Muitos esquecem – e aqui eu me incluo – que o Brasil é lar de grandes obras dos quadrinhos. Com o lançamento de inúmeros títulos estrangeiros, do Japão aos Estados Unidos e o que mais estiver no meio, muitos artistas talentosos de nosso país acabam se perdendo no tsunami de obras que chega em nosso território.

Dois desses artistas que torço para não se perderem são Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa, autores de Shamisen: Canções do Mundo Flutuante.

Imagem: Foto da capa do mangá de 'Shamisen'.

Rafael Brito / JBox.

Shamisen conta a história de Haru, que vive como uma goze – mulheres cegas que ganhavam a vida indo de cidade em cidade tocando shamisen, instrumento de corda. Um dia ela se aproxima de um kappa, um yokai anfíbio, semelhante a uma tartaruga, e como recompensa por não tratar a figura mística com desprezo, acaba ganhando a habilidade de se comunicar com divindades.

A jornada de Haru tem seus altos e baixos, mas sempre com lições que podemos – e devemos – aplicar em nossas vidas. E há uma beleza poética, pois mesmo não enxergando, Haru consegue ver um mundo completamente diferente do nosso.

Um mundo que sim, tem seus momentos ruins, mas que em quase sempre é belo. Vemos que nem tudo é o que parece, pois até mesmo as poderosas divindades podem não ser aquilo que parecem por fora.

Imagem: Páginas de 'Shamisen', mostrando a protagonista tocando em um espaço com bastante natureza.

Rafael Brito / JBox.

A arte de Shamisen é estonteante. Os traços inspirados nas obras de Hokusai dão uma identidade única ao quadrinho. A escolha de não preencher a página com as ilustrações dá uma sensação de moldura que ressalta ainda mais a sensação de estarmos vendo uma tela, principalmente nas páginas em que há apenas um quadro.

Shamisen a se diferencia deoutros quadrinhos também no esforço colocado para trasnformá-lo na experiência para além do papel. Logo no início há um QR Code que redireciona às músicas presentes na história. Esse nível de detalhe só faz a imersão aumentar e deixar o mundo ainda mais rico.

Imagem: Protagonista de 'Shamisen'.

Foto: Jean Clemente.

As músicas são todas em japonês e vemos uma representação do que seria uma goze realmente perfomando. Aqui fica uma dica: numa releitura, coloquem as músicas tocando de fundo.

No fim do volume ainda tem apêndices que contam mais sobre as inspirações da obra e ajudam a contextualizar tudo o que foi visto anteriormente. Uma leitura mais do que recomendada.

Um ponto que merece ser aplaudido de pé é o fato dos autores escreverem sobre uma história num cenário tão distante do nosso.

O lugar, o tema e o tempo da história poderiam ser um obstáculo, pois o que não falta por aí é obra estereotipada, que não consegue respeitar a cultura alheia. Percebe-se logo de início o cuidado que tiveram em pesquisar o máximo possível sobre o tema.

Shamisen é uma das experiências mais completas que se pode achar em um quadrinho. Os autores não precisavam incluir nada mais do que a história em si, e mesmo assim nada do que vemos se torna excessivo. Ao contrário, são complementos e mais complementos que tornam o mundo ainda mais vivo e envolvente.

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Essa resenha foi feita com base edição de Shamisen cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca & Nanquim.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.