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imagem: recorte de fotos dos dubladores Mayara Stefane e Lucas Almeida

Suzume: Mayara Stefane e Lucas Almeida (2023)

Entrevista publicada originalmente em 18 de abril de 2023.


Suzume, o novo filme de Makoto Shinkai (Your Name) já está entre nós. A produção estreou nos cinemas brasileiros no último dia 13 e pudemos trocar uma ideia sobre ela com dois integrantes do elenco de dublagem em português: Mayara Stefane, que interpreta a protagonista, e Lucas Almeida, que além de dublar o personagem Serizawa também é o diretor do trabalho nacional pelo estúdio Atma.

Em um encontro virtual realizado em 5 de abril, a convite da Sony e Crunchyroll, nosso repórter Luis Afonso fez algumas perguntinhas relacionadas ao filme. Confira em vídeo abaixo, ou na transcrição a seguir (na versão em texto, alguns maneirismos foram alterados buscando uma maior fluidez de leitura).

Mayara, no filme você interpreta a maior parte do tempo uma jovem que se apaixona por uma cadeira… como que foi dar seriedade para algo tão “surreal’?

Mayara: Eu não tive problemas com isso porque o filme é maravilhoso, a ponto de que você esquece que ele é uma cadeira. Você compra totalmente a ideia de que é o Souta preso numa cadeira e isso não me atrapalhou em nada. Eu acho que as partes aonde ele fala assim “pode deixar que eu curto sozinho” e sai andando na cadeirinha… Essas partes me quebraram, mas vão quebrar todo mundo, porque é muito engraçado. Só que todo tempo eu via como a Suzume estava vendo a cena, tipo assim: “claro, vai lá campeão, você consegue”. Então acho que isso não atrapalhou em nada, acho que isso também não atrapalha a imersão de ninguém que for assistir, porque o filme, ele te convence totalmente de que aquilo é possível.

 

E para você Lucas, como é que foi dirigir um casal tão inusitado assim?

Lucas: Cara, foi uma doideira também. Eu acho que eu compartilho do mesmo sentimento da May, que ali dentro daquele universo funciona muito. Eu acho muito legal a repercussão nas redes sociais dos trailers, porque o trailer é muito rapidinho, não dá para você absorver, ser convencido às vezes… e aí a galera fala “nossa, é um filme de romance com uma cadeira!”. E cara, o filme é muito mais do que isso e a primeira impressão da internet eu acho surreal. Vão existir muitos momentos cômicos que você vê “caramba, é uma cadeira falando”, e o mundo ao redor… tipo, a cadeira nem tenta se esconder. Ela anda no meio das pessoas e as pessoas param tiram fotos e falam “aquilo ali é uma cadeira andando”. É incrível, cara! Então até dentro, ali do filme, tudo funciona muito bem e é muito divertido, é muito legal. A gente deu muita risada em muita cenas e o Fabinho [Fábio Lucindo, dublador do Souta], nossa… A hora que ele virou a cadeira, ele falou “nossa, agora não tem boca para ‘syncar’, né, agora vai que vai, de cadeira eu sou bom”. Eu falei “ah, para cara, você é bom de tudo, para com isso” (risadas). Foi maravilhoso, muito engraçado.

 

E além das vozes originais dos personagens do filme, vocês tiveram alguma outra inspiração na hora de compor a dublagem, como é que foi o processo?

L: Eu sempre me atenho às vozes originais para poder conceber a versão brasileira da obra. Mas um personagem em específico que eu ouvi, e já puxei uma referência muito forte e convidei para participar do projeto, foi o Daijin, que é aquele gatinho. Na hora que eu assisti ao original, para poder fazer a dublagem, né, a gente assiste ao material, pensei na hora na Agatha Paulita por ela ter feito o Chopper do One Piece, que é muito a mesma energia, muito parecido. E aí essa foi uma das referências que eu peguei e falei “meu, precisa ser ela, vai ser, vai ficar maravilhoso”. Aí chamei, ‘briefei’, a gente adaptou um pouquinho, trouxe mais para a energia do Daijin. E cara, deu super certo, foi algo que eu consegui remeter, linkar e tudo mais. Mas de resto, o original é tão redondinho que eu só me ative ao material original mesmo para chamar a galera, fazer testes e poder conceber.

M: E o meu, realmente eu me apeguei ao original, principalmente porque a gente até brincava que o matching vocal entre mim e a seiyuu japonesa [Nanoka Hara] é muito próximo. Tinha hora até que o Lucas falava assim “você fez a reação?”, e eu “fiz, você não tá ouvindo?”. Aí ele “é, eu tô ouvindo, mas é que… não, é original, não foi você não, vai, faz aí”.

L: É muito doido, confunde. Tem hora que confunde.

M: As respirações, as reações, um “quezinho” ou outro, era bem próximo. Então eu só fui na onda. A única coisa que eu usei para criar a voz da Suzume, entrar na personagem, eu diria, foi que eu pedi um retorno altíssimo no meu ouvido. O técnico até me chamou de surda, [um retorno] que era da minha própria voz, pra eu poder ouvir o que é que tava saindo para eu poder modular ela da mesma forma, ou muito próximo da seiyuu.

 

E falando da cadeira, e se a pessoa que vocês gostassem, no caso um ao outro*, ficasse preso em um objeto importante da sua infância, qual seria?

*Nota: Mayara e Lucas são um casal na vida real.

L: Caraca, gente! Eu acho que para mim seria o Game Boy [risadas]. Ia virar quase um Tamagotchi o negócio.

M: O meu seria um ursinho que eu tive a infância inteira, e esse foi o único ursinho que eu não destruí.

L: Olha!

M: E minha mãe tem ele até hoje, então seria esse ursinho, com certeza. Eu ganhei da minha mãe.

J: Ele tá vivo, então. Ainda, né?

L: Tá vivo! E eu tenho os Game Boys até hoje também. E às vezes eu pego para jogar e tenho feito modificações nele… Nossa, cara, passe muitos bons momentos com esse videogamezinho. Com certeza seria o Game Boy.

 

E juntando um pouco outros papéis que vocês já fizeram, Mayara dublou a Mikasa de Attack on Titan. Qual foi a diferença da interpretação, porque a Mikasa é alguém mais introvertida, mais quietinha, na dela. E a Suzume já é mais extrovertida, mais expansiva. Como é que foi para modular essa atuação?

M: Realmente, a Mikasa é totalmente “pra dentro”, não tem nada a ver com a Suzume. Eu acho que precisei pensar muito sobre como criar a Mikasa mais do que até a própria Suzume, porque a Suzume… eu costumo dizer que ela é muito parecida comigo, em vários momentos. Principalmente na hora das broncas que ela dá no Souta. Eu fiquei assim, “essa eu vou fazer com segurança”! O jeitinho dela… é uma proposta completamente diferente, mas ao mesmo tempo é muito divertido poder ter uma personagem tão completa. Porque a Mikasa, pelos traumas que ela passou e tudo mais, ela tem os mesmos sentimentos e tudo, mas é sempre ali para ela, pra dentro. Então a gente não tem como expressar isso de forma tão vasta como na Suzume. E Suzume, o que ela sente, ela fala. Se ela tá entediada, ela fala “eu tô entediada”, se ela tá triste, ela fala “tô triste”. Ou ela chora, ou ela grita… então foi super próximo do que eu sou e muito divertido também.

 

E caso Suzume se passasse no Brasil, em qual lugar abandonado vocês acham que poderia haver uma porta para o outro mundo?

L: Nossa! Aqui em São Paulo, às vezes a gente assiste vídeos de tours que fazem por lugares abandonados, que são mais voltados para o terror. Eu penso “cara, tem tantos lugares” e eu não vou me recordar o nome de nenhum. Mas meu, tem um ônibus aqui em São Paulo que faz um tour por esses lugares que eu acho fantástico. E passa por muitos lugares mesmo! Em hospital e tudo mais. Então meu, dá para realmente tirar proveito de alguma coisa. Quem sabe exista realmente alguma porta em algum lugar aí, bicho? Você [Mayara] consegue pensar em algum lugar?

M: Eu tô tentando pensar em algum lugar…

L: Eu não lembro os nomes, cara, mas existem. Existem.

M: Eu acho que provavelmente alguma fazenda de café abandonado ia ter, hein.

L: Com certeza.

M: Porque tem várias fazendas de café abandonado, que eu já visitei algumas até no interior. Eu posso pensar em uma lá perto de Ipaussu, que foi onde eu nasci, que eu ia visitar direto e era uma fazenda de café abandonada.

L: Eu sei que na Liberdade, que já é um bairro que tem toda a cultura asiática e tudo mais, lá existe um lugarzinho abandonado, uma estrutura bem famosa até, eu só não vou me recordar o nome. E cara, por ser um anime e tudo mais, lá com certeza [risadas].

J: Fiquei abismado com essa tour por lugares abandonados, um ônibus faz isso?

L: Existe! E tem dois horários.

M: E ele sai de madrugada.

J: É doido, que é isso… vou pesquisar!

 

Em dada parte do filme, a Suzume e o Serizawa viajam de carro, ele coloca umas músicas temáticas pra viagem. Vocês têm alguma playlist de viagem? O que que tem nelas?

M: Ah, eu tenho! Como que chama?

L: “Eu só quero viajar” é o nome da sua playlist.

M: E literalmente só tem músicas de positividade. E são músicas que, se você fala assim… “você escuta esses cantores? Você sabe sobre a banda?” Não, são músicas só que eu ouvi em algum determinado momento da minha vida e fizeram eu me sentir muito bem, positiva e tranquila, aí elas tão nessa playlist. Eu procuro a música e vou lá e coloco e eu só ouço essa música e essa banda dentro dessa playlist.

L: É muito doido porque, além dessa playlist, enquanto eu tava gravando a galera e a gente sempre passava por essa cena. Eu tive que dublar as cançõezinhas e tudo mais, não saiu mais da cabeça, nem minha e nem do Luiz, que era o técnico que fez a captação do filme inteiro. A gente montou a playlist do filme! A gente foi atrás das músicas que rolam e, mano, maravilhoso! A gente tá decorando as letras já.

M: E vira e mexe baixa o Serizawa [Lucas dubla o personagem] nele, e ele começa a cantar.

L: Eu fico naquele clima relax dele que eu acho fantástico, é impagável, é muito bom.

 

E gente, para fechar, por que as pessoas devem ver Suzume dublado nos cinemas?

M: Ah, porque tá tão incrível! Eu acho que a dublagem é sempre um “quê” a mais para o projeto, principalmente para quem não fala japonês. Você vai poder de fato aproveitar a direção fotográfica do filme, a animação. Porque o filme, ele é muito lindo, ele tem imagens maravilhosas, cenários incríveis, cada detalhe do filme importa. E você vai poder curtir essa experiência total, você vai ficar totalmente imersivo dentro da história sem se preocupar com a legenda. Eu pelo menos gosto da dublagem por isso. E a gente fez tudo com tanto carinho!

L: É, foi um trabalho meticulosamente criado, ficamos atentos a todos os mínimos detalhes que as obras do Makoto exigem e, acredito que se você tem olho na tela 100%, sem precisar correr para uma legenda, você vai aproveitar bem melhor o filme, vai aproveitar muito mais. Você pode correr o risco de estar mais imerso nele, com certeza. E mais do que isso, né, mais do que você ver o filme dublado, recomendo todo mundo a assistir e conhecer. Porque ele não é só um anime que tá vendo para o cinema, ele é uma animação muito linda e que não vai pegar só o público otaku. Ele tem uma história muito forte, que pode pegar até quem não é habituado com animes. Ele é uma animação muito bonita, super rico em detalhes.

A dublagem foi cuidadamente criada em cima do original, para poder te transportar para esse universo com a maior fidelidade possível. Você não perde nenhuma nuance, porque é muito detalhe mesmo nesse filme. A gente fez com muito carinho. Toda a intensidade do original pode ter certeza que tá também na versão dublada, tá de arrepiar, isso eu prometo, eu garanto [risadas]!

M: Eu fiquei sem voz!

L: Ela ficou sem voz! [risadas]

J: É mesmo?

M: A gente fez tudo no mesmo dia. Então, a Suzume não cala a boca, né? Ela não para de gritar! Faltando meia hora para terminar a escala, eu já comecei “gente, corre que a voz tá falhando”. Muita água, inalação… eu entrei com o inalador no estúdio para garantir que eu ia conseguir chegar até o final.

J: Muitas horas de gravação, né?

M: Muitas horas!

J: Tô super ansioso para ver nos cinemas, parece que tá muito lindo, a gente vê no trailer, da qualidade da imagem, a direção fotográfica… é muito bonita, né? E a gente fica só muito ansioso para assistir.

L: Total! Também tô muito animado para saber o que todo mundo vai achar. Mandem feedback, escrevam pra gente, eu tô sempre atento nas redes sociais para saber das impressões. Então, por favor, “venham pra gente de volta”. E espero muito que todo mundo curta ao assistir Suzume dublado no cinemas.

 

Reportagem: Igor Lunei e Luis Afonso | Transcrição e edição: Rafael Jiback
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