O lançamento de um mangá no ano passado chamou a atenção de alguns japoneses: a Kadokawa publicou uma adaptação em mangá do livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, lançado em 1985 por Svetlana Alexievich, jornalista bielorrussa, rendendo um Prêmio Nobel da Literatura para a autora em 2015. O livro saiu, primeiramente, na União Soviética, em russo (a tradução brasileira só saiu em 2016), vendendo mais de 2 milhões de cópias mundialmente.

A obra conta as experiências de mulheres soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), todas voluntárias a serviço do exército da URSS. Essas mulheres serviram como atiradoras, pilotas, enfermeiras, cirurgiãs, cozinheiras, lavandeiras – enfim, foram encarregadas de diversas ocupações no fronte ou suporte de guerra – cerca de 1 milhão de mulheres se alistaram. Svetlana começou a entrevistar veteranas de guerra em 1978, foram mais de 500 entrevistadas.

A ideia de adaptar a obra em mangá (que em japonês leva o título de Sensou wa Onna no Kao o Shiteinai) foi do editor Kentaro Ogino, que, tendo em mente um projeto focado no público jovem, chamou Keito Koume para fazer os quadrinhos. Koume foi responsável pela adaptação em mangá de Spice and Wolf, novel de Isuna Hasekura. Ogino queria um estilo artístico menos realista, para ressoar mais com a juventude hoje – mesmo podendo ser considerado “impróprio” para uma obra sobre a violência da guerra.

O mangá possui até um “comercial” de 14 minutos, com participação da atriz Yoko Hikasa (voz japonesa de Diana Cavendish em Little Witch Academia):

Apesar dos personagens menos realistas, os objetos, como xícaras, são fiéis aos utilizados na União Soviética na época da guerra. A intenção do editor também é incentivar as pessoas a lerem o livro. A versão encadernada do mangá, lançada dia 27 de janeiro, já vendeu mais de 100 mil cópias.

A obra saiu primeiramente na ComicWalker, serviço online de mangás, em abril de 2019, causando certo barulho. Para Ryusuke Nagura, editor na Iwanami Shoten, que publicou a tradução japonesa de Midori Miura, o mangá foi positivo: depois do mangá sair em encadernado, a Iwanami reimprimiu 10 mil cópias do livro. Nagura acredita que mostrar o lado emocional das pessoas durante uma guerra é muito importante para deixar uma mensagem anti-guerra.

Capa do primeiro volume. / Divulgação.

Yoshiyuki Tomino, diretor do primeiro Mobile Suit Gundam, foi uma das pessoas impressionadas com a adaptação: “Nunca imaginei que alguém aceitaria um desafio desses”. Ainda há partes não adaptadas do livro original, mas há planos de um segundo volume. Os dois primeiros capítulos do mangá estão disponíveis na ComicWalker (em japonês).


Fonte: Asahi