O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, está tentando alterar um lei que afeta o funcionamento do Ministério Público do país, mas a medida trouxe diversas críticas. Os opositores argumentam que a proposta, na prática, acabaria com a divisão entre os poderes no governo, deixando o ministro mais forte frente às outras instituições (basicamente, acusam ser uma espécie de golpe de Estado).

A proposta se relaciona com o atual chefe da promotoria de Tóquio, Hiromu Kurokawa, promotor próximo de Abe e frequentemente acusado pela opinião pública de proteger o premiê japonês de diversos escândalos. Segundo a “Lei da Promotoria Pública”, Kurokawa deveria se aposentar ainda em 2020, aos 63 anos.

A revisão aumentaria a idade de aposentadoria compulsória para 65 anos, mas possibilitando que o Gabinete do Primeiro-Ministro estenda ainda mais esse tempo. Segundo a oposição, a medida visa colocar Kurokawa no cargo de Procurador-Geral, ampliando a proteção de Abe. A proposta vem no meio do estado de emergência que o Japão passa devido ao coronavírus.

Durante os últimos dias, a hashtag #検察庁法改正案に抗議します (“sou contra a alteração da Lei da Promotoria Pública”) dominou o Twitter japonês, ultrapassando 6 milhões de tweets. A reação foi tão forte que causou um fenômeno raro: diversas pessoas importantes na indústria de entretenimento começaram a se posicionar.

É notável como celebridades japonesas evitam falar publicamente sobre política por medo de represálias, fator que possivelmente leva muitos fãs internacional a acreditar na suposta “apolitização” da cultura pop japonesa. Mas há também um questionamento da efetividade desse tipo de conduta, como pontua a mangaká Peko Watanabe.

Um dos maiores ícones a se manifestar certamente foi a cantora e modelo Kyary Pamyu Pamyu, que apenas postou a hashtag com uma imagem explicativa para seus 5 milhões de seguidores, mas deletou a postagem depois, frente a críticas dos fãs. Mas ela não foi a única artista a tomar uma posição nesta crise.

Entre outros nomes estão o renomado mangaká Junji Ito; Sumito Owara, criador de Eizouken; a letrista Neko Oikawa (escreveu a letra da abertura de Evangelion); Megumi Ogata, voz original de Ikari Shinji em Evangelion; Mari Yamazaki, autora de Thermae Romae e Extra Olympia Kyklos; a atriz e ex-AKB48 Sayaka Akimoto; Yuki Suetsugu, a criadora de Chihayafuru; Yasuhisa Hara, mangaká de Kingdom e a autora de Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas, Shiori Teshirogi – mais nomes podem ser checados aqui.

O governo afirmou que não vai recuar da proposta, mesmo frente a todos os protestos. A base de apoio de Abe inclusive minimiza a movimentação.

Atualizado em 12 de maio, às 12h05, com informações do jornal Asahi.

Fonte: Nikkan Sports, Unseen Japan, kazuuuuuuuus