O mangá Hiroshima, a Cidade da Calmaria (Yuunagi no Machi – Sakura no Kuni em japonês) é o mais recente lançamento da JBC com o selo “Graphic Novel”. Como podem perceber, em português o título foi adaptado, colocando-se o nome da cidade, mais o título da primeira história.
A obra foi originalmente lançada em 2004 na revista Manga Action da editora Futabasha. Trata-se de um seinen (mangás voltado para o público adulto masculino) histórico .
A história se situa nos arredores de Hiroshima, onde em 1945 a primeira bomba nuclear foi lançada. A detonação em si foi responsável pela morte de mais ou menos 160 mil pessoas em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki. Mas mais de 420 mil pessoas morreram por terem sido diretamente afetadas pelas bombas, seja por doenças relacionadas ao contato com a radiação, pelos ferimentos e queimaduras ou câncer.
Para essa segunda leva, a vida foi uma tortura, psicológica e física. Famílias inteiras viam seus parentes falecerem um a um das doenças mais sérias e incuráveis da época. As crianças constantemente nasciam com mutações, mortas ou faleciam muito cedo. Fora que após perderem todos os seus bens viviam em barracos numa realidade de pobreza. E mesmo aqueles que conseguiram passar da primeira geração afetada, ainda sofrem com o medo, a dor e o preconceito.
E esse mangá vai tratar exatamente dessas vítimas da exposição à bomba. Mostrando com um exemplo suave a dor e sufoco de uma parcela do povo japonês.
A obra é dividida em 2 histórias sobre uma mesma família, mas em tempos diferentes. A primeira se chama “A Cidade da Calmaria” (Yuunagi no Machi) e a segunda, divida em duas partes, “A Terra das Cerejeiras” (Sakura no kuni).
A primeira conta a história da primeira geração, alguém que vivenciou a morte e desgraça ao vivo. Ela conta como aquilo afetou psicologicamente a protagonista Minami Hirano e sua mãe. Além de mostrar como o povo de Hiroshima viveu e reagiu após o holocausto.
Na segunda história, na primeira parte os protagonistas são a segunda geração da bomba, filhos do irmão da moça da história anterior. É possível ver a doença constante do filho mais velho e como essa realidade pesa na família. Além de como isso influencia a segunda protagonista, Nanami Ishikawa, sobrinha da primeira.
Na última parte estamos de novo com os mesmos protagonistas acima, e desta vez se explora o preconceito contra os Hibakusha (pessoas afetadas pela explosão) e as memórias do pai. Talvez preconceito seja uma palavra forte demais, mas o medo das outras famílias de aprovarem casamento com essas famílias afetadas.
Embora seja um assunto com uma deixa muito grande para tragédia, drama e até uma depressão, a autora consegue escrever uma obra mais suave, onde o amor e a esperança parecem sempre vivos e possíveis. A tragédia e infortúnios sempre se escondem por trás, mas a família tenta viver com positivismo e esperança, honrando a vida de seus parentes falecidos.
É de fato uma história bem tocante, se você parar para analisar cada passagem. É uma realidade única e um dos principais motivos que levaram o Japão a se tornar um país pacífico. Além de uma obra para a concientização contra a bomba atômica, que é muito mais que uma arma, é um atentado à vida e à humanidade. Para nós brasileiros é também um retrato de uma história que ignoramos ou até evitamos.
O mangá venceu dois prêmios muito importantes: o do “Japan Media Arts Festival” (Festival de Mídia e Artes do Japão) em 2004 e o “Tezuka Osamu Bunkoshou” (Prêmio Cultural Tezuka Osamu) na categoria de criatividade em 2007.
Mesmo tendo uma qualidade muito boa de roteiro, a obra peca um pouco no desenho e arte. O traço da autora (Fumiyo Kouno) é bem diferente do que estamos acostumados. Embora as paisagens e construções sejam bem desenhadas, as expressões dos personagens bem retratados, a autora não é muito boa em representar a idade dos personagens, todos tem uma aparência muito infantil. Admito que cheguei a perder a noção das idades em algumas passagens.
A autora, Fumiyo Kouno, não possui nenhuma outra obra famosa ou de destaque. Ela nasceu em Hiroshima, em 28 de setembro de 1968, e começou a desenhar desde cedo. Mas foi só após se formar que ela decidiu se mudar para Tóquio e realmente se dedicar aos mangás.
Mas passando para a nossa versão pela JBC. Como dito levou o selo de “Graphic Novel”, recebendo uma capa mais resistente com orelhas e o interior de papel estilo chamois bulk, que tem aquele tonzinho creme, mais grosso e resistente do que papel “jornal” que a JBC geralmente usa.
A tradução da editora ficou muito boa, sem nenhuma daquelas gírias e adaptações horríveis. Inclusive tem várias notas de tradução e comentários. As onomatopeias também estão todas traduzidas. Embora eu sinceramente odeie a romanização adotada pela JBC e odeio quando as editoras citam os nomes dos prêmios em inglês, o prêmio é em japonês, se vai traduzir, traduz para português, diaxo…
A edição ficou bem característica, com fontes diferenciadas, hifenizado de acordo com a nova gramática e reconstruções aparentemente perfeitas. Embora na página 41 o texto tenha ficado claramente mal alinhado (olhe e você vai entender, tá horrível) e na página 92 uma fala encostou no desenho, sem ter recebido uma borda branca. Fora os dois delizes tudo parece certinho.
Um último detalhe que eu gostei muito foi as notas, mais especificamente a ordem de leituras delas. Sempre tive uma birra com as notas e cartas das versões da Panini, onde o mangá era da direita para a esquerda, mas os textos da esquerda para a direita. Você era obrigado a folhear algumas página para frente, até achar a primeira página e então ler no sentido contrário. Sempre odiei isso e me senti muito perdida. Me surpreendeu que a JBC não fez isso, as páginas são ordenadas da direita para esquerda, assim não há necessidade de ficar folheando e tentando achar o começo. É um detalhe pequeno, mas que eu realmente apreciei muito.
São ao todo apenas 100 páginas, volume único, pelo preço de R$ 19,90. Achei o valor super salgado, lembro que o Alice no País das Maravilhas da NewPOP, totalmente colorido e com mesma quantidade de folhas foi R$ 12,00. Até Miyuki-chan no País das Maravilhas (também número de páginas semelhantes e coloridas) foi R$ 14,90. E a novel de Gravitation (com umas 300 páginas e mesmo tipo de papel) foi R$ 19,90.
Eu até sugiro que comprem, é muito bom mesmo, ótimo conteúdo com uma boa qualidade. Mas, por um preço assim, sugiro que procure em sebos, usado ou em promoção durante eventos. Ninguém merece pagar 20 reais por 100 páginas, é um preço absurdo de alto. Por esse valor quero capa dura, com texto em tinta de ouro! (XD)
Título: Hiroshima, a Cidade da Calmaria
Autora: Fumiyo Kouno
Demográfico: Seinen
Formato: 13,5 cm X 20,5 cm, 112 Páginas
Duração: Volume Único
Preço: R$19,90
[…] This post was mentioned on Twitter by Jbox and João Alberto. João Alberto said: Resenha: Hiroshima, a Cidade da Calmaria – Editora JBC: Obra mostra acontecimento histórico. http://bit.ly/ewu8WO […]
Já tinha lido a sinopse no site da editora e me pareceu bem interessante. Ainda mais se tratando de volume único, que é a única coisa que estou lendo por esses dias.
Não tenho mais paciência pra obras interminaveis. Deve ser a idade. :tongue:
Álias, Jbox, alguma idéia de quando sai o vol. 2 de Dororo?
Concordo com você Allena, ta muito caro esse mangá. :wink:
…
Mais pelo que dizem é 1 ótima historia , comprarei quando for fazer pedido no Animepro, ai ganha 1 desconto nele.
Boa dica. Quero ver se pego e leio logo.
:)
Rubens, a NewPop sempre demora alguns un 2~6 meses entre um e outro lançamento. Ainda se tratando de um livro caro como dororo deve ser bem espaçado, né? Você pode tentar perguntar o próprio JR na comunidade dele no orkut.
A JBC tem um trabalho mediano mas quando faz um trabalho de boa qualidade sempre tem que cobrar esse preço abusivo.
Pra mim um dos melhores lançamentos da JBC do ano!
Comprei o mangá e gostei!
Bela resenha e concordo com a Allena o preço esta muito salgado! Eu comprei de um amigo meu que não gostou do mangá e me vendeu por R$ 10,00 :wink:
Eu comprei o mangá pela Saraiva na época em que foi lançado, paguei 12 reais (pouco menos que isso na vdd), mas eles estavam dando desconto em todos os livros.
Hiroshima é um mangá ótimo, acho que os americanos deveriam ser obrigados a ler esse mangá para terem a noção de como destruiram milhares de vidas. E japoneses são pacifistas forçados, eles não podem ter exército, simples assim.
Kuroi, ninguém mandou o Japão se tornar aliado dos nazistas e atacar Pearl Harbor. Resultado: se f¨%¨legal.
Será que não existe nenhum mangá falando da invasão da Manchúria?
Kuroi, não é a falta ou presença de exército que torna um país pacifista.
Eu diria, em termos chulos, que o Japão foi castrado. Até aí, a Alemanha também foi por um bom tempo, várias vezes seguidas, e ainda sim não era pacifista, ao contrário, extremamente ressentida e revanchista.
E, ao contrário do que a massa pensa, o Japão TEM exército e PODE ter exército. O direito de defesa territorial é um direito básico de um país. De acordo com o artigo 9 do acordo pós-guerra o Japão é proibido de DECLARAR guerra ou usar seu exército em disputas político-militares entre outras nações.
Mas devido a seu caráter pacifista, o Japão não investe em seu exército, apenas mantém um exército muito pequeno para autodefesa. Muitos desses trabalham lado a lado com o exército americano na ilha. O que causa essa falsa impressão de “eles não tem exército”.
Na época os governantes pregavam a desmilitarização e investimento sócio-cultural (que como podemos ver surtiu muito efeito). Também vários memoriais da Paz foram espalhados no Japão, em especial o imenso memorial de Hiroshima.
Em todo caso, a história japonesa em si é super conturbada com um imenso ciclo repetitivo de governos que são tomados por outros e assim por diante. Inclusive possui vários anos de várias guerras civis. O Império Japonês em si também foi muito violento, não só externamente, mas internamente, mais de 70.000 japoneses foram mortos pelo próprio governo para a “preservação da paz interna japonesa”. Compare o número aos 500 que morreram durante o nosso regime militar sob a “lei de segurança nacional”.
Comparando os períodos históricos, o Japão de agora é um santo pacifista.
Fernando, não vou defender país nenhum, Estados unido ou Japão. Mas soltar a bomba numa cidade CIVIL onde a maioria da população eram mulheres, criança e idosos (já que a população masculina estava se “kamikazando” por aí) foi um ato desumano e sem honra alguma. Inclusive não se encaixa na palavra guerra, aquilo se chama massacre, chacina, extermínio, matança…
E existe sim mangás sobre a Manchúria, a ida e a volta. Um não muito famoso sobre o assunto é panorama do Inferno, lançada pela Conrad. Outros são mais antigos e seinens, ou gekigás, e são difíceis de encontrar na internet.
Off-Tópic: Quem quiser saber mais da situação militar atual do Japão, sugiro a leitura deste artigo: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/exercito+japones+tenta+tirar+proveito+de+seu+custoso+pacifismo/n1237588522018.html
Fernando, eu sei disso muito bem, mas como a Allena respondeu não justifica a chacina. O pior de tudo foi o comentário de um Senador americano que disse ano passado que “Duas Bombas Atômicas Não Foram o Suficiente.” (Sobre a febre do animangá).
O americano médio precisa sim ter mais noção do que acontece no mundo, principalmente a consequência dos atos deles.
Não fala besteira cara. A população americana não é culpada pelos atos dos comandantes americanos da época. É a mesma de querer culpar cada branco pelos vários anos de escravização de negros e índios.
Allena, obrigado pela dica de leitura. Sobre o massacre em Hiroshima, depois de já ter lido sobre o passado militar do Japão, confesso que sinto muito pouca pena do que aconteceu com eles.
Eu concordo que as decisões feitas por certos governantes não são diretamente e exclusivamente culpa de um povo. Mas estes não são livres de culpa, uma vez que foi o voto deles que colocou o fulano do poder que deu por sua vez poder para outros e que gerou o ataque nuclear.
Comparar com escravização é meio fora de lógica. Mas em termos de culpa, a culpa não termina nos americanos, ela vai para todo lado. Inclusive o Brasil que participou de forma ridícula na guerra. Sendo nós um país incluso na zona, o que o nosso “time” vez é culpa nossa também. Não adianta tirar o corpo só porque a coisa foi feia.
Na minha humilde opinião, não acho que é uma questão de achar culpa ou de ver o Japão como vítima. Acho que temos que analisar pessoas. O que elas sofreram, se aquilo é “humano” e nos conscientizar da feiúra da guerra e evitá-la a todo custo. Nem que você olhe de forma egoísta, você não quer aquilo acontecendo com você, né? Então fica esperto.
A suposta Guerra santa coreana tái, bomba atômica é o que não falta para todo lado. Agora mais do que nunca o mundo tem que lembrar das consequências das guerras antigas e se isso vale mesmo a pena.