Geralmente em uma temporada de Precure, quando a primeira heroína aparece, há uma sucessão de episódios introduzido as outras garotas mágicas. Tem sido comum, entretanto, ao menos um episódio de mais “solto” no meio da introdução das outras protagonistas, quase uma “barriga” que desacelera a união completa da equipe – e quanto a isso, está tudo bem, já que esses episódios pouco prejudicam o desenrolar da trama.

Acontece que Delicious Party resolveu que teria não um, mas sim dois episódios de “barriga” antes de introduzir sua segunda heroína precure (algo que só aconteceu no quarto capítulo). Esses episódios, porém, tiveram como missão desenvolver dois personagens centrais do anime: Rosemary e Kome-Kome.

Entretanto, enquanto o episódio dedicado a Kome-Kome realmente trouxe um elemento novo e bem-vindo à história, o capítulo de Rosemary acabou apresentando detalhes incoerentes ao personagem.

O papel de Rosemary

Imagem: Rosemary em episódio de Delicious Party.

Reprodução: Crunchyroll/Toei.

No começo de seu episódio, Rosemary parece muito chateado por ter quebrado sua pedra mágica e perdido parte de seu poder. A questão fica no ar: o que ele vai fazer agora para ajudar Yui na luta contra o mal? É nesse momento que ele tem a estranha ideia de fugir com Kome-Kome e deixar Yui sozinha, com a justificativa de que ele tem medo de vê-la se colocando em perigo nas batalhas.

Talvez seja uma das atitudes mais burras que um personagem pode cometer, afinal, o próprio Rosemary sabe que Yui pode se transformar em uma poderosa precure e que, até o momento, ela é a única que consegue derrotar os monstros da Gangue Bundoru.

É o tipo de atitude que faz com que o público se irrite com um personagem e pegue raiva dele. Felizmente, Rosemary tem muito carisma e tal ação estúpida é rapidamente esquecida quando ele começa a fazer graça.

No fim, o capítulo parece querer transformar Rosemary em uma espécie de estrategista das batalhas das precure, com ele ajudando Precious a derrotar o monstro da semana. Essa posição de estrategista, porém, não durou dois episódios.

Por isso, ainda fica a dúvida de qual será o papel real de Rosemary na trama. Mesmo sendo engraçado, colocá-lo como apenas um como um coadjuvante cômico parece não ser correto. Entretanto, ele também não tem a sabedoria necessária para ser o tutor das heroínas, pois até mesmo Pam-Pam, a fada de energia, possui mais conhecimento em torno da lenda das precures do que Rosemary. Então qual será o papel dele nessa história toda?

Querida, Kome-Kome cresceu

Imagem: Kome-Kome em forma infantil, parecida com uma criança em torno dos 4 anos.

Reprodução: Crunchyroll/Toei.

Quanto a Kome-Kome, ficamos sabendo no terceiro episódio que ela ainda é um bebê e por isso não sabe repetir falar nada que não seja o seu nome. Entretanto, mesmo Kome-Kome sendo central para esse capítulo, o desenrolar do roteiro serviu muito mais para dar o ponta pé inicial na relação entre Kokone e Pam-Pam, um detalhe que viria a ser aprofundado no capítulo seguinte.

No fim desse terceiro episódio, Kome-Kome assume a forma humana de uma criança com poucos anos de vida, uma espécie de “prova” do crescimento da personagem. Novamente, surge uma dúvida: como a série pretende trabalhar de fato esse crescimento de Kome-Kome e suas futuras transformações em humanas?

No momento isso não é realmente importante para a história e como as outras fadas não parecem possuir formas humanas, fica a dúvida do porquê apenas Kome-Kome ganhou essa transformação.

Claro, todo bom fã de Precure sabe que há um fator mercadológico por trás desse detalhe (e a Bandai deve ganhar algum dinheiro vendendo bonecas da Kome-Kome humana), mas essa é uma série que sabe unir os desejos de seus patrocinadores a uma boa narrativa. Desse modo, a dúvida é mais do que válida.

Finalmente, Cure Spicy

Imagem: A Cure Spicy transformada.

Reprodução: Crunchyroll/Toei.

O episódio de apresentação de Kokone como Cure Spicy seguiu a linha do que já se espera de um episódio desse tipo: ela faz amizade com a primeira precure (Yui), fica mais amiga de sua fada parceira (Pam-Pam) e na hora do perigo ganha sua transformação.

Infelizmente, faltou uma subtrama para entendermos melhor o contexto que Kokone vive, seus desejos e suas dúvidas – mas há tempo para desenvolver isso, como a prévia do capítulo 5 mostrou.

Talvez o ponto alto do episódio nem tenha sido a transformação de Spicy em si, mas sim a batalha que veio logo em seguida. A garota já chegou mostrando que não veio para brincadeira com golpes realmente incríveis. Espero ver mais de suas habilidades daqui para frente.

Agora, com os primeiros episódios de Delicious Party apresentados, vale ressaltar alguns pontos de incômodo da nova série.

O primeiro ponto é a narradora. Qual sua relevância? No início, confesso que achei que ela seria aquela personagem que faria uma recapitulação do episódio anterior no progresso da série. Só que quem está fazendo isso é Yui, uma função herdada por ela de outras líderes precures de temporadas passadas.

Além disso, muitas vezes a narradora apenas narra coisas óbvias ou que não precisam de explicação. Isso se soma a outro elemento de incômodo: as cartelas de apresentação dos personagens. Estamos no quarto episódio e essas cartelas de apresentação continuam aparecendo sempre, mesmo com personagens já bem estabelecidos na história. Qual a necessidade disso?

Parece que a Toei está de alguma forma subestimando a inteligência de seus espectadores em compreender coisas óbvias que acontecem na tela. E não estou falando dos adultos que assistem Precure por diversão e sim das crianças.

Por mais que uma criança possa encontrar dificuldade para compreender uma ou outra coisa em um animê, elas não são tão ingênuas a ponto de esquecer detalhes que para elas já foram apresentados quatro vezes em uma mesma série.

Outro ponto a ser citado é o cenário das batalhas, o campo mágico criado por Rosemary para que as precures lutem. No começo, ele não incomodou, mas após quatro episódios esse cenário desértico se torna cada vez mais apático, mesmo que as lutas mudem a cada capítulo.

Além disso, uma coisa interessante em Precure sempre foi ver as heroínas lutando em ambientes familiares a elas, tendo de proteger as pessoas ao seu redor, o que torna seus atos ainda mais heroicos. O campo mágico de batalhas roubou esse elemento da série.

Por fim, vale citar que nenhum desses pontos realmente estraga esse começo de temporada. Eles incomodam, mas quando são esquecidos se torna mais fácil aproveitar a narrativa do anime.

Delicious Party tem um premissa que abre espaço para a exploração de diversas tramas e subtramas, algo que tem faltado em Precure nos seus últimos dois anos. Tropical-Rouge!, por exemplo, se prendia propositalmente a histórias fechadas em um ambiente escolar e vilões que ao final se mostraram muito mais unilaterais do que pareciam. Já Healin’ Good tinha tantas limitações que nem vale a pena citar.

Desse modo, seria realmente triste ver uma temporada com tanto potencial como Delicious Party se deixar estragar por causa de elementos tão desnecessários. O jeito, porém, é esperar que a receita final dessa mistura não deixe um gosto agridoce na boca dos fãs e espectadores.

Confira a resenha de estreia da série aqui.


Delicious Party Pretty Cure é exibido pela Crunchyroll com legendas em português de forma simultânea com o calendário japonês. A empresa fornece ao JBox um acesso à plataforma.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.