O Fantasma do Futuro (Ghost in the Shell)

[div coluna1]O Fantasma do Futuro (Ghost in the Shell)
Koukaku Kidoutai (Grupo Tático Móvel Armado)
Produção: Bandai, Production IG, Manga Entertainment, 1995
Criação: Masamune Shirow
Exibição no Brasil: HBO – Cinemax – Locomotion
Distribuição: Flashstar
Disponível em: Vídeo e DVD
Mangá: Young Magazine

Última Atualização: 31/08/2007

Por Tio Cloud

De tempos em tempos, surge alguma produção que consegue chamar a atenção de toda a crítica especializada e passa a ser um ponto de referência para futuras produções, seja nos quadrinhos, cinema ou mesmo nos animes. Nesse último caso, podemos citar séries como Patrulha Estelar, Macross, Gundam e Evangelion, considerados os ‘4 ases’ da animação japonesa de ficção-científica pra tv, responsáveis por definir todas as características das produções do gênero realizadas posteriormente.

Já no campo da animação japonesa pra cinema, excetuando-se as obras de Miyazaki, existem 2 ‘ases’: Akira e Ghost in The Shell. O primeiro, mesmo após quase 20 anos de sua realização ainda causa espanto em quem o assiste pela primeira vez, estando cada vez mais atual. O mesmo não se pode dizer de Ghost in the Shell, que fez o maior barulho e hoje em dia não é nada demais. Sei que essa matéria vai causar polêmica, portanto, vamos por partes.

Explicando…
Se tem uma coisa chata no mundo cinematográfico são os críticos ‘profissionais’, que se dizem entendidos do assunto, mas em 99,9% dos casos adoram crucificar um blockbuster (filmes feitos para atrairem bilheteria em massa, trocando em miúdos) e elevar ao altar produções, digamos, ‘independentes’ ou esquisitas para os padrões normais. Se um filme tem 70% de efeitos especiais, logo o taxam de vazio e não se tocam que foi feito simplesmente pra divertir. Agora, se a produção é estranha, cheia de diálogos sem sentidos, e principalmente, mostrar as mazelas do ser humano, essa sim é uma obra de arte.

O problema é que todo crítico de cinema tem medo de ir contra a maré. Se fulano que está na área a 20 anos diz que o filme “Bombom de Avelã dá Dor de Barriga” é um marco na história cinematográfica, um zé mané que escreve sobre o assunto a apenas 2 meses não vai contrariá-lo. No mundo dos animes é a mesma coisa. Fale ‘mal’ de Evangelion no meio de um grupo de fãs hardcore e verá o mesmo resultado: dirão que você não tem QI pra entender uma trama tão profunda, complexa e intelectual como a do anime (que aposto, nem eles entenderam XD). E Ghost in the Shell está nesse caso. Ninguém ‘fala mal’ porquê foi considerado cult, se tornou uma “vaca sagrada”.

No caso do filme, a crítica se deixou levar pelo nome do diretor, o renomado Mamoru Oshii, e não perceberam uma coisa: é uma obra boa/regular, mas uma péssima adaptação da história que o originou. Mas, voltemos no tempo..

O início
Masamune Shirow é o pseudônimo de um mangaká, que, ao contrário de seus colegas como Rumiko Takahashi (que gosta de aparecer mais que seus próprios trabalhos), é um cara recluso que faz ‘tudo’ sozinho na produção de seus mangás. Shirow nasceu em Kobe em 1961 e foi formado na faculdade de Osaka. Por causa do trabalho quase que solitário (enquanto os autores “normais” contam com dezenas de assistentes), Shirow tem relativamente poucos trabalhos publicados, mas todos, de uma qualidade excepcional, tanto na arte como nos roteiros. E todos tem características comuns: os mechas, heroínas boas de tiros e pitadas de referências à politica e à tecnologia.

O primeiro trabalho do autor foi Black Magic, que publicado na forma de doujinshi (fanzine) quando ele ainda estava na faculdade, abriu as portas da editora japonesa Sheishinsha para que o autor publicasse a obra que é considerada seu marco inicial: Appleseed, publicado a partir de 1985. Por causa da pouca produtividade, Shirow gastou 4 anos para lançar 4 volumes do mangá, até que em 1989, começou a sair nas páginas da revista Young Magazine sua obra máxima: Koukaku Kidotai, conhecido no ocidente como Ghost in the Shell.

O mangá logo chamou a antenção por mostrar uma arte riquíssima, cheia de detalhes, uma história que misturava política, filosofia e tecnonologia futurística, aliados a um roteiro enxuto e cheio de humor e ação. Com todas essas qualidades, Koukaku Kidotai (que pode ser traduzido como ‘Divisão da Polícia Móvel Armada’ ou algo perto disso) logo se transformou em um sucesso, rendendo oito volumes e sendo publicada por 7 anos seguidos, encerrando-se em 1996.

O anime
Com o sucesso, não era de se espantar que o mangá logo ganhasse uma versão animada. E todo mundo ficou na expectativa, já que o renomado diretor Mamoru Oshii, resposável por Urusei Yatsura Movie e Patlabor Movie entre outros, anunciou que estava produzindo um longa para o cinema, numa parceria entre a Bandai Visual e a Manga Entertainment dos EUA.

O longa foi lançado em 1995 simultâneamente no Japão e EUA, e rapidinho caiu na graça da crítica, que o considerou tão marcante como Akira foi nos anos 80. Ghost in The Shell, como ficou mundialmente famoso, provou-se um filme mediano, mas muito longe do mangá que o originou. Quem conheceu a obra original, ao ver o filme deve ter pensado ‘Esse não é o GitS que conheço’. E essa é a verdade. O filme, é muito bonito (a animação sem dúvida foi o que mais chamou a atenção de todos, pois usava o que melhor havia disponível na época, com o auxílio de computadores para criar efeitos até então pouco explorados), e a trilha sonora bastante impactante. Mas é uma adaptação fraca e corrida de uma mangá que poderia render algo bem mais inteligente.

Todo o humor presente nos quadrinhos foi jogado de lado, os personagens perderam suas identidades caracteríticas (Motoko Kusanagi, a personagem principal que o diga… Sem graça que ela só), bem como ganharam uma aura mais “adulta” e bem mais dark. Bateau não fala mais tanto palavrão como na hq e só aparece mesmo pra dar apoio (e pros fãs do mangá não chiarem). O roteiro é um emaranhado de questões filosóficas sobre existência, política e tecnologia, mas não consegue crescer e ser contado numa forma clara e linear. ‘É que você é burro, Tio Cloud, não sabe pensar’. Pode até ser, mas na verdade, nem consegui identificar uma história em si, só o que que sei é que existe um tal ‘hacker’ chamado Mestre dos Fantoches (na versão nacional) e que a polícia está atrás dele. E só. Os personagens não mostram pra que vieram, a história não se desenvolve e não há um clímax, um momento que você vá lembrar pro resto da vida. Ah tá, talvez a cena de Kusanagi pulando pelada de um prédio se torne uma referência. XD

Como o roteiro do filme é bem fraquinho, Oshii e cia logo trataram de investir no que o anime mais chamava a atenção: a animação. E deu certo, pois, se não fosse por ela o filme teria passado em branco. Só que mesmo com toda a qualidade, hoje ela não chama mais a atenção como antes, e atualmente há até mesmo ovas com qualidade superior. O engraçado é que o filme foi lançado a 10 anos. Akira, que tem quase 20, ainda é super atual. Vai entender =P .

E já que a animação é o forte, porquê não explorá-la? A equipe de produção levou isso ao pé da letra, tanto que há um momento do filme em que ficam quase 4 minutos apenas mostrando cenas de Hong Kong embalados por uma música que lembra aberturas de tokusatsu dos anos 60/70. Tudo muito bonito, com cenários deslumbrantes, diga-se de passagem. Mas em nada acrescentou à deficiência do filme em contar uma boa história. Pelo menos distraiu. Isso se você não pegou no sono até ali. Estão achando que tô pegando pesado? Ok.. Vamos mudar de assunto.

A historinha
Ano de 2029 (ih… Tamus quase lá). O avanço da tecnologia possibilitou a existência de redes de comunicação inteligentes, e até coisas como seres humanos artificiais. A internet é a grande mãe que sustenta toda e qualquer informação, sendo que os crimes mais perigosos agora são os praticados por hackers. Para combater esses crimes, existem agentes especialmente desenvolvidos que conectam sua “alma” direto com a grande rede (através de conexões na nuca… Matrix veio depois, ok?)

Pra variar, os japoneses conseguem criar algo fodássimo que poderia ser considerado a perfeição máxima dentro do universo dos programas de espionagem (os irritantes spy-wares que sua máquina deve ter aos montes, sem que você se dê conta). Seu nome é Projeto 2501, e foi desenvolvido à mando do Ministério de Relações Exteriores. Tudo seria perfeito (e conveniente pros políticos japas… Corrupção no Brasil é pinto perto do que eles criaram aqui :P), caso não tivessem atribuído ao programa-agente a capacidade de assimilar conhecimento. O resultado disso? Depois de passear por todos os 4 cantos da web, o programa passa a acreditar que é um ser vivo e quer deixar de trabalhar! Legal, né?

Surge então um “hacker”, que a polícia entitula Mestre dos Fantoches, que começa a chantagear o governo japonês enquanto implanta memórias falsas em corpos cibernéticos. O governo precisa custe o que custar detê-lo e descobrir quais são suas verdadeiras intenções. O que eles não sabem é que o tal Mestre dos Fantoches é na verdade o programa criado anteriormente e quer algo mais que fazer bagunça (e não, não é dominar o mundo!).

É para descobrir quem é o tal hacker que entra a nossa “heroína”, Major Motoko Kusanagi, na história. Acompanhada de seu “esquadrão” (que conta com o ciborgue Bateau e o policial Togusa – o humano “indispensável” no trio) pertencente à Seção 9 (uma divisão especial da polícia), Kusanagi se envolve com o Mestre dos Fantoches de uma forma que passa a questionar também sua existência.

O game
Apesar do filme ameno, uma coisa não se pode negar: o game, lançado para Playstation na época do em que o longa chegou nos cinemas, é uma das coisas mais bacanas já feitas para o console até hoje. No jogo, você controla uma baratinha (hihihi.. Adoro dizer isso XD), que na verdade é um veículo armado até as patas (XD) e vai cumprindo missões, podendo andar em cima de tudo (prédios, paredes, vigas…). A câmera acompanha a barata (hehe) e tem horas que você fica de cabeça pra baixo, de lado… Um recurso muito bacana e pouco explorado até hoje. Só que era bem dificinho, e se não me falha a memória eu não passava da 3ª fase (eu era muleke na época ¬¬ nem sabia jogar direito), o que era uma pena, já que, sempre ao iniciar um novo estágio aparecia uma animação fodônica com a mesma qualidade das vistas no longa (mas exclusivas pro game!).

Por falar em animações, a abertura do jogo é tão legal, mas tão legal, que entre ela e o longa, prefira a primeira. Você vai se divertir mais (e tem as baratinhas, que não apareceram no filme- aliás, aparece uma versão grandona delas no finzinho do longa, mas não tem tanta graça XD). Falando nisso, em uma entrevista, quando perguntado de onde tira a inspiração para criar os veículos de seus mangás, Shirow respondeu que é assistindo a documentarios na tv e lendo livros, principalmente. Ele também fala que tem um fascínio por entomologia (daí o lance das ‘baratas’-robôs, pois entomologia = estudo dos insetos).

As continuações
Tudo bem, todo mundo (menos eu) adorou o filme e tal (ou pelo menos fingiu, o que é bem mais provável), mas mesmo assim ele não supriu a necessidade dos fãs de uma obra mais próxima da história original. E nem rendeu a quantidade de bugigangas possíveis, principalmente. Foi pensando nisso (na segunda opção…), que a série animada chegou à tv japonesa em 2002 e durou duas temporadas, originando mais três ovas do mesmo universo: Tachikoma na Hibi (estrelado pelas baratinhas!!), The Laughing Man e Individual Eleven.

Em 2004, uma nova versão cinematográfica foi lançada: Ghost in the Shell 2: Innocence. O filme tem uma animação 10x melhor que o longa original e apesar disso, não ganhou o mundo como a versão anterior. Vai ver o povo se lembrou que o primeiro foi boçal e fingiram não saber da existência dessa sequência, também dirigida por Oshii. No embalo, em 2006 foi lançado um outro longa metragem, GiTs: Stand Alone Complex- Solid State Society, e como o próprio nome sugere, desta vez a trabalho foi focado no universo da série de tv.

No Brasil
Ghost in The Shell chegou ao Brasil em 1997 (depois de passar por várias amostras de cinema mundo afora), pelas mãos da Flashstar (que adquiriu os direitos da Paris Filmes). A idéia da distribuidora era que o longa fosse lançado nos cinemas em agosto do mesmo ano, mas perceberam que o povo brasileiro ainda não era maduro o suficiente pra ir ao cinema ver um desenho animado, digamos, tão… Fraco? Ops! Adulto! Temendo o fracasso, a Flashstar optou em lançá-lo diretamente no mercado de vídeo, em 1998, onde teve uma recepção bem amena (quase gelada, pra ser mais sincero). E como o nome Ghost in The Shell, que, mesmo mais famoso, soava meio estranho para os nossos ouvidos, a distribuidora resolveu alterá-lo para um título bem tosco: O Fantasma do Futuro, que em nada lembra a trama do filme, lembrando que no original, o ‘ghost” se refere à alma, e o Shell são os corpos cibernéticos que recebem tais almas. Mas ninguém queria pesquisar os significados e resolveram colocar o primeiro nome que veio à cabeça. Mas podia ser pior. Imagina se traduzissem o título original ao pé da letra: O Fantasma na Casca XD.

A dublagem brasileira ficou a cargo da Dubla Vídeo, que apesar de uma boa escalação teve uma pisadinha na bola: Noeli Santetisban (que fez a voz do Fly e Marine em Rayearth e hoje não dubla mais por morar no exterior), dubladora da Motoko Kusanagi, tem uma voz que combina com a personagem, porém a entonação ficou um tanto quando artificial, sem emoções. Ah é, a moça era uma robô… Vai ver foi isso XD. Pouco tempo depois do lançamento em vhs, GitS passou a ser exibido pela HBO e posteriormente pela Locomotion, ambas em versão legendada.

A versão em dvd (um dos primeiros animes lançados no formato no país), veio em setembro de 2001 pela mesma Flashstar e autorada pelo estúdio Gabia, teve uma lançamento bem badalado, e segundo críticos da época (olha eles aí de novo), nossa versão ficou bem melhor que a dos gringos, se não fosse por um detalhe: nosso formato de tela foi o ‘full screeen’, o que fez com que os personagens ficassem esticadões, jogando todo o capricho (making of, trailler e outros extrazinhos legais) morro abaixo.

Finalizando
Caso vá assistir ao filme esperando por altas cenas de ação, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Até existem umas cenas mais movimentadas, mas o questionamento filosófico sobre o que é (afinal de contas?) a vida, é o ponto em que os críticos especializados conseguem criar explicações das mais variadas que elevam Ghost in the Shell ao patamar de cult que é. Garanto que se desse pra entender, ou uma grande maioria chegasse à um mesma interpretação da coisa toda, o filme só seria mais uma “confusa obra japonesa com ecos em clássicos americanos…”. E será que não é mesmo?

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