Na semana passada, a editora NewPOP realizou um evento para divulgar suas novidades para o ano de 2021. A NewPOPWEEK, como foi chamada, trouxe consigo a considerável marca de 21 novos títulos revelados pela editora. Mais do que a grande quantidade, o que chamou a atenção foi a boa leva de obras de expressão dentre os anúncios.

Recapitulando, os anúncios foram:

Imagem: Capa japonesa do volume único de 'Links'.

Divulgação: Libre Shuppan.

Poderíamos dividir os 21 títulos em grupos, ajudando a identificar o que imaginamos ser o propósito da NewPOP com cada publicação. Por exemplo, os 9 primeiros, todos revelados no dia 25 (o Bl Day, segundo a própria editora), são direcionados a um público que vem se tornando cada vez mais cativo da empresa: leitores de boys’ love.

Dentre eles, destacaria Links, da autora do já consolidado Given, e Força, Nakamura! – os mais conhecidos e provavelmente com maior potencial de vendas.

Numa outra perspectiva estão os “clássicos“: os dois mangás de Go Nagai e os Kamen Rider, de Shotaro Ishinomori (mangaká de importância ímpar e ainda inédito no Brasil, que terá também um mangá de sua autoria publicado pela Pipoca e Nanquim).

Trata-se de obras de outra ordem, dedicadas a um público para o qual a NewPOP sempre acenou com lançamentos esparsos, como os volumes de Osamu Tezuka. As 4 novidades dos dois “sucessores” de Tezuka são um passo a mais nessa direção, agora mais bem definida e norteada por um selo: o Shogum.

Aliás, os títulos de boys’ love também fazem quase todos parte de um selo, o Pride. Esse movimento é importante para a comunicação entre leitor e empresa, pois formaliza, entre as duas partes, o que até então era apenas uma espécie de “palavra de honra” (de que a editora continuaria a publicar bl). A criação de um selo serve, portanto, para firmar um compromisso.

Imagem: Capa prévia de 'Rei de Lata' pela NewPOP.

Divulgação: NewPOP.

Outros dois títulos chamam a atenção: os nacionais Rei de LataLebre e Coelho. Os mangás de Jefferson Ferreira e Alec contam com um apelo enorme nas redes sociais. Foram, por muito, os anúncios que mais repercutiram na cobertura feita pelo JBox e por colegas como o Chuva de Nanquim no Twitter.

Esse respaldo do público no pós-anúncio pode ser considerado um marco no que diz respeito à recepção do leitor de mangás para com os trabalhos de “mangakás brasileiros”. É a primeira vez que títulos nacionais “roubam a cena”, sobretudo no meio de gigantes como Go Nagai e Shotaro Ishinomori.

A Débora, da NewPOP, chegou a comentar durante a live a sua surpresa diante da boa recepção dos que assistiam e comentavam o assunto nas mídias. Sinal de que temos hoje um leitor mais maduro e menos preconceituoso? Quero acreditar nisso.

Aliás, diria que esse princípio de sucesso das duas obras, que ainda não têm previsão de lançamento, é mérito da editora e também de outras empresas, como a JBC. A criação do Start! e do JBCStudios foram um passo importante para preparar esse terreno. A editora da Vila Mariana é a que há mais tempo tem demonstrado interesse nas produções nacionais, vide a iniciativa Brazil Manga Awards, de 2017, por exemplo.

Quero entretanto destacar que a NewPOP, a partir de sua própria experiência no mercado e, provavelmente, levando em conta também os exemplos vizinhos, soube trabalhar para que tais anúncios fizessem barulho — coisa que não vimos em outros momentos.

O primeiro aspecto a se considerar é o próprio fato de terem escolhido dois títulos com uma popularidade e aceitação prévia bem grande. Muita gente já conhecia os mangás. Além disso, a editora de Junior Fonseca soube aproveitar o momento em que havia reunido a atenção de boa parte do público consumidor de quadrinhos japoneses.

Outro fator a se considerar é a maneira como a NewPOP vem obtendo êxito em criar uma identidade. A editora está, a cada ano, moldando a si mesma a partir daquilo que o seu público espera. Também por isso a boa repercussão dos anúncios.

Foram, na maioria, coisas “com a cara da NewPOP”, o que pode ser substituído por “que o seu consumidor esperava.” Portanto a editora também tem os seus méritos no caso da recepção aos nacionais, porque vem tentando convencer o seu leitor de que a nacionalidade pouco importa. Ela lança mangás, manhwas, webtoons e, agora, quadrinhos brasileiros (torçamos para que dessa vez não seja um momento pontual, como em outras oportunidades).

Imagem: Capa do 2º volume provavelmente dinamarquês de 'Saint Onii-san'.

Divulgação: Egmont.

Saint Onii-sanShuumatsu no Valkyrie foram duas gratas surpresas. O primeiro pouca gente imaginava ver no Brasil, já que se trata de algo um pouco “diferente” do que estamos acostumado a ver aqui e o hype gerado pelo animê não foi aproveitado para facilitar sua divulgação, lá em 2013.

Aquele talvez fosse o momento mais propício para trazer a comédia de Hikaru Nakamura, mas a NewPOP resolveu arriscar agora. Imagino que a editora planeje dar continuidade a um segmento ao qual passou a dar mais atenção com GTO.

O seinen de porrada é daqueles que estamos pouco habituados a ver nas mãos da empresa (a publicação de Episódio G também entra aqui, pois pegou todo mundo de surpresa), que sempre se colocou como comprometida com uma linha mais “alternativa” .

Era natural imaginar que Shuumatsuviria, mais cedo ou mais tarde, por alguma das concorrentes, sobretudo por conta do animê que estreará esse ano no Japão.

Se conseguir lançá-lo no timing mais adequado, aproveitando a alta da série, é provável que terá grande retorno.

Agora, caímos no que será o grande desafio da editora para se colocar, de vez, em pé de igualdade com a concorrência. Essa nova leva de títulos muda o patamar da empresa, que até então se situava um pouco abaixo das duas principais editoras do país. Pode-se dizer que, hoje, sob esse aspecto, a NewPOP não deve nada às outras.

Dentro de sua proposta, está se saindo muito bem e avançando em licenças cada vez mais significativas. Do ponto de vista das licenciantes, a casa de Go Nagai no Brasil passa tanta confiança quanto JBC e Panini, deixou de ser uma “novata”. Contudo a editora tem problemas que precisa corrigir com certa urgência.

O principal desafio para que essa nova visão se concretize é a regularidade. Não é novidade que a NewPOP possui uma dificuldade quanto à periodicidade de seus lançamentos. O próprio Junior admite isso em várias oportunidades, como fez várias vezes durante as lives da semana passada. Para conquistar a confiança do leitor, a regularidade das publicações é tão essencial quanto a qualidade da obra e do material utilizado na edição.

Imagem: Capa japonesa do 1º volume da novel 'Me Apaixonei Pela Vilã'.

Divulgação: GL Bunko/Ainaka.

Saber com antecedência quando os volumes de determinado título estarão disponíveis para a compra é imprescindível, sobretudo hoje em dia, em que colecionar mangás se tornou um exercício de organização financeira.

É frustrante ficar meses sem um número novo de uma série que você gosta de acompanhar.

Na mesma linha de raciocínio, a NewPOP também precisa agilizar a questão dos lançamentos de volumes iniciais de seus títulos.

Atualmente, ignorando os 21 recém-anunciados (por motivos óbvios), a editora tem 13 obras anunciadas sem previsão de chegada: Aku no Hana, Category Freaks, Corpse Party Book of Shadows, Devil Ecstasy, Gagoze, Ilha dos Cachorros, Lodoss War (light novel), On or Off (manhwa), Puella Magi Madoka Magica: Homura Revenge, Solo Leveling (novel), The King of Fighters: A New Beginning, Yamato 2199 e Zero no Tsukaima (light novel).

Cabe mencionar que Category: Freaks Gagoze foram uns dos primeiros mangás anunciados pela editora, lá em 2012. Homura Revenge e Corpse Party Book of Shadows foram revelados em 2018. Sempre há cobrança do público quanto a esses títulos, que parecem cada vez mais distantes de serem lançados de fato.

Enfim, o ano da NewPOP começa muito promissor. Os anúncios da última semana, ao meu ver, colocam de vez a editora no páreo entre as grandes (Panini e JBC), o que com certeza será muito importante para o mercado daqui para frente. Contudo, Junior Fonseca e sua equipe têm que responder o mais rápido possível a algumas demandas de seus leitores que parecem esquecidas. O respeitável e imponente acervo de obras que a NewPOP detém agora precisa ser acompanhado por uma postura proporcionalmente profissional, com periodicidade regular e previsões de lançamento mais definidas.

Deixo aqui o meu voto de confiança, junto à minha torcida. O mercado brasileiro só tem a ganhar.


O texto presente nesta coluna é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.