou mais ainda. As capas refeitas ficaram lindas, e o traço atualizado da Naoko está bem atraente. Devo confessar que não curto o traço original dessa dona. As meninas são muito esguias e magrelas e se não fossem as retículas que ela aplica no mangá, a coisa seria bem feinha no meu ponto de vista.

A sensação ao ler o primeiro volume do mangá é que a história se desenvolve de maneira bem mais dinâmica. Dinâmica até demais pra quem só conhece Sailor Moon em animação. Ao final dos seis atos apresentados nesse primeiro volume, já vemos um monte de coisa acontecer que levou praticamente metade da primeira temporada! Em alguns momentos eu fiquei até um pouco perdido pois, entre a transformação e a derrota do inimigo, não tem muito blá blá blá como no anime.

Outra coisa que me deixou um pouco perdido foram as hastes dos balões de fala e de pensamento. Há momentos em que não consegui distinguir se estava lendo um comentário de coadjuvantes, da gatinha Luna, ou de uma das personagens centrais da história. Por um instante essa sensação me fez pensar que estou mal acostumado, mas outras pessoas me relataram a mesma experiência.

Como todos já sabem, a JBC está utilizando os nomes originais dos personagens, o que acho a decisão mais certeira para qualquer trabalho de adaptação de um mangá. Todavia, suspeito que muitas pessoas não ligariam se os nomes dos personagens permanecessem como na versão da TV :P. As frases de efeito e golpes foram traduzidos pro português e acho que, se você quer ser fiel na tradução de uma obra, não deveriam ser apenas os nomes originais a serem mantidos.

Achei estranho golpes como “Tiara Lunar Bumerangue” ou “Brilho do Crepúsculo da Lua”. Se justifica essa decisão pelo fato do mangá ter uma tonelada de ataques e poderes inéditos na versão televisiva. Eu tentaria verificar uma coerência entre golpes do anime x golpes do mangá… Por isso sou a favor de golpes e frases de efeito originais ;).

Uma tradução pra lá de sem graça foi o Mamoru (Darien) chamar Serena de “Cabeça de coques”. Ok… Pode ser o que ele falava originalmente, mas o “Cabecinha de vento” tinha muito mais “charme”…  Mesmo caso do “Reino Sombrio” (Dark Kingdom). Reino Escuro, como era mencionado antes de virar Negaverso na TV, soava mais legal.

Placas com ideogramas foram devidamente traduzidas, mas engoliram balão em pelo menos duas. A falha mais tensa foi o fato de não referenciar que o Motoki se chamava Andrew na primeira dublagem da série no Brasil! Para algumas pessoas, esses deslizes (somados a uns errinhos de português!) são imperdoáveis e merecem ser punidos em nome da lua. Não é meu caso, mas já que a empresa tem uns funcionários que gostam de fazer graça a torto e a direito na web, podiam por os caras pra fazer uma revisão da revisão, da revisão, da revisão…

De todos os tipos de papel que já utilizaram no Brasil para publicar mangás, o que mais me agrada é o offset e aquele papel que a Conrad usava nas edições definitivas de Vagabond (papel pólen?). Como uso de papéis desse tipo elevam o preço do mangá, as editoras resolveram considerar esse formato mais “nobre” pra kazenbans ou edições de luxo. Bem, Sailor Moon é um mangá comum com offset. A lua sorriu para Sailor Moon ou isso será uma tendência da editora daqui por diante? Só o tempo dirá…

Por fim, achei a impressão muito boa! O preto e o branco estão bem nítidos, assim como os meio-tons. A gramatura da capa é agradável, e as páginas coloridas estão lindas! Espero que tenham aplicado verniz na impressão para que com os anos, o atrito não deixe as páginas com aspecto esbranquiçado. A colagem também está boa e você pode abrir o mangá todo, sem medo do negócio soltar :P.

Com uma edição nacional acima da média, Sailor Moon pela JBC se destaca por inúmeros aspectos que compensam o valor cobrado na capa. Se você tinha dúvida se valia ou não a pena acompanhar o mangá, eu asseguro que não haverá decepção.

Nota de avaliação:
História: 7,0
Arte: 7,5
Edição Nacional: 9,0

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