Dominantes, às ordens!

O mangá de Spectreman se tornou um considerável sucesso para a editora Pipoca & Nanquim, com volumes em primeiro lugar na categoria Ficção Científica em Mangá. Sim, o herói da Nebula 71 continua atravessando gerações e é uma das provas de que mangás baseados em produções de tokusatsu são rentáveis no Brasil.

Seguimos aqui com a resenha sobre o terceiro volume, que contém mais oito aventuras e agora conta com consideráveis mudanças graças ao andamento da série de TV, que já rumava para a reta final. Se você está interessado e ainda não adquiriu os primeiro e o segundo volumes, dá uma olhadinha nesta e nesta resenha.

Antes de prosseguirmos com a resenha sobre o terceiro volume de Spectreman, eu lembro que a Pipoca & Nanquim manteve os nomes originais, para fidelizar o material originalmente publicado em 1971. Portanto, o mesmo acontece aqui neste texto (com os nomes adotados na dublagem clássica entre parênteses).

Este exemplar começa com o capítulo único “Dragão de Três Cabeças, o Monstro do Petróleo”, publicado originalmente na edição de setembro de 1971 da revista Bouken-ou (lançada em 6 de agosto do mesmo ano). A aventura é baseada no arco Operação Dragão Pré-Histórico, episódios 32 e 33 da série de TV, exibidos pela Fuji TV em 7 e 14 de agosto do mesmo ano, respectivamente.

Nota: As datas em parênteses são referentes aos lançamentos originais das edições, que aconteciam cerca de um mês antes – por algum motivo, a nomenclatura das revistas (“edição de setembro”, ou “edição do nono mês”) é adiantada em relação à data de lançamento: a edição “de setembro”, por exemplo, sai em agosto. Tais detalhes são importantes para a conexão com as datas de exibição dos episódios da série de TV.

O Dragão de Três Cabeças | Foto: Lídia Rayanne

Dr. Gori cria o seu Dragão de Três Cabeças (Dragão Tricéfalo), capaz de se alimentar de petróleo, uma das principais fontes de energia utilizadas pela humanidade. Os efeitos dessa catástrofe atingem diretamente uma refinaria. Jouji Gamou (Kenji) investiga o caso e propõe ao presidente da refinaria a tomar uma difícil decisão que pode ser crucial para deter o monstro gigante.

O mangá segue praticamente a mesma pegada do arco exibido na TV, que se destacou com uma incrível cena de destruição. Mas o mangá se aprofunda ainda no drama do presidente da refinaria de petróleo, seguindo um caminho inverso da versão televisiva e capaz de comover os leitores, devido à carga dramática em torno do empresário.

Já a edição especial de Férias de Verão de 1971 da mesma revista Bouken-ou (lançada em 7 de agosto do mesmo ano) apresentava o capítulo “Moonthunder, o Monstro da Lua”, baseado no arco A Pedra Lunar, episódios 34 e 35 da série de TV, exibidos em 21 e 28 de agosto do mesmo ano, respectivamente.

Tudo começa quando astronautas descobrem misteriosas pedras que estavam na Lua. Os materiais são levados para pesquisas em alguns países, inclusive o Japão. O problema é que cada um dos países se torna alvo do monstro Moonthunder (Selenetério), que está em busca das misteriosas pedras, por um bom motivo.

Aparentemente o capítulo é isolado, mas é um dos mais importantes da trama, assim como em sua versão televisiva. É que Spectreman desaparece, supostamente se sacrificando para derrotar o poderoso monstro gigante que veio dos confins do espaço.

A Divisão de Combate a Monstros entra em ação | Foto: Lidia Rayanne

E é claro que teve uma continuação. Só que desta vez, por questões de alternância de periódicos, o capítulo duplo “Vegaron, o Monstro Devorador de Gente” não saiu pela Bouken-ou e sim nas edições 37 e 38 da revista semanal Shounen Champion, de 6 e 13 de setembro (lançadas em 10 e 17 de agosto) de 1971, respectivamente.

Assim como no arco A volta de Spectreman, episódios 36 e 37 da série de TV, exibidos em 4 e 11 de setembro do mesmo ano, respectivamente, este capítulo mostrou os membros da Secretaria de Controle de Poluição da Metrópole de Tóquio (Laboratório de Pesquisa da Poluição) se apresentando pela primeira vez como Divisão de Combate a Monstros.

Lembra da Patrulha Científica de Ultraman? Do Esquadrão Ultra de Ultra Seven? Do Grupo de Ataques aos Monstros de O Regresso de Ultraman? Então, se Spectreman já tinha elementos básicos dos heróis gigantes da época, a série foi consagrada com a inserção de uma equipe anti-monstros, só que de maneira improvisada, diga-se, e na base do “vai assim mesmo e pronto”.

No mangá, a mudança foi mais convincente e até ganhou duas páginas na versão encadernada da série, complementando a apresentação do então “novo” grupo e justificando um considerável intervalo de tempo para o treinamento do grupo.

Imagem promocional de Spectreman (título definitivo) com a Divisão de Combate a Monstros | Foto: Lídia Rayanne

Apesar da versão quadrinizada não apresentar a assombrosa cena de regeneração de Vegaron (Estergon) antes de enfrentar o nosso herói, que acabara de voltar à ação, o capítulo se destaca pela chegada do monstro gigante, que não perdoa ninguém e devora tudo e todos mesmo que passam por ele. Ah, no mangá também aparecem os Minusmen (Sentinelas da Base Avançada de Gori), que enfrentam a Divisão de Combate a Monstros.

Curiosamente, o arco da TV apresenta uma nova heroína chamada Midori Sawa (Yumi), que substitui Mineko Tachibana (Chieko). Mas Mineko ainda aparece neste ponto do mangá e fica por mais algum tempo, uma vez que o autor Souji Ushio havia adiantado os capítulos no papel.

Já Midori fica na série até o episódio 39 e foi interpretada por Rumiko Goto (assinando na época como Rumi Goto), que participou de episódios das séries policiais Key Hunter e Playgirl (ambas da Toei Company). Após sua breve aparição em Spectreman, Goto participou do episódio 16 da série tokusatsu Choujin Baron-1 (1972).

Ah, um detalhe não menos importante que merece ser destacado. Neste capitulo aparece o Habitante de Nebula, que na versão da TV se assemelha ao Spectreman e trabalha numa estação espacial, onde o herói esteve em recuperação após sua árdua batalha contra Moonthunder.

Spectreman procura convencer o Habitante de Nebula a voltar a defender a Terra contra as criaturas horrendas do Dr. Gori | Foto: Lídia Rayanne

No mangá, seu rosto não aparece e fica apenas no imaginário do leitor (a gente faz de conta que ele tem a mesma cara do Spectreman e com uma lanterna na cabeça, igual na TV, ok?), mas o resto do seu corpo é bem parecido com o visual do herói e notoriamente mais musculoso.

Neste volume, “Jadon, o Monstro Psicocinético” é o único capítulo – dividido em duas partes – exclusivo do mangá, sendo publicado originalmente nas edições 39 e 40 da Shounen Champion, de 20 e 27 de setembro (lançadas em 24 e 31 de agosto) de 1971, respectivamente, marcando a despedida da série na revista semanal.

Surge Jadon, um monstro que ataca as pessoas e destrói parte da cidade com seus poderes psicocinéticos. O capítulo foca mais na luta do herói contra o monstro, tentando encontrar um meio de destruí-lo, já que seus golpes não são páreo para a criatura.

Como o poder de Jadon era da psicocinese, seria mais difícil de representar este capítulo na TV, uma vez que a P-Production utilizava imagens estáticas como efeitos especiais (talvez a Toei e principalmente a Tsuburaya conseguissem tal proeza à época).

Na edição de outubro de 1971 da revista Bouken-ou (lançada em 6 de setembro do mesmo ano), foi publicado o capítulo “Sphinx, o Monstro Egípcio”, baseado no arco A ameaça do Antigo Egito, episódios 38 e 39 da série de TV que foram ao ar em 18 e 25 de setembro, respectivamente.

Assim como na série de TV, vemos dois irmãos que se metem em encrenca com o surgimento de uma esfinge que deixa moradores de uma vila assustados. Diferentemente da série de TV, os irmãos são confrontados com uma situação em que devem ter verdadeira coragem para enfrentar o perigo.

No mangá, Sphinx (Esfinge) possui um poderoso ataque, além de uma forma aracnídea ainda mais pavorosa que a versão vista na série de TV.

Já que Gori, o Simioide Espacial versus Spectreman (Uchuu Enjin Gori tai Spectroman, no original) já estava bem mais próximo dos conceitos das séries Ultra do que no início, a coisa ficou ainda mais consolidada a partir de 2 de outubro de 1971, quando a série passou a ser chamada simplesmente – e definitivamente – como Spectreman (Spectroman), ganhando um novo tema de abertura desde então (o segundo tema de encerramento foi inserido a partir do episódio 36).

O misterioso Máscara Solar do mangá é mais convincente e lembra o Fantasma, primeiro herói dos quadrinhos | Foto: Lídia Rayanne

E é óbvio que o mesmo aconteceu no mangá, mais precisamente na edição de outono de 1971 do suplemento sazonal Bessatsu Bouken-ou (lançada entre 1º e 5 de outubro do mesmo ano). O capítulo da vez era “Black Dragon, o Monstro do Cometa”, baseado no arco O Impostor, episódios 50 e 51 da série de TV, exibidos em 11 e 18 de dezembro do mesmo ano.

Em tempo, o arco foi listado originalmente como os episódios 42 e 43 no roteiro (ou seja, seriam exibidos na segunda quinzena de outubro do mesmo ano), mas demorou algumas semanas para ir ao ar por algum motivo desconhecido. Portanto, foi o capítulo do mangá que teve maior distanciamento da série tokusatsu.

Jouji investiga uma aparição de estranhas luzes, mas acaba sendo atacado pelos Alienígenas Igor (Igurianos), que estão controlando as pessoas. O mais estranho ainda é quando surge um falso Spectreman para enfrentar o monstro gigante Black Dragon (Draco).

Curiosamente, os Alienígenas Igor não tinham rosto na série de TV, embora houvesse uma cena em que o rosto de um deles, escondido por uma máscara, aparece brevemente.

Na edição de novembro de 1971 da revista Bouken-ou (lançada em 6 de outubro do mesmo ano), saiu o capítulo “Kabagon, o Monstro Neural”, baseado no arco A Revolta dos Inocentes, episódios 42 e 43 da série de TV, exibidos em 16 e 23 de outubro do mesmo ano.

Aqui temos a curiosa aparição do misterioso personagem chamado Máscara Solar, que engana algumas crianças prometendo-lhes um “poder fenomenal”, mesmo que elas tenham que desrespeitar seus pais. Enquanto isso, surge o mostro gigante Kabagon (seu nome foi suprimido na dublagem brasileira), que ataca um prédio de um cursinho de reforço escolar.

Interessante é que o arco da série de TV teve a participação do crítico pedagogo Susumu Abe (1930~2017), cujo seu personagem era um professor que foi transformado no Kabagon (o nome vem da palavra japonesa “Kaba”, que significa hipopótamo, justamente a figura representada pelo monstro). Houve também outro monstro no arco chamado Tengudon (Lúcifer), mas ele não aparece no mangá.

Quanto ao Máscara Solar, venhamos e convenhamos que o seu visual no mangá é muito mais convincente que sua versão para a TV. Aqui ele lembra um pouco o Fantasma (personagem dos quadrinhos criado em 1936 pelo roteirista Lee Falk e pelo desenhista Ray Moore), só que com, digamos, adereços que remetem à estrela central do nosso Sistema Solar.

O despertar do monstro Gamagaeru | Foto: Lidia Rayanne

E pra finalizar este volume temos o capítulo “Alienígenas Gama, o Monstro Amalgamado”, baseado no arco A Invasão dos Sapos, episódios 46 e 47 da série de TV, exibidos em 13 e 20 de novembro de 1971. O mesmo foi publicado na edição de dezembro de 1971 da revista Bouken-ou (lançada em 6 de novembro do mesmo ano).

Jouji, Koga e Mineko saem de férias para Miyazaki, ilha de Kyushu, a terra natal de Koga. Mas nem nas férias eles têm um momento de paz, pois Jouji nota um estranho comportamento dos moradores de um vilarejo, que agem como… sapos. Eis o início dos horripilantes planos de invasão dos Alienígenas Gama (Homens-Sapo) e do monstro gigante Gamagaeru (Grande Gamon), que põem em risco a verdadeira identidade de Spectreman.

No manga, a heroína do grupo ainda era Mineko Tachibana, mas seu sobrenome foi trocado por “Sawa”, que é o sobrenome de Midori, personagem que apareceu em apenas quatro episódios da série de TV, como mencionado acima. Possivelmente foi uma confusão dos editores da época.

A essa altura, a serie de TV já contava com a quarta e última heroína da Secretaria de Controle de Poluição da Metrópole. Ela era Hiromi Yanagida (Kimmie), interpretada pela atriz e cantora Taeko Sakurai.

O terceiro volume tem como extras a continuação da bibliografa visual, os tradicionais comentários sobre cada capítulo, além da última parte da entrevista com o magaká Daiji Kazumine (1935~2020), onde ele conta sobre os seus segredos para criar enredos e a importância de Spectreman para sua carreira.

A batalha final do nosso herói contra o lunático Dr. Gori se aproxima do fim. Portanto, não percam a próxima resenha sobre o quarto e último volume do mangá de… Spectreman… man… man… man… man…!

Confira mais imagens da edição:

 

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A editora Pipoca & Nanquim mandou um exemplar de cada um dos volumes já lançados de Spectreman ao JBox como material de divulgação.


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