Magia Record: Puella Magi Madoka Magica Side Story é um animê com direção e roteiro de Gekidan Inu Curry, produzido pelo estúdio Shaft (Arakawa Under the Bridge, Nisekoi). Ele é original de um RPG lançado para celulares no Japão em 2017, ganhando também um mangá de mesmo nome em 2018, escrito por Fujino Fuji, ainda em publicação na revista Manga Time Kirara Forward, da editora Houbunsha, inédito aqui no Brasil. O texto abaixo leva em consideração apenas o que foi apresentado na animação, não se baseando no que já foi entregue na obra original.


Nove anos atrás, uma parcela do público de animês experimentava uma sensação parecida com a de um fã de quadrinhos americanos de heróis ao ler, pela primeira vez, uma história do roteirista Alan Moore. Explicarei. Conhecido por obras como Watchmen (1986-1987), Monstro do Pântano (1983-1987), Miracleman (1982), dentre outras, Moore, em seus anos em parceria com as editoras DC Comics e Marvel, foi especialista em mexer com o status quo do que uma “história de heróis” deve significar, mostrando os lados ruins, perversos e degradantes de tal mundo colorido numa abordagem mais pessimista – copiada sem muito êxito por uma porção de autores a partir daí.

Essa “virada de mesa” comparável, no nicho de público otaku, veio em Puella Magi Madoka Magica, animê surpreendente de 2011, adaptando a temática de séries de “garotas mágicas” para uma trama de horror assustadora em suas possibilidades. Os clichês do gênero estavam todos lá: adolescentes de visual fofo; artefatos que servem como gatilho para transformações coloridas, purpurinadas, encantadoras; os monstros da semana; o animal falante que serve como mentor. Com o porém de, todos esses, usados narrativamente de modo pervertido, terrível às personagens envolvidas, com um certo capricho estético que tornava a experiência ainda mais assombrosa – e maravilhosa – aos expectadores. Foi um sucesso, um fenômeno cultural. Rendeu adaptação e continuação em filme, spin-off em mangá, jogo e tudo o que é direito.

Vontade de viver…

Corta para 2020, com, enfim, uma nova série animada dessa marca sendo liberada. Embora Magia Record: Puella Magi Madoka Magica Side Story venha ao mundo já com larga vantagem pelo que de ótimo sua franquia proporcionou no passado, parte desta é confrontada pela responsabilidade do novo animê ser não só, ao menos, tão bom quanto o anterior e entregar uma ótima climatização fofinha-soturna conflitante de outrora, mas de se mostrar autossuficiente, de conseguir explorar alguma novidade em sua execução.

Nesse primeiro episódio, já fica evidente que, pelo menos, a primeira “exigência” é cumprida. Somos apresentados à Iroha Tamaki e outras garotas mágicas que fizeram a besteira de aceitar entrar nessa vida por desejos que, eventualmente, atingiram resultados inesperados. O que era interessante antes é mantido aqui: os cenários gigantescos desoladores; o design de personagens bonitinho que cria uma confusão mental com o tipo de texto e atmosfera pessimista trabalhada; o jeito como as “bruxas” são desenhadas, fugindo do “estilo animê”, ampliando essa sensação de antítese desconfortável ao assistir, como se alguma coisa não estivesse no lugar; os diálogos e atitudes dos personagens quando agem e reagem ao que é posto pelo roteiro segue bacana, como se todos ali tivessem suas próprias ambições egoístas na história e estivesse se esforçando ao máximo para enganar os que estão interagindo e assistido. É Madoka, do início ao fim.

Diversão para a molecada…

Tudo muito legal, bonito de assistir e reprisando bem parte das sensações ocasionadas pelo animê original. Mas torço que, daqui em diante, ele vá para além do que já foi feito no início da década passada e caminhe com as próprias pernas como obra, pois se for para replicá-lo totalmente, a opção de revisitar o primeiro é sempre mais apetitosa. A nova trama, com uma possibilidade de as garotas mágicas poderem ser salvas, migrando para a cidade citada, talvez sendo uma armadilha, talvez não, e isso sendo avisado através de sonhos, é bastante interessante. Se for bem trabalhada nos próximos episódios, pode empolgar, ampliar esse universo e, quiçá, repetir o burburinho do começo de década passada.

Magia Record: Puella Magi Madoka Magica Side Story tem um bom primeiro episódio por conseguir trabalhar o que deu certo no animê original em questão de signos e abrir margem para uma porção de possibilidades dali em diante. O lance agora é acompanhar e conferir se, conforme os episódios passam, a história avançará de forma competente ou se valerá apenas dos artifícios que antes deram certo. Se for o caso da segunda opção, é lembrar que, nos anos 1990, os que imitaram Alan Moore em seus gibis “sombrios”, hoje em dia, são vistos como pastiches entre fãs desse meio.

Onde assistir

Aqui no Brasil, Magia Record: Puella Magi Madoka Magica Side Story é exibido na Crunchyroll, com o áudio original em japonês e opção de legendas em português. Os episódios vão ao ar todo sábado, às 13:30h.