Capitão Harlock e a Nave Arcádia

Capitão Harlock e a Nave Arcádia
Waga seishun no Arcadia
Minha Juventude em Arcádia

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Criação: Leiji Matsumoto
Produção: Toei Company, 1978
Distribuidora: Brazil Home Vídeo (Sato Co.)
Exibição no Brasil: Rede Manchete
Disponível em: VHS
Mangá: Shonen Magazine

Última Atualização: 13/11/2007

Com um traço inconfundível, Leiji Matsumoto é um grande mangaká, mais conhecido no Brasil pela clássica série Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato) que foi exibida com sucesso na metade da década de 80 pela Tv Manchete. Só que está enganado quem acredita que a aventura do navio de guerra espacial é a obra mais famosa desse setentenário autor. Um pirata espacial com uma feiosa cicatriz no rosto, caveira com ossos cruzados no peito e sua estranha capa tremulante no espaço (tem vento no espaço?!) chamado Capitão Harlock é o personagem que deu ao tiozinho toda fama que carrega nas costas hoje em dia.

Embora suas primeiras obras de ficção científica datem ainda do começo dos anos 60, foi na colorida década do “paz e amor” que Matsumoto consagrou-se com suas novelas espaciais. Harlock fez diversas aparições em outros títulos do autor antes de ganhar sua história definitiva. É um tanto estranho ver várias “versões não definitivas” de Harlock espalhadas em diversos mangás de Leiji, mas ao mesmo tempo é até divertido catar o capitão como se fosse um “Wally” pelos animes e mangás de Matsumoto.

Em 1968, Harlock apareceu como um doutor no mangá Ésper (que virou um toskusatsu que chegou a passar no Brasil). No ano seguinte, foi um piloto alemão durante a segunda guerra no mangá Pilot 262. Já em 72, o mangá Gun Frontier (que ganhou um anime em 2002 – 30 anos depois @_@ – exibido no Brasil pelo canal pago Animax) trazia Harlock como um pistoleiro. Até no mangá da Patrulha Estelar (de 74), Harlock faz uma ponta! Só em 1975 ele faria uma aparição no mangá Emeraldas com um aspecto mais próximo do “padrão definitivo”. O Harlock como capitão do galeão espacial Arcádia só veio ao mundo em 77, nas páginas da Shonen Magazine.

Conta-se que Matsumoto se inspirara em um amigo dos tempos de escola para criar o capitão. O cara gostava mesmo desse amigo pra retratá-lo de tantas formas possíveis em suas obras, né? Xodó do autor, Harlock ainda fez aparições em várias outras obras (agora como ele mesmo XD) que nos faz acreditar que Matsumoto tinha uma tara por crossovers. Pode-se ver Harlock como coadjuvante do desconhecido (por aqui!) Galaxy Express 999 (Ginga Tetsudo 999, de 1977 e que saiu nos EUA nas páginas da famosa revista Animérica), e ajudando a pirata espacial Emeraldas em Queen Emeraldas (versão futurista do mangá de 1975). Aliás… Nem vou falar que Emeraldas parece ser outra personagem que Matsumoto ama de paixão. A muié aparece em todas também!

Harlock em Anime
A primeira versão animada de Capitão Harlock foi lançada em 1978 pela Toei Company e teve 42 episódios. A direção dessa série ficou a cargo do (hoje) renomado diretor Rintaro que dirigiu o soberbo Metropolis – disponível em DVD duplo por aqui. O sucesso fez com que, ainda em 1978, fosse lançado um curta-metragem chamado “O Mistério de Arcádia” com meia horinha de duração. Em 1982 foi a vez de um longa de verdade com Waga Seishun no Arcádia (Minha Juventude em Arcádia) que teve mais de duas horas (!!!) de animação nos cinemas japas. Esse é o filme que foi lançado no Brasil em VHS pela Sato Company em 1985 (quando ainda se chamava Brazil Home Vídeo) e que a Manchete exibiu como uma mini-série em 5 partes na sua Sessão Animada (que passou um caminhão de animes longa-metragens picotados em vários capítulos, diga-se de passagem). Harlock ainda ganharia mais uma série devido ao sucesso do filme, no mesmo ano de 1982 – Waga Seishun no Arcádia: Mugen Kido SSX (Minha Juventude em Arcadia: Órbita Infinita SSX) com 22 episódios.

As mais recentes produções animadas com o herói (não seus clones!) datam de 1999 e 2002. Em 99 foi lançado uma mini-série em OVA com 6 capítulos entitulada Nibelung no Yubiwa (também popularmente conhecida como Harlock Saga). Tais OVAs foram baseados num mangá on line de Matsumoto estrelado pelo Capitão (ô tara…). Já em 2002 foi lançada uma série de tevê nova com apenas 13 episódios, dirigidos por Rintaro que deveria na verdade ser um movie. Só que Matsumoto criou umas pinimbas e “The Endless Odyssey” se transformou numa série – estranhamente chamada de “Capitão Herlock”.

“História por favooooooor!”
O plot original do mangá se passa em 2977. A Terra se tornou um planeta onde a tecnologia atingiu níveis inimagináveis e a sociedade – de um modo geral – é altamente civilizada. Mas quem disse que evolução tecnológica dá jeito na natureza podre do homem? Surge dos confins do espaço a Rainha Lafresia e sua raça Mazone (uma espécie de mulheres-planta) que quer conquistar nosso planetinha (não, ela não quer fazer um jardim gigante :P). Demagogos até o último fio de cabelo, os líderes da Terra nada fazem, até que surge um homem com coragem para encarar a ameaça. E esse homem é… =P

Harlock é uma figura misteriosa e de aspecto bem estranho (sem contar o design dos personagens bem magricelos) e se apresenta em companhia de sua tripulação para decidir o destino da humanidade. Formada por Miime (uma mulé de cabelo azul e poderes psíquicos), Yattaran (piloto gorducho que serve de alívio cômico), Dr. Zero (oficial médico que tem um gatinho chamado Miau – que é o mesmo que pertence ao Dr. Sam da Patrulha Estelar!), Masu (cozinheira), Yuki (co-piloto loira que só tem 16 aninhos) e o jovem Tadashi (cujo papito morreu nas mãos das Mazone), a bordo do galeão espacial Arcádia, eles partem para o cosmo, com intenção de liquidar a rainha Lafresia. Inicialmente, Lafresia não dá muita importância pra ameaça que Harlock pode representar, mas depois do meio da série, a Rainha nota o oponente perigoso que o piratão pode ser. No total, a série de tevê rendeu 42 episódios e é inédita por essas bandas.

E o filme?!
O filme Waga Seishun no Arcadia lançado em 1984 no Japão e em VHS por essas bandas (e exibido na tevê Manchete) mostra o que pode-se considerar um prequel dessa série de tevê. Ele começa com um antepassado de Harlock (Phantom F. Harlock) voando em meio a uma intensa tempestade em direção a uma montanha que os pilotos temem por conta de uma lenda, a de que há uma bruxa residindo lá. Depois de chocar-se contra a montanha, o filme passa a mostrar a história de Phantom F. Harlock II (o capitão) e seu encontro com Tochirô. Tochirô foi o responsável pela construção de Arcadia (nome da terra natal de Harlock) e na série de tevê ele é constantemente citado.

Quando Arcadia é atacada por uma raça alienígena chamada Illumidas, adivinha quem tem a brilhante ideia de lutar contra os ET’s marcianos? No desenrolar da história, vemos Harlock se envolver com uma moçoila chamada Maya ao mesmo tempo que começa a edificar sua imagem do pirata mais famoso do infinito. Ah… Rola um encontro com a pirata Emeraldas (Esmeralda na versão dublada) mas, aparentemente Harlock já a conhecia antes mesmo desse prequel.

Longo e um tanto paradão (especialmente se você está acostumado com animes mais recentes), o filme não empolga muito e pode decepcionar bastante por ser apenas um retalho da longa saga de Harlock – que Leiji fez questão de picotar e emendar em diversos trabalhos posteriores.

Harlock pelo mundo e por aqui
Grande sucesso na Europa, Harlock é também conhecido como Albator (mas hein?!) pelas bandas da França. O anime chegou ao velho continente no começo dos anos 80 e as adaptações feitas em cima da série foram bastante brabinhas. Arcádia por exemplo virou Atlantis por lá. Mesmo assim, a série fez barulho e arrebatou milhares de fãs. Nos EUA, a série foi lançada em 1987 e foi rebatizada de Captain Harlock and The Queen a Thousand Years. Distribuída pela Harmony Gold (a mesma que fez a montagem de Robotech), a empresa repetiu sua safadeza tática de juntar séries diferentes para fazer um anime esticado. Harlock foi misturado com o anime Sennen Jôo e o resultado foi uma série “nova” com 65 episódios (detalhe: ambas séries originais tinham 42 episódios cada). A Picaretagem não foi tão indigesta como Macross pois Sennen Jôo tinha o mesmo designer de personagens de Matsumoto. Mas para a trucagem fazer sentido, roteiros tiveram de ser refeitos.

Provavelmente a Harmony acreditou que o sucesso de Harlock na Europa poderia render um novo Macross nos EUA, mas a produção foi um belo fracasso. De qualquer forma, os gringos viram a cara de Harlock em suas tevês e ganharam até uma “mangá” desenhado por Bem Dunn em idos de 88. Diferente do que sitecos e até publicações que supunham-se ter qualidade dizem, NUNCA houve a transmissão de uma série de tevê de Harlock no Brasil.

No começo de suas transmissões, a Manchete entupia a grade de sua programação com desenhos animados – coisa que as emissoras hoje em dia preferem fazer com comerciais de Magrins® ou outros produtos fantásticos (XD). Foi nesse período que a emissora apresentou um caminhão de animes e notou que os japas conseguiam chamar mais atenção que os cartoons tóxicos da Hanna Barbera. Nessa época ela exibiu Harlock e vários outros animes originalmente lançados por aqui em vhs (como Baldios) em formato de mini-série, dividindo os longas em aproximadamente 5 capítulos cada.

Dublado no Rio de Janeiro, nos lendários estúdios da Herbert Richers, Harlock conta com um punhado de vozes típicas dos anos 80 no elenco. O Capitão tem a voz do dublador do Mel Gibson (Julio Chaves) enquanto Toshio tem a voz do Ricardo Schnetzer (o ator mexicano Fernando Colunga, que fez o marido da Maria do Bairro e da Usurpadora x_x). A bela rainha Emeraldas ficou com a raquítica voz da Feiticeira de Greyskull (a mulé toda gata e colocam voz de tia veia! Putz!).

A fita lançada pela Brazil Home Vídeo é um tanto rara de se encontrar hoje em dia e traz uma pequena “trucagem” made in brazil. Como o filme é muito extenso para caber nas 2 horas do rolo do VHS, cortes foram feitos na cara de pau. Embora isso não chegue a prejudicar a compreensão da história, você fica com aquela sensação de “Cortaram algo que eu deveria ter visto!”.

O canal Animax exibiu para o público brasileiro uma série de produções contemporâneas baseadas em mangás de Matsumoto onde cada protagonista é um “clone” do Harlock. O interessante nessa salada louca é que por mais legais que tentem ser, nenhum clone consegue se tornar tão carismático como o legendário capitão. Pergunte a quem o conheceu! Se é que ainda consegue se lembrar…