A história do tokusatsu nos anos 1970 foi marcada pela invasão de heróis gigantes, além da formação dos lendários Kamen Riders e da Irmandade Ultra. A Toei Company estava em crise no final daquela década. No final de 1978, o estúdio sofreu sua primeira fase de instabilidade de criação de super-heróis. No mesmo ano foram ao ar as séries Spiderman (em parceria com a Marvel) e Ganbare! Red Vickies. Ambas estavam com seus respectivos finais programados para o início do ano seguinte.

Imagem: Foto do Homem-Aranha japonês.

O Homem-Aranha japonês chegou ao fim quase abruptamente, devido à primeira crise da Toei | Foto: Divulgação

Correndo contra o tempo para criar uma nova série em 1979, a Toei e a Marvel planejavam um herói chamado Captain Japan – sim, claramente baseado no Capitão América – e seu alter-ego seria o ciborgue Masao Den que lutaria contra a organização secreta Beta.

Assim como o Homem-Aranha japonês, Captain Japan teria um robô gigante. Como acréscimo, o então novo herói contaria com uma ajudante, a Miss America (baseada na Miss Marvel).

O projeto acabou incluindo mais três guerreiros. Assim o projeto passou a ser rebatizado como Battle Fever J (o J vem da palavra “Jumbo”), ainda na fase de pré-produção, e consequentemente Captain Japan mudou o seu nome para Battle Japan, o líder do quinteto.

Na época não havia ainda a concepção final de Super Sentai como conhecemos hoje. Vale lembrar que Gorenger e JAKQ, ambas criações do lendário mangaká Shotarô Ishinomori, só foram incluídas na franquia a partir de 1995, com o anúncio oficial de Ohranger (saiba mais aqui).

Em 1980, o contrato de quatro anos que a Toei tinha com a Marvel estava na metade. O estúdio de Stan Lee serviu como co-produtora para as séries Denziman e Sun Vulcan, respectivamente de 1980 e 1981.

Durante este último ano a Toei enfrentava a segunda fase de instabilidade de criação de super-heróis. Sendo mais preciso, a série do trio solar foi a única produzida pela Toei nesse período. Após a parceria com a Marvel, foi lançada Goggle Five (exibida aqui no Brasil nos anos 90 pelas emissoras Bandeirantes e Record) para dar continuidade à franquia dos esquadrões multicoloridos. Mas isso não era o bastante. A Toei precisava de novidade para superar sua segunda crise.


Jouchakku!

Imagem: Pôster do Gavan.

O Policial do Espaço Gavan completa 40 anos | Foto: Divulgação

Inspirado em produções de Hollywood como Star Trek e Star Wars, que tinham temáticas espaciais, o clássico Uchuu Keiji Gavan estreava em 5 de março de 1982.

A ideia veio do produtor Susumu Yoshikawa, em 1977, devido ao sucesso da obra de George Lucas naquele ano. Unindo elementos do cinema e do tokusatsu. O visual tem autoria do renomado desenhista Katsushi Murakami, que produziu vários visuais para a Bandai.

Além também dos trabalhos do competentíssimo músico Chuumei Watanabe que produziu uma trilha sonora cheia de energia. Já a inesquecível pose de transformação foi criada pelo diretor Osamu Kaneda.

Tudo no improviso, uma vez que Kenji Ohba havia apenas levantado o braço. Gavan foi um sucesso quase imediato e se tornou a salvação financeira da Toei. Uma inovação para o gênero tokusatsu.

Em tempo, a Toei já tinha uma certa experiência com a temática espacial em 1978 com o filme Mensagem do Espaço (Uchuu Kara no Message), que deu origem à série televisiva Message from Space: Galactic Wars, também do mesmo ano. Ambas as produções também foram inspiradas em Star Wars.

Semanalmente nas noites de sexta-feira, Uchuu Keiji Gavan contava as aventuras de um policial do espaço chamado Retsu Ichijoji – filho de um alienígena com uma terráquea – que enfrentava o grupo criminoso Makku que tinha a ambição de dominar a Terra (bem clichê, diga-se).

O dublê Kenji Ohba estreou como ator em 1979 como Battle Kenya em Battle Fever J. No ano seguinte foi o Denzi Blue em Denziman. Após o sucesso nas séries Super Sentai, Susumu Yoshikawa escalou Ohba para o papel de Gavan. A partir daí, Ohba se tornou um ícone do seu tempo e uma das grandes referências dos heróis japoneses até hoje.

Imagem: Foto de Kenji Ohba.

Kenji Ohba como o herói Retsu Ichijoji | Foto: Divulgação/Toei

A série também contava com a presença do saudoso artista marcial Sonny Chiba (1939~2021), fundador da Japan Action Club (atual Japan Action Enterprise), como o Policial do Espaço Voicer, pai de Gavan.

Curiosamente, em 2003, Chiba e Ohba aparecem juntos no filme Kill Bill: Volume 1 (de Quentin Tarantino) também como pai e filho, respectivamente.

O elenco de Gavan contou com a participação de Masayuki Suzuki no elenco suporte como o atrapalhado Kojiro Ooyama. Além de outros nomes de peso como Ken Nishida (San Dorva), Hiroshi Miyauchi (Policial do Espaço Alan), Susumu Kurobe, Machiko Soga, entre outros.

Assim como as séries pioneiras das franquias UltramanKamen Rider e Super SentaiGavan tornou-se uma referência de um sucesso quase imediato no Japão. O herói foi o embrião da trilogia Uchuu Keiji (Policiais do Espaço) ao lado de Sharivan e Shaider, além da formação da franquia Metal Hero.

Vale lembrar que o herói também é conhecido como “Gyaban”, “Gaban” e “Gabin”. Nenhum destes nomes está errado, tecnicamente falando, mas sua romanização definitiva internacional é Gavan. A origem vem da homenagem ao ator francês Jean Gabin (1904~1976). Esse tipo de referência se repetiu com outros heróis metálicos, mas isso é outra história.

Já no Brasil, a série foi exibida em 1991 como Space Cop, tanto na Globo quanto na Gazeta. O título veio de Space Cop Gabin, título para distribuição internacional pela própria Toei.

Gavan teve um retorno grandioso em 2012 no cinema com o filme Gokaiger vs. Gavan, crossover com o Super Sentai do ano anterior, além do primeiro filme do herói onde estava o seu sucessor, Gavan Type-G, que também lidera o Space Squad na série de filmes de mesmo nome.

A gente espera que a Toei não deixe passar a data de aniversário em branco e anuncie uma continuação da saga, quem sabe com a reunião, de fato, de grande parte dos super esquadrões e dos heróis metálicos. Nosso herói merece uma comemoração digna e marcante.


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