Faleceu pouco antes das 18h deste dia 27 de julho (6h no horário de Brasília) mais uma das vítimas do incêndio criminoso no estúdio Kyoto Animation, ocorrido no último dia 18. O homem, que não teve a identidade revelada (a polícia japonesa aguarda todos os funerais para divulgar os nomes dos mortos), tinha por volta de 20 anos de idade e estava hospitalizado desde o incidente.

No dia da tragédia, a vítima escapou sozinha do prédio em chamas. O homem, porém, sofreu sérias queimaduras e, pouco mais de uma semana hospitalizado, não resistiu. O número total de mortos agora sobe para 35, sendo 21 mulheres e 14 homens. Outros 33 ficaram feridos, sendo que 10 seguem no hospital em estado grave.

Sentai Filmworks, empresa americana que atua com o licenciamento de dezenas de animes, abriu já no dia 18 uma campanha de arrecadação através da plataforma GoFundMe. Em uma semana, a meta de 750 mil dólares foi superada em mais que o dobro, ultrapassando 2,2 milhões de dólares. A campanha seguirá até o dia 31 de julho e garante esforços para entregar cada centavo aos envolvidos na tragédia. Clique aqui para acessar a página da campanha.

 

O 2º maior assassinato em massa no Japão

Era por volta de 10h30 da manhã do dia 18 de julho, no bairro de Fushimi, em Kyoto. O barulho de uma explosão assustou a vizinhança do Estúdio 1 do Kyoto Animation, edifício principal onde várias obras importantes foram produzidas. Um incêndio se espalhou rapidamente, levando 5 horas para que os 30 carros de bombeiros que se mobilizaram para o local pudessem cessar as chamas. Elas só se apagaram por completo às 6h20 do dia seguinte.

A tragédia se originou de um crime. O suspeito, um homem de 41 anos identificado como Shinji Aoba, teria espalhado gasolina pelo prédio, antes de atear fogo aos gritos de “morram!“. Ferido no incidente, ele confessou seus atos e foi levado ao hospital. Até o momento, a polícia ainda não o deteu e o interrogou, pois aguarda a sua recuperação.

Ainda em sua confissão do momento, o suspeito teria dito que foi motivado pelo fato de que o KyoAni teria roubado um de seus romances. Além da produção de animações, o estúdio também mantinha uma editora de novels, recebendo novos projetos com frequência em um concurso conhecido como Kyoto Animation Awards. Entretanto, o presidente da companhia, Hideaki Hatta, afirma nunca ter ouvido falar do sujeito.

Esse tornou-se o segundo maior assassinato em massa no Japão desde os horrores da bomba atômica na Segunda Guerra Mundial – atrás somente de outro incêndio que vitimou 41 pessoas em 2001. Todos os materiais usados nas animações e os computadores foram perdidos. Os mortos já foram totalmente identificados pela polícia e devem ter seus nomes revelados em breve.

Em entrevista ao jornal Mainichi Shinbun, a família da colorista Naomi Ishida confirmou que ela estava entre as vítimas fatais. A artista de 49 anos trabalhava no estúdio desde o ano de 1993, quando era comum que fossem recebidos trabalhos terceirizados – foi aí que ela participou de obras comoInuYasha, Doraemon e Shin-Chan. Em The Melancholy of Haruhi Suzumiya, série de 2006 que destacou o nome do KyoAni, ela é creditada como a principal designer de cores. Free!Violet Evergarden A Voz do Silêncio são outras obras que tiveram participação de Ishida, dentre vários títulos.

 

Um estúdio raro

Fundado em 1981 pelo casal Yoko Hatta e Hideaki Hatta, o Kyoto Animation tornou-se reconhecido por todos que acompanham a indústria dos animes não só pela excelência de suas obras, mas por nadar contra a maré dos abusos do meio. São frequentes os casos de animadores mal pagos no Japão, com extensas cargas de trabalho e horas extras não remuneradas por contratos temporários.

No KyoAni o cenário era outro. Trata-se de um estúdio que só possui funcionários contratados, nada de freelancers. É também o local que mais se preocupa em ter funcionárias mulheres, reflexo também em suas séries e filmes, que trazem protagonismo feminino com frequência.

Full Metal Panic! Fumoffu | 2003, Kyoto Animation

Após prestar serviços a obras famosas de outros estúdios, como InuYasha, Cowboy BebopPokémon e até mesmo o clássico Akira, o KyoAni começou a investir em suas próprias animações em 2003, com o especial para vídeo Munto e a série de TV Full Metal Panic! Fumoffu (série essa que foi exibida aqui no Brasil pelo extinto canal pago Animax). Nessa primeira leva dos anos 2000, destacam-se também The Melancholy of Haruhi Suzumiya (2006), Lucky Star (2007), Clannad (2007) e K-On! (2009).

Já na última década, muitas obras de destaque também chegaram oficialmente ao Brasil, algumas inclusive na TV aberta. Na Crunchyroll, Free!Miss Kobayashi’s Dragon Maid Sound! Euphonium são os representantes do KyoAni (os dois primeiros também foram exibidos pela Rede Brasil de Televisão). A Netflix proporcionou a primeira transmissão simultânea de um anime com dublagem em português, com a série original Violet Evergarden. A plataforma também traz o tocante filme A Voz do Silêncio, baseado no mangá publicado por aqui pela NewPOP Editora – que também trouxe os quadrinhos de K-On!

[Informações via NHK]