O mangá The Ancient Magus Bride (Mahoutsukai no Yome) tem passado por uma montanha-russa. Em março, entrou em hiato, voltando em dezembro, só que com troca de editora: saiu da Mag Garden para um selo editorial da Bushiroad.

Na última quinta-feira (21), veio uma polêmica: a conta oficial da série anunciou que a Bushiroad está usando tradução por inteligência artificial, por meio de uma ferramenta da Mantra, para lançar os capítulos simultaneamente em inglês e japonês — há planos de incluir o mandarim nos lançamentos a partir de maio.

Não deu outra: o perfil recebeu uma enxurrada de críticas, incluindo fãs dizendo que não iriam mais apoiar o lançamento oficial de capítulos. Frente à reação, o perfil se justificou nas redes (tradução nossa):

Para esclarecer a desinformação que foi disseminada, gostaria de dar algumas informações adicionais.

Primeiro, sobre a “tradução com ajuda de IA”, nós implementamos um sistema da Mantra Corportation (mantra.co.jp/index_en.html). Esse sistema combina a tecnologia única de tradução por máquina deles com edição e revisão de tradutores profissionais.

Segundo, sobre o motivo da distribuição simultânea. Traduções não oficiais às vezes saem de graça e circulam como “versões piratas”. Sites ilegais de pirataria de mangá que publicam isso causam danos sérios à cultura e à indústria de mangá, tanto domesticamente quanto internacionalmente. The Ancient Magus’ Bride também sofre continuamente com tais danos. Iniciativas como essa que fazemos já se mostram efetivas em reduzir o dano da pirataria, como em casos anteriores com os trabalhos da Shueisha [uma referência à MANGA Plus];

Por fim, sobre livros produzidos e oficialmente licenciados por editoras estrangeiras. Se houver oferta por diversas empresas, seguem sendo consideradas, e se as condições forem adequadas, as publicações seguirão normalmente. Isso permanece sem mudança.

Obrigado.

É preciso pontuar primeiramente que, apesar da Shueisha ter sido usada de exemplo e a MANGA Plus ser uma iniciativa que deu certo, as traduções do serviço são feitas por profissionais em todas as etapas, até onde se sabe, sem o uso de IA (embora o editor Momiyama já tenha se pronunciado favorável em suas redes, no caso se referindo ao potencial de “evolução” da tradução automática).

Segundo que, mesmo com capítulos simultâneos, as séries da Shonen Jump seguem sendo alvo de pirataria, embora haja sim uma migração de parte do público para as plataformas oficiais. Os capítulos de Jujutsu Kaisen e ONE PIECE, por exemplo, geralmente vazam nas redes pelo menos quatro dias antes do lançamento da revista e já se tornam assunto comentado, sendo lidos, de forma pirata, por fãs antes do lançamento oficial — muitos deles relêem o capítulo na versão oficial, que seria uma tradução mais confiável e “canônica” (o que se deve, em parte, ao fato de serem boas traduções).

Na verdade, o mesmo ocorre com Magus’ Bride, com traduções piratas (geralmente feitas por fãs sem intuito comercial) vazando antes do lançamento dos capítulos, o que indica que o problema é muito mais complexo e não é a simples disponibilização oficial feita a “qualquer custo” que combate a pirataria.

Também é comum ouvir de tradutores que essas “traduções automáticas” são de baixa qualidade, os editores e revisores — que não recebem o mesmo que um tradutor — acabam tendo que retraduzir tudo do zero em muitos casos. Um exemplo de qualidade questionável dessas traduções é a provável tradução por IA do animê de The Yuzuki Family’s Four Sons (Yuzuki-san Chi no Yon Kyoudai), que teve legendas tão incompreensíveis em inglês que os fãs ficaram revoltados, e isso provavelmente prejudicou o alcance da série, mesmo sido resolvido posteriormente (uma vez que a pecha de ser “incompreensível” já deve afastar muitos espectadores).

A reação do público, incluindo comunicadores expressivos do meio e tradutores, foi também de revolta com a nota:

 

É estranho que eles tão tipo “wow veja como o app da jump é bom em conter a pirataria” mas por algum motivo são aversos à parte do modelo de negócios onde a Shueisha simplesmente paga tradutores profissionais para traduzirem

 

 

Não posso pensar em um argumento pior para usar tradução por máquinas (independente de serem baseados em MLL) que “combater a pirataria” (baseada em traduções por fãs, que são feitas por humanos, de graça e de forma rápida!)

 

 

Lembrete que esses argumentos são 100% besteira. O ÚNICO objetivo é pagar menos.

Demora mais para editar traduções automáticas do que traduzir do zero, e o resultado final é SEMPRE pior.

A única diferença é que podem pagar menos para os editores do que pagariam para os tradutores

E caso esteja se perguntando: sim, eu já fiz edição de tradução de máquina, e sim, foi de japonês para inglês, e sim, era mais rápido para mim traduzir o original do zero do que desmutilar traduções mutiladas.

 

 

Interessante que eles alegam que traduções por IA são uma necessidade para competir com as piratas. Quando você dá aos pirateiros munição legítima na narrativa de má-fé deles de ser uma alternativa superior às traduções oficiais, você prejudica até mesmo trabalhos traduzidos por humanos sem qualquer relação com isso.


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