Bicrossers

Bicrossers
Kyodai Ken Byclosser
Irmãos Punho Byclosser

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=JOgxiijSpPQ 480 320]

Produção: Toei Company, 1985
Episódios: 38
Criação: Shotaro Ishinomori
Exibição no Japão: NTV (10/01/1985-26/09/1985)
Exibição no Brasil: Globo – Gazeta
Distribuição: Globo Filmes
Lançado em: VHS

Última Atualização: 02/04/2012

Em 1984 a Toei Company levou ao ar uma série que dividiu atenção do público infantil com os outros heróis da produtora daquele ano – o metal hero Shaider e esquadrão super sentai Bioman. Era Machineman, uma produção pobre (os robôs usavam calça boca-de-sino e se diferenciavam por um detalhe no capacete ou na luva @_@), com efeitos especiais que não chegavam aos pés das séries principais do período e com o objetivo comum de todas as produções tokusatsu do estúdio: vender brinquedos.

Diferente de outras séries mais obscuras voltadas pra gurizada realizadas anteriormente (tinha uma cujo protagonista era um ET verde de peruca loira que parecia um cocô de cavalo x_x), a empresa tratou de encomendar ao renomado Shotaro Ishinomori, criador dos Kamen Riders, uma produção com um herói de verdade e dessa forma nasceu Machineman – e seu carrinho que virava jato, Dolphin. Dizem que o diretor sentia falta de heróis mais voltados para um público infantil na época, já que a carga dramática dos tokusatsus estavam afastando os pequenos da frente da TV e atraindo uma gurizada um pouco mais velha.

Mas como quem manda por trás do negócio geralmente é uma fábrica de brinquedos (a Bandai no caso), quem assistiu a série deve se recordar que o momento mais empolgante em todos os episódios era a transformação do herói e a pilotagem do seu carro esquisito (o cara dirigia deitado x_x) até o lugar do “crime do dia”. E mesmo que Ken Takase, alter ego humando do herói, tivesse do lado da vítima, o clipe de transformação tinha que ir ao ar @_@. Resultado: uma boa quantia de ienes para os cofres da Bandai, quando ela colocou no mercado a miniatura do carro – que ainda virava um robô estilo Transformer na versão brinquedo.

Como a idéia deu certo e rendeu uma grana interessante, a Toei tratou de encomendar para Shotaro o roteiro de uma nova produção para manter a atenção dos pequenos – que haviam se decepcionado um pouco com a mesmice de Shaider (que só reciclava situações já vistas em Gaban e Sharivan) e andavam tensos com a carga dramática de Bioman (com uma heroína morrendo no começo da série T.T). Curiosamente, a TV Asahi – tradicional transmissora dos tokusatsus da Toei nos anos 80 – se recusou a exibir a série e o destino da mesma foi o “canal família” do Japão: a Nippon TV. E assim, em janeiro de 1985, Byclossers (nome original do programa) estreava no Japão.

Os irmãos da justiça!
Diferente de Machineman que pareceu ter sido feita sem um planejamento, Bicrossers contava com uma história um pouco mais interessante. Os protagonistas eram dois jovens irmãos que vivem com uma mãe protetora da unidade familiar, e se comportavam como se realmente tivessem aquela idade. Eles estudam, gostam de ser paparicados pela mãe, ficam paquerando a gatinha Ayame e nas horas vagas eles ainda salvam as crianças do elenco –  que sempre são vítimas das maldades dos vilões e parecem adorar servir de isca.  Mostrar esse lado mais humano dos heróis foi uma sacada de Ishinomori bem interessante que veio a ser mais bem explorada pela Toei em 88, com Jiraiya.

O destaque da série obviamente era o uso das máquinas de combate: uma moto que se convertia em bazuca (a Moto Aerocrosser)  e um estranho carro de design gordo (Auto Aerocrosser) que felizmente era pouco usado em combate. Havia ainda a espaçonave do “mentor” dos Bicrossers – o alien Pégasus III, que deu poderes aos irmãos – mas ainda que aparecesse em todo episódio, ela não tinha muita relevância a não ser servir de  “garagem” pros veículos e emitir os raios que transformavam os irmãos.

Os brinquedos da Bandai eram procurados pela gurizada, mas não chegaram a ter tanto sucesso como o carrinho do Machineman. Talvez por esse motivo – e um sensível aumento nos custos de produção (a série era recheada de explosões e os robôs do mal tinham uma fantasia diferente em todo episódio =P) – que Ishinomori não tenha dado continuidade a essa linhagem de produções mais “alternativas” de sua carreira.

No total, Bicrossers contou com 38 episódios, sendo que os três últimos apenas apresentavam uma retrospectiva com os melhores momentos (ou seriam os piores? Porque pra render tanto episódio de retrospectiva assim… =P).  Apesar da mesma fórmula de Machineman (crianças em perigo, vilões com planos bobos e um herói com veículos feitos sob encomenda pra virar brinquedo XD), Bicrossers não tinha o mesmo charme e carisma da série anterior estrelada pelo homem da capa de cortina pra banheiro. Outro ponto contra foi a trilha sonora extramamente chata! O cantor parecia estar chorando no tema de abertura!

A luta contra o mal
Assim como Machineman, o maior problema (ou diversão, dependendo do seu ponto de vista) eram os curiosos e toscos planos dos vilões. Dester é uma organização criminosa liderada pelo Doutor Q (parente de algum vilão do Machineman?) que tinha um gosto duvidoso pra se vestir – um avental branco da Ana Maria Braga, dois brincos de diamante gigantescos, batom preto na boca e um estranho chapéu com uma buzina do Chacrinha e aquele fio enrrolado de telefone. A Lady Gaga iria adorá-lo, com toda certeza XD.

Usando de alta tecnologia (rsrsrs), para atingir seus objetivos criminosos, o Doutor Q alimenta uma sinistra estátua chamada Gola que cospe diamantes quando satisfeita. Com o que essa estátua se satisfaz? Com sofrimento de crianças! Contando com a ajuda da fiel assistente Sílvia (que tinha um cabelo apavorante, fazendo qualquer criança chorar só de ver =P) e soldadinhos mequetrefes que só apanhavam, o Doutor Q usa as mais mirabolantes artimanhas pra fazer a miudeza japa abrir o berreiro.

Enquanto isso, dois irmãos (Ken e Gingiro Mizuno) levam suas vidas comuns até que sofrem um contato imeditado com um alienígena do espaço quadrimensional (hein?) chamado Pégasus III que amplia suas capacidades humanas (super audição, telepatia, agilidade, inteligência…) e transforma o guarda roupas da dupla (x_x) em uma passagem para a 4ª dimensão. O alien (que mais parece uma entidade, pois só ouvimos sua voz) previne acerca do periogo que o planeta corre e que somente a união dos irmãos Bicrossers poderá salvar a Terra.

O verdadeiro perigo surge na série a partir do episódio 15, com a chegada de Gola Zonger, irmão de Gola – destruído pelos Bicrossers no episódio anterior. Parecendo uma lata de lixo falante com cabelos de medusa, Zonger quer dominar o planeta e se une ao Doutor Q para que sua ambição se concretize. Criando ameaças mais mortais e deixando de lado a ambição por diamantes, a organização Dester passa a dar um pouco mais de trabalho pros irmãos. Ainda por cima, a trupe do mal ganha o reforço da neta do Doutor, a mimada e circense Rita. A menina levada usava uma ropinha de circo  e era capaz de transformar sua encharpe numa espada (uia). Discutindo o tempo todo com Sílvia, a garota corria pros braços do Doutor Q na hora em que fazia alguma merda e o chamava de vovôzinho, amolecendo o coração do velho – que passa a usar um pinico preto esquisito como chapéu depois que Zonger chega.

No penúltimo episódio com alguma história, o irmão de Zonger – o Cobra-Míssil – aparece e sequestra Gin, dando um baita trabalho para Ken – que depois de muito esforço o resgata. Os irmãos descobrem o esconderijo da Dester e explodem tudo aparentemente conquistando a vitória. Contudo, no episódio seguinte – que a Globo não passou – um estranho tipo usando um roupão grego e uma arma descaradamente feita com isopor, papelão, um cabo de vassoura, cola e gliter (é sério @_@) surge para matar os irmãos Mizuno – já sabendo que ambos eram os Bicrossers! O inimigo revela sua verdadeira aparência e identidade: uma forma guerreira de Gola Zonger – e também a do único robô do mal bem feito da série XD.

O roubo dos umbigos
Até a metadade da série a intenção do Doutor Q era meramente ficar rico com os mais belos diamantes que Gola cospia. Para capturar com gravadores o choro das crianças,  o vilão bolava planos extremamente bizarros. Se você achava a língua de sogra que explode farinha de trigo de Machineman algo maligno ou tinha medo do seu brinquedo cair na mão do contrabandista da Patrine – que empanava e os fritava num tacho com óleo quente (cruzes) – é porque você nunca assistiu ao clássico episódio do roubo dos umbigos de Bicrossers. Tudo começa com uma tempestadade e crianças comentando sobre uma crença popular no Japão que diz que durante uma tempestade, os umbigos precisam ser escondidos para não sumir (mas hein?).

Eis que do nada surge voando um Oni (demônio) pintado de vermelho, com uma tanguinha de tigre, chifres, um tufo de pelos no peito e presas de plástico mal coladas, abordo de uma nuvem voadora pra lá que mal feita. A maquiagem é tão ruim que até o Freddy Mercury Prateado do Pânico tem mais tinta! Então, numa cena muito macabra o capeta japorongo inchava o estômago da criança como se fosse uma bexiga e roubava o umbigo da vítima. Depois disso, a criança fica tonta, sem equilíbrio. Segundo uma explicação pra lá de absurda, como o umbigo fica no centro do corpo, uma vez que ele é roubado a pessoa perde o equilíbrio e fica desorientada!

O plano dos vilões era usar os umbigos roubados para conduzir a eletrecidade dos trovões e assim fortalecer os poderes do monstro para conquistar a Terra. Nem o Doutor Q consegue acreditar no que ouve de Gola Zonger, nem o telespectador consegue entender como os japoneses eram capazes de inventar um roteiro tão sem sentido como aquele pra um seriado. Mas que muita criança pequena deve ter ficado impressionada com o jacubelê – tanto na terra do sushi, como por aqui – isso não tá no gibi… Que bom que não resolveram roubar outras partes do corpo né?

Bicrossers no Brasil
Com o forte apelo dos heróis japoneses que dominavam a programação da TV Manchete a ponto de até merecer destaque na revista VEJA na época, a poderosa Globo adquiriu por conta própria algumas séries a fim de bater de frente com a concorrência. Foi assim que a emissora trouxe ao Brasil Gaban, Shaider e Bicrossers. Este último talvez tenha chamado a atenção pela enorme quantidade de explosões que possui no decorrer da série – coisa que crianças nos anos 80 / 90, adoravam.

As três produções ganharam versão brasileira na Hebert Richers e Bicrossers contou com um bom trabalho de harmonia no que diz respeito a escalação do elenco. Todos os dubladores envolvidos caíram como uma luva, com destaque para o Marcus Jardym (Karasu de Yu Yu Hakusho e Wes em Power Rangers da Força do Tempo) como Ken, Iara Riça (Yui de Corrector Yui e a Florzinha de As Meninas Superpoderosas) como Ayame e  Oberdan Junior (Tintin da série homônima) como Gin.

Na narração da série, José Santanna  fazia questão dizer o que estava acontecendo pro telespectador entender – recurso estranho que usaram também em Gaban. O artifício soava engraçado e empolgante ao mesmo tempo já que o tom de voz de Santanna foi o mesmo que ele usou na narração do antigo desenho dos Super Amigos (“enquanto isso na Sala de Justiça…”).

Assim como Machineman, a série teve a trilha sonora original alterada, mas as interferências não chegaram aos pés do que fizeram com o herói da boca de fora. Essencialmente, enfiaram músicas durante cenas que não tinham no original qualquer BGM. Numa dessas, até usaram uma musica de BGM do Shaider (!). Esss arranjos foram todos feitos na Hebert mesmo e é provavel que quisessem dar mais ritmo a série.

A dublagem tinha alguns cacos bem colocados (aqueles improvisos que tem aos montes em Yu Yu Hakusho) e assim como em Gaban e Shaider, os heróis tinham a voz abafada depois de transformados. Acontece que na mente dos cariocas, qualquer um que usa um capacete fechado fica com a voz diferente (e é verdade mesmo XD) e para passar isso a quem assite, os dubladores colocavam a mão na boca pra abafar a voz. Algumas vezes, a mixagem do áudio deixava escapar vozerios japoneses, mas nada que comprometesse o trabalho como um todo.

A série foi ao ar a partir de janeiro de 1990 na Sessão Aventura, sendo o primeiro tokusatsu “moderno” da emissora – até então ela só tinha passado National Kid nos anos 60/70. Ao todo, foram exibidos 33 episódios apenas. Por alguma razão desconhecida, não apresentaram o episódios 34 – justamente o último com alguma história, já que depois é só um compacto com os melhores momentos, divididos em 3 episódios. A julgar pelo teor mais violento desse último capítulo, pode ser que tenha rolado uma censura por parte da Globo – ou não, já que naquela época periga dos programadores terem achado que a série tenha sido apresentada por completo, e tirado o programa do ar logo.

Uma fita VHS foi lançada pela Globo Vídeo com os três primeiros episódios dublados. Curiosamente, nas contra-capas das fitas de Jaspion, Changeman e Flashman da Everest Vídeo lançadas nos anos 80, um amontoado de séries inéditas deixavam a gurizada perplexa e sem saber quem eram aqueles heróis coloridos. Entre imagens de Bioman (nunca lançado por aqui, mas segundo lendas, licenciado), Changeman e  Spielvan (que só estrearia um tempo depois na TV), também apareciam os Bicrossers.  Ao lado de Shaider e Gaban, Bicrossers foi reprisado pela Gazeta por volta de 92/93.

Pouco lembrados, os Bicrossers sempre despertam uma surpresa no subconsciente da maioria das pessoas, quando assistem a um vídeo de abertura da série ou a um episódio. É aquela memória de uma infância longínqua onde as tardes eram muito mais divertidas, ingênuas e o maior barato era se reunir com os amigos para sintonizar os heróis do Japão em algum canal. Só não valia se jogar no armário com o coleguinha pra sair de dentro como um super herói transformado =P.

Checklist de Episódios.
01    A Tempestade Cai Sobre os Irmãos
02    Dr. Q Gosta de Diamantes
03    Latas Vazias
04    O Fracote
05    Papai Está em Perigo
06    O Gatinho Virou um Brinquedo
07    Os Frutos Vermelhos
08    Crianças aos Montes
09    O Anjo da Morte
10    Sílvia Vai Para a Cidade
11    O Menino que Esqueceu o Irmão
12    Os Irmãos e as Mulheres
13    Atire em Mim, Meu Irmão
14    A Revolta do Diabo Gowla
15    O Demônio Gowla-Zonguer
16    Transformador de Bebês
17    Cuidado com o Perigo
18    Ayame se Torna Deusa
19    A Bomba
20    O Grande Drama
21    O Grande Perigo
22    O Poderoso Robô
23    Flor Carnívora
24    O Fone que Lê a Mente
25    Pesadelo na Escola
26    A Busca do Tesouro
27    Dom se Regenera
28    Perturbações
29    Luta Desesperada
30    Operação Perigosa
31    Jin, Case Comigo
32    O Demônio Infantil
33    O Último Dia
34    Golpe Invencivel (não exibido no Brasil)