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Se não fosse por alguns raros momentos de sensatez de um (no máximo dois) editores das maiores quando o assunto é mangá no Brasil, poderíamos dizer que o evento sobre mangás sediado pelo Ressaca Friends no último domingo foi um verdadeiro show de horrores.

Em uma palestra onde Júnior Fonseca, Cassius Medauar, Beth Kodama e Marcelo del Greco se reuniram pela primeira vez para uma mesa redonda sobre o mercado editorial brasileiro de mangás, o público foi recebido por uma súbita bronca inicial por ser o culpado do mercado não ter shoujos. Marcelo tentou fazer um levantamento, e Cassius prosseguiu com a bronca coletiva que perdurou ao menos os 15 minutos iniciais do evento.

“Um shoujo top não vende metade de um shounen top” alguém profere no palco. “A gente traz shoujo, mas ninguém compra” disse outro. No meio de várias desculpas, sobrava culpa para o consumidor que se dispôs a assistir a palestra em um dia de sol forte, e faltou humildade de alguns assumirem que possuem planos pouco efetivos para melhorar esse mercado.

Cassius, um dos maiores críticos do dia, não deve se lembrar que uma das últimas tentativas de sua editora foi relançar Rayearth a um preço alto ao invés de atender o público que há tempos pede títulos específicos. Na sua tentativa mais recente, trouxe a adaptação em mangá de Tom Sawyer que ninguém pediu e em uma edição de quase 25 reais.

Mas a culpa é sua, já que não engole qualquer coisa que eles pegam e publicam sem o menor planejamento.

A culpa é ainda mais sua, porque provavelmente não vê numa revista feminina, por exemplo, aquele lindo banner de uma obra que é tão a sua cara. Também não deve ver as outras milhòes de propagandas que as editoras fazem para divulgar seus mangás fora das redes sociais. E olha que são tantas iniciativas… elas fazem de tudo para que você saiba que o mangá existe. Não é como se um belo dia você acordasse e ele apenas estivesse na banca e em um post para 10 mil curtidores no Facebook.

A culpa é ainda mais sua (ah, e dessa vez é mesmo) quando você aceita de cabeça baixa que um chefe de publicações vire para falar com toda essa propriedade que a culpa é exclusivamente sua e, quando tem a oportunidade, chega lá para fazer perguntas e solta um “quantas pessoas preciso juntar para título x vir pro Brasil?”.

Falta humildade de algumas, não digo de todas editoras ali presentes, de assumirem que ou não estão dispostas a sair da tão confortável zona dos shonens, ou que não tem o mínimo de competência para planejar o lançamento de um shoujo, e por isso optam por contratos provavelmente baratos, mas que oferecem obras duvidosas e pequenas, ao invés de procurar realmente atender essa demanda, quando lançam algo para usar como o seu “eu tentei”.

Talvez você ache que tudo isso tenha sido desconforto o suficiente para um evento, mas houve quem fizesse questão de proporcionar mais: em um novo assunto, sobre aquisições, Cassius falou que Fairy Tail foi namorado pela Panini, que mesmo oferecendo uma oferta maior, perdeu para a JBC por causa da sua fama de cancelar as obras. Com um certo desconforto gerado, Beth foi ao ponto quando provou que a história não é bem assim, e que a Panini veio se esforçando para se desvincular dessa imagem, e que inclusive a relação com os japoneses hoje é tão boa que eles puderam trazer Ataque dos Titãs.

Marcada por diversas alfinetadas entre a maioria dos convidados ali presentes, a palestra talvez tenha servido para mostrar que essa fórmula tende a ser um desastre se repetida devido ao ego de alguns e o que essas misturas podem provocar.

Cassius gratuitamente incita que a Panini copiou o molde das edições de relançamento da JBC com Berserk em mais uma das suas “brincadeiras”. Curioso mesmo é que quem estreou esse formato foi Marcelo Del Greco com Sakura Card Captors, mas enfim: quando Júnior Fonseca resolveu participar e dizer que todos os mangás da NewPOP saem dessa forma desde o começo, talvez não tenha aguentado a situação que iniciou e disse que a revisão da editora de No Game No Life precisava de melhorias. Mais uma de suas brincadeiras? O público ali presente, que demonstrou por reações, parece ter entendido como um fora. Entendeu errado?

Mais ao final, Beth anunciou um… shoujo! Contrariando muito do que ali foi dito, a editora da Panini – que no meio do debate sobre shoujos foi a única a defendê-lo – contou que novamente eles estão apostando em um título que pessoas se uniram para pedir: Aoharaido. Depois disso pareceu que um ou outro ali presente queria corrigir o que disse no começo, mas bem, passou.

E na esperadíssima sessão de perguntas, tivemos o de sempre: gente perguntando quando título x viria para o Brasil, quando obra y seria relançada, quando viriam mais light novels etc.

Um consumidor ali presente resolveu perguntar para Cassius sobre mangás nacionais, mas não conhecia o BMA e a Henshin Mangá. Em mais uma de suas brincadeiras, Cassius disse que “as pessoas pedem, mas não procuram saber” enquanto o rapaz seguia ali ouvindo sua resposta. Ainda sugeriu uma “googlada” rápida antes que alguém fosse pedir esse ou aquele título.

Esse é um pequeno resumo do que aconteceu em pouco mais de uma hora em que quatro representantes, muitos deles chefes de publicações em suas editoras, se reuniram em um pequeno auditório.

Mas cabe aqui uma medalha de ouro para o brincalhão do dia, Cassius Medauar. Que não poupou esforços para fazer de tudo a JBC pauta ao invés de compartilhar o espaço com as outras ali presentes.

Tenha sido com suas pequenas brincadeirinhas desconfortáveis e, por que não, hipócritas (a revisão da JBC não é também uma das melhores) o Gerente de Conteúdo não perdia uma oportunidade para presentear seus colegas de palco com uma ou outra piadinha. Sobrou até para Marcelo Del Greco quando o assunto era vendagem e foi insinuado que Futari H foi um fracasso. Para quem não lembra, o mangá foi publicado pela JBC ainda na gestão de MDG.

Mas como a gestão de Cassius é perfeita, ele tem todo o direito de rechear seus pequenos alfinetes com essas críticas tímidas. Afinal, sua JBC não tem teto de vidro. Sua JBC não erra como as outras, é perfeita, e não tem culpa quando os shoujos não vendem. Seus mangás não tem erros de revisão, não atrasam, ela nunca cancelou mangás, e ela é inovadora com os relançamentos offset.

Por isso eu proponho um brinde para quem no evento não deixou claro que trata como igual companheiros de trabalho de uma mesma indústria.

Proponho mais um brinde para quem pode chegar e criticar todos, mas quando tem algum mangá criticado por outros, não procura melhorar com isso e insiste nos mesmos erros. Além de achar que quem critica não tem motivos para isso.

E proponho um último brinde a quem tem departamento de marketing, mas que parece só funcionar para redes sociais, sem ter noção de como planejar o lançamento de um… shoujo.

Afinal tem coisas que só a JBC faz por você.