Sexta passada (8/03), completaram-se 2 anos de uma das decisões mais esquisitas tomadas pela Koda Kumi nos últimos tempos. No caso, o lançamento do W Face, par de álbuns de estúdio temáticos soltos simultaneamente. Subintitulados como ~Inside~ e ~Outside~, a ideia era que, cada um, com suas respectivas tracklists, representasse um “lado” da persona dela como cantora. O primeiro, exibindo um sentimentalismo mais interno, pessoal, ilustrado através de várias variações de baladas. O outro, voltado à sua faceta de “act”, de “idol”, performer, explorando ideias mais ousadas, com canções, em sua maioria, ideais para a pista de dança.

Parece bonito no papel, mas o resultado disso foi bem ruim em diferentes âmbitos.

Sendo um dos maiores nomes da música Pop nipônica em relevância para o cenário, alcance de público e vendas das últimas 2 décadas, a Koda Kumi teve seu auge fonográfico em 2006, com o álbum Black Cherry ultrapassando a marca de 1 milhão de cópias vendidas. E os lançamentos dos anos seguintes, embora inferiores em arrecadamento e seguindo numa queda constante, também não fizeram feio. Kingdom (2008), Trick (2009), Dejavu (2011) e Japonesque (2012) venderam, respectivamente, em torno de 612, 391, 211 e 151 mil cópias cada, além de, sempre, conquistarem peak de #1 na Oricon, principal para musical japonesa.

As coisas começaram a ficar preocupantes a partir do Bon Voyage (2014), onde o máximo conseguido em saídas foi em torno de 59 mil cópias. Com o Walk of My Life (2015), o número caiu para mais ou menos 50 mil, embora ambos, ainda assim, tenham novamente atingido o 1º lugar entre os mais comprados em suas semanas de lançamento.

Videoclipe de “Bridget Song”, contando com o mínimo de recursos possíveis, mesmo sendo a faixa de trabalho do CD…

O ano de 2016, para a cantora, rendeu algumas compilações best of, ao vivo e, de material inédito, apenas o single “Shhh!”, lançado digitalmente e como material promocional de turnê, com tal escassez aos fãs sendo remediada só no ano seguinte, com o já citado projeto W Face. Nele, Koda alcançou 2 feitos notáveis: colocar ambos nas posições mais altas da parada japonesa em sua semana de estreia (coisa que ninguém havia conseguido com LPs inéditos desde a Fuji Keiko, cantora de enka e mãe da Utada Hikaru, nos anos 1970) e fazer isso com o recorde negativo de menor quantidade de discos vendidos a atingir o topo até então.

O ~Outside~ arrecadou um pouco mais do que 28 mil cópias, com o ~Inside~ ficando em 2º por menos de 200 cópias de diferença. Foram as piores estreias da cantora em termos financeiros. E este que vos escreve estende isso também para termos criativos, pois ambos os álbuns são fraquíssimos em comparação com o resto de seu repertório.

A tracklist do ~Inside~, em especial, é extremamente esquecível. É reconhecível o esforço em adotar diferentes abordagens sonoras através de baladas, com algumas indo mais para o lado do R&B, outras do Pop/Rock, destacando piano, violão e demais instrumentos nelas. No entanto, é como se todas soassem iguais aos ouvidos, já que nenhuma se aprofunda de verdade em quaisquer vertentes, sendo rasas, pouco cativantes e nem um pouco emocionantes – o que vai ao oposto da ideia central do trabalho, já que ele deveria espelhar o que há por dentro da Koda Kumi como cantora. Uma pena. É mais jogo ouvir a compilação de hits Winter of Love, lançada em 2016, nessa mesma linha, mas com alguns standarts de sua discografia ao longo dos anos.

https://www.youtube.com/watch?v=2z4ChNRkHhY

Vídeo promocional de “W Face”, contando com todo o aparato tecnológico possível para uma produção de grande porte, mas nunca trabalhado oficialmente…

As coisas melhoram um pouco no ~Outside~, menos pretensioso em sua ideia e mais ousado em escolhas instrumentais. Particularmente, acho que rola nele um exagero de misturas, com algumas das faixas contendo variações barulhentas demais para uma ouvida casual. As exceções são a já citada “Shhh!”, que casa bem uma abordagem vocal burlesca com elementos tradicionais nipônicos e sintetizadores Urban, e a canção título, “W Face”, um dance eletrônico imersivo cuja letra e melodia não saem da cabeça.

Infelizmente, as coisas só pioraram para a Koda Kumi após isso. Desde então, ela já soltou mais 2 álbuns, AND e DNA, ambos no ano passado, com vendas ainda menores e sem o plus de conquistar o topo das paradas neles. Até o momento, nenhum lançamento vindo da cantora foi anunciado para esse ano. Resta saber o quão mais baixo esse, que já foi um dos nomes mais relevantes do pop nipônico, consegue chegar, tendo em mente a virada negativa de chave ocorrida no W Face.

[Via Generasia]


Koda Kumi é um dos maiores nomes do J-Pop dos anos 2000. Com quase 20 anos de estrada, já lançou 16 álbuns e nada menos que 63 singles oficiais. Para os gamers das antigas, ela ficou conhecida por interpretar “Real Emotion”, canção tema do jogo Final Fantasy X-2, em 2003. Para os otakus das antigas, sua versão para o tema oficial de Cutie Honey, utilizada no live-action e no OVA de 2004, se tornou emblemática.

Toda sua discografia está disponível via streaming através do Spotify.