Com o recente anúncio da aquisição de 21 filmes do estúdio Ghibli pela Netflix, uma dúvida se destacou bastante: o que houve com o Túmulo dos Vagalumes, que não está presente no pacote anunciado pela gigante do streaming?

O motivo disso é citado no documentário O nascimento do Studio Ghibli (Ghibli wa koshite umareta). Originalmente, foi um especial exibido pela Nippon TV em 1998, mas que acabou chegando ao Brasil como um extra presente no Blu-ray de Nausicaä, lançado há alguns anos pela Versátil.

No documentário, é contada toda a trajetória do estúdio, desde o encontro com Toshio Suzuki, na época editor da revista Animage – que mais tarde seria o local de publicação da versão em mangá de Nausicaä, que antes era um “conteúdo original”. O título precisou fazer sucesso com uma versão em quadrinhos primeiro para que o filme pudesse receber o sinal verde de produção.

Também há destaque para o primeiro encontro entre Hayao Miyazaki e Hideaki Anno (de Evangelion) durante a produção de Nausicaä, além de sanar outra dúvida eterna, em relação ao nome do estúdio. O Ghibli foi batizado assim com base no nome de um avião de guerra italiano, que por sua vez fazia referência ao termo árabe que tem relação com o vento quente e seco do deserto do Saara. Outra curiosidade é sobre a pronúncia do nome do estúdio. Apesar da palavra original ser pronunciada como “guibli“, Miyazaki não sabia disso, e acabou adotando a fonética “jibli“.

Enrolações à parte, após a produção de O Castelo no Céu (1986), o primeiro longa de fato produzido pelo Ghibli, finalmente chegamos ao ponto que queremos, a época da produção de Meu Amigo Totoro e Túmulo dos Vagalumes, ambos lançamentos de 1988.

Imagens do documentário ‘O Nascimento do Studio Ghibli’

Quando o projeto original de ‘Totoro‘ foi enviado para análise da Tokuma Shoten, que bancava as produções do Ghibli, que era seu subsidiário, a resposta foi negativa e nada foi aprovado. Mais tarde, Toshio Suzuki enviou a proposta novamente, só que desta vez em um projeto duplo, incluindo também uma adaptação do conto Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka), que acabou mais uma vez rejeitado.

Porém, a Shinchosha, editora que havia publicado a história original, se ofereceu para bancar a produção e assim o projeto duplo foi aprovado tendo duas empresas distintas na produção, de forma que a Tokuma Shoten ficou com ‘Totoro‘ e a Shinchosha com a licença de Túmulo dos Vagalumes.

Essa divisão continua tendo efeitos até hoje, fazendo com que empresas que queiram lançar Túmulo dos Vagalumes precisem de uma negociação completamente separada do restante dos filmes do Studio Ghibli. O JBox entrou em contato com a Netflix sobre o caso, que respondeu o esperado: o filme Túmulo dos Vagalumes não faz parte do pacote, pois não está presente no acordo firmado com a distribuidora Wild Bunch International. Caso a plataforma queira exibir essa produção, terá que buscar um acordo de outra forma.

Apesar de não estar presente no pacote da Netflix, Túmulo dos Vagalumes teve o seu Blu-ray lançado no Brasil em 2015, em versão apenas legendada, também pela Versátil Home Video.


Baseado em um conto semi-autobiográfico, Túmulo dos Vagalumes se passa no Japão em meio à Segunda Guerra. Na história, os irmãos Setsuko e Seita perderam a mãe em um bombardeio americano, e precisam ir morar com parentes após o pai ser convocado para a guerra. Porém, os dois acabam saindo da cidade por conta própria, buscando abrigo isolado na floresta, onde passam a lutar por sua sobrevivência, tendo como diversão as luzes dos vagalumes.

Uma das produções mais emocionantes do Ghibli, foi dirigida pelo já falecido Isao Takahata, um dos fundadores do estúdio.