O mangá Jujutsu Kaisen levou ao início de uma polêmica discussão na Coreia do Sul sobre a relação de um nome à um período histórico sensível na relação entre coreanos e japoneses. A situação foi exposta na rede social Reddit pelo usuário itadorinatsuki, que se identifica como coreano e comunica que as pessoas de seu país criticam veementemente a escolha feita por Gege Akutami (o autor).

Imagem: Mei Mei, personagem de Jujutsu Kaisen.

A personagem Mei Mei. | Divulgação: Shueisha.

É por causa de um golpe da personagem Mei Mei, que ainda não apareceu no animê da série.

Ela tem um ataque chamado Bird Strike, escrito em kanji da mesma forma que a palavra “kamikaze” (神風), com uma história bastante antiga no Japão.

O termo surgiu originalmente no século XIII, quando os mongóis tentaram, duas vezes (1274 e 1281), invadir o Japão.

Contudo, tufões e fortes tempestades fizeram as tropas inimigas recuarem – passou-se então a descrever esses eventos como kamikaze, que literalmente significa “ventos divinos”, por terem “salvado” o país.

Na 2ª Guerra Mundial (1939-1945), a palavra ganhou uma conotação diferente, por um sentido metafórico – este sentido é mais conhecido internacionalmente.

Os pilotos de combate da força aérea imperial do Japão, que nos momentos finais da Guerra do Pacífico (1941-1945) realizaram ataques suicidas contra navios dos Aliados (países enfrentando o Eixo), foram chamados de kamikaze por serem considerados como “os ventos divinos que salvariam o Japão”.

Importante notar que a maioria deles era formada por estudantes recrutados em universidades, geralmente pressionados a se voluntariarem, além de escravos coreanos e chineses servindo nas tropas japonesas de forma forçada.

“(…) Acho que a razão pelo qual o fandom coreano está chateado é porque há muito tempo alguns coreanos também foram forçados a se juntar aos kamikaze e se sacrificarem”, escreveu o usuário.

Na Coreia do Sul, uma hashtag acusando Akutami de ser um apoiador do imperialismo japonês também entrou nos assuntos do momento no Twitter. Nas publicações, muitos fãs de Jujutsu Kaisen afirmam que se sentem traídos e ofendidos com o uso deste nome na técnica da personagem.

As relações entre os dois países são tênues desde a ocupação japonesa da Coreia (formalmente de 1910 a 1945), época em que o Japão impôs uma série de leis visando extinguir a cultura coreana e iniciar uma assimilação cultural obrigatória, incluindo o banimento da língua coreana, literatura e canções nacionais.

Durante a Guerra do Pacífico, muitos homens coreanos também foram escravizados pelo exército imperial japonês. Neste mesmo período, muitas mulheres e crianças foram estupradas. É bastante conhecido o caso das mulheres de conforto: moças, geralmente coreanas ou chinesas, forçadas a servir como acompanhantes sexuais de militares japoneses.

O Japão diz já ter pago pelos crimes cometidos naquela época, mas muitos países, principalmente do leste asiático, defendem que as posturas do país não demonstram arrependimento e, por isso, esperam atitudes mais assertivas quanto ao reconhecimento desses crimes.

Vale lembrar, por exemplo, que o Japão pediu recentemente para uma estátua lembrando as mulheres de conforto ser retirada de Berlim, pedido este que incomodou coreanos e chineses justamente por parecer um “apagamento histórico” do evento.

No ano passado, o autor de My Hero Academia também se envolveu em polêmica com o nome de um vilão, ao fazer referência às vítimas chinesas do exército japonês, que na 2ª Guerra foram submetidas a experimentos biológicos. O caso resultou na suspensão temporária do mangá na China e Coreia, e mudança do nome daquele personagem.

Na época do caso de My Hero Academia, o JBox conversou com uma especialista em relações internacionais para entender melhor o assunto.


Fonte: Comic Book


Imagem: Yuji e outros personagens de 'Jujutsu Kaisen'.

A obra de Gege Akutami é seriada na Shonen Jump,Sda editora Shueisha, desde 2018, com 14 volumes encadernados até o momento. O mangá tem publicação pela Panini no Brasil.

A série inspirou uma animação, cuja primeira temporada estreou em 2020. A Crunchyroll exibe o animê legendado simultaneamente com o Japão – mas há também uma dublagem expressa da produção na plataforma.

Na história, Yuji Itadori é um estudante do colegial que vive com seu avô, em Sendai. Apesar do seu talento inato para o esporte, ele evita a equipe de atletismo e decide ingressar no Clube de Pesquisa Oculta, no qual pode relaxar, sair com seus amigos mais velhos e visitar regularmente seu avô no hospital.

Yuji logo descobre, entretanto, que o ocultismo é tão real quanto parece e, após receber mensagens misteriosas do seu avô, no leito de morte, é confrontado pelo feiticeiro Megumi Fushiguro, que o informa que há um talismã amaldiçoado de alta qualidade em sua escola (com o qual Yuji fez contato recentemente).