A série Naruto Ultimate Ninja Storm sempre foi muito criticada, seja por fãs saudosistas de Ultimate Ninja que preferiam a jogabilidade em 2D, seja por quem acha que a franquia nunca traz muitas inovações em seu gameplay. No entanto, por mais capenga que seja em algumas situações, algo normalmente elogiado é a construção do modo história nos jogos da série, mesmo nos não numerados, que ainda faziam um esforço. Já o que temos em NARUTO X BORUTO Ultimate Ninja STORM CONNECTIONS é uma enorme decepção nesse quesito.

O jogo conta com a separação em dois modos histórias: o principal, que conta a história de Naruto, e um especial, que conta uma aventura paralela de Boruto feita em parceria com Masashi Kishimoto, criador do mangá original da franquia. A história principal é focada em contar todo o roteiro principal de Naruto, do início ao fim do mangá, uma ideia potencialmente ótima, porém a situação verdadeira não é nada boa.

Naruto: Ultimate Ninja Storm tinha costume de ter lançamentos quase anuais, então quando finalmente foi anunciado um novo jogo da franquia, com aparentemente muito mais tempo para ser produzido (são sete anos desde o lançamento de Ultimate Ninja Storm 4 e seis desde a DLC Road to Boruto), os fãs estavam empolgados. Era a chance perfeita de trazer um game que contasse toda a história da série com pelo menos um pouco do carinho que os títulos anteriores tiveram, mas a entrega foi um sistema de capítulos, com o perdão da palavra, patético.

imagem: Naruto com uma expressão preocupada em Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Reprodução: Bandai Namco

O jogo divide a história de Naruto em oito episódios, cada um contando com uma quantidade variada de capítulos. Esses capítulos são divididos em dois tipos: os focados em contar apenas a história, normalmente voltados aos trechos sem batalhas, e os que contam com a narração da história junto de uma batalha ou sequência de batalhas. Logo aí já é possível perceber o primeiro grande problema: a história é contada exclusivamente através de cenas do animê. Só que não cenas animadas, apenas capturas de tela que são colocadas juntas de uma narração.

Para piorar, muitas vezes os capítulos de batalha, apresentados após aqueles apenas narrados, repetem o que acabou de ser contado, tornando tudo muito redundante. Fica a impressão (ou até mesmo certeza) de que os responsáveis por esses capítulos não tiveram uma comunicação clara entre si, então muito tempo do jogador é desperdiçado lendo coisas que viu segundos atrás.

Porém, para mim, este nem foi o mais grave dos problemas, já que o que experimentamos no modo são, com mínimas exceções, apenas as batalhas que Naruto e Sasuke participaram. Quer ver Sakura e Chiyo enfrentando Sasori? Esqueça! Passar pela emocionante luta de Shikamaru contra Hidan? Nem pensar! Experimentar o clássico Rock Lee versus Gaara? Vá jogar outro jogo!

Chegou em um ponto que até fiquei surpreso que algumas outras batalhas foram incluídas mais para o fim da história, já que, antes de chegar nos episódios finais do modo, as únicas lutas com outros personagens até então tinham sido apenas Kakashi vs. Zabuza e Jiraiya vs. Pain. Algumas lutas importantes da série sequer tiveram o prazer de serem citadas.

imagem: Naruto cercado por vários ninjas que fizeram parte de sua história em Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Reprodução: Bandai Namco

Bom, no que envolveu as batalhas de Naruto e Sasuke foi tudo, felizmente, muito bem feitinho, porém com muito material literalmente reciclado de outros jogos, principalmente no que envolve as batalhas contra chefões. É interessante ter várias delas reunidas finalmente em um só jogo, mas ao mesmo tempo parece uma escolha preguiçosa deixar essas lutas especiais idênticas ao que já eram. O máximo que dá para elogiar neste quesito é que o modo história de Connections conta com a inédita batalha entre Indra e Ashura, jogáveis pela primeira vez na franquia.

Inclusive, apesar de ter um elenco massivo, o jogo surpreendentemente ainda consegue ficar devendo nesse aspecto. Aqui temos o retorno fazer separação do personagens em slots diferentes, talvez para expandir a sensação de variedade, mas alguns personagens continuam sendo, no geral, só skins de outros, às vezes com um jutsu a mais se tiver sorte (sorte essa que os ninjas clássicos de Konoha não tiveram, por exemplo).

Também é muito notável a falta de alguns personagens em específico já que, apesar de ser interessante alguns membros da Kara terem sido adicionados, por exemplo, é muito estranho não vermos os ninjas parceiros de Boruto, Sarada e Mitsuki. Kawaki, que felizmente entrou, era uma adição obrigatória, só que a falta do novo trio Ino-Shika-Cho se destaca, sem falar da versão adulta de Konohamaru, que era muito esperada pelos fãs. E também acabou sendo muito estranho os personagens introduzidos no modo História Especial não serem selecionáveis, principalmente se levarmos em consideração que Mecha-Naruto continua sendo jogável até hoje.

imagem: uma batalha entre Jigen e Naruto no Modo Baryon em Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Reprodução: Bandai Namco

O modo História Especial, ao contrário do principal, conta com uma dedicação de fato em trazer algo interessante, mesmo, no geral, sendo só um fillerzão daqueles. Logo no início, somos apresentados a uma batalha entre Sasuke e Naruto, onde o Hokage parece ser controlado por uma força maligna. Depois, essa introdução é cortada e acompanhamos Boruto e seus companheiros voltando de uma missão. O filho de Naruto está interessado em comprar um novo jogo chamado Ninja Heroes (que é praticamente um Ultimate Ninja Storm dentro do universo da franquia).

Dentro do jogo, Boruto conhece Nanashi, personagem original da História Especial. Nanashi atua como uma guia do jogo, parecendo uma simples NPC, mas rapidamente descobrimos que se trata de uma pessoa real naquele universo. Com o andar do roteiro, descobrimos que Nanashi está envolvida em um plano para controlar ninjas de todo o mundo, comandado por uma organização chamada Zero.

Sem entrar em muitos detalhes, pode-se afirmar que Nanashi é a verdadeira protagonista deste modo. A história nos apresenta como ela entra em conflito com os próprios sentimentos e acompanhamos sua relação com Boruto se desenvolver de uma forma bem bonita.

Apesar de ser tudo muito dentro do esperado, toda a construção é bem feita o suficiente para fazer o jogador se apegar à personagem. Ter um capricho visual nesse modo também ajuda, ainda mais depois de ter que passar por uma história formada apenas por screenshots do animê. A CyberConnect2 continua com um trabalho incrível quando se trata de cutscenes, então é um agrado elas não terem sido descartadas completamente.

imagem: Nanashi, personagem original do modo História Especial de Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Nanashi, personagem original da História Especial | Reprodução: Bandai Namco

O problema deste modo fica justamente nas batalhas: ele não tem nada de grandioso e muitas lutas são só para representar Boruto jogando dentro do Ninja Heroes. Então passamos por algumas batalhas contra Itachi, Hokages antigos, etc., mas sem muito motivo. É apenas para ilustrar o avanço do filho de Naruto dentro do jogo fictício.

A maior questão é que, quando finalmente chegamos às batalhas importantes, o modo também fica devendo. Depois de enfrentar Nanashi, Boruto precisa reviver alguns momentos importantes da história de seu pai para tirá-lo do controle maligno. Com a ajuda de Toneri (sim, aquele vilão de The Last), Boruto acompanha lutas importantes da vida de Naruto. Só que aí somos forçados a fazer novamente várias batalhas já presentes no modo história principal em versões mais enxutas (ou, caso você faça a História Especial primeiro, terá que repeti-las depois).

Apesar de ser interessante que a História Especial de fato tem uma conexão direta com o prólogo e com o epílogo do modo principal, ter que refazer algumas coisas em tão pouco tempo é apenas chato. Claro, existe a mudança de ter algum comentário de Boruto aqui e ali, mas no geral é a mesma coisa. Depois que refazemos o passado de Naruto, o modo, felizmente, conta com umas batalhas mais interessantes, apesar de ainda serem bem mais simplistas que as batalhas contra chefões principais, em via de regra.

imagem: Naruto apoiando seu filho, Boruto, durante a execução de um Rasengan em Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Reprodução: Bandai Namco

Na questão de gameplay, Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections conta com algumas mudanças interessantes. No lugar das shurikens aprimoradas, todos os personagens ganharam um segundo jutsu, uma mudança ótima, já que aumenta as possibilidades nas batalhas de forma efetiva, principalmente se considerarmos que mesmo os personagens de apoio podem usar jutsus diferentes durante as batalhas, tudo dependendo do comando utilizado.

Outra mudança agradável é o fato de que o jogo facilita a construção de combos em relação aos seus anteriores,com um sistema que facilita a conexão de combos não só com jutsus, mas também com especiais supremos e agarrões.

Dependendo da velocidade que o jogador apertar o botão de bater, ele pode conseguir combos automáticos, mas apertar em um ritmo mais calmo permite maior controle dos golpes utilizados. Isso acaba facilitando bastante para que jogadores mais casuais consigam aproveitar o jogo, mesmo batendo de frente com quem já tem mais experiência. Também houve uma mudança no sistema de chakra, deixando o ritmo das batalhas bem mais rápido do que em jogos anteriores, já que agora não é mais necessário fazer tantas pausas para recuperá-lo.

Sobre outros modos, ainda é possível se divertir como quiser em batalhas livres, que podem ser jogadas tanto contra o computador quanto com amigos. Também é possível organizar modos de torneio e participar de treinamentos livres ou que ensinam como funciona o jogo.

O modo online também está presente, mas a experiência que tive não foi muito boa já que, na maior parte do tempo, não consegui encontrar partidas ou era colocado em partidas com rankings desbalanceados. O jogo também conta com uma área para os jogadores acompanharem o andamento de suas coleções, que contam com variados tipos de itens, desde roupas e acessórios até títulos para serem usados no modo online.  O que faz mais falta nos modos adicionais com certeza são os minigames, já conhecidos da série desde os primórdios.

imagem: Naruto e Sasuke se enfrentam adultos durante a história de Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections

Reprodução: Bandai Namco

Mesmo contando com algumas novidades interessantes no gameplay, Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections é bem descartável. Se levarmos em conta que os jogos, por muitas vezes, são considerados melhores até mesmo que o animê de Naruto, o novo título ter um destrato tão grande pela história da franquia chega a ser ofensivo.

Isso fica ainda pior se colocarmos na mesa o fato de que não há mais a desculpa de que Boruto não tem conteúdo para ser adaptado, já que tanto o animê quanto o mangá já finalizaram a primeira parte da história. Do que adianta a inclusão de Jigen e do Modo Baryon de Naruto se não temos qualquer respingo da batalha entre eles no roteiro do jogo? Do que adianta Kawaki ser incluído se um fã perdido sequer vai conseguir saber quem ele é?

Por mais que Boruto não tenha uma grande aceitação de parte fãs antigos, não quer dizer que um jogo derivado da série precise ter esse medo, ainda mais quando é algo que está conquistando novos públicos. É justamente o contrário: é a chance perfeita de apresentar a fase atual da história por um novo viés, mesmo que precisasse descartar completamente a adaptação da série original para isso, principalmente porque o jogo não se preza a trazer uma experiência legítima para ela.

O jeito é continuar se agarrando aos jogos anteriores até finalmente termos um Ultimate Ninja Storm 5 que decida fazer as coisas certas de verdade.


Naruto x Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia para PC pela assessoria de imprensa da Bandai Namco para a produção desta resenha.


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