Entrevista publicada originalmente em 15 de março de 2010.


Em fevereiro de 2007, nasceu no país uma nova editora focada no segmento de histórias em quadrinhos, entre eles um dos gêneros mais bem sucedidos na primeira década do século XXI: os mangás.

Com a experiência obtida através de sua participação ativa nos bastidores do mercado brasileiro voltado à cultura pop japonesa, Júnior Fonseca criou a NewPOP, uma editora que, embora jovem, já apresentou lançamentos que colocam no chinelo a qualidade que selos mainstream tanto se gabam de possuir.

Acompanhe nessa entrevista tudo que você sempre quis saber sobre a NewPOP e algumas novidades que vêm por aí!


Quando e como surgiu seu interesse pelo universo dos animês, mangás e afins?
Foi por causa de uma ex-namorada. Ela e a família eram muito ligadas na cultura oriental por causa de seu avô. Então como mangás e clássicos dos animes estavam em todo o lugar, acabei me interessando e depois não consegui mais parar. Na época que Dragon Ball e Os Cavaleiros do Zodíaco eram uma febre, fiz um site sobre Dragon Ball e acabei sendo convidado para trabalhar para a editora Escala, daí começou tudo.

Inicialmente colaborava na revista Comix e, com o tempo, me tornei o editor dela. Naquele momento havia bastante interesse do mercado editoral por animes. Daí passei a produzir a Anime Kids, Graphic Criança, Comix Milênio, Anime>DO, edições especiais e uma dezena de outras revistas.

 

Logo da editora NewPOP.

E o que lhe motivou a abrir sua própria editora de mangás?
Trabalhando para a Escala comecei a ter contato com todos os detalhes de mercado editorial, desde diagramação, até estratégia de escolha de capas, distribuição, revisão, etc. Cheguei a editar material de quadrinhos da DC Comics e Vertigo (pela Opera Graphica Editora), mas sempre sonhei com mangás. Inicialmente queria trabalhar na JBC ou na Conrad, mas nunca dava certo (ainda que eu quase cheguei a ir pra Conrad, por intermédio do Alexandre Linares). Foi então que decidi criar minha própria editora, a NewPOP, e assim consegui realizar meu sonho: trabalhar com o que gosto.

 

Qual foi a inspiração para o nome “NewPOP”? E quando a editora foi oficialmente criada?
Não há muita explicação, o nome simplesmente surgiu. Na verdade, inicialmente, seria NewPRÓ (por causa do site Anime Pró), mas aí comecei imaginar o logo e pensei que o POP seria mais bacana, até porque tem todo um significado. O espírito da empresa é jovem e queremos inovar. A editora foi oficialmente criada em fevereiro de 2007, com o anúncio de 1945.

 

No início, os profissionais que já trabalhavam com mangás não acreditaram que a NewPOP pudesse se estabelecer no mercado brasileiro devido ao cenário instável do mercado editorial do país. Como lidou com essa situação?

De maneira bem natural. Na verdade, acho que mesmo os leitores não acreditaram muito no início. A editora só começou a ganhar respeito da maioria em 2008, com o aumento dos lançamentos. Foi até engraçado descobrir depois que algumas editoras estavam de olho em Tarot Café e Grimms Mangá. Tenho amigos em todas as editoras e em algumas delas, como na JBC, já ganhei elogios quanto ao trabalho feito até o momento, esse reconhecimento é muito bacana.

Devido às proporções do mercado atualmente, acho que a NewPOP está bem consolidada entre as editoras de mangás, mas ainda precisa evoluir muito. Uma parcela do próprio público ainda a vê como uma iniciante, mas isso está mudando gradativamente. Tento fazer o melhor possível, a maior preocupação é fazer um catalogo sólido, bem abrangente e de títulos bacanas. Isso falará pela NewPOP.

 

As negociações para o lançamento dos títulos da NewPOP ocorrem direto com os japoneses ou com detentores dos direitos na Europa e Estados Unidos?
Isso varia muito de acordo com o mangá. Dificilmente uma editora Ocidental tem os direitos a partir de negociações direto com o Japão. No nosso caso, o primeiro mangá lançado foi licenciado junto a um agente europeu, depois, licenciamos uma série de mangás junto a Tokyopop Japonesa (a editora possui filiais nos EUA, Alemanha e Japão).

Nossos últimos títulos vêm sendo negociados diretamente no Japão e na Coréia. Recentemente contratamos um agente especializado, que cuidará das negociações com editoras japonesas que não tínhamos contato até então. O primeiro contrato (de suas séries) já está chegando…

 

Aparentemente, a NewPOP adquire muitos títulos de uma única vez, em “pacotes”. Não é arriscado licenciar tantos de uma vez, ou é uma estratégia para baratear os custos?
Não negociamos pacotes, o que acontece é que anunciamos vários títulos ao mesmo tempo, o que dá essa impressão. Mas há casos em que licenciamos até cinco séries de uma única vez. Não há uma regra, mas em alguns casos é até bom, como por exemplo quando o dólar está em baixa (pois as conversões normalmente são de ienes para dólar).

Há também economia de impostos, taxas de envio internacionais de contratos, entre outros pequenos detalhes. Podem parecer pequenas coisas, mas coloque esses gastos em cada negociação e você verá que são pequenas economias que ajudam bastante.

Além disso, agimos diferente em casos de séries regulares. Licenciamos todos os volumes normalmente de uma vez, para que não haja qualquer tipo de risco de atrasos e é uma forma de deixar claro para nossos leitores que nossa intenção é sempre lançar a série completa.

 


Como você encara as críticas dos fãs com relação aos títulos lançados? Os leitores mais detalhistas (que reclamam de fontes, falta de onomatopéias, montagem de balões que descaracterizam a arte original…) tem suas queixas levadas em conta ou você releva esse público por acreditar que deu o melhor de si até o título chegar às bancas?
Como sempre trabalhei no lado fã da coisa (fazendo revistas informativas e cuidando do Anime Pró) eu meio que já sei o que os leitores reclamam e desejam nos títulos lançados. Por isso encaro as criticas de forma bem natural. Problemas de montagem de balões, por exemplo, nunca ocorreram (pois não editamos isso), as fontes que usamos são “normais” – procuramos não inventar muito – e sobre onomatopéias, no início deixamos algumas sem traduções, mas isso foi corrigido e temos uma revisora que fica atenta especificamente a isso.

Esse cuidado ocorreu depois de ler algumas críticas nesse sentido. Eu tento responder todas as críticas e quando vejo que realmente há erros, faço questão de responder. Mas acredito que sempre fazemos o melhor, mas a pequena estrutura da editora ainda nos atrapalha um pouco.

 

Loja Comix Book Shop.

Em que baseia a escolha dos títulos para lançar?
Nem todo mundo sabe, mas além de editor da Neo Tokyo e Anime Pró, sou um dos gerentes da Comix Book Shop – a maior loja e distribuidora de quadrinhos do país – ou seja, eu tenho informações bem precisas do que vende bem ou não (risos). Tendo essa informação, eu procuro títulos de qualidade que tenham temas semelhantes a séries bem sucedidas. Nossa escolha normalmente é pelo roteiro e desenho de qualidade, somado a outras qualidades (como popularidade do autor e aceitação em outros países, por exemplo). Além disso, inicialmente para ganhar catálogo nossos títulos normalmente possuem poucas edições. Pois assim o público começa a nos ver mais na mídia e começam a confiar mais na editora.

Alguns títulos escolhidos (que ainda serão anunciados) não foram licenciados por acreditarmos que venderá em massa, mas sim por abrir portas para o futuro. Há ainda um outro caso, recentemente licenciamos um título que será lançado apenas em livrarias, com uma tiragem voltada para seu público em específico. E será um sucesso de vendas, temos certeza.


Quais as dificuldades de licenciar títulos de editoras como a Shueisha e Kodansha?
Pra gente em específico ainda é a questão da idade da editora. Elas preferem trabalhar com seus parceiros atuais e fora isso, o que aconteceu com a Conrad atrapalhou muito o processo. Mas será uma questão de tempo, podem acreditar. Essas editoras já estão em contato conosco e conhecem nosso trabalho. Mas não é um processo dos mais rápidos até as coisas se concretizarem.


Que tipo e mangá você avalia como “potencial fracasso” para o mercado brasileiro?
Não existe um mangá que já seja lançado sendo um fracasso. A questão é que a editora precisa ter bom senso, conhecer o que está lançando e não tratar o leitor como bobo. É preciso fazer uma programação e trabalhar a divulgação. De todos os mangás cancelados no mercado, você consegue ver erros de estratégia em todos. Claro, uma editora menor consegue corrigir os erros mais rapidamente, sem muita burocracia. E por ser menor, toma mais cuidado com alguns detalhes.

 

Quais as etapas de produção que um título precisa passar até chegar às bancas e quais os processos mais difíceis?
Bom, eu costumo dividir nas seguintes etapas: Análise, Negociação, Plano de Obra, Tradução, Adaptação, Diagramação, Revisão, Revisão Final, Impressão, Marketing, Distribuição, Vendas e Vendas 2.

  • Análise seria a escolha do título. Você costuma pesquisar todos os detalhes da obra, ver o que a crítica diz a respeito, sua aceitação por onde foi lançado e claro, ler o mangá. Essa parte é meio chata pois quando o material está em japonês eu preciso ou que algum amigo leia, ou conseguir versões em inglês, espanhol ou italiano pra ler e ver se o material é bom. Muitas vezes essa análise é feita por colaboradores, que conheceram o material e gostaram.

Box de mangás de ‘Speed Racer’. | Divulgação NewPOP

  • Aí chegamos na negociação, que às vezes pode ser extremamente complicada. No caso de Speed Racer, por exemplo, foram quase três anos. Hoje em dia temos boas relações com algumas empresas, e certas séries basta uma semana e já está tudo acertado. O plano de obra são os detalhes de formato, data de lançamento, tiragem, preço, enfim, como será lançado o mangá. Com o material em mãos, vamos para a tradução que atualmente é feitas de acordo com o idioma de origem da obra. Apenas no início algumas séries da Gentosha foram traduzidas do inglês, por determinação da própria editora, pois as traduções americanas são registradas.
  • Na etapa adaptação, há uma primeira revisão do texto e são realizado alguns ajustes e correções. Feito isso, há a diagramação onde são aplicados os textos nos balões, as legendas, onomatopeias e outras coisas. Nessa etapa o próprio diagramador ainda dá uma lida no texto e, às vezes, acaba pegando um erro ou outro.
  • Com o mangá diagramado, há uma nova revisão do mangá impresso. A revisão sempre encontra erros e quando necessário, melhora o entendimento de um diálogo. Nessa etapa ainda temos atualmente uma revisora que checa as traduções das onomatopéias. Depois, o mangá vai para a gráfica onde é produzido um boneco (um modelo de como ele será publicado). Nesse boneco ocorre a revisão final, onde vemos os últimos detalhes, se não há nada cortando, enfim, é a ultima chance de achar algum erro. Damos o OK e é realizada a impressão.
  • Nesse meio tempo começamos o trabalho de marketing e o mangá saí da gráfica direto para a distribuição e vendas. O “vendas 2” é como chamamos a parte de vendas fora de bancas, que ocorre para lojas especializadas, eventos e no período depois que o mangá é recolhido.

Isso é o que ocorre na NewPOP, mas muitas coisas são iguais em qualquer editora. As partes mais chatas são as negociações e o processo de revisão.

Falando em distribuição, hoje ela é praticamente monopolizada pelo grupo Abril, que “come” boa parte do preço de capa. O que a NewPOP tem feito no sentido de disponibilizar seu material no maior número de pontos possíveis sem depender da DINAP?
Distribuição é um problema sério e é nossa área mais falha. Já conseguimos colocar nossos mangás nas principais capitais, mas ainda precisamos melhorar muito. Tentamos fazer das lojas especializadas nossos principais parceiros e aproveitamos os grandes eventos para fazer vendas diretas.

Este ano vamos melhorar nossa distribuição alternativa e com o lançamento do site, faremos vendas diretas sem cobrança de frete. Temos algumas ideias para nos aproximar cada vez mais de nossos leitores.

Qual o lançamento da New Pop que mais o agradou até o presente momento?
Nossa, é complicado. Citarei mais de um e explicarei o porquê: Grimms Mangá, pois foi uma aposta minha que fiz sem pensar duas vezes. Eu disse “vou lançar isso”, lancei e é um dos maiores sucessos da editora. O volume 1 encontra-se esgotado e uma nova impressão sai este mês. Depois o Vampire Kisses por causa das vendas (risos). E claro, Speed Racer, pois mostramos uma qualidade acima da média, elogiada pelos japoneses e que abriu portas para a NewPOP.

Falando em Speed Racer, o formato no qual ele foi lançado no Brasil foi algo inédito até então – box com 2 volumes em edições luxuosas. Financeiramente falando, foi um investimento certeiro ou a editora buscava mais “status” colocando no mercado algo tão ousado (e longe do alcance do bolso de muita gente)?
Foi um investimento muito bem sucedido. Speed Racer não era algo para ser lançado no formato standard. O público-alvo dele era outro. Por isso, imaginamos que ele teria que ter um acabamento melhor e voltado apenas para livrarias. O resultado foi ótimo e acredito que esse ano ainda ele estará esgotado e vocês começarão a ver os livros sendo vendidos separados.

Pela internet por exemplo, ou em eventos, podem adquirir o box por R$48,00 na loja AnimePró ou a Comix.

O formato adotado por Speed Racer poderá ser repetido com outras obras?
O formato dos livros em si, provavelmente será usado em dois títulos que logo serão anunciados. No caso, só não terá a caixa pois o projeto não é o mesmo. Na verdade tenho que ver certinho se iremos adotar o mesmo tamanho ou se será um pouco diferente, mas temos duas séries para lançar num formato maior e para livrarias.

1 Litro de Lágrimas | Divulgação NewPOP

Por que alguns títulos são produzidos em papel branco, como os volumes únicos, e outros naquele tipo jornal? Não é possível padronizar todos no papel off-set?
Adotamos essa regra. Volumes únicos são lançados em papel offset (branco), encadernação costurada e colada e com um preço um pouco maior. Já as séries regulares saem no formato padrão que o mercado adotou. Fizemos isso pois o leitor acha justo gastar um pouco mais numa série de volume único e também porque esses títulos são enviados para livrarias com mais regularidade.

Até estamos estudando a padronização de tudo, mas isso gera aumento de custos e, infelizmente, a grande maioria dos leitores não veem com bons olhos essa mudança. É uma pena, mas mesmo em séries de volumes únicos, vemos leitores comparando os títulos aos da concorrência que são em papel jornal. Não é uma comparação que possa ser feita.

Se quiserem, peguem 1 Litro de Lágrimas e comparem com Sócrates in Love, um é R$14,00 e o último é R$19,90 (mesmo que o titulo da JBC venha com orelha, essa diferença não se aplica a isso).

 

Existe a possibilidade da NewPOP dar continuidade a títulos descontinuados por outras editoras?
Existir existe, mas as negociações não são simples.


Mas o fato de determinado título estar parado há 3 ou 4 anos não desestimula as editoras a irem atrás? Qual a vantagem de uma editora dar continuidade, por exemplo, a um One Piece da vida? Não seria um tiro no pé?
Cada série precisa ser estudada e trabalhada de forma especial. Alguns títulos estavam quase no final e a demanda ainda é grande. Talvez fazer um lançamento com uma tiragem menor, para atender pelo menos a demanda direta, através de parceiros, como algumas livrarias e o site da editora.

No caso de One Piece, eu já tenho na cabeça uma forma de lançamento muito bacana que seria uma inovação, mas não darei detalhes por motivos óbvios (caso alguma editora queira saber, pode me contratar como consultor – risos).


O que você avalia como acertos e erros do mercado brasileiro como um todo na última década?
É difícil falar em “certo ou errado” nesse mercado. Ele é imprevisível. Dando exemplos, a JBC é uma empresa que age de forma correta, ela tem uma metodologia de trabalho que acho muito interessante. Tento me espelhar nela quanto sua logística e organização.

A Panini Comics melhorou muito, mas devido a sua grandeza ela acaba fazendo uma estratégia de encher as bancas, sem se preocupar muito, às vezes dando a impressão de que isso é um plano para “lotar” as bancas e assim, diminuir as vendas de tudo. Ela aguenta um prejuízo, mas e as outras? Quanto mais títulos para o mesmo perfil, mas as vendas são fragmentadas. Agora o maior erro veio da Conrad, onde faltou muita estratégia comercial.


Já que você citou a Conrad, existe muito falatório acerca dos motivos que a levaram para onde está hoje. Na sua visão, como um profissional que trabalha dentro desse meio, quais foram os erros da editora – que começou de forma fulminante até se tornar um esboço do que já foi –  que serviram de lição para quem está no mesmo ramo?
Seria pouco profissional entrar em detalhes sobre isso, mas acho que o principal erro foi quando a editora lançou quase que simultaneamente Yuki, Sanctuary, Monster e Battle Royale. Praticamente são mangás para o mesmo perfil de público e isso fragmentou muito as vendas e a divulgação da mídia, que não sabia de qual falar. Isso ocasionou vendas provavelmente ruins. O problema é que os custos de gráficas e outros gastos individuais não se fragmentam, aí vocês imaginam a bola de neve.

Dentro das tiragens impressas, quais percentuais mínimos dos títulos justificam um cancelamento? E como você estabelece as tiragens de cada lançamento?
Não sei precisar valores exatos, pois há fatores individuais de cada editora. Você precisa analisar seus gastos e o título só vale à pena se cobrir esses custos e dar algum lucro. A editora sobrevive da rotatividade das vendas. Às vezes, caso o título A não venda muito bem, o título B pode cobrir um pequeno prejuízo, isso precisa ser analisado pela editora. Há saídas para não cancelar séries, como diminuição de tiragem. É preciso ver até que ponto um cancelamento pode prejudicar todo o trabalho de uma editora perante seus leitores.

As tiragens de hoje em dia são bem diferentes de tempos atrás, mas basicamente são todas bem próximas e isso continua sendo um segredo de estado. Na NewPOP temos uma tiragem mínima relativamente alta, para diminuir o custo unitário, sendo que volumes únicos (os que vão para bancas) normalmente têm tiragem maior ainda.

Uma coisa que descobri com o tempo, através de alguns contatos (e por sorte), é que algumas tiragens nossas chegaram a ser maiores que muitos mangás “mais famosos” por aí.

‘1945’ | Divulgação NewPOP

Quais os maiores desafios de uma editora nova no atual cenário econômico do país? O fato de ter muito material disponível para um público relativamente pequeno não faz com que sejam necessárias estratégias mais ousadas para atrair os leitores?
Sim, esse é o ponto-chave de se trabalhar com mangás. Por mais que haja um público interessado neles, tirando alguns títulos, o mangá ainda não é um produto de massa. A quantidade de títulos lançados, como já comentei, só fragmenta as vendas e por isso é necessário buscar formas alternativas de divulgar o produto e de se aproximar do leitor.

Fora isso, há mangás que podem ser trabalhados com outros públicos. É o caso de 1945 e Grimms Mangá, que devido ao tema, conseguimos com sucesso ter acesso a leitores não tão acostumados com o estilo mangá.

Acha que há desenhistas ou estúdios brasileiros com potencial de produzir material de forma similar como os japoneses no que diz respeito ao traço e arte-final, ou ainda estamos distantes dessa realidade?
Há desenhistas sim, mas são poucos os que agem de forma profissional ainda. Por sorte, estamos trabalhando com alguns destes profissionais com potencial.

Como dono de editora, é mais interessante do ponto de vista comercial importar quadrinhos  ou apostar em talentos nacionais com base no cenário que temos no mercado atual?
Licenciar material estrangeiro. Às vezes saí mais barato e dá menos dor de cabeça.


O público raciocina o seguinte, de forma geral: por que pagar o mesmo preço de um mangá original por um “mangá brasileiro”, que às vezes nem parece mangá? Não seria possível termos um produto nacional barato para mostrar nosso talento?
Há ainda um certo preconceito com material nacional. Mas isso é até normal, pois por muito tempo vimos materiais ruins sendo lançados e mesmo assim sendo “vangloriados” pela mídia por ser brasileiro e tudo mais. Mas para o azar de muitos, o leitor não é bobo.

É difícil lançar um material nacional mais barato, até porque os custos gráficos são os mesmos, para o nacional ou para o estrangeiro. Fora isso, infelizmente é difícil trabalhar com alguns profissionais nacionais. Alguns artistas infelizmente não aceitam críticas, acham que seus trabalhos são perfeitos e, muitas vezes, querem receber valores fora do padrão do mercado brasileiro.

Hansel & Gretel | Divulgação


Ainda dentro desse contexto; Hansel & Gretel é um trabalho 100% nacional anunciado em 2009, que até o presente momento não chegou às bancas. O que ocorre?
Esse é um dos problemas de se trabalhar com material nacional, muitos desenhistas não conseguem manter um prazo combinado e, para completar, o antigo desenhista do projeto teve problemas de saúde. Mas a boa nova é que o material está em produção – estando a cargo de um novo desenhista, e será lançado este ano, sendo que teremos outras novidades relativa ao H&G que deixarão muitos perplexos.

A NewPOP e a Conrad são as únicas empresas que licenciam OEL (Original English Language). Esse tipo de material é bem aceito por aqui?  A empresa pretende continuar investindo em mais adaptações de filmes e séries em mangá?
Se o material for bom, ele será bem aceito! Particularmente, quando escolho um “mangá” que não é originalmente japonês, analiso logo de cara o desenho e o roteiro. Veja Vampire Kisses: a desenhista foi a primeira vencedora da competição internacional de mangás promovida pela editora japonesa Kodansha, com o trabalho Kage no Matsuri. Ou seja, o leitor verá de fato uma história no estilo mangá e não uma tentativa barata de imitação. Lançaremos, sim, mais desse tipo de material, mas não necessariamente baseado em filmes ou séries.

Um outro OEL que lançamos, mas não é mangá, é a versão em quadrinhos de Os Caça-Fantasmas, que atingiu um público mais velho e não os leitores de mangás.

 

Ark Angels | Divulgação NewPOP

A editora foi uma das que inicialmente investiu quadrinhos coreanos (manhwa) no Brasil, alguns deles em parceria com a Lumus. Mas desde o final de Ark Angels a editora não divulgou nenhum outro. Não pretende trazer novos manhwas?
Sim, estamos com o contrato assinado (só falta receber o material) de uma série bem famosa, voltada para garotos.


Vocês têm planos de talvez lançar algum manhua (quadrinhos chineses) de Taiwan ou HK?
Por enquanto não tenho nada em vista.
 

Dos animes da chamada “Geração Manchete”, apenas SuperCampeões (Captain Tsubasa) Sailor Moon e Fly (Dragon Quest: Dai no Daiboken) permanecem com os mangás inéditos no Brasil. Animês que passaram na TV brasileira e são populares como esses e alguns outros não necessariamente representariam sucesso de vendas caso fossem lançados ou essa idéia não faz sentido?
Sailor Moon só não saiu ainda por causa daqueles problemas de direitos com a autora e a editora original. Agora parece que as coisas estão se resolvendo. É questão de tempo para o mangá sair (assim que tudo estiver de fato resolvido) no Brasil por alguma editora. Mas nem sempre um mangá que tenha suporte de uma série de TV significa sucesso de vendas. Prova disso são os mangás de baixas vendagem: Digimon, Medabots e Megaman NT Warrior. Dragon Quest acredito que tenha potencial e SuperCampeões depende da forma que for lançado – eu lançaria de uma forma bem calculada :P


Qual seu gênero favorito de mangás? Se pudesse escolher um título de sua predileção pessoal para publicar, qual seria e por qual motivo gostaria de ver esse mangá nas bancas?
Gosto muito de mangás mais adultos, títulos como Speed Racer e obras do Tezuka. Se pudesse lançar algo dele seria um sonho. Sei que os títulos já lançados tiveram um bom desempenho em livrarias. Lançaria Dororo. Como isso ainda é um sonho…

Recentemente, consegui licenciar duas obras que estão entre minhas favoritas, são títulos seinens. Logo serão anunciadas.


Atualmente, todo mundo quer trabalhar com mangá, daí o surgimento de editoras “nanicas” dispostas a investir no gênero e na publicação de versões brasileiras um tanto bizarras de séries consagradas… Isso sem contar materiais que levam apenas “mangá” no título para atrair leitores. Publicar quadrinhos japoneses (ou genéricos) hoje em dia é um bom negócio – financeiramente falando?
Todo tipo de negócio pode ser bom se você fizer um trabalho direito. A NewPOP, por exemplo, está com três anos e vem crescendo gradativamente. Nesse período, vocês viram algumas editoras acabando ou entrando em crise, ou seja, não é tão fácil. Muitas editoras grandes tentaram fazer algo nesse segmento e não conseguiram.

Não basta publicar mangá, é preciso haver um cuidado e é só ver as notícias mais recentes para ver que há também alguns que pensam que é bem fácil trabalhar na área.


O que os leitores podem esperar da NewPOP  para 2010? Já tem um número definido de títulos planejados? Alguma novidade que possa ser adiantada?
Prometemos primeiramente melhorar nossa distribuição e lançar o site (risos). Agora em março igualamos Kanpai! à versão japonesa e concluímos Shinshoku Kiss. Lançamos CSI: Investigação Criminal – Estagio de Risco. Daí lançaremos alguns one-shots para que possamos adiantar alguns mangás.

De novidades temos a versão em mangá de DOMO (o mascote do canal japonês NHK) totalmente colorido, Red Garden (ainda sem data de lançamento) e Aishi Aisare (um shoujo que será lançado com o nome Amar e ser Amado). Sobre outros lançamentos, temos para 2010 mais 20 títulos já licenciados (claro que muitos serão lançados em 2011).

Destaque para a estréia de nossa linha de light novels (cuja uma das séries é Tarot Café e a outra é baseada num mangá já publicado por aqui) e para os quadrinhos baseados numa série super popular no Japão, que ganhará filme ainda este ano. Para encerrar as dicas, temos ainda uma série que está presente nos top de vendas japonês, na categoria jovens adultos!

Para finalizar, como é o Junior Fonseca fora desse universo? Deixe uma mensagem para os leitores que acompanham seu trabalho!
Acho que estou mais metido nesse universo do que qualquer outra coisa (risos). Bom, quando não estou envolvido com o trabalho gosto de me divertir com a família e com os amigos, adoro brincar com meus cachorros e ficar um bom tempo fazendo coisas bobas, como ver um filme, passar a noite num barzinho falando besteira e jogando no PS3 (risos).

Sou uma pessoa que tenta, na medida do possível, ter uma relação boa com todo mundo e quando vejo algo que me incomoda prefiro me afastar, não sou de criar confusões.

Quero muito agradecer a todo mundo que acompanha meu trabalho nesses 10 anos (caramba, o tempo voa) e gostaria de pedir para que continuem ao meu lado. Como ser humano, erro bastante, mas vou aprendendo na base da porrada. Obrigado mesmo por tudo e tenham força de vontade que um dia as coisas começam a dar certo, desde que você haja de forma correta, é claro. :P