Foto em destaque: Marcelo Brandt/G1


Durante o desfile de Carnaval em São Paulo, a escola de samba Águia de Ouro tentou mostrar que o conhecimento pode ser usado de forma positiva ou negativa. A apresentação, intitulada O Poder do Saber – Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, foi dividida em cinco setores, fazendo uma espécie de cronologia da evolução da tecnologia.

Cada setor abordava um “período” da humanidade e seus avanços científicos e tecnológicos, indo desde a época popularmente conhecida como “pré-Historia” até perspectivas para o futuro, com robôs e tecnologia sustentável. Um dos carros da apresentação, no entanto, trazia uma representação da cúpula da antiga prefeitura de Hiroshima e a fumaça em formato de cogumelo, dois dos maiores símbolos dos bombardeios atômicos sofridos pelo Japão durante a Guerra do Pacífico (1941-1945). A intenção era alertar sobre os perigos de utilizar o conhecimento para a destruição, mas um vídeo do carro alegórico acabou se espalhando pelas redes sociais no Japão, causando revolta em muitas pessoas.

Os ataques a bomba atômica sofridos pelo Japão são um tema muito delicado no país, por isso, muitos japoneses se sentiram ofendidos. Tanto uma postagem do G1 quanto do portal japonês AFPBBB News estão repletas de comentários em japonês chamando o caso de “revoltante”, “repugnante”, com muitos se dizendo decepcionados. Alguns outros dizem que, embora tenham se sentido mal ao ver o vídeo, desconhecem o contexto ou significado da imagem. Ainda há usuários que parecem não ver problema na representação, afirmando entender que há uma mensagem crítica. O site Brasil x Brazil, que faz postagens sobre o Brasil em japonês, tenta explicar o Carnaval e a apresentação.

 

“Qual a intenção ao fazer de “Hiroshima” um tema de festival? Mesmo que fosse um protesto contra a bomba nuclear, fizeram isso no meio de uma folia? É incompreensível para mim.”

 

“Muitos morreram nos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Usar isso em um festival desse jeito é muito insensível. Como japonesa, me sinto indignada.”

 

“O tema é “o poder do saber” e parece que utilizaram os bombardeios como um aspecto negativo. Alguns acham desrespeitoso, mas eu acredito que é mais importante abordar o assunto do que deixá-lo morrer como um tabu intocável. A pior coisa são as manchetes das matérias japonesas.” [posteriormente, o usuário diz que os títulos das notícias japonesas sobre o assunto criam um mal-entendido].

 

“Acho que é importante tratar de temas negativos, como as bombas atômicas, mas não sei se dá para falar disso com as pessoas se divertindo em carnavais. Parece tipo cantar karaokê num hospital.”

 

Em 1945, durante a Guerra do Pacífico (muitas vezes incluída como parte da Segunda Guerra Mundial), as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram alvos de bombardeamentos atômicos pela Forças Aéreas dos Estados Unidos, levando à rendição do Japão. Os danos causados pelos efeitos da radiação, até então não muito bem conhecidos, chocaram o mundo quando vieram à tona. Além de morte por envenenamento, a radiação pode trazer doenças a médio e longo prazo, como má-formação fetal em gestantes expostas a um alto nível de radioatividade, desenvolvimento de anomalias e câncer. Ambas as cidades de Hiroshima e Nagasaki possuem museus dedicados aos ataques e perigos de armas nucleares, respectivamente, o Museu Memorial da Paz de Hiroshima e o Museu da Bomba Atômica de Nagasaki.

Keiji Nakazawa, um sobrevivente do ataque à Hiroshima, escreveu Gen Pés Descalços (Hadashi no Gen), uma história baseada em sua experiência com relação aos bombardeios. O mangá foi seriado entre 1973 e 1987, com 10 volumes compilados, e foi lançado no Brasil pela editora Conrad. Uma adaptação animada de 1983 foi lançada em DVD por aqui pela Versátil Home Video.

Fonte: AFP (1),(2) e G1 (1), (2)