Arjuna: A Deusa do Tempo

Arjuna: A Deusa do Tempo
Chikyuu Shoujo Arjuna

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ZejDz0P4yIQ 480 320]

Produção: Satelight, Bandai Visual, Sotsu Agency, 2001
Episódios: 13 p/ tv
Criação: Shoji Kawamori
Exibição no Japão: TV Tokyo (09/01/2001-20/03/2001)
Exibição no Brasil: Locomotion – Animax
Distribuição: Sony Pictures

Última Atualização: 19/09/2010

A existência do Locomotion no começo deste novo século foi um grande marco para os fãs de animação japonesa no Brasil. Através do canal (um tanto restrito), séries antes impensáveis de se chegar às telas nacionais foram apresentadas ao público que só as conhecia graças a “imprensa especializada” (Heróis, Anime Exes, Ultra Jovens e derivados). Foi assim que tivemos acesso a títulos como Neon Genesis Evangelion, Cowboy Bebop e Saber Marionette, só para citar os mais pops. A promissora programação alternativa do canal (que além de animes, exibia outras animações adultas como South Park e Duckman) no entanto, não reverteu sua crescente crise.

Nos últimos anos de existência (antes de dar lugar ao Animax), o Locomotion foi vendido para a Pramer, uma empresa argentina que mudou a operação do canal de Miami para a terra do Maradona. Foi aí que instaurou-se um pequeno caos na exibição das séries pro Brasil (especialmente as estreias). Se já não dava pra engolir o barateamento de custos com dublagens feitas em Miami (quem viu Soul Hunter ou Blue Dragon no SBT tem ideia do que estamos falando), imagina então ter que ver as séries com legendas que sumiam a todo instante?

E o pior: quando elas apareciam (muitas vezes fora de onde deviam estar x_x), apresentavam erros de português ou um portunhol bem cretino. Pra completar ainda houve a sobreposição das legendas portunholescas em cima das cucarachas com uma nada agradável tarja preta. E foi com esse samba do crioulo doido que os brasileiros foram apresentados pela 1ª vez a uma série bem peculiar chamada Arjuna.

A Produção
Earth Girl Arjuna, produção de 2001 bancada pela TV Tokyo, é um anime para poucos. Esqueça moleques pentelhos que querem fazer de tudo pra realizar seu sonho ou garotinhas que ganham poderes mágicos e usam uma roupa diferente a cada capítulo pra vender cada modelo na loja mais próxima. Aliás, esqueça qualquer série que tenha como cunho principal a venda de bugigangas (ou seja, esqueça praticamente todas!!!).

A cria de Shoji Kawamori (o mesmo responsável por Escaflowne e várias séries da franquia Macross) tem um objetivo muito maior que o seu dinheiro. Ela quer fazer você pensar sobre seus próprios atos. Já parou para refletir uma vez na vida sobre tudo que faz? Essa é uma das questões mais simples que Kawamori apresenta no roteiro da série. Se seu cérebro entra em curto buscando essa resposta, Arjuna não é um anime muito indicado pra você…

Com um belo conceito visual, a série impressiona transpondo imagens que mexem com o consciente do telespectador ao longo trama. Existe o uso de animação em CG (cortesia dos estúdios Satelight e View Works) e até mesmo imagens reais (!), que contrastam bem com a já bela animação tradicional. Em nada lembram aquela sensação esquisita que se tem vendo Dinossauro Rei ou o constrangimento de Blue Submarine Nº 6. Outro destaque fica para a trilha sonora composta pela competente Yoko Kanno, que assinou também a trilha de Wolf’s Rain e Cowboy Bebop. Aliás, quando Kawamori e Kanno se juntam, é difícil você assistir a um trabalho ruim.

Em uma época de virada de milênio e crescente preocupação com os problemas ambientais (sabem como é… A gente só se preocupa quando tá tudo ferrado =P), Arjuna surgiu como forma de debate animado na TV Tokyo. Sim, o principal foco da série é ecológico.  Mas se você pensou agora em desenhos educativos da TV Cultura, mude de ideia novamente e continue lendo a matéria pra entender as razões…

Historinha
Juna Ariyoshi é uma colegial comum que tem como hobbie (ou tentativa de hobbie, porque é ruim pra chuchu no que faz =P) o arco e flecha. Em uma tarde comum com seu namoradinho Tokio, decide fazer uma visita ao Mar do Japão, mas um imprevisto acontece: em um acidente de moto, Juna morre. Vagando com seu espírito, a garota tem uma visão do futuro caótico do planeta e recebe o chamado de Chris (um ser paranormal com dúvida na opção sexual =P) que lhe faz a oferta tentadora de voltar à vida.

Mas claro, isso terá um custo (e não é ser detetive sobrenatural, ok?!). Juna terá a difícil tarefa de se assumir como reencarnação da “Deusa do Tempo” , combater e purificar um tal de Raja, monstrengo por trás das catástrofes no mundo. Sem ver melhor alternativa, ela aceita a missão e parte para a ação, recebendo uma gema fincada na testa que lhe dá harmonia a natureza – e que parece muito com aquela do Blue Seed…

Nos dois primeiros episódios, tem-se a sensação de que Arjuna é uma série de ação e magia. Para enfrentar Raja de cara, Juna se transforma num estilo meio “magical girl” de ser e luta com seu arco e flecha (que ganha um certo upgrade) para destruir o monstro. Aliás, o visualzinho de juna transformada é bastante esquisito e o cabelo da garota parece que foi penteado durante um furacão x_x. Até uma organização especializada em fenômenos estranhos como o tal Raja existe na série. Mas com o decorrer da trama, no entanto, vemos que a proposta não é tão simplista assim.

A ação na verdade é bem rara em Arjuna. Em todos os capítulos, o foco da personagem será primeiramente entender a si mesmo para que entenda todos os outros. E nessa jornada filosófica você acaba parando pra analisar as questões também. Lixo nuclear, alimentação incorreta, conformismo com as comodidades, controle de pragas, criação de animais para abate e o aborto, são alguns dos muitos temas abordados para análise de Juna e do telespectador.

Chris e sua fiel companheira Cindy (uma garotinha esperta que foi “adotada” por ele) vão dando o caminho e se você der qualquer piscadela é possível que perca detalhes importantes. Em um Japão que caminha à extinção (em determinada parte rola até um terrível acidente bioquímico, bastante verossímel diga-se de passagem), a única salvação depende da sensibilidade da protagonista.

A grande ideia do final é que todos voltem a compreender o que realmente é viver. Mas, será que você vive de verdade? Se você procura por algo bem “cabeça” e gosta de coisas que te façam refletir, Arjuna é um prato cheio. Talvez você tenha que ver mais de uma vez pra realmente entendê-lo, mas aqueles que conseguem captar as mensagens da série acabam apreciando a produção.

Só pra constar: o Brasil é citado – negativamente –  envolvido no mercado de bovinos. Pra quem não se lembra, na época que o anime passou na TV japonesa (início de 2001) ocorreu uma epidemia de Febre Aftosa na Grã-Bretanha e o nosso país acabou sendo bastante injustiçado. Professores de geografia têm grande chances de pirar assistindo ao episódio em questão da série =P.

Mitologia
Arjuna bebe bastante da fonte de um clássico hindu chamado Mahabarata, maior poema épico da história e o mais importante da Índia. Na história, Arjuna é um dos filhos invocados através do mantra por uma das esposas de Pandu, um rei amargurado com a impossibilidade de amar e ter descendentes (maldição de uma gazela que foi morta numa caçada por Pandu enquanto fazia nheco-nheco o_O). O jovem tem como ascendente Indra (o rei dos deuses) e se torna mestre no arco e flecha (arrá! =D), o que o torna um guerreiro invencível.

A narração do épico fica por conta de Vyasa, um velho eremita safado que se veste como mendigo. No episódio 4 do anime, há uma referência clara ao personagem, que até apalpa os fundilhos de Juna. Já o misterioso Chris seria uma representação de Krishna, que no texto histórico tem uma relação com Arjuna bem parecia com a que se vê na série. Em pleno campo de batalha, o guerreiro apresenta-se confuso com o que deve fazer e é Krishna quem ilumina seu caminho para se auto-resolver. É, Jbox é cultura também, tá pensando o quê?

No Brasil
Como já foi dito no início dessa matéria, Arjuna chegou numa fase turbulenta do Locomotion, em meados de 2004. Com a compra do canal pela Sony, que o substituiu em 2005 pelo Animax, algumas séries acabaram permanecendo na grade de estreia, incluindo Arjuna. Como a nova filosofia da Sony era de exibir somente séries com dublagem (aliás, essa era a premissa inicial também do Locomotion), o anime ganhou dublagem na Álamo, assim como todas as estreias da época. Foi aí que ela ganhou o subtítulo nacional de A Deusa do Tempo – um subtítulo um tanto equivocado, já que essa designação cai melhor para Kali, na mitologia hindu.

Falar da dublagem de Arjuna é falar de como é fazer um trabalho de respeito. A série recebeu um excelente tratamanto na direção, que ficou a cargo de Márcia Regina (a eterna Misty de Pokémon, que também emprestou sua voz à protagonista Juna). A interpretação de cada personagem é bem convincente, com textos bem adaptados. Tati Keplermaier dá um show com a compulsiva garotinha Cyndi e Adriana Pissardini dá um tom suave ao andrógino Chris (aos moldes do Haku de Naruto – que é homem, mas parece e tem voz de mulé xD). Márcia até se mete a cantar no começo de um dos episódios, e não faz feio como muito dublador por aí… Aliás, já repararam que em certas ocasiões colocam outras vozes quando atores ou até personagens de desenho começam a cantar? A sitcom Eu, a Patroa e as Crianças é um ótimo exemplo, caso nunca tenha notado :P.

Com a má impressão que deixou com sua 1ª estreia no Locomotion, Arjuna acabou passando meio batido e sem despertar muito a curiosidade dos otakus tupiniquins. O fato do público brasileiro ter se habituado a animes de porradaria desenfreada (Cavaleiros, Yu Yu, Dragon Ball Z, Naruto…), faz com que produções mais cabeça como Arjuna não conquistem muito destaque. Talvez em outros tempos – quando a estreia de qualquer coisa na TV era motivo de festa – Arjuna conseguisse causar algum burburinho. No mais, apenas será lembrando como um anime dos “bons tempos do Animax”. Se bem que pra uns, desde a estreia do canal isso nunca existiu…

Checklist Episódios
01 – A gota de tempo.
02 – A luz azul.
03 – Lágrimas da floresta.
04 – Transmigração.
05 – As pequenas vozes.
06 – O primeiro.
07 – As palavras invisíveis.
08 – A chuva distante.
09 – Antes do nascimento.
10 – Os genes flutuantes.
11 – O dia sem retorno.
12 – A morte de uma nação.
13 – O aqui e agora.