Até um tempo atrás a franquia Ultra poderia ser considerada a menos favorita pelos brasileiros, em comparação às populares produções da Toei Company (como Kamen Rider, Super Sentai e Metal Hero). Esse quadro vem mudando de alguns anos pra cá, provavelmente pela distribuição de filmes, publicações de livros e mangás por estas bandas. O ponto alto foi em 2018 quando o evento Anime Friends anunciou o primeiro espetáculo de Ultraman no Brasil. O sucesso garantiu mais dois novos shows: um no Anime Friends do Rio e outro na edição de São Paulo.

Acompanhei a apresentação na última citada. Antes de começar, já havia uma forte preparação onde apresentadores do evento já combinavam as animações para quando algum personagem específico aparecesse. A plateia estava lotada de pessoas de várias idades. Desde adultos até crianças que paravam pra tirar foto com o banner dos heróis, comprar produtos relacionados e parar pra comer no Restaurante Nebulosa M-78.

 

A ressurreição do demônio

Zero, Seven e Geed encaram o astuto Alien Mefilas

O show Ultraman Heroes: A Vingança de Belial começa com um narrador ressaltando os grandes feitos dos Ultras enquanto eram exibidos flashbacks de filmes e séries recentes dos quais os heróis apareceram. Logo entram no palco alguns kaijus que são vaiados pelo público. Em seguida, aparecem Ultraseven e seu filho Ultraman Zero, que são apresentados pelo narrador e ovacionados quando seus nomes são mencionados.

A batalha é interrompida para apresentar o título e uma reportagem que relata a queda de um objeto não identificado a 50 km de Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. A transmissão é interrompida e vemos Seven e Zero enfrentando os monstros de antes em meio aos prédios da cidade de São Paulo e derrotando-os. Eis que surge nesse momento o Alien Mefilas, que revela que está em busca de um poderoso artefato. Uma nova batalha começa com a chegada de mais três kaijus e a luta passa a ser na arena central (que ficava no meio da plateia). Impetuosamente aparece Ultraman Geed, que ajuda os dois guerreiros Ultra ao som do tema de abertura de sua própria série de TV.

Mefilas revela que o tal artefato caiu no mar. Trata-se da poderosa arma Giga Battle Nizer. O plano é ressuscitar Ultraman Belial e para isso alguns dos guerreiros Ultra deveria ser sacrificado. Zero salva o seu pai e desaparece. Seven e Geed são encurralados por Belial. Quando tudo parecia perdido, aparecem o primeiro Ultraman e Ultraman Mebius. Eles surgem na arena central com grandiosidade. Um detalhe não menos importante é que Ultraman apareceu de capa, assim como nos filmes recentes, despertando a grandiosidade de um grande ícone da cultura pop japonesa. Mebius interage com o público pedindo para que o nome de Ultraman fosse exaltado para despertar a luz. Assim, Seven e Geed ressuscitam e são ovacionados pelo público, que entra cada vez mais em delírio. Os quatro guerreiros enfrentam a horda de monstros convocada por Belial.

Belial retorna do inferno para conquistar a Terra

A batalha individual que mais chamou atenção foi Ultraseven contra Mefilas diante de um pôr do sol, remetendo à sua luta contra Alien Metron no episódio 8 do clássico de 1967. Geed também teve destaque por enfrentar seu próprio pai mais uma vez. Outra surpresa acontece quando Another Day Comes, tema de encerramento de Ultraseven X, toca durante a luta de Mebius.

Man, Seven e Mebius auxiliam o jovem Geed, enquanto Belial se transforma em Belial Atrocious. Ao seu lado está o gigantesco monstro Arch Belial (do game de fliperama Ultraman Fusion Fight! Capsule Fusion, de 2017). Sem chance, os quatro Ultras apelam para o público para invocarem Ultraman Zero e enviar a energia para que ele retorne. O filho de Seven volta triunfalmente ao som da versão instrumental do tema principal do filme Ultraman Zero: A Vingança de Belial. Após os demais heróis se unirem para derrotar Arch Belial, Zero enfrenta Belial e interage com a plateia gesticulando os braços para que o público entre no embalo (mais ou menos como acontece nos ringues). Belial é derrotado mais uma vez.

Os cinco Ultras se encontram em São Paulo (ou pelo menos estão diante de um telão com maquetes). Seven comemora a vitória de Zero, enquanto Ultraman diz que levará a Giga Battle Nizer de volta ao Planeta da Luz. Seven avisa que manterá a guarda espacial para impedir que Belial não volte nunca mais. Geed agradece a Seven e diz que “os amigos da Terra” os ajudaram. Mebius agradece ao público e é retrucado por Zero, que reconhece que os verdadeiros heróis não foram eles e sim os terráqueos, e se compromete a proteger o nosso planeta e o futuro. O espetáculo termina com os Ultras passeando pela plateia e saudando o público.

 

Do outro mundo

Mebius e Ultraman recorrem aos espectadores para invocar a luz

Com o perdão do trocadilho, Ultraman Heroes conta com uma tecnologia de um planeta mais avançado que a Terra. Uma dádiva da Nebulosa M-78. A sensação é de estar assistindo a uma nova aventura mais de pertinho. Quando você menos espera, um kaiju já disparou um raio que aparece no telão. Mais incrível ainda é a sincronia dos ataques. Os dublês tem que estar na marcação correta para o golpe sair no telão com precisão.

A história tem apenas 35 minutos, que foram suficientes para extasiar quem testemunhou essa batalha do bem contra o mal. Pode ser tirada como proveito para ensinar às crianças sobre a importância da obediência aos seus pais. É que Zero continua sendo meio cabeça-dura ao ouvir os conselhos de seu pai e age com inconsequência nos embates. No mais, foi um fanservice com uma história básica para jogar os Ultras para enfrentar Belial e alguns monstros clássicos da franquia da Tsuburaya. Não que isso seja um problema, veja bem. O conjunto da obra cativou em cheio os espectadores que ficavam de boca aberta, se impressionavam e até choravam.

Mefilas se apresentou com uma voz esquisitíssima

Os pontos altos do show também são as batalhas na arena central e o momento em que os personagens dialogavam com os espectadores. É como algum dos heróis falando com a gente do outro lado da tela, mas eram os próprios que estavam diante de nós. Algumas vaias e aclamações já eram previamente combinadas. Porém, o público entrava em êxtase mesmo em praticamente todo o momento. Seja nas cenas cruciais, de chegada dos heróis e até de invocação a eles.

Quanto às vozes, algumas combinaram e outras nem tanto. A voz do Zero era jovem demais para o papel e tinha um jeitão bem carioca. Poderia ser escalada para o Geed, que teve uma voz muito adulta para a idade do personagem. A do Mefilas era a mais esquisita, um misto de Kiko (do seriado mexicano Chaves) com B2 (do Banana de Pijamas) e com sotaque carregado mais que o normal. Ficou legal a sacada dele falar alguns termos em inglês, mas a interpretação ficou a desejar. Contudo, as demais vozes ficaram excelentes. Principalmente a voz de Man, Seven e Belial.

Belial Atrocious e o monstrengo Arch Belial

Termos como “singular” ou “maravilhoso” ainda é pouco para descrever a magnitude do espetáculo. Ultraman Heroes: A Vingança de Belial foi um show para ser assistido junto com fãs ou mesmo com a família. Foi um grande acerto do Anime Friends em apostar em mais esse momento excepcional, que ajudou a consolidar mais uma vez a marca Ultraman no Brasil. Não teve como não vibrar e não se emocionar.

A luz dos Ultras está anos-luz de se extinguir.

SCHWATCH!!!