A série original de Garo completou 14 anos de sua estreia original nesta segunda (7) e a data teve um marco um tanto inusitado no fandom brasileiro. Como noticiamos aqui, o Amazon Prime Video lançou Kiba: A História do Cavaleiro Negro neste fim de semana. O segundo filme da franquia Garo é distribuído no Brasil pela Sato Company, que também detém alguns títulos da mesma.

O tal fato inusitado é que a distribuidora teria utilizado a versão brasileira a partir de um áudio de uma fandublagem realizada em 2014 pelo grupo Studioycthus. Em comunicado nas redes sociais, o grupo se pronunciou sobre a utilização não-autorizada:

Nós, da Studioycthus, viemos por meio desta declarar o nosso repúdio a apropriação indevida de material e trabalho. Hoje fomos surpreendidos por denúncia de nossos inscritos que o filme fandublado por nós “KIBA: A história do cavaleiro negro” está sendo transmitido na plataforma de Streaming paga “Amazon Prime” através do nome da Sato Company, sem a devida permissão, comunicação ou acordo com nossa administração. Nunca é demais frisar que somos um estúdio de FANDUBLADORES, nosso trabalho é SEM FINS LUCRATIVOS, DE FÃ PARA FÃ. Em nenhum momento permitimos a transmissão de nossos serviços para streamings pagos, ainda mais sem a expressa comunicação a toda a equipe envolvida, desde as vozes até equipe de mixagem. Estamos nos dispondo a esclarecer eventuais dúvidas dos nossos inscritos que venham a aparecer, e deixamos claro que estamos tomando todas as providências cabíveis, inclusive em âmbito legal, para esclarecermos e consertarmos este mal entendido. Queremos FRISAR que NÃO ESTAMOS REIVINDICANDO NENHUM DIREITO DE DUBLAGEM, apenas esclarecer aos nossos seguidores e fãs da obra que a fandublagem não foi feita com ânimos de lucro. No mais, agradecemos a atenção de todos, agradecemos o carinho e dedicação de nossos inscritos, e pedimos para que continuem monitorando e nos mantendo informados caso aconteça mais algum imprevisto desse gênero.

Consequentemente, o assunto viralizou e causou surpresa e revolta entre o público.

 

Kiba: A História do Cavaleiro Negro | Divulgação

Análise

Nós apoiamos os lançamentos de materiais oficiais e sabemos que um ou outro título pode estar passível de falhas, como qualquer outro produto. Mas fica difícil defender algo em caso de utilização injustificada. Não vou entrar no mérito da questão sobre as fandublagens serem ou não convenientes (até porque o filme sequer estava licenciado por aqui há cinco anos) nem sobre sua qualidade. Ainda assim, esse caso não é muito diferente de fansubs que copiam episódios legendados de serviços de streaming e assumem autoria sem produzir.

O fato é que desde a extinção da Rede Manchete, o mercado brasileiro de tokusatsu passa por algumas sobrevidas e ainda enfrenta dificuldades com a “vilã” que atende pelo termo pirataria. A própria Sato Company sofreu com esse mesmo problema em determinados casos, como a exibição ilegal de episódios de Jaspion e outras séries tokusatsu dos anos 1980 no YouTube e em páginas de redes sociais, por exemplo.

Até o fechamento desta nota, a Sato não se pronunciou sobre o caso. Em tempo, como uma distribuidora que pretende revitalizar o cenário do tokusatsu no Brasil e ainda deseja produzir um filme nacional de um dos maiores fenômenos japoneses no Brasil, ela deve prezar pela coerência e dar bom exemplo para o público que consome seus materiais licenciados.

Nem sempre o público pode ser agraciado por uma boa dublagem, que, por sinal, é cara. Mas existem casos em que é melhor não exceder limites (financeiros) do que aderir a alternativas de último caso que podem comprometer a imagem de uma companhia. Essa alternativa de inserir uma dublagem feita por fãs não pega bem e tal episódio se assemelha a um traumático caso de 2009 onde a empresa de home-video Focus Filmes resolveu utilizar imagens de um material alternativo de Jiraiya para o lançamento em DVD. Quem acompanhou o caso na época sabe que a novela terminou sem recall, e ainda houve um relançamento que jamais compensou o prejuízo de quem comprou a primeira box em pré-venda.

Em tempos de internet e acesso a informação rápida, não há mais como recorrer a meios alternativos para poupar custos. É um tiro no pé. O que é necessário para a credibilidade no mercado é planejamento estratégico, estudo de mercado e qualidade. Sem esse tripé, os resultados podem ser frustrantes, para não dizer catastróficos.

Quem perde com tal falha é o público que há tempos vem sonhando com um material de primeira. E o que mais pesa nesse caso é que os heróis do tokusatsu sempre transmitiram valores éticos. Já passou da hora de aprendermos com eles.

ATUALIZAÇÃO (19:17): A Sato Company, por meio de suas redes sociais, se pronunciou sobre o ocorrido: