Definitivamente um dos gêneros de jogos arcade mais populares entre os anos 1980 e 90 foram os shoot’em up, jogos que trazem um gameplay onde o objetivo é sair atirando em tudo que passa pelo seu caminho de forma desafiadora. No Brasil, os shoot’em up eram conhecidos principalmente como “jogo de navinha”, devido ao gênero contar, principalmente, com naves controladas pelo jogador.

No entanto, se pensarmos nesse estilo de jogo atualmente, o que vem em mente não é necessariamente uma nave atirando no espaço, principalmente entre os otakus, considerando que um dos grandes nomes do gênero reconhecido até hoje é a série Touhou

No entanto, antes mesmo de Touhou, jogos com personagens fofas atirando já estavam ganhando força. A série Cotton, inclusive, foi uma das pioneiras na formação de um novo subgênero, chamado “cute’em up”.

Usando um aspecto fofo e até um tanto melancólico, a franquia Cotton nasceu no início dos anos 1990 e teve destaque por alguns anos. E, mesmo que tenha precisado de muitos anos para ser localizada oficialmente, ela já era adorada pela comunidade.

 

Reprodução/ININ Games

Dois dos jogos da franquia são Cotton 100% e Panorama Cotton, que, agora em 2021, chegaram oficialmente ao ocidente pela ININ Games… com alguns poréns.

Apesar de estarmos acostumados com o fato de que a maioria dos jogos de nicho não são localizados para português, é triste ver quando um lançamento oficial acontece mas não é traduzido sequer para o inglês. Sim, ambos os títulos foram lançados com textos da história completamente em japonês. 

É ótimo a maior facilidade para obter os jogos por esse lado do mundo, mas decepciona um pouco a falta de opção de algum idioma mais familiar para a maior parte do público ocidental. Claro, nossa língua também não é inglês, mas é pra onde boa parte do público recorre.

No entanto, os jogos não vieram totalmente “intocados”. Através de um sistema de emulação dentro dos programas, é possível conseguir uma considerável customização. Os ports fornecem a opção de mexer nos gráficos, permitindo jogá-los com um aspecto visual mais “atual” ou então emular a sensação de uma TV de tubo, local que os títulos foram pensados para jogar (e ficam até mais bonitos assim).

Tela de ‘Panorama Cotton’ em gráficos de alta definição | Reprodução/ININ Games

 

Tela de ‘Panorama Cotton’ simulando a definição de “TV de tubo” | Reprodução/ININ Games

Além da customização gráfica, ambos se adaptam aos padrões de muitos relançamentos de games antigos para plataformas atuais: é possível facilitar bastante a experiência. Os shoot’em up como um todo sempre tiveram a fama de contarem com grandes desafios de dificuldade, mesmo quando contam com a opção de alterá-la, tanto que não é à toa que vários ficaram conhecidos como “bullet hell”, porque podem realmente ser um inferno.

Cotton 100% e Panorama Cotton possuem uma opção de jogar com três facilitadores. Além de contar com “save states”, ferramenta que permite ao jogador salvar e carregar no momento que quiser, é possível também “rebobinar” para refazer algo que possivelmente tenha causado uma morte ou algo semelhante. Por fim, existe até mesmo a opção de “trapaças”, dando coisas como tiros infinitos, vidas infinitas, invencibilidade e por aí vai. As trapaças, no entanto, não são entregues logo de cara. É preciso terminar primeiro os títulos no modo desafio para desbloqueá-las. O modo desafio se trata apenas da versão clássica do game que não permite o uso de nenhum dos facilitadores.

Bom, é ótimo que eles tenham ganhado novas funções e que, felizmente, seja possível aproveitá-los mesmo sem a história. Apesar de ser extremamente divertido acompanhar as interações entre Cotton e Silk, o foco principal do jogo é seu gameplay que, bem… vamos falar separadamente sobre cada um.


Cotton 100%

Mesmo que Cotton 100% tenha sido um dos pioneiros dos cute’em up, ele já tinha uma grande base entre outros jogos do gênero principal e, com isso, conta com várias mecânicas que são usadas até hoje.

Com o gameplay mais tradicional com rolagem lateral, Cotton 100% é bem divertido. O game é bastante colorido fofo, como está na proposta. Ele conta com três “botões de tiro”, um com tiros normais, outro com bombas e um para magias. As magias podem ser alteradas antes de começar um novo save, contando com quatro formações, cada uma com três magias que podem ser usadas durante uma jogada. Ao todo, seis magias estão disponíveis, distribuídas de formas distintas entre as formações de três. 

 

Reprodução/ININ Games

 

Durante as fases, ao invés de upgrades mais tradicionais que podem ser coletados após derrotar “monstros”, o jogo conta com uma barra de experiência. A barra de experiência é o grande segredo para conseguir ou não se sair bem, já que ela cresce justamente com a quantidade de inimigos derrotados.

Quando a barra de experiência cresce, é quando notamos que os ataques comuns são melhorados da forma já mais conhecida — ajudas que dão mais tiros ao mesmo tempo, tiros maiores ou se espalham mais, bombas também maiores, etc. 

O grande porém disso é que, a cada vida perdida, você perde um nível por inteiro. Durante uma batalha difícil, mesmo contando com muitas barras de vida, pode ser o fim se sua personagem ficar completamente fraca (e, acredite, ela fica realmente fraca). Além disso, caso uma “ficha” seja perdida, as coisas dificultam ainda mais já que a barra de experiência é completamente resetada. O segredo é se aproveitar para acumular bastante experiência nas partes fáceis para se aproveitar bem dos upgrades depois.

O jogador pode coletar os tradicionais bônus de vida e de magia durante as fases. Eles são bem limitados no início, mas o jogo é generoso quando você está se aproximando das batalhas finais. 

 

Reprodução/ININ Games

 

Sobre a história, o básico conta com um mundo que entrou no caos depois dos sete novelos terem sidos roubados. Silk, uma fada, é enviada pela Rainha Velvet para conseguir de volta os sete novelos que foram roubados. Em sua jornada, Silk acaba encontrando Nata de Cotton, uma bruxa que, apesar de topar ajudar, aceita apenas se conseguir o doce Novelo, que só pode ser obtido com os outros sete novelos. 

Durante o jogo, nós vemos que Cotton está longe de ser tão fofinha quanto aparenta, sendo praticamente a avareza em pessoa. Isso gera diversas interações engraçadas entre as fada e a bruxinha. 

 

Reprodução/ININ Games

 

Como já citado, Cotton 100% é muito divertido. O gameplay é bem interessante e continua bem atual até hoje. Se tivesse controles um pouco mais responsivos poderia ser ainda melhor, mas mesmo assim consegue entregar algo fácil de entender para qualquer jogador. Definitivamente um jogo que vale a pena. Pena que não dá pra dizer o mesmo do que vem abaixo.


Panorama Cotton

Panorama Cotton não vale a pena. Acho que é a melhor forma de descrevê-lo de um jeito rápido, ainda mais depois de jogar o seu antecessor. O jogo que emula um estilo pseudo-3D, semelhante ao clássico Space Harrier, não consegue entregar a diversão que Cotton 100% conseguiu e nem o que fez Space Harrier conseguir uma legião de fãs.

O game tem mecânicas semelhantes ao seu antecessor, como o uso de magias e a barra de experiência que sobe ou desce de acordo com sua performance. Nos golpes comuns, as bombas foram trocadas por um botão que permite regular a velocidade. Bem, o básico parece OK, mas seria melhor se funcionasse.

Para conseguir magias em Panorama Cotton, é necessário coletá-las durantes as fases. Com um recurso menos limitado do que deveria, as coisas se tornam fáceis demais que perde completamente o desafio quanto mais você avança. Mas ainda bem que eles… conseguem consertar isso com outro problema!!!!

 

Reprodução/ININ Games

 

Não é nada incomum, principalmente nas primeiras fases, levar dano literalmente pelo nada. As hitboxes do jogo não funcionam direito, fazendo com que você leve dano de ataques que não estão nem perto de chegar em você. O problema é tanto que dificulta até a sessão bônus ao concluir a cada fase, tornando quase impossível saber onde você deve ficar na tela para pegar os itens de pontuação. Tudo isso faz o jogo ficar irritante muitas vezes.

Em sua parte visual, o game adota algo mais psicodélico, o que não chega a ser ruim. Alguns cenários são bem bonitos, lembrando algumas fases de Sonic. Apesar de pessoalmente preferir o estilo de Cotton 100%, nesse sentido Panorama Cotton não peca.

Outro ponto a se tocar é que você acaba não perdendo muito da história. Não é demonstrado tanto foco em trazer um enredo ao jogador, sendo algo que aparece basicamente só no início e no final, seguindo uma premissa semelhante a de Cotton 100%. Considerando que o jogo não foi traduzido, isso talvez seja até melhor.

 

Reprodução/ININ Games

 

Panorama Cotton realmente pode ser deixado de lado pelos jogadores que tiverem alguma curiosidade com os relançamentos. Os problemas tornam a experiência chata, passando longe de ter toda a personalidade de seu antecessor. Algo que talvez dê para destacar são alguns chefes que têm um design interessante, mas até aí isso também já tinha sido feito de uma forma melhor. No fim das contas, os novos lançamentos trazem um equilíbrio entre diversão e chatice, se você gosta de pensar nessa balança.


Cotton 100% e Panorama Cotton já estão disponíveis para PlayStation 4 e Nintendo Switch. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia para Switch pela assessoria de imprensa da ININ Games para produção desta resenha.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.