Um dos meus jogos favoritos do Nintendo DS é Hotel Dusk: Room 215 (e a sequência, Last Window: The Secret of Cape West). Três coisas no jogo me fascinavam: o fato de precisar segurar o portátil como se fosse um livro, a atmosfera do final dos anos 1970 na qual a trama é ambientada, e os personagens aparecerem em desenho em preto e branco (além, claro, de achar a história envolvente e o jogo divertido).

Bem, não há nada demais em segurar um mangá como um livro — afinal, é um –, e num geral, mangás são em preto e branco… mas foi a capa da versão da editora Pipoca & Nanquim de Hotel Harbour View: TOKYO KILLERS (Kaiken Shuten — Hotel Harbour View), na qual vemos um personagem armado em uma ilustração azulada, num estilo noir, que remete justamente aos anos 1970 e à atmosfera de Hotel Dusk que me atraiu imediatamente.

Eu não procurei mais nada sobre o mangá antes de lê-lo, e o abri esperando uma trama policial… bom, recebi uma de máfia (não sei se é o melhor termo para definir), e não me arrependo (afinal, essas coisas andam lado a lado, né?).

Não sei se é uma coisa boa ou ruim, mas sou (infelizmente?) uma ávida consumidora de programas de true crime (crimes reais) — não me levem a mal, eu não gosto de crimes em si, mas eu gosto de tentar entender o contexto e os motivos que levam pessoas a cometerem tais atos. Também gosto quando são as vítimas (ou seus familiares) que tomam a frente da narrativa, e trazem seu lado.

imagem: mulher com olhar lamurioso em fundo preto com escrito "como dói'.

Foto: Laura Gassert/JBox.

Enfim, isso tudo é apenas para dizer: Tokyo Killers é o tipo de coisa que eu gosto de ler, até porque é o melhor tipo de programa de crime: o qual ninguém de verdade morreu, porque as histórias são fictícias.

O mangá é uma antologia de 5 histórias — uma delas dividida em duas partes no sumário –, mas trataremos a primeira como “história 0” por ser diferente das outras em muitos aspectos (não estar encerrada, ser colorida, entre outros), embora tenha mais ou menos a mesma quantidade de páginas das outras do tomo.

A edição brasileira tem um acabamento muito bom, típico da editora, e, como de praxe, tradução excelente por Drik Sada.

O conto zero é uma fuga, com pinceladas de contexto e motivo e um “fim” abrupto. O primeiro tem resignação e redenção como temática, e as cenas finais são sensacionais — deveria ter sido o conto final, mas também funciona bem para abrir a parte preto e branco da coletânea. O segundo e o terceiro (este último, em duas partes), são sobre vingança, mas diferentes tipos de vingança (paternal e amorosa, respectivamente). O último aborda o “jeito yakuza” de viver.

É um pouco difícil analisar um compilado de histórias em um volume único, porque, apesar de ter começo, meio e fim, é tudo muito mais rápido que numa narrativa seriada por volumes a fio. Mas Tokyo Killers fornece uma leitura prazerosa.

O conto mais interessante é a “história 2”, “O Restaurante da Rua Los Niños Perdidos” — ele começa já de um ponto extremamente engajante, dando a motivação do personagem principal logo de cara, que faz o leitor devorar a trama. A historieta seguinte, “Amor Fugaz”, se debruça um pouco mais nos personagens, e tem o melhor desenvolvimento de todas as histórias.

imagem: corpo de mulher no IML.

Foto: Laura Gassert/JBox.

A última, “Meutre Tokioite”, foi originalmente escrita por Alain Saumon, sendo adaptada por Natsuo Sekigawa (e quadrinizada pelo Taniguchi).

Só não é de longe a pior porque a “história 0” traz uma experiência de leitura horrível: não há balões de fala, mas há um texto ao final de cada página que, apesar de conter uma boa ideia de colocar um narrador participante, acaba quebrando a leitura.

No entanto, o último conto é narrativamente o mais fraco porque, apesar da experiência desconfortável, a quadrinização da “zero” ainda compensa, trazendo uma trama que dá vontade de saber como deveria ter acabado na mente dos autores. Já “Meutre Tokioite” termina com aquele gosto de “que bobo”, sendo uma péssima escolha para fechar o mangá.

Os personagens aparentam fazer pontas nos outros contos, mas não é possível saber se era proposital ou se é apenas que Taniguchi desenha personagens parecidos — isso porque praticamente ninguém tem nome nas histórias, então não dá para ter certeza se seriam as mesmas pessoas. Para mim, são as mesmas pessoas, o que cria uma certa continuidade entre as histórias.

imagem: homem com bala em sua direção.

Foto: Laura Gassert/JBox.

O destaque mesmo são as cenas incríveis de ação. Algumas resenhas por aí elogiam bastante o estilo de desenho do Taniguchi, mas criticam os roteiros.

Sendo uma primeira leitura do autor, esse modelo de roteirização por outra pessoa talvez funcione bem com ele, porque as cenas dão a impressão de que Taniguchi queria fazer cinema com o mangá. Especialmente os momentos de clímax são de tirar o fôlego.

Contudo, ao fechar o quadrinho, fica aquela sensação de “ok, acabou…”, o que nem sempre é ruim, mas para quem busca um tipo de trama que deixa marcas ou grandes mensagens, talvez não seja a melhor das opções.

É bom para quem quer um espetáculo visual no estilo gangster dos anos 1970, um entretenimento de domingo, e fãs de Hotel Dusk.


Confira algumas fotos da edição brasileira:

 

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Esta resenha foi feita com base em edição de TOKYO KILLERS cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca & Nanquim.


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