De 1982 a 1999, a TV Asahi exibia semanalmente as séries da franquia Metal Hero, cujo espaço hoje pertence às séries Kamen Rider. Bem, assim entendemos como um programa que passa a tocha para outro. Mas com relação aos heróis metálicos, nem tudo era tão formalizado assim.

Para seguirmos adiante, o leitor precisa ter em mente que o termo Metal Hero sequer existia durantes esse período. Na realidade, o que existia era uma linha de horário onde heróis da Toei eram exibidos na emissora.


Sucesso despretensioso

Imagem: Os policiais do espaço.

A primeira geração dos Policiais do Espaço | Foto: Divulgação/Toei

Tudo começou no longínquo dia 5 de março de 1982, quando estreou Uchuu Keiji Gavan. Substituta do animê Hello! Sandybell (de 1981), a então nova série tokusatsu não foi feita especificamente para formar uma franquia.

Teve um sucesso quase imediato que salvou financeiramente a Toei de uma crise. O sucesso rendeu as produções de Uchuu Keiji Sharivan (1983) e Uchuu Keiji Shaider (1984).

A Toei formou uma trilogia coesa, exibida nas noites de sexta-feira, das 19h30 às 20h. Mas a ideia inicial para uma série tokusatsu em 1985 era bem diferente. Três projetos foram criados: Ginsei Ouji Big Bang (Príncipe da Estrela de Prata Big Bang), Kaiju Tokusou Huntman (Investigador Especial de Monstros Huntman) e Youjuu Tokusou Deniro (Investigador Especial de Feras Malignas Deniro).

Obviamente que esses projetos jamais saíram do papel (saiba mais sobre eles aqui) e nem precisamos dizer que a série que substituiu os Policiais do Espaço foi Kyojuu Tokusou Juspion – ou O Fantástico Jaspion para nós brasileiros. Jaspion utilizou elementos que deram certo na trilogia Uchuu Keiji, mas o herói não tinha relação com seus antecessores e teve seus próprios conceitos.

Em 6 de janeiro de 1986, Jaspion passava a ser exibido nas noites de segunda-feira, das 19h às 19h30 – mais precisamente a partir do episódio 35. O antigo horário foi ocupado pelo animê Uchusen Sagittarius (produção da Nippon Animation que rendeu 77 episódios). Enquanto isso, Jaspion ocupava a faixa que era do animê Konpora Kid, da Toei Animation.

Imagem: O Spielvan apontando arminha e segurando espada.

Spielvan foi a última série Metal Hero com temática espacial | Foto: Divulgação/Toei

A saga do nosso Tarzan Galático chegava ao fim em 24 de março de 1986 e seu sucessor era Jikku Senshi Spielvan, que estreou em 7 de abril de 1986.

A série era praticamente uma releitura dos Policiais do Espaço, mas com outro contexto.

Deixando de lado o pano de fundo espacial, Choujinki Metalder estreava em 16 de março de 1987 e ficou nas noites de segunda até o episódio 24, exibido em 14 de setembro do mesmo ano.

Era a despedida desta faixa do horário nobre. Metalder retornou em 4 de outubro de 1987, desta vez na faixa dominical das 9h30 às 10h. Curiosamente, essa data era a mesma da estreia de Kamen Rider Black pelas emissoras MBS e TBS.

Metalder foi a série mais curta desta faixa, durando apenas 39 episódios. Logo veio Sekai Ninja Sen Jiraiya (1988) e Kidou Keiji Jiban (1989), seguindo estilos bem diferentes. Jiban ficou neste horário até o episódio 9, em 26 de março de 1989. O episódio 10 inauguraria o novo horário aos domingos, mais cedo, a partir das 8h da manhã.

Pra resumir: tivemos a trilogia Rescue Police, formada por Tokkei Winspector (1990), Tokkyu Shirei Solbrain (1991) e Tokusou Exceedraft (1992). Na sequência tivemos mais duas séries isoladas: Tokusou Robo Janperson (1993) e Blue SWAT (1994) e logo depois a duologia formada por Juukou B-Fighter (1995) e B-Fighter Kabuto (1996).

Segundo o produtor Shinichiro Shirakura, para o livro Shougen! Heisei Rider, estas séries sofriam mudanças de temática em períodos de aproximadamente três anos, para evitar certos artifícios com o passar do tempo.


O “fim” dos Metal Heroes

Imagem: Kabutack e Robotack.

Kabutack e Robotack, os dois últimos protagonistas da franquia Metal Hero | Foto: Divulgação/Toei

Quando veio o ano de 1997, a Toei resolveu mudar drasticamente a faixa dominical das 8h da manhã, transmitida pela TV Asahi, colocando simpáticos robôs como protagonistas, armando situações engraçadas e abandonando aquele bom e velho estilo de lutas. O mercado japonês já estava saturado de super-heróis e um dos fatores era a volta das séries Ultraman, mais precisamente com a exibição de Ultraman Tiga.

Em entrevista para a edição 137 da revista B-Club (de abril do mesmo ano), Takeyuki Suzuki, o então produtor da Toei, afirmou que a proposta de B-Robo Kabutack era se aproximar ainda mais do cotidiano das crianças de então, como era antigamente na TV japonesa. Suzuki havia trabalhado na série Ganbare!! Robocon (1974~77), de Shotaro Ishinomori, e aproveitou elementos deste clássico para Kabutack.

O mesmo aconteceu também em 1998, com Tetsuwan Tantei Robotack. Por um bom tempo, estas duas séries eram consideradas por fãs ocidentais como “o fim dos Metal Heroes”. Mas não é nada disso.

Imagem: O Robocon.

Primeira obra póstuma de Ishinomori, Moero!! Robocon (1999) foi a interseção entre os Metal Heroes e os Heisei Kamen Riders | Foto: Divulgação/Toei/Ishimori Pro

Essas mudanças foram naturais ao longo de 17 anos, tanto é que a série que ocupou esta faixa dominical, em 1999, foi Moero!! Robocon, a primeira obra póstuma de Shotaro Ishinomori, falecido em fevereiro do ano anterior.

Kamen Rider Kuuga (de 2000) foi uma consequência do sucesso de Moero!! Robocon, que atingiu 10% de audiência.

Até então a Toei não tinha a menor pretensão de retornar de vez com a franquia dos motoqueiros mascarados, que estava fora da TV japonesa por mais de uma década.

Nota: Após o final de Kamen Rider Black RX, em 24 de setembro de 1989, a franquia de Ishinomori rendeu três filmes para o cinema, durante o hiato na TV japonesa. São estes: Shin Kamen Rider: Prologue (1992)Kamen Rider ZO (1993) e Kamen Rider J (1994).

A ideia original que a Toei tinha era de formar um bloco com remakes anuais das obras de Shotaro Ishinomori, como Kikaider e Inazuman. Mas como 2001 marcaria os 30 anos de Kamen Rider, a Toei resolveu produzir Kamen Rider Agito, que se tornou um grande sucesso, com média de 11.7% – a maior audiência de um Rider da era Heisei. Nem mesmo o produtor Shinichiro Shirakura esperava um resultado tão satisfatório. Ele até apostava com o roteirista Toshiki Inoue se a audiência iria subir ou cair a cada episódio.

Curiosamente, a trama e até os próprios atores de Agito atraíam a atenção das donas de casa. O sucesso impulsionava também a audiência de Hyakujuu Sentai Gaoranger, série comemorativa de 25 anos de Super Sentai (e que deu origem ao Power Rangers Força Animal) exibida antes do Kamen Rider.

O sucesso de Agito foi decisivo para a Toei bater o martelo e firmar a volta definitiva dos motoqueiros mascarados. Logo veio Kamen Rider Ryuki em 2002, que foi baseado em Cross Fire, uma versão anterior do primeiro Kamen Rider.


A fabulosa oficialização da franquia, que era sem nunca ter sido

Imagem: Esquadrão de BLUE SWAT.

Blue SWAT (1994) apresentou heróis que não possuem armaduras metálicas | Foto: Divulgação/Toei

É preciso que se diga que o termo Metal Hero foi criado originalmente por fãs de tokusatsu e, por conveniência, a Toei só oficializou vários anos depois. Ou seja, pode-se dizer esta é uma franquia “Porcina” (referência minha à “viúva” da novela Roque Santeiro), que era sem nunca ter sido, pelo menos no período de exibição na TV Asahi.

O que existia mesmo era uma linha de heróis sujeita a mudanças de horário e que seguiu um caminho diferente das franquias Kamen Rider e Super Sentai, se mantendo com “blocos” criados para cada ocasião. E é por isso que Kamen Rider está nas manhãs de domingo até hoje (sendo que a faixa atual é das 9h).

Imagem: Capa de revista dos metal heroes.

Capa da publicação Metal Hero Saikyō Senshi Retsuden (2014) – com todos os 17 heróis principais da franquia | Foto: Divulgação

Isso justifica a retroatividade dos Metal Heroes com o passar do tempo.

Primeiro tivemos cinco heróis que vieram do espaço, depois um androide construído na Terra, depois um ninja, depois um robô policial, depois equipes de resgate e por aí vai até chegar nos robôs cômicos.

É também por esse motivo que Jiraiya e Blue SWAT não apresentam heróis com armaduras metálicas.

Kabutack e Robotack tinham aproximadamente 9% de audiência, que (acredite se puder) era maior que as médias de Super Sentai e Ultraman do final dos anos 90 – que tinham média de 8% e 6%, respectivamente.

A dupla de robôs tinha boa venda de brinquedos, seguida de uma considerável queda na época de Moero!! Robocon, que não chegou a ser um fracasso no mercado. Essas informações colocam por terra as teses de “fracasso” pelo “fim” dos Metal Heroes. Aliás, como ter fim de algo que não existia, não é mesmo?

E sim, de uns tempos pra cá, Metal Hero é uma franquia oficializada pela própria Toei. As fases experimentais deram continuidade a um espaço que, teoricamente falando, nunca acabou e segue no ar até hoje com outra franquia. Em outras palavras, se Kamen Rider está consolidado até hoje, isso se deve primeiramente ao sucesso de Gavan. O espaço é da mesma Toei Company e jamais sofreu interrupção nestas quatro décadas, apesar das eventuais trocas de horários. Tudo é um processo.

Créditos: Usys 222


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