A Brasil Game Show não é conhecida como uma convenção muito atraente para o público otaku — com um foco em devs e publishers americanas, streamers (antigamente eram “youtubers de gameplay”), a BGS entrava no radar de muitos fãs de animê porque há uma intersecção entre o público otaku e o público gamer, mas quem procurasse algo mais de nicho, encontraria os jogos de animê da Bandai Namco, algumas coisas da Capcom, talvez da Square Enix, piadas com o nome do Shota Nakama e seria mais ou menos isso aí.

Este ano, no entanto, foi diferente. Sem Square Enix e Bandai Namco na edição de 2023, desenvolvedoras como Cygames (via Nuuvem) e ATLUS (via SEGA) estiveram presentes pela primeira vez no evento. Apesar da Square Enix não estar com estande, a presença de Naoki Yoshida, produtor de Final Fantasy 14 e Final Fantasy 16, também foi um diferencial. Ainda tivemos a Nintendo, levando demos de jogos, embora com foco no público mais geral.

imagem: fachada do ponto de vendas da SEGA na BGS.

Foto: Mari/JBox.

Com mais atrativos para o público fã de jogos japoneses — até mesmo de jogos mais nichados (como muitas coisas da Cygames) –, a BGS começa a desenhar um potencial futuro mais aberto a alguns outros nichos do público gamer (embora muito dependa, claro, da vontade das empresas japonesas em apostar em presença no Brasil).

As opções ainda são poucas, mas não é ausência dos “jogos que parecem animê” (ou mesmo de jogos de fato de animê) que impede outros ramos do mercado otaku de olharem para o evento como uma oportunidade de vender produtos.

Neste cenário, a Lojanime e a Akiba World estavam por lá com estandes, vendendo diversos produtos (camisetas, placas metálicas, canecas, chaveiros, etc.) oficiais, sejam licenciados (Lojanime) ou importados (Akiba World) — havia também um ponto oficial de produtos da SEGA, com coisas que poderia agradar aos otaku (basicamente bugigangas de Persona).

imagem: foto da fachada da lojanime.

Foto: Lojanime.

Outra opção que poderia agradar ao público otaku, embora não fosse japonesa, era a miHoYo (a empresa que faz Genshin Impact e Honkai Star Rail) — havia pelo menos 4 estandes oficiais ligados à Hoyoverse: o da miHoYo, dois da Cup Noodles em parceria com Genshin (incluindo um vendendo miojos oficiais de Genshin) e um da Smile One com Honkai. A própria miHoYo sabe que otaku é uma intersecção relevante de seu público e também se fez presente, com força, no Anime Friends 2023.

imagem: foto de cup noodles de genshin.

A miHoYo fez uma ação com a Nissin, levando juntas Cup Noodles com copos customizados de Genshin Impact ao evento, que contava com poucas opções alimentícias (e todas superfaturadas). | Foto: Mari/JBox.

Essas eram, pelo menos do que conseguimos observar, as únicas opções para fãs de animê que estivessem por ali e quisessem comprar produtos oficiais (sendo Hoyo e SEGA opções para públicos mais variados); um cenário bem diferente da última CCXP, que mesmo sem ter foco em nicho otaku contava com estandes da Piticas (junto com a Funko), da Riachuelo (focado apenas nos produtos geeks), da Zona Criativa, da Tamashii Nations, da Iron Studios, e isso citando apenas opções com produção própria licenciada (no caso da Tamashii, que é um braço da Bandai, importada) — além de editoras de mangá, como JBC e Panini.

Na CCXP, o mercado otaku aparece frequentemente como uma subcategoria do mercado “geek”, que num geral se volta a franquias americanas como Star Wars, universo Marvel, e universo DC, com lojas oferecendo também, ao mesmo tempo, produtos de One Piece e de Vingadores.

Mas parece que quando não há o chamariz dos heróis americanos, o nicho otaku acaba também esquecido, como se ele estivesse necessariamente atrelado ao conceito de “geek”, que não parece querer se misturar com o de “gamer”, embora parte do público circule em ambos. Talvez a BGS também não atraia tanto as lojas que investem no “otaku” como consumidor por não ser realizada pelo grupo Omelete, mas aí são outros quinhentos.

imagem: pedaço do estande da akiba world com figures, canecas e outros.

Estande da Akiba World. | Foto: Mari/JBox.

Tanto a Lojanime quanto a Akiba World — as duas opções desatreladas a uma grande empresa específica — são lojas ainda pequenas, cujas operações de vendas são feitas onlines: a Lojanime vende pelo seu site, enquanto a Akiba World trabalha mais com Instagram e Facebook, mas possui uma loja no Mercado Shops.

A aposta, pelo jeito, valeu a pena: conversamos brevemente com Ana Paula, responsável pelo marketing da Lojanime, que informou ter um bom movimento no evento, o primeiro que a loja participou oficialmente — eles queriam também sondar melhor o público geek, tendo um feedback positivo tanto de vendas quanto de termômetro do público.

Ela também destacou que, mesmo sabendo que a BGS não é um evento com foco nos otaku, a maioria dos cosplays era de personagens de animês, indicando presença forte do público. Com o resultado positivo, eles saíram felizes e com expectativas de participar em mais eventos e conseguir expandir suas licenças.

Apesar de ainda “magra” para o nicho, esperamos que os resultados dessa BGS representem o início de uma era em que o evento abraça o nicho gamer otaku, tanto em presença de desenvolvedores ou palestrantes, quanto em opções de ativações e venda de produtos.


Com informações de Talles Queiroz e Mari, que trabalharam na cobertura do evento.