Entrevista publicada originalmente em 3 de abril de 2005, em reportagem de Leandro Gonçalo (Larc)


Nome: Romeu D’Angelo
Aniversário: 30 de Janeiro
Personagem que dublou favorito: Leomon (Digimon)
Personagem que gostaria de dublar: Hyoga de Cisne (Os Cavaleiros do Zodíaco)
Filme favorito: Doce Novembro
Desenho favorito: Os Cavaleiros do Zodíaco
Série favorita: Power Rangers – Tempestade Ninja
Dublador favorito: Danton Mello (Leonardo di Caprio em Titanic)
Dubladora favorita: Adriana Torres (Nicole Kidman em De Olhos Bem Fechados e Yolei em Digimon 2)

 

Conte pra gente, quando você começou a se interessar por teatro?

Foi por volta de 8 anos de idade, na escola, pelas mãos de uma professora em Santa Catarina. Minha primeira peça foi Dona Patinha vai ser Miss, onde eu fiz o galãzinho que namorava a patinha. Todos diziam que eu fazia bem, aÍ fui tomando gosto pela coisa.

 

E quando você começou a estudar mesmo, pensando em ser ator?

Meu pai era engenheiro e sempre era transferido para outros estados a trabalho, e a família sempre ia junto. Viajávamos muito e em cada lugar que chegávamos me envolvia com grupos de teatro locais. Aos 14 anos em Salvador eu atuava como semiprofissional. Mas foi aos 15 anos, em Recife, que vi que ser ator era tudo o que eu queria… Depois, já no Rio, fiz faculdade de artes cênicas e me formei como ator. Me sindicalizei e aí fui à luta.

 

E como foram as primeira “batalhas”? Foi difícil conseguir trabalho depois de formado ou você contou com a ajuda de algum amigo do meio?

Por sempre estar envolvido com grupos de teatro não tive dificuldades não.

 

E qual foi sua primeira peça? De todas, qual a que mais gostou de fazer?

Foi Na Selva das Cidades, de Bertold Bretch, onde contracenei com o hoje famoso e talentoso amigo Humberto Martins. Agora, a que mais gostei, foi o musical infantil de Wallasse Tavares O Diamante Mágico, contracenando com a Adriana Torres (dubladora).

 

E como surgiu o interesse pela arte da dublagem?

Foi por mero acaso. Eu estava no programa Sem Sensura (da TVE) falando de uma peça em cartaz no teatro Barrashopping (chamada O Coelho Cowboy), e o Newton da Matta estava presente também, falando do seu curso de dublagem que iria ministrar na Herbert Richers. No dia seguinte eu já estava estudando com ele, e com um mês eu já estava contratado pela Herbert. A partir daí fui tomando gosto pela coisa, e estou aí até hoje.

 

Você falou em TV… Já apareceu muito nela? Seja fazendo comerciais ou dando entrevistas…

Muito! Fiz comercial do tênis Bamba com 16 anos. Fiz novelas na Manchete. Corpo Santo, Carmem, Olho por Olho, O Fantasma da Ópera, Rede de Intrigas… Entrevistas eu faço muitas também. Apresento um programa na NET (Canal 6) chamado Raio X, onde entrevisto atores que fizeram muito sucesso e que hoje estão afastados da mídia.

 

Uau… Você faz muitas coisas! De todas essas atividades, qual a sua favorita?

Curto estar em frente às câmeras. Adoro gravar. Curto TV. Tô fazendo jornalismo para poder estar sempre nos estúdios de TV. Quero fazer muitas externas, ser correspondente lá fora….. Mas também curto ser dublador a atuar em teatro. Mas a TV é tudo.

 

Se lembra qual seu primeiro papel como dublador?

Não, porque você começa fazendo coisas muito pequenas e não dá pra lembrar. Mas o que eu considero ter sido o primeiro, foi logo em animes, o Monzaemon de Digimon. Tenho um carinho muito grande por ele. As meninas se amarravam nele, que era o prefeito da cidade dos brinquedos. Um ursinho amarelo que dizia: “Ataque dos Corações!!!!!!!”

 

Além de dublar Digimons, você também fez uma outra “coisinha”, né?

Você deve estar falando da música de abertura. Sim, cantei com a Angélica a abertura do Digimon 1. Ela cantava a maior parte da música, e eu, a que fez mais sucesso, “Digimon Digitais, Digimon são campeões…” Na moral, né?

 

A série Digimon veio em inglês ou japonês? Você sabe se a abertura original (em japonês) chegou por aqui?

Soube que foi feita a vesão em português da música que nos mostraram (essa que foi ao ar), não tive acesso à abertura original, mas soube que eles mudaram a música. A série veio em japonês, disso eu me lembro.

 

E de todos os Digimon que você dublou… Qual foi seu favorito?

Tenho dois que mais gostei de fazer. O Monzaemon que era um doce e o Leomon que era muito charmoso e valente no Tamers. Eu gostava quando ele falava: “Não me chame de príncipe… Chame-me apenas de Leomon…”. Adorei fazer ele. Fiquei muito triste quando ele morreu. Senti muito. Me apeguei muito a ele. Foi realmente meu preferido.

 

Você acompanhou as sagas de Digimon?

Só a primeira, e o Tamers pra me ouvir (sou muito crítico). Mas curti todos. O Leomon e o Monzaemon fizeram tanto sucesso entre as crianças, que dei uma entrevista à revista Anime>Do por causa deles.

 

O Leomon é muito bacana… Mas… Acha mais bacana que o Shane (Ranger Vermelho da Tempestade Ninja)?

Não tem comparação. São dois trabalhos bem distintos. Eu curto o Shane pra caramba, tenho até um fã que está gravando a série Power Rangers Thunder Storm pra mim, pois ainda não tive oportunidade de assistí-la, estou curioso e muito nervoso pra ver como ficou o resultado. O Shane foi um grande presente que o Herbert Jr. (diretor de dublagem da série) me deu. Ele viu meu teste e disse: “Quero que ele seja dublado pelo Romeu D’Angelo”. É o meu melhor personagem, sem dúvida!

 

Você já conhecia Power Rangers antes de fazer o Shane?

Via, mas achava tudo exagerado e muito chato. Depois que dublei, passei a gostar. E repito, estou muito curioso pra ver a série. Também fiz o “Motoqueiro Mascarado” nos Troopers. Era do mesmo gênero, e gostei muito de fazer.

 

Você tem algo em comum com o Shane?

Tenho. Ele é simpático, romântico e valente quando tem que ser. Me lembro que ele se apaixona por uma garota e foi muito legal fazer esse episódio. Ele é valente e sensível. Adoro a cor da sua roupa, as armas, a armadura, os golpes e sua moto. Curto muito ele.

 

O que é mais difícil dublar? Um seriado como Power Ranger ou um desenho como Digimon?

Um desenho. Colocar a voz na boca de um japonês não é fácil. Eles falam muito rápido, o movimento da boca é muito diferente do nosso. Além da rapidez, às vezes temos que esticar muito o texto pra terminar junto com eles, e tudo isso na maior correria, pois eles não param de falar. Já nos Power Rangers, o difícil pra mim foi lutar e reagir ao mesmo tempo. As vezes falar e lutar junto é muito difícil , mas depois de muitos erros, creio que tenha ficado bom (risos).

 

Além desses dois grandes sucessos, o que mais você fez made in japan?

VR Troopers, Shinzo, Patlabor, o Chacal dos ThunderCats, o Darkscream dos Transformers A Nova Geração, Cavaleiros de Mon Colle e mais 6 Digimons. Fui o dublador que mais dublou Digimons – 8 no total. Além de cantar uma das aberturas.

 

E como foi fazer um desenho cult como ThunderCats?

Eu adorei. Me senti honrado e com muita responsabilidade, pois substituir o Cazarré (dublador anterior) não é pra qualquer um. O Chacal era muito engraçado e um tanto medroso e invejoso, curto dublar esses tipos.

 

Você também fez um dos “remakes” de Transformers (A Nova Geração). Como foi dublar a nova versão desse outro cult dos anos 80? Chegou a ver o desenho original?

Lembro muito vagamente do desenho antigo. A Nova Geração é um desenho que tô muito curioso pra ver. Deve estrear logo no Globo. Acredito que os fãs vão curtir.

 

Muitas pessoas criticam a violência dos desenhos japoneses. Você acha prejudicial às crianças a violência de tais desenhos ou séries, como Power Rangers?

É complicado dizer que não, uma vez que já houve casos, não é? Mas acredito que depende de vários fatores familiares. Se a criança tem uma boa estrutura educacional dada pelos pais, não serão os Power Rangers ou desenho que a farão violenta. Acho que os pais devem orientar seus filhos sobre cultura japonesa, seus costumes, os animes… Temos violência nas ruas de todas as maneiras. Tudo pode ser bem direcionado na cabecinha delas, basta que os pais façam isso.

 

E quando criança? Você lembra de quais desenhos era fã?

Assistia muito A Pantera Cor de Rosa; “BIP BIP” (O Papa-Léguas), Os Flinstones, Tom e Jerry, Corrida Maluca, o Pica Pau e A Família Do-ré-mi.

 

E seus filhos? Curtem seus trabalhos? Alguém já o reconheceu na rua?

Tenho dois filhos, um de 8 outro de 18. Adoram meus trabalhos e têm os bonecos dos meus personagens. Falam na escola que sou eu que dublo esse ou aquele personagem e ficam muito orgulhosos. Às vezes pago alguns micos por causa deles (risos). Nunca fui reconhecido pela voz não. Minha voz não é marcante, é discreta. A não ser quando sabem que sou eu que faço. Aí pedem pra eu dar um golpe, cantar a abertura numa festa, e tome mico…

 

E eles, pensam em ser dubladores como o pai?

Sallomão D’Oliveira (o maior) tentou, até chegou a dublar, mas não levou adiante. O pequeno nem se manifestou ainda!

 

A dublagem dos Power Rangers foi feita com os 3 atores (os principais) juntos no estúdio ou cada um dublou o áudio em separado?

As cenas de luta e transformação eram todas juntas, mas as outras eram separadas. Eu gostava quando gravávamos juntos porque dava um retorno um pro outro. Na hora você se sente mais seguro.

 

E sem ser animes e seriados… Já emprestou sua voz pra algum ator famoso?

Um dia me chamaram numa empresa pra fazer um comercial do Real Player e fui sem saber do que se tratava. Chegando lá, dei de cara com o Keanu Reeves na tela! Aí eu disse: “Mas esse cara já tem dublador!”. Mas disseram: “Se o cliente o quisesse não teria chamado você”. Fiquei lisonjeado! Era uma cena de Matrix e gostei muito do Reeves “Falando com minha voz” (risos). Gostaram muito também e disseram que todas as vezes em que rolasse um comercial com o Reeves eu que iria fazer! Eu falei: “Puxa vida!!! Eu gosto desse cara pra caramba!!!” (risos). Lá em casa, ele e o Johnny Depp são shows!

 

Na maioria das profissões chegam momentos que nos deixam chateados… Tem alguma coisa que já tenha deixado você assim em sua carreira?

Muitas! A concorrência é grande e tem pouco trabalho. As pessoas são vaidosas e pisam nos outros. Eu antigamente me deixava ser pisado, mas hoje não mais permito isso. Sou bacana, tolerante e tímido, mas não aceito desaforo de diretor mal amado e de dublador vaidoso. Fui substituído em filmes e deram desculpa que não tinham me encontrado. Mentira. Vejo bonecos (personagens) meus e de amigos sendo dublados por outros, e isso me deixa muito triste. Mas acredito que a justiça de Deus tarda, mas não falha! O que fazemos de mal aqui, pagaremos para os outros verem. Muita gente já pagou caro por ter me sacaneado.

 

O que vocês está dublando atualmente?

O Dr. Lara da novela mexicana Rubi. O ator é famoso no México e se chama Fernando Jaramilo.

 

E essas novelas mexicanas são difíceis de fazer? Muitas pessoas satirizam a dublagem por causa delas…

São difíceis sim. A forma de interpretação do mexicano é exagerada e nós é que temos que acompanhar o ritmo deles. A batida da boca é muito diferente, e por causa do idioma, fica difícil de fazer, a gente acha muito estranho. Mas os mexicanos devem achar que nós é que somos muito lerdos em relação a eles (risos).

 

Os profissionais andam reclamando que o mercado da dublagem está cada vez mais difícil…. Em vista do sucesso de animes e seriados, muitos fãs acabam querendo se tornar dubladores também. O que você diria a um fã que quer se tornar um companheiro de trabalho seu?

Realmente está muito cheio de dublador e tem pouco trabalho, mas sempre cabe mais um. Estude, faça um curso de ator, pegue o registro, faça um curso de dublagem com alguém confiável (tem muitos enganadores por aí) e vá à luta! Procure se misturar aos bons e boa sorte!

 

Pode deixar um recado pros fãs dos Power Rangers, de anime e de dublagem?

Obrigado pelo carinho, pelo calor humano que sinto que têm por mim. Ainda quero dublar um personagem bacana de anime pra vocês curtirem! Obrigado ao site pelo carinho. Recebam um “Tempestade ninja Forma Ranger!”. Valeu!!