No ano de 1993, um grupo de heróis coloridos chegava à tela das televisões norte-americanas: os Power Rangers, os guerreiros da adaptação americana de Kyoryu Sentai Zyuranger, logo viraram um fenômeno mundial. Após três décadas, a série chega ao fim (ao menos no formato como conhecemos) com Power Rangers: Fúria Cósmica, a 30ª temporada dessa franquia que já virou filme, quadrinho e jogo de videogame.

A nova série, que é uma continuação direta dos eventos de Dino Fúria, tem ritmo de comemoração e despedida para fãs e trouxe algumas mudanças para a franquia. Uma delas é a presença da primeira ranger vermelha não-temporária liderando a equipe, Amelia, a antiga Ranger Rosa que agora assume o manto deixado por Zayto.

Além disso, é a primeira temporada disponibilizada na íntegra em sua estreia na Netflix e com um número menor de episódios: são apenas 10 capítulos para fechar uma saga de 30 anos. E felizmente, a série faz bom uso do seu tempo limitado.

Os primeiros episódios já são recheados com diversos acontecimentos: há um Ranger entrando pro time do mal, outro que perde o braço e o início de uma bem-sucedida invasão à Terra pelo clássico vilão Lord Zedd. Se há correria e conveniências de roteiro nesse começo, não tem problema, pois o desenvolvimento que segue é satisfatório e traz uma boa explicação para os novos poderes dos Rangers.

imagem: os rangers de cosmic fury.

Reprodução: Hasbro.

Como todos os episódios foram disponibilizados de uma única vez, o roteiro se dá a liberdade de dispensar a ideia de “monstros da semana” para mostrar embates que vão evoluindo ao longo dos capítulos. Os ganchos ao fim de cada parte se mostram orgânicos e nem sempre os rangers vencem as batalhas contra seus inimigos – e vale dizer que isso é feito sem que a história fique “sombria” ou perca seu lado infanto-juvenil.

O que poderia ser uma questão negativa dessa diminuição no tempo de uma temporada é a exploração do lado humano dos protagonistas, com capítulos sobre o cotidiano dos mesmos com a família e os amigos. Entretanto, como Fúria Cósmica é a continuação de uma temporada passada, seus heróis já possuem suas relações e personalidades bem estabelecidas, estão é fácil compreender o que se passa na cabeça de cada um e como eles reagiriam em determinada situação.

Além disso, a temporada livra a audiência de tramas repetitivas e cansativas, algo comum em Dino Fúria, como os capítulos focados em Aiyon, que rodavam em torno da personalidade imatura do Ranger Dourado, que sempre “aprendia” uma lição, para dois capítulos depois continuar agindo de forma egoísta – e para ser sincero, não é como se Aiyon tivesse mudado muito de uma temporada para outra.

imagem: Hunter Deno como Amelia em power rangers fúria cósmica

Divulgação: Hasbro.

Ponto forte na nova equipe dos Rangers, a liderança de Amelia é bem-vinda. A personagem basicamente atuava como protagonista de Dino Fúria e merecia ganhar esse destaque. Claro, há uma certa mudança quase repentina na personalidade da mesma, que deixa de divagar em seus sonhos com seres sobrenaturais para aceitar explicações mais centradas e pé no chão, mas até nisso o roteiro acerta, já que brinca com essa nova Amelia Ranger Vermelha.

Já Ollie, o namorado da garota, não tem tanta sorte na temporada. Por ficar um bom tempo ao lado dos vilões, ele perde espaço e a atuação do ator Kai Moya não impressiona com sua face inexpressiva e olhar nada ameaçador (e pode ser que ninguém espere muito de atuação em uma série infantil, mas isso é algo que precisa ser destacado).

Enquanto isso, Javi e Zayto ganham novos problemas pessoais para lidar ao longo dos episódios, com a trama do segundo sendo bem mais interessante que a do primeiro – Zayto, aliás, é um dos pontos altos da temporada. Por outro lado, o relacionamento entre Izzy e Fern, apesar de continuar doce e sincero, poderia ter sido melhor trabalhado e ido além da superproteção de Izzy com a namorada.

Agora, o destaque entre os personagens da temporada vai para os vilões. Não apenas Lord Zedd, mas também os novos inimigos criados para essa temporada estão bastante carismáticos. As piadas feitas com eles são melhores que as de Dino Fúria e tiram um gostoso risinho. Vale ainda destacar que o traje de Ollie como um Ranger do mal ficou muito bom, o que compensa o período do personagem ao lado das forças inimigas.

Uma pena mesmo são os trajes dos Rangers Fúria Cósmica. Os fãs já haviam notado como os novos uniformes não possuem o mesmo brilho dos anteriores, com poucos adereços e detalhes medonhos que ressaltam músculos e seios.

Alguns podem dizer que isso obviamente aconteceria, que os designers norte-americanos não teriam a criatividade dos japoneses. Entretanto, é importante lembrar que mais de uma vez no passado os norte-americanos acertaram nessa questão. Lord Zedd e o Ranger Titanium de Lightspeed são exemplos de boas composições visuais, de modo que é realmente estranho terem errado com os protagonistas da temporada de 30 anos. Felizmente, os acertos superam os erros e esse detalhe é relevado ao longo dos episódios.

imagem: os rangers prestes a morfar.

Reprodução: Hasbro.

Deixando de lado os figurinos dos guerreiros, Fúria Cósmica apenas recicla de forma inteligente algumas sequências com Zords de Uchu Sentai Kyuranger. Entretanto, há alguns problemas aqui de montagem que não passam despercebidos. Uma batalha que se inicia em uma floresta, por exemplo, muda para uma cidade sem qualquer explicação (a cidade em si é citada, mas os Rangers nunca chegam a ir até ela).

O ponto forte de Fúria Cósmica é que a produção aqui entende o que é Power Rangers e sabe brincar com as expectativas dos fãs. A inserção de uma Ranger Vermelha e uma heroína da cor laranja ocorre justamente graças a essa compreensão em torno das possibilidades da franquia e de entender como é possível agradar e surpreender sua audiência.

Entre batalhas e bons momentos de drama, surgem também referências ao passado que devem alegrar os fãs mais assíduos, mas que também podem ser um problema para aqueles que não acompanham Power Rangers com frequência.

Veja bem: é uma franquia de três décadas, dividida em diferentes mídias, com seus altos e baixos. Mesmo com uma boa comunidade de admiradores, não se pode crer que todo mundo tenha visto todas as 29 temporadas anteriores — até porque algumas delas são realmente difíceis de acompanhar. Ninja Steel, referenciado em Fúria Cósmica, é uma das mais fracas de toda a franquia.

Outra questão é a trilha sonora, que pouco muda em relação a de Dino Fúria e não é das mais inspiradas. Como a série martela sua trilha a todo momento no ouvido da audiência, até o oitavo o espectador já estará cansado de escutar o tema de transformação dos Megazords, por exemplo.

O capítulo final, intitulado “The End”, não chega a ter o mesmo impacto de outros fechamentos da franquia no passado, mas tem seus momentos e cumpre o dever de dar um basta à eterna luta dos Rangers contra Lord Zedd – além de oferecer um ótimo desfecho para Zayto.

Mesmo com falhas, Fúria Cósmica encerra assim uma série de 30 anos com uma sensação de dever cumprido — Power Rangers como conhecemos acaba aqui, mas a franquia não se finaliza agora. Os heróis coloridos devem voltar no futuro em uma nova série, ainda sem muitas informações. Se será um remake, uma temporada animada ou apenas uma nova abordagem, só o futuro nos dirá.

Esperamos apenas que esse futuro continue colorido como os nossos Rangers.


Power Rangers: Fúria Cósmica é exibido pela Netflix com opção de áudio original, legendas e dublagem em vários idiomas, incluindo o português brasileiro.


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