Kemurikusa é mais uma bomba do diretor Tatsuki. No caso, o responsável pelo anime-viral de 2017, Kemono Friends.

Ela utiliza o mesmo estilo de animação em cgi “Dollynho” do projeto anterior, mas com uma seriedade fotográfica sombria bem menos atraente aos olhos infantis. O que dificulta bastante seu aproveitamento em larga escala, visto o fiapo de história por trás não ser suficiente para manter a atenção durante longuíssimos 12 episódios.

Se passando num mundo desolado, formado por ilhas envoltas de prédios decadentes abandonados e uma neblina vermelha assassina, temos aqui 3 irmãs superpoderosas que lutam atrás de água para sobreviver em tal cenário: Rin, uma menina com o penteado para o alto e fortes habilidades físicas; Ritsu, a irmã mais velha, com orelhas de gato, sempre calma, que controla uma planta gigante; e Rina, a mais alegre, inocente, que veste roupa de empregada e consegue se multiplicar. As coisas começam a mudar quando, misteriosamente, um garoto aparece em suas vidas, se juntando à viagem de sobrevivência.

Um plot interessante e bem propício a uma porção de situações emocionantes quando bem roteirizadas. Histórias de pessoas explorando ambientes inabitados são leques de possibilidades. O jeito que lidarão com a solidão, o background anterior que levou àquela situação (Guerra? Doença? Apocalipse? Vai saber…), as descobertas que montam um quebra-cabeça. Um dos meus animes preferidos dos últimos anos, Shoujo Shuumatsu Ryoukou (2017), faz isso muito bem ao retratar o dia a dia de duas garotinhas num cenário pós-guerra com takes de tirar o fôlego, sendo sensível, interessante e, acima de tudo, divertido do início ao fim. Infelizmente, o mesmo não ocorre em Kemurikusa.

Isso porque essa ideia inicial ligeiramente simples (um grupo de pessoas explorando um lugar) é pessimamente mal conduzida. Na maior parte do tempo, absolutamente nada de relevante para a história acontece em tela. Os episódios são desnecessariamente arrastados e, a todo momento, há a impressão de que o tempo não passa. Isso até, claro, ao fim de cada um, eles encontrarem algum item narrativo que guiará o caminho dali em diante.

E não é como se histórias sobre o “nada”, obrigatoriamente, precisassem ser ruins. Em outro de meus animes favoritos dos últimos anos, Yuru Camp (2018), o “nada” é preenchido com uma porção de situações episódicas pontuais que tornam a experiência de assistir a um desenho sobre meninas saindo para acampar bem adorável. Mas essas situações episódicas praticamente não existem em Kemurikusa. Segmentos onde eles precisam, vá lá, ir de um ponto a outro por um trilho de trem, mostram eles… Indo de um ponto a outro num trilho de trem, gastando vários minutos só nisso. Faltam diálogos não-expositivos interessantes (a maioria das conversas são explicando coisas do enredo), faltam momentos de aproveitamento durantes essas imensas respiradas entre os pontos chaves da história.

A impressão que fica é que Kemurikusa daria um longa-metragem bacana, cortando-o só com as partes de ação efetiva. Como uma série, todo ele aparenta esticado. Massante demais, esquecível demais, divertido de menos.

https://www.youtube.com/watch?v=oNf5reBuJEI


Esse texto foi feito com base nos 12 episódios de Kemurikusa, disponíveis oficialmente aqui no Brasil através do Prime Video da Amazon, com áudio em japonês e opção de legendas em português.


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