O mangá Oritsuru-san (algo como “senhor tsuru de origami”) ganhou no começo do mês uma versão compilada, com a seleção das melhores tirinhas. A obra é uma criação de Susumu Nishiyama (94), um sobrevivente do bombarbeio atômico à cidade de Nagasaki, ocorrido em 9 de agosto de 1945 — 3 dias após o bombardeio de Hiroshima.

As tirinhas foram publicadas por mais de 40 anos no jornal da Nihon Hidankyo — uma confederação japonesa voltada a vítimas de bombas atômicas e de hidrogênio — e a compilação é uma seleção de algumas delas. A Hidankyo foi criada em 1956 por hibakusha — como são chamados os sobreviventes dos bombardeios atômicos — para pressionar o governo a auxiliar mais as vítimas e também para abandonar as armas nucleares.

imagem: tirinha do mangá.

Exemplo de tirinha presente no livro (página 187). | Via Asahi.

Além de contar um pouco sobre a vida das vítimas, as tirinhas também trazem um pouco do movimento pela paz e contra as armas nucleares formado após os ataques ao Japão em 1945 — o único país a sofrer um bombardeio nuclear.

 

Os bombardeios

Como forma de mostrar seu poderio e também dar um fim na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os EUA bombardearam duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, com bombas atômicas, uma tecnologia de guerra até então desconhecida.

Apesar de dizeres do presidente Truman para os civis americanos logo após o incidente (de que os bombardeios foram em áreas militares, evitando a morte de civis), documentos demonstram que, na verdade, a intenção dos EUA era de maximizar o número de mortos — as duas cidades eram ocupadas por civis, não por bases militares.

Quem sobreviveu ao ataque é chamado de hibakusha“hibaku” é o termo que se usa para “ser bombardeado” (especialmente por uma arma radioativa) e “sha” é “pessoa”.

Diversos japoneses sobreviveram aos ataques na hora, mas foram posteriormente vítimas dos efeitos da radiação, até então pouco conhecidos, e morreram meses ou anos depois. Um dos maiores símbolos disso talvez seja Sadako Sasaki, uma garota que tinha 2 anos quando os bombardeios ocorreram — ela sobreviveu por 10 anos, mas desenvolveu leucemia devido à radiação.

Sadako passou seus últimos meses em tratamento no hospital, e ela acreditava que se fizessem mil tsuru em origami, sobreviveria. Infelizmente, Sadako morreu antes de conseguir terminar os mil tsuru, mas pessoas próximas, tocadas pela história, fizeram o trabalho por ela. Dessa forma, o tsuru acabou virando um símbolo de paz.

As “doenças” desenvolvidas — que na época não se sabia exatamente o que eram — estigmatizaram os hibakusha, fazendo com que muitos japoneses se afastassem deles e fechando portas para essas pessoas. Para mulheres (mas não só), por exemplo, o casamento se tornava quase impossível se a família do noivo descobrisse ser uma hibakusha.

Contudo, conforme foi-se descobrindo mais sobre a radiação e o que de fato se passou nas duas cidades durante e após os bombardeios, organizações foram criadas — frequentemente com envolvimento dos hibakusha — para pedir maior apoio governamental e o fim das armas nucleares, embora ainda existam estigmas para as pessoas ainda vivas que sobreviveram aos bombardeios.


Fonte: Asashi