Entrevista publicada originalmente em 20 de março de 2011.


Apaixonado desde pequeno pelos fantásticos heróis da Terra do Sol Nascente, Alexandre Nagado é um dos profissionais que se tornaram referência em cultura pop japonesa no Brasil. Conversamos com ele sobre os bastidores do universo tokusatsu, sua visão sobre o mercado de quadrinhos e até projetos futuros. Confira na entrevista a seguir.


Quando você começou a se interessar por trabalhar profissionalmente com histórias em quadrinhos?
Bom, eu lia quadrinhos já aos 5 anos, desde que fui alfabetizado. Comecei a buscar meios para trabalhar com isso em 1986 (tinha 15 anos), quando fui estudar desenho com o professor Ismael dos Santos, da escola-estúdio Núcleo de Arte. Ele também ensinou o Spacca, Emerson Abreu (do estúdio MSP) além de muitos outros profissionais. Devo muito ao Ismael. Até hoje temos contato e fizemos muitos trabalhos juntos, o que sempre foi motivo de alegria e orgulho pra mim.

 

E quando nasceu a paixão por heróis japoneses?
Eu assistia muitas séries na TV desde criança e gostava muito de várias delas. Acho que meu gosto se solidificou por volta dos 10 ou 12 anos, quando eu já curtia mais os enredos.

 

Quais os seus prediletos?
De favoritos de todos os tempos, tem Speed Racer, A Princesa e o Cavaleiro, Sawamu – O Demolidor, Ultraman (as séries originais), Ultra Seven, Robô Gigante… Já na adolescência eu descobri o Yamato – Patrulha Estelar, até hoje meu animê favorito. Os dois primeiros Ultramen e o Ultraseven continuam como os prediletos entre os tokusatsu. Mas o meu mangá favorito não é de heróis. É o Maison Ikkoku, da Rumiko Takahashi, um belo e divertido mangá adulto sobre relacionamentos.

 

No começo dos anos 1990, eram produzidos no Brasil quadrinhos baseados em heróis japoneses do gênero tokusatsu – que chamávamos de “Toku Comics”, já que o estilo da arte lembrava o das HQs americanas da época. Fale um pouco de sua participação nessas HQs.
Cá entre nós, “Toku Comics” eu acho um nome horrível… A palavra é “Tokusatsu”, que já é uma abreviação de “tokushuu kouka satsuei” (filmagem de efeitos especiais) e acho meio sem noção usar “toku” como prefixo, como muitos fãs fazem, aqui e no exterior, mas enfim… Não me xinguem por isso, mas vejo muita gente bater no peito dizendo que é “fã de toku”, que é “tokufan” (um neologismo horroroso) e não sabe nem o que é essa palavra. Na verdade, 90% dos “tokufans” gostam mesmo é de Kamen Rider e Super Sentai e um ou outro herói fora disso. E tokusatsu ainda tem os Ultras, os kaiju eiga (filmes de monstros) e outros que usam efeitos especiais ostensivamente pra contar uma história, sem terem necessariamente monstros e super-heróis.

Bom, mas voltando ao que me perguntou: No começo, tinhas os gibis do Jaspion e Changeman produzidos pelo Ataíde Braz, Neide Harue e Roberto Kussumoto para a Editora EBAL. Eu tinha 19 anos e queria desenhar alguma coisa relacionada. Daí, depois de pesquisar no expediente da revista, entrei em contato com a Alien International, que licenciava o produto e ficava perto de casa, no bairro de Pinheiros. Fui até lá e o diretor, o Takeo, disse que eu poderia tentar fazer um teste para o Studio Velpa, que iria assumir a produção da revista Jaspion, que estava sendo transferida para a poderosa Editora Abril. Mas pra desenhar 20 páginas de teste, eu precisava ter o quê desenhar. Daí eu criei uma história e fiz todo o lápis. Dias depois, me ligaram. O desenho foi considerado muito fraco, mas o roteiro tinha agradado.

O roteirista principal era Rodrigo de Goes e foi ele quem me incentivou a escrever cada vez mais, generosamente abrindo espaço para que eu desenvolvesse meu trabalho. Fiz 3 histórias do Flashman (uma delas co-escrita com o Rodrigo de Goes), 2 de Changeman (uma com o Rodrigo) e 3 de Maskman, todas para a Abril, nas revista Jaspion e Heróis da TV. Também escrevi Goggle V, Machine Man e Sharivan para a EBAL. Goggle 5 vendeu mais de 50 mil exemplares, o que o faria ser um best-seller hoje em dia.

Ah, e o primeiro número do Jaspion na Abril, do qual participei com um roteiro pra Flashman, vendeu 100 mil exemplares. Além disso, houve 3 histórias de Cybercop, uma de Spielvan e uma de Metalder que nunca foram publicadas, mas todas devidamente pagas. Foi uma época em que aprendi a lidar com prazos (algo para o qual eu havia sido preparado pelo Ismael dos Santos, meu professor) e desenvolvi narrativa, diálogos, etc. Criar histórias fechadas de 20 e poucas páginas foi um exercício e tanto. Quando fui fazer Street Fighter em 1993, já estava com alguma experiência e pude escrever com um pouco mais de desenvoltura.

 

Falando nisso, os quadrinhos de Street Fighter II fizeram bastante sucesso, não? Na época parecia haver uma maior valorização do artista nacional e o número de material “Made in Brazil” era mais alto que hoje em dia. É mesmo mais barato pagar licenças para publicar material importado que investir na produção nacional?
Street Fighter II
vendia mais de 20 mil exemplares por edição, mais do que muitos dos sucessos recentes do quadrinho nacional. Sobre a publicação de material estrangeiro, sim, é proporcionalmente mais barato. Basta pagar tradutor e letrista e não há a preocupação de se encomendar material criativo que precise ser trabalhado e desenvolvido conforme resposta de público. O editor apenas seleciona material já pronto e cuida de supervisionar como esse produto chegará ao consumidor.

Claro que há custos, mas nem se compara ao risco de se investir muito em material que não se sabe se terá retorno. Em contrapartida, um material que já foi consagrado em outro país já dá mais segurança ao editor. Esse também já foi pago em seu país e os direitos autorais acabam ficando mais em conta na proporção custo/benefício. Os direitos de publicação têm seus custos, alguns são muito caros e a editora assume riscos, mas é um investimento com mais garantias de retorno, até pela estrutura que já vem pronta. Falta vontade nas editoras, que pensam no lucro mais imediato. Claro que parte da culpa também é dos autores (eu incluso), mas é difícil se dedicar a projetos duvidosos tendo contas a pagar mensalmente.

 

Por que tais quadrinhos seguiam o estilo americano no traço e não algo mais ligado ao mangá? E porque algumas histórias destoavam tanto do universo dos personagens da tevê?
Eu sempre quis puxar para o lado mangá na época das revistas de heróis de Tokusatsu, mas era só eu. A maioria dos desenhistas lá era totalmente influenciada por heróis Marvel. Tanto que o excelente Aluir Amâncio, que desenhou as primeiras histórias do Jaspion, fez Jaspion e Anri como se fossem Peter Parker e Mary Jane. Eu não gostava dessa abordagem, mas a arte era realmente muito boa e foi uma pena o Aluir não ter continuado até o final, indo produzir pra Disney, Marvel e DC Comics.

Em Goggle V (que saiu em 1991 pela EBAL), o desenhista Roberto Martins usou um traço mais estilizado e acabou se aproximando do mangá. Em termos de roteiro, apesar do formato mais “super-heróis Marvel/ DC”, eu tentava colocar elementos de narrativa mais orientais, ao menos em cenas de batalha. Pelo menos era assim na minha cabeça ingênua da época (risos). Não estou justificando nada, mas se lembrar que comecei a fazer esses roteiros com 19 anos, não dá pra esperar muita maturidade mesmo.

 

Depois você chegou a lançar um herói próprio chamado Blue Fighter. Fale um pouco de sua criação e porque “aposentou” o personagem?
Eu sempre achei um personagem despretensioso e que devia ser divertido. Mas tive críticas raivosas demais e criei inimigos rancorosos que se sentiram ofendidos quando o Blue Fighter apareceu. Sinto muito por essas pessoas, que, na falta do que fazer, ficam martelando a mesma tecla, como se eu fosse um deslumbrado que achasse Blue Fighter uma obra-prima. Até hoje, tem pessoas em fóruns que não se cansam de dizer como aquilo era ruim, que era imitação tosca de Kamen Rider, que até tinha nome em inglês, como se os japoneses protestassem contra o uso de inglês em One Piece, Dragon Ball, Ultraman

Acho que o Blue Fighter traumatizou muita gente que não se conforma de nunca ter publicado nada enquanto eu publiquei tanta coisa criticada. Mas fico feliz de ter publicado a fase 2 na revista Mangá X (em 2000, pela Ed. Escala), podendo concluir a série como eu queria. Resumindo: não penso mesmo em fazer novas histórias, a menos que seja convidado e ganhe por isso.

 

O maior referencial para muitas pessoas sobre você é a revista Herói. Antes dela, já havia participado de alguma outra revista escrevendo matérias?
Sim, em 1993 e 94, escrevi pequenas matérias, notas e resenhas sobre personagens japoneses pra revista Set – Cinema e Vídeo. Esse foi o meu começo, na imprensa “mainstream”, bem antes de existir uma imprensa especializada em produções japonesas. E quem deu minha primeira chance foi o Carlos Eduardo Miranda (um dos jurados do programa Qual é o Seu Talento?, do SBT), com quem falei oferecendo referências sobre Ultraman pra ajudar num artigo que eles haviam anunciado. Fiz um teste de redação e acabei fazendo o texto. Com relação a minha participação na revista Herói, fui mais um coadjuvante com seus momentos de destaque, sem falsa modéstia. Por isso acho legal ser tão lembrado quando se fala na Herói. Algumas edições da revista venderam mais de 400 mil exemplares. Isso explica a tamanha exposição que nós tivemos – eu e o Del Greco.

 

A Herói foi um marco editorial nos anos 1990. Nenhuma publicação voltada ao público “nerd” existia no Brasil até então, correto? Como você foi convidado para trabalhar nela e por quanto tempo permaneceu?
Os editores e sócios da ACME, André Forastieri e Rogério de Campos, eu havia conhecido na revista Set. Foram eles que me chamaram. Me lembro até hoje o dia em que, no final de 1994, o Forastieri me contou sobre o projeto da Herói e dizia que não fazia idéia do resultado daquilo. Foi sempre num esquema de free-lancer, ganhando por lauda de texto. Por um tempo, havia uma cota de produção. Em 1996, por conta de minha relação com a Editora Escala (onde também era free-lancer), um editor contratado me “fritou” e cortou minha participação. Foi um lance bem político e meio pessoal, pois o cara achava que eu não era de confiança, trabalhando pra uma concorrente. Quando esse editor caiu fora, me chamaram de volta, mas sempre como colaborador free-lancer. Entre idas e vindas, acho que foram uns 5 ou 6 anos de colaborações. Participei da muitas edições, mas nunca fui fixo da revista, como o Marcelo Del Greco foi na maior parte do tempo.

 

Como era fazer uma revista como aquela nos anos 1990, com a internet engatinhando e o Japão tão distante em termos de acesso a informações?
Engatinhando nada. Em 1995 eu nem sonhava em acessar informações pelo computador. Os caminhos eram os seguintes: assistir fitas japonesas em locadoras da colônia (com senhores mal-educados que detestavam atender quem não dominava o idioma), procurar livros e revistas caríssimos (e que levavam meses pra chegar quando eram encomendados), comprar revistas americanas em lojas de quadrinhos (o que nos levou a muitas informações equivocadas publicadas em revistas gringas) e falar com colecionadores.

Era um trabalho de garimpo, onde cada informação, cada imagem conseguida, era uma vitória. Hoje em dia é tudo muito fácil, mas naquela época, conseguimos desbravar muita coisa. Lembro que em matérias pra Herói, eu ficava congelando a imagem do vídeo e copiava os créditos das séries. Daí, levava pra meu professor de japonês pra que ele ajudasse a traduzir os kanjis para os nomes mais prováveis. Isso nem sempre dava certo, já que kanjis têm leituras diferentes possíveis e nem sempre o artista escolhe para seu nome a leitura mais comum. Daí, com nomes que iam aparecendo com mais freqüência, eu ia citando isso nas matérias.

Por exemplo, o roteirista Shozo Uehara havia escrito a maior parte de Kaettekita Ultraman (O Regresso de Ultraman, de 1971). Depois, vi que ele escreveu os primeiros episódios de Kamen Rider Black (1987) e praticamente toda a série do Jaspion. A esse tipo de informação eu dava ênfase, tornando certos nomes conhecidos do público. Eu não percebia na época, mas começava a dar um toque mais sério aos assuntos de bastidores, coisa que até hoje interessa a muitos leitores.

 

Tal como os leitores, a revista aos poucos foi amadurecendo, e em um dado momento ela se transformou em várias. De todas as Herói, quais a que você mais gostou?
Acho que a Herói 2000, onde colaborei pouco, tinha o formato mais legal. Na época da Herói 2000 eu tinha um texto um pouco melhor também. A Super também era interessante, pois permitia explorar uma linguagem mais elaborada.

 

Como era o ritmo de trabalho com tantas “Heróis” e a periodicidade semanal?
Era bem puxado. Os Cavaleiros do Zodíaco eram o carro-chefe, claro, mas a revista chegou a ter 48 páginas saindo duas vezes por semana. Cavaleiros ocupavam em média 8 páginas por edição. O resto eram outras pautas, como filmes e quadrinhos dos EUA. Nesse embalo, pude sugerir (e ser pago) para escrever muitas pautas sobre séries que eu gostava, tanto de animês quanto de tokusatsu. Às vezes, tinha que redigir mais de 10 páginas de matérias por semana. Mas redigir era a parte mais fácil. Tinha que pesquisar, ligar pra muita gente, procurar imagens em livros e revistas. Antes da internet, tudo era muito difícil de se conseguir e cada imagem era um achado precioso. E quem diz com desdém que a Herói “era só Cavaleiros”, certamente na época não procurava outra coisa mesmo. Se procurasse, teria visto muita coisa legal na revista.

 

Como você analisa essa explosão dos quadrinhos brasileiros que são feitos “em estilo mangá” que existe hoje nas bancas? Acha que esse nicho tem um “prazo de validade” ou continuará crescendo?
O Brasil foi o primeiro país a produzir quadrinhos com influências japonesas, isso lá da década de 1960, com pioneiros como Cláudio Seto, Minami Keizi, Fernando Ikoma e outros. Depois, houve tentativas nas décadas de 1980 e 90 e algumas outras no começo do século. Tirando Holy Avenger, não vingaram.

Vez por outra, alguém mais tenta. O material mais bem-sucedido sem dúvida é Turma da Mônica Jovem, que não pretende ser um mangá nacional, mas que tem influências óbvias. A mais recente empreitada divulgada é a Ação Magazine, capitaneada pelo Alex Lancaster. Não sei se o mercado vai responder bem à ela, mas espero que sim. Não sei se há um prazo de validade, mas com certeza sempre haverá alguém tentando. O mangá faz parte da história da HQ nacional e está sempre se renovando.

Qual sua opinião acerca do atual quadro dos animês nas emissoras de tevê aberta? Os fãs estão mais exigentes ou a censura está mais incisiva?
Aqui, não há exatamente uma censura, mas sim adequação de horários. Acontece que muita coisa vem via EUA e é lá que cortes acontecem, pra “adequar” um produto juvenil ao infantil, o que é lamentável. Acabamos herdando a censura dos EUA. O que acontece é que os programadores (aqui e lá) continuam não entendendo o produto que têm em mãos. É melhor passar em outro horário do que passar de manhã e ter que cortar trechos pra não espantar anunciantes, obviamente. Se ainda assim cortam, é paranóia pura e é o que acontece nos EUA. E os fãs estão mais exigentes, sim. Em parte, pelo acesso à informação e pela imprensa especializada.

 

Como grande fã de tokusatu, o que você pensa a respeito dos Power Rangers?
Bom, eu gosto de tokusatsu pra caramba, mais do que mangá e animê, mas não gosto da palavra fã, que me lembra fanático. Fã, nerd e otaku pra mim são palavras que não me definem nem um pouco, pois tenho múltiplos interesses, gostos multifacetados e não coleciono rigorosamente nada. Quanto aos Power Rangers, não vejo lá nada de original e nada que me atraia a atenção. Mesmo o gênero que deu origem a eles, o Super Sentai, não é dos meus favoritos. Gosto de alguns títulos de Sentai, como Changeman, Jetman, Maskman, Dairanger… Ainda assim, gosto de certos episódios, não das séries inteiras.

 

Você tem alguma coleção? Que títulos você tem o hábito de acompanhar?
Ah, tenho várias minisséries completas. Se eu gosto, compro todas as edições. Atualmente, não estou lendo mais nada regularmente. Entre as séries que gostei muito de ter lido estão Watchmen, Cavaleiro das Trevas, Ronin, Liga da Justiça x Vingadores, O Reino do Amanhã, Liga da Justiça do Grant Morrison, Homem Animal (também do Grant Morrison), Demolidor – Ano Um

Sempre li muito super-heróis, mas diminuí a dose nos últimos anos. Também gosto muito de Asterix, Tintin, Mortadelo e Salaminho (esse poucos conhecem), algumas coisas da Turma da Mônica, o Tio Patinhas do Carl Barks, Spirit e praticamente qualquer coisa produzida pelo Laerte, Fernando Gonsales e Spacca. Sempre li muita HQ de qualquer gênero, mas gosto de humor e super-heróis. De mangá, gostei muito de Dr. Slump, Video Girl, Onegai Teacher, Lobo Solitário, Crying Freeman, Sanctuary, Oh My Goddess

 

Acha que o mercado brasileiro pode um dia chegar a ser metade do que o mercado norte americano para animês e mangás?
Na verdade o que eu sonho é com um mercado de produções nacionais de quadrinhos e animações que permita o sustento de muitos profissionais. Pode parecer estranho isso vindo de um cara que escreve sobre seriados japoneses, mas eu preferiria mil vezes mais poder falar sobre um mercado de produções nacionais que tivesse espaço para muitos autores e trabalho pra todo mundo, em qualquer estilo.

 

E os tokusatsus?! O que achou do lançamento de séries como Jaspion e Changeman em DVD?
Acompanho de longe tudo isso. Acho bom que esteja saindo esse material e espero que haja sempre respeito com os fãs (o que nem sempre ocorre), mas não adquiri ainda nada disso. E dificilmente o farei, pois tenho muitas outras prioridades.

 

Fale-nos um pouco sobre seu trabalho em sites como o Omelete e Bigorna.net.
O Omelete apareceu em 2000 e fui convidado pelo Jotapê Martins, tradutor de quadrinhos que era um dos editores fundadores do projeto. Fui chamado pra escrever sobre heróis japoneses, claro, mas tive a oportunidade de fazer muito mais. Tem artigos e notas que escrevi sobre música (Beatles, rock nacional…), cinema “normal” e livros ligados à cultura pop. Fã de animê/mangá/tokusatsu deve achar Beatles a coisa mais estranha do mundo, mas tenho um razoável acervo de pesquisa sobre eles e adoro conversar sobre música, que é meu hobby e que estudei a sério.

Aos poucos, o Omelete foi se consolidando como site focado em cinema e fui vendo que não tinha muito o que fazer lá. No Bigorna, onde fui convidado pelo então editor Eloyr Pacheco, eu fiz pouca coisa, mas pude escrever alguns artigos bem incisivos sobre a situação do mercado brasileiro de quadrinhos, a lei de cotas de mercado e alguns assuntos de HQ sobre os quais achei pertinente escrever. De vez em quando, ainda sai alguma coisa escrita por mim, mas minha prioridade é meu blog, o Sushi POP.

 

Fale um pouco sobre seus trabalhos envolvendo comunicação empresarial e institucional. O mangá é a melhor forma de chamar atenção de crianças e jovens atualmente nesse tipo de trabalho?
Não exatamente. Usei a linguagem do mangá poucas vezes nesse tipo de trabalho. Normalmente, traços mais cartunizados funcionam bem e são mais pedidos, por serem mais universais. Esse tipo de trabalho é bem técnico, no sentido de que preciso usar a linguagem dos quadrinhos e da ilustração para comunicar um conceito que o cliente precisa passar. Ainda assim, é possível tirar alguma diversão desse trabalho. Certamente não é um trabalho autoral, mas é tão digno quanto.

 

Acha que há esperanças para a produção nacional de quadrinhos, animação ou mesmo live-actions?
Se eu tivesse uma resposta, já estaria colocando em prática. Produzir e mostrar o trabalho é relativamente fácil, ainda mais com a internet. Difícil é tornar isso uma atividade lucrativa que permita continuidade e evolução em todos os sentidos. Tem que ser mais profissional e menos fã, buscar uma identidade própria no trabalho e batalhar por isso. Apenas reproduzir o que é feito lá fora não basta. Isso eu aprendi a duras penas. Até hoje leio gente que usava fraldas enquanto eu dava a cara à tapa dizendo como eu não sei de nada. Quem não se arrisca a errar nunca fará nada interessante e nunca ganhará experiência.

 

Sua família sempre aceitou na boa seus hobbys? Já ouviu algum tipo de “crítica” da parte deles…?
Na minha frente, nunca, eu devo parecer meio psicótico (risos). Brincadeiras à parte, eu sempre fui muito incentivado por meus pais, que são bem corujas, a trabalhar com o que gosto. Não é fácil, nunca foi e felizmente aprendi a ser persistente. Inclusive, o meu Almanaque da Cultura Pop Japonesa é dedicado a eles. O apoio deles foi fundamental. O gosto pela arte – seja música, pintura, fotografia, design – faz parte da minha família.

 

Falando no Almanaque, podemos esperar algum novo trabalho seu nessa área de animê-mangá-tokusatsu para um futuro próximo?
Sim. Vou lançar em e-Book (livro virtual) focado em curiosidades e fatos marcantes envolvendo vários aspectos da cultura pop japonesa. Além de mangá, animê e tokusatsu, a obra vai falar sobre anime songs, comportamento, moda, games e será bem abrangente. Foi escrito em parceria com mais dois amigos e espero que seja bem recebido pelo mercado. É uma produção independente, sem vínculo com editoras e é uma aposta bastante pessoal. Falta acertar alguns detalhes, mas a venda irá começar em breve.

 

Pra encerrar: como você guarda sua edição 61 da revista Herói? Aquela “pequenininha” com os Power Rangers na capa?
Poxa, você guardou aquela “edição de bolso” (bolso do Galactus, claro)! Eu tenho ela numa pasta que comprei para guardar folhas de desenho grandes. Nem tem como acomodar aquele trambolho na estante. Aquilo foi um exagero numa época de exageros. Mas tenho saudades daquela época, sem que isso signifique que eu seja apegado ao passado. Meus melhores trabalhos eu ainda vou fazer.

Ah, e deixa eu fazer um “merchan” pra encerrar: quem quiser conhecer melhor meu trabalho profissional, veja meu site. Também tenho um blog, o Sushi POP. E no Twitter, procurem por @ale_nagado.

Obrigado pelo convite e sucesso pra vocês!